DRAMA
EM FAMÍLIA
– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
No
quarto, em frente ao espelho, Teobaldo dá os últimos retoques na
gravata. Passa as duas mãos sobre a cabeça para fixar os cabelos
lisos. Depois, coloca com cuidado o paletó no espaldar da cadeira,
quando ouve a voz da mulher, que o chama: “O café está na mesa,
Teobaldo”.
Antes
de deixar o quarto, senta-se para calçar os sapatos lustrosos, prova
da dedicação de Elsa. Fecha a porta do quarto e se dirige à
cozinha, onde a mesa está posta para o café da manhã. “Pode
chamar o menino”, diz Teobaldo.
Elsa
entra no quarto de Marcos e diz a ele que o pai o espera para o café.
“Já vou, mãe!”, responde num fio de voz. “Não demore, para
não irritar o seu pai”, pede-lhe a mãe.
Na
cozinha, Marcos senta-se à mesa, ao lado do pai, sem falar. O menino
fixa o olhar no pai, de um modo esquisito. “Você não vai comer,
menino?”, pergunta Teobaldo. “Vou”, responde o filho.
Enquanto
come, Marcos mantém o olhar fixo no pai, que não gosta do jeito que
ele mastiga. Da outra ponta da mesa, Elsa preocupa-se com o modo que
o filho encara o pai. “É assim que o provoca”, pensa a mãe.
– Menino,
pare de me olhar desse jeito – diz Teobaldo.
– Não
paro – responde Marcos, em tom áspero.
Mal
pronuncia a frase, Teobaldo desfecha um forte tapa no rosto do filho.
– Meu
Deus, não faça isso – suplica Elsa.
Teobaldo
dirige-se ao filho e levanta-o do chão, com energia.
– Peça
desculpa ao seu pai – ordena Teobaldo.
– Não
peço.
Marcos
sente mais uma vez no rosto o peso da mão do pai. O menino
levanta-se e corre em direção à porta da casa, tentando escapar
dos golpes do pai, mas logo é atingido por forte pontapé.
– Pare
com isso, homem – pede-lhe a mulher.
No
pátio da casa, Teobaldo atinge o filho com um pedaço de pau. O
menino cai. Os golpes do pai não cessam. Marcos tenta proteger-se
colocando os braços em frente ao rosto.
– Não
vai chorar cretino? – pergunta Teobaldo.
– Não
– responde Marcos ao pai, quase sem fôlego.
O
menino prende o choro. O pai bate em seus braços e em suas costas,
com o pedaço de madeira.
– Não
mate o menino, Teobaldo – grita Elsa. – Você está louco?
– Esse
safado merece.
Elsa
segura o marido com força. No chão, Marcos sente o corpo moído.
Não chora. É a sua forma de vingar-se.
Teobaldo
senta-se num degrau da escada, arfando. Marcos levanta-se e sai
correndo do pátio. Elsa vê o menino caminhando entre a vegetação
de um terreno, já bem distante dali, quando tem o pressentimento de
que não mais verá o filho.
* * *
Noooooooooossa, que situação essa na família! Triste e é de ter pena dos três:Elsa quer tudo ajeitar e esquece dela mesma. Marcos desafia o pai e acaba fugindo e o pai,que pensa resolver com violência, acabará arfando só... Muito bem contado o drama! abraços, chica
ResponderExcluirHá criaturas que não merecem ser pais.
ResponderExcluirO menino percebeu que o pai era sádico...
Muito bem escrito, Pedro; foi como se estivesse
a ver a triste cena, pelo que, agradeço os ótimos
momentos de leitura.
Beijos para si e sua simpática Taís.
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Olá, Pedro.
ResponderExcluirDramático relato, que cai mal na gente, de sabe-lo tão verdadeiro por esse mundo fora, mesmo em "chefes de família" que usam paletó e gravata e sapatos bem tratados - no que diz respeito ao flagelo da violência não se olha a classes nem a rostos.
Aqui em Portugal tem sido crescente o relato dos casos, cada vez mais conhecidos e divulgados por uma sociedade mais atenta. Há inclusive casos com assassinatos, mesmo da parte das mães - nestes casos por questões de foro psicológico e/ou vingança sobre os parceiros; há os casos de pais que dizimam a família inteira e ainda quem estiver no caminho...
Sempre a violência. Sempre o desatino do ser humano.
Bom seria que apenas conhecêssemos a violência na ficção, saída de mentes criativas, mas, parece-me que, cada vez mais, a vida real se sobrepõe à imaginação do escritor, quase que a competir no alcance do horror.
Um abraço amigo
Um abraço amigo
Un fuerte drama... Pobre chico, es terrible el maltrato infantil. Me rebasa.
ResponderExcluirUn abrazo!
Boa noite Pedro
ResponderExcluirCom todo esse drama o que Elsa teve não pode ter sido um pressentimento e sim uma certeza. Qual filho voltaria para casa diante de tamanha brutalidade?
Quem sabe longe de um pai violento ele possa encontrar um coração bondoso que o acolha com amor
Um conto permeado de fortes emoções
Um abraço e boa semana
Boa noite amigo Pedro, li e senti a energia dura e triste de um conto muito bem escrito e intenso.
ResponderExcluirAcho que é bem assim o que acontece com muitas famílias em que a intolerância impera, as almas ficam carregadas de ódio e muitas pessoas desaparecem sem nunca serem encontradas?!
Abraços apertados!
Oi, Pedro, um conto que consegue descrever toda a violência que pode existir nos relacionamentos domésticos e infelizmente comum em muitos "lares". seus contos são ótimos, curtos mas impactantes e nos suscitam muitas indagações...
ResponderExcluirUm abraço
Só quem conhece bastante essa área da psiquiatria, mesmo sendo leigo, consegue fazer um conto curto e impactante como esse teu. Mas a gente sempre se pergunta: mas entre pais e filhos? Taí, pode acontecer, por que não? As doenças também atacam o núcleo familiar - a célula mais importante da sociedade. Que instituição é essa que o amor não sobrevive diante do rancor e da inveja? É no núcleo familiar onde começam nossas carências afetivas. E é no núcleo familiar que aprendemos a querer o mal do outro. É nesse núcleo que se forma o ser humano. Portanto, esse conto é muito real, mais do que pensamos.
ResponderExcluirBeijinho, daqui do lado.
Hay padres que no deberían llamarse padres, pobres niños...
ResponderExcluirUn placer leerte amigo Pedro.
Que disfrutes del día, buen comienzo de semana.
Besos!.
Triste y agresiva situación de que según las noticias deben de ser bastante habituales en el seno de algunas familias.
ResponderExcluirNo se que pasa, pero la violencia en las personas está más que nunca a flor de piel.
Un buen relato Pedro, me gustó mucho leerlo.
Un abrazo.
Detesto todo e qualquer tipo de violência, sobretudo se exercida sobre seres indefesos, crianças e animais.
ResponderExcluirNeste conto tão curto mas tão esclarecedor, você, Amigo Pedro, nos põe perante um caso muito mais vulgar do que se pode imaginar - a violência dos pais sobre os filhos pequenos, sem que as mães interfiram de forma eficaz - também elas sem força física para se poderem opor ao agressor.
O que se pode exigir dessas crianças quando adultos?
Votos de uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Pedro,
ResponderExcluiré para mim adquirido que vc, além de excelente escritor, é um homem engajado com os dramas e dores da sociedade actual.
é por isso, sempre, um duplo prazer ler os seus textos.
forte abraço
Tristissimo pensare che è nelle famiglie in cui nessuno media le ferite dell'esistenza, in cui nascono i delitti più efferati...Un racconto vero e crudo nella sua bellezza, e nel messaggio che invia a chi legge! Bravissimo Pedro.
ResponderExcluirUm relato que tem tanto de verdadeiro em muitas famílias... As relações pais-filhos degradam-se e quando dão conta a briga é feia e às vezes perdem-se os filhos irreversivelmente.
ResponderExcluirBeijos.
Algunas veces es la realidad de la vida, que lástima leerlo y pensar que es verdad ya que todavía sucede.
ResponderExcluirUn abrazo.
Oi amigo, que triste!! Pena que é assim que acontece na maioria das vezes...
ResponderExcluirVim lhe desejar uma ótima semana, abraços e foque com Deus!!!
OI PEDRO!
ResponderExcluirQUE TRISTE, FALTA DE DIÁLOGO E AGRESSÃO, INGREDIENTES PERFEITOS PARA A DESTRUIÇÃO DE UMA FAMÍLIA, PENSO NA MÃE, COITADA.
REAL E TRISTE.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
La mirada y la actitud de Marcos, el silencio y el ambiente, todo nos habla del hondo sufrimiento que va construyendo los cimientos de su personalidad. Le deseo suerte, amigo Pedro, la necesita.
ResponderExcluirNão sei como Teobaldo conseguirá conviver com esta última lembrança... talvez até muito bem... se for frio, duro, perfeccionista... jamais admitirá que errou...
ResponderExcluirMas talvez Elsa... não tenha forças para tal...
Parece-me que esse núcleo familiar... acabará ali... naquele instante... com um alto preço a pagar... mas que Teobaldo, me parece ter o perfil, de o conseguir superar, sem qualquer problema...
Um fantástico texto, repleto de realismo!...
Adorei ler! Abraço!
Continuação de uma excelente semana!
Ana
Oi Pedro!
ResponderExcluirIsto realmente é verídico em muitas famílias, o que é muito triste!
Uma boa tarde!
Abraços,
Mariangela
Caro amigo, Infelizmente sabemos da existência desses seres humanos ‘irracionais’, que gostam de dar vasão às suas frustrações, ódio, recalques em cima de um ser mais fraco,
ResponderExcluirProvavelmente sofreu essa mesma agressão no seu passado e agora é a visão que ele tem de autoridade confusa e errada. Só a passividade da mãe no conto me revoltou, queria vê-la com aquela força que as mães tiram não sabemos de onde e salvam os filhos quando em perigo.
Seu conto é contundente, real, e instigante, mexe com nossa mente e sentimentos parabéns Pedro.
Beijinhos, Léah
Mais um conto excelente, este nos leva para o caminho
ResponderExcluirda profunda dor deste drama familiar. Que narrativa tão
perfeita nos detalhes sobre a dor desta violência
tatuada na alma. O mais grave é este seu excelente conto
na ficção, ser tão real, uma história que acontece
na realidade, meu amigo!
E este menino (do conto) marcado por esta violência,
mas também inscrito de sua bela e força singular.
Parabéns pela excelência do conto!
Abraço, Pedro.
¡¡Pedroooo!!, que cosas más tristes cuentas. Espero que ya no haya padres como el de tu historia, da repelús saber que un hombre haga eso con su propio hijo.
ResponderExcluirVoy a coger una escalera a ver si le puedo dar a mi hijo cincuentón un coscorrón. Él mide 1,80 y yo metro y medio.
Me voy dos semanitas a Oropesa del Mar, en el Mediterráneo, a la vuelta seguimos.
Un fuerte abrazo
Coração de mãe não se engana. O menino não volta, mas a sua narrativa fica remoendo em nossas entranhas. Bela narrativa.
ResponderExcluirAbraços,
Triste e comovente história que infelizmente, é um cenário que existe em muitos lares por todo o mundo.
ResponderExcluirA violência é sempre um ato condenável, mas em crianças é absolutamente horrível.
Um abraço
Maria
Passando aqui para
ResponderExcluirte ler e
matar saudades.
Depois eu volto para de fato
comentar.
Bjins
Catiaho Alc.
¡Cualquiera vuelve a casa con un padre así!
ResponderExcluir¡Qué monstruo!
Salu2.
O realismo de sua escrita prende nossa atenção ao ler, Pedro. Parabéns pelo drama familiar tão bem narrado.
ResponderExcluirÉ de cortar o coração imaginar uma cena de um lar desunido, infeliz e violento como esse. Mais ainda supor que existam lares assim, ainda nos dias de hoje.
Abraços/Rosa
Um belo e dramático texto como sempre muito bem escrito.
ResponderExcluirUm abraço e bom fim de semana.
Andarilhar
Oi amigo, vim lhe desejar um ótimo final de semana
ResponderExcluirabraços e fique com Deus !!!!!
Olha meu amigo, suas histórias parece que são reais!
ResponderExcluirÉ como se estivesse-mos a ver a cena...
muito lindo tudo o que você escreve.
Um Fraterno abraço, e óptimo final de semana,
Deus o abençoe e a todos os seus!
Boa tarde, Pedro, quantos Teobaldos vivem por aí,um drama escrito com fundo de verdade.Senti muita emoção pelo menino, que com certeza, vivia sofrendo por medo do "pai", como meu sempre foi um bom pai, custa-me imaginar coisas que acontecem entre pais e filhos. O sofrimento da mãe é chocante, pois ela sente em seu coração que seu amado filho, foi para sempre. Belíssimo, mas forte conto. Abraço!
ResponderExcluirExcelente texto, felicitaciones!!
ResponderExcluirSaludo, Pat
http://reflexionesenlib.blogspot.com.ar/
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirUm conto muito bem relatado, infelismente existem mais casos assim do que se podem imaginar. Exitem pais, tanto pais, como mães que querem dominar os filhos, querem velos sobre as suas ordens, e o que acontece é rancor de ambas as partes, o que termina em brigas e como nesse caso em agressão física. Quem ficaria sobre esse teto onde o amor estava ausente. Quem ama cuida, quem ama cria com amor e acima de tudo respeito. Algumas pessoas pensam que educar é bater, no meu ponto de vista bater é o atestado de incompetência seja pai ou mãe, quem educa com amor, respeito e limites, terá sempre um lar onde há harmonia. Um feliz final de semana para vocês. Abraços.
Hola Pedro.
ResponderExcluirObrigada por su visita a mi blog.
Me ha dado penita el minino y el niño.
En asa tenemos dos gatos y son como de la familia.
Un abraço, Montserrat
Ah, Pedro este doeu.
ResponderExcluirMenino danadinho sofri um pouco com estas correções paternas, se bem que merecidas para a época. Mas neste caso parece um pouco exagerada,embora tenha conhecido meninos como Marcos, que zombava das correções e enfurecia os pais. No mundo de hoje seria um caso de BO.
Se voltou não se sabe, mas sabe-se que a mãe ficou a sofrer e chorar e o pai, quem sabe teve um certo remorso?
Bela criatividade como alerta da educação.
Meu abraço amigo.