Jorge de Lima |
- Pedro Luso de Carvalho
JORGE DE LIMA (Jorge Mateus de Lima) nasceu a 23 de março de 1893 em União dos Palmares, Alagoas, e morreu no Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1953. Iniciou os seus estudos na Escola de Medicina da Bahia e formou-se médico aos 21 anos de idade, no Rio de Janeiro, para onde se mudara. Foi professor de História Natural e Higiene Escolar da Escola Normal de Maceió. Lecionou História da Literatura Brasileira e Portuguesa do então Liceu Alagoano. Foi nomeado para exercer esses dois cargos depois de ter sido aprovado em concurso público. Foi eleito deputado estadual no seu Estado (Alagoas), mas não chegou a terminar o seu mandato, pois sofreu um atentado à bala. De volta ao Rio de Janeiro estabeleceu-se com consultório médico no centro da cidade, num edifício de cor amarela que se tornaria conhecido de muitos por lá reunir amigos para longas conversas e atender seus pacientes, os pobres atendidos de graça pelo médico poeta. Lecionou Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil.
Prêmios recebidos por Jorge de Lima: 1) Prêmio da Fundação Graça Aranha, em 1934, com o seu romance 'O Anjo'; 2) Grande Prêmio de Poesia, em 1940, pela Academia Brasileira de Letras, à obra ‘A Túnica Inconsútil’.
Jorge de Lima foi parnasiano nos primeiros tempos. O soneto ‘O acendedor de Lampiões’ deu-lhe fama. Mas a verdadeira importância de sua poesia deu-se em 1927, com o livro ‘Poemas’, com inspiração regional nordestina. Outros poemas seus, dessa fase, foram: Essa Negra Fulô e Bangüê.
Mas, como diz Álvaro Lins, o livro 'Tempo e Eternidade' adquire feição mística 'Restauremos a poesia em Cristo'. Torna-se então o lema do poeta e de seu amigo Murilo Mendes, coautor da obra, feição que culminaria em ‘A Túnica Inconsútil’ e nos poemas de ‘Anunciação e Encontro de Mira Celi’ que, incorporados à Obra Poética, não foram publicados em volume à parte. Então, assume um tom épico em ‘Invenção de Orfeu’.
Uma amostra da criação poética de Jorge de Lima está bem representada por seu poema ‘Inverno’ (in Jorge de Lima, Melhores Poemas. São Paulo: Global Editora, 2ª edição 2001 p. 46, 47.
INVERNO
- JORGE DE LIMA
Zefa, chegou o inverno!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Lama e mais lama
chuva e mais chuva, Zefa!
Vai nascer tudo, Zefa,
Vai haver verde,
verde do bom,
verde nos galhos,
verde na terra,
verde em ti, Zefa,
que eu quero bem!
Formigas de asas e tanajuras!
O rio cheio,
barrigas cheias,
mulheres cheias, Zefa!
Águas nas locas,
pitus gostosos,
carás, cabojes,
e chuva e mais chuva!
Vai nascer tudo:
milho, feijão,
até de novo
teu coração, Zefa!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Chuva e mais chuva!
Vai casar, tudo,
moça e viúva!
Chegou o inverno!
Covas bem fundas
pra enterrar cana;
cana caiana e flor de Cuba!
Terra tão mole
que as enxadas
nela se afundam
com olho e tudo!
Leite e mais leite
pra requeijões!
Cargas de imbu!
Em junho o milho,
milho e canjica
pra São João!
E tudo isto, Zefa...
E mais gostoso
que isso tudo:
noites de frio,
lá fora o escuro,
lá fora a chuva,
trovão, corisco,
terras caídas,
corgos gemendo,
os caborés gemendo,
os caborés piando, Zefa!
Os cururus cantando, Zefa!
Dentro da nossa
casa de palha:
carne-de-sol
chia nas brasas,
farinha d'água,
café, cigarro,
cachaça, Zefa...
...rede gemendo...
Tempo gostoso!
Vai nascer tudo!
Lá fora a chuva,
chuva e mais chuva,
trovão, corisco,
terras caídas,
e vento e chuva,
chuva e mais chuva!
Mas tudo isso, Zefa,
vamos dizer,
só com os poderes
de Jesus Cristo!
REFERÊNCIA:
Lima, de Jorge. Melhores Poemas. São Paulo: Global Editora, 2ª edição 2001.p. 46,47.Lins, Álvaro e Buarque de Hollanda, Aurélio.
Roteiro Literário de Portugal e do Brasil vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , 1966 p. 429 – 436.
Grazie per questo interessante articolo su questo autore che non conoscevo.
ResponderExcluirMolto belle le sue liriche sulla natura.
Cari saluti, Pedro,silvia
Um texto e poema simplesmente maravilhoso. Obrigada pela partilha!
ResponderExcluir-
Baloiço do tempo...
-
Beijos e um excelente dia!
Es muy de agradecer compartas esta valiosa información.
ResponderExcluirMuy bello el poema.
Un beso.
Um belíssimo poema, repleto de nossa cultura e muito pertinente, sempre esperamos pelas chuvas para acabar com as secas e agora para acabar com os incêndios em nossas matas, florestas...limpar o ar que ainda respiramos.
ResponderExcluirAdorei o poema e biografia!
Abraço, Pedro!
Fabulous blog
ResponderExcluirMais um poeta que gostei de conhecer através deste blog pois do Jorge de Lima só conhecia o nome.
ResponderExcluirAbraço, saúde e bom fim de semana
Pedro, houve um tempo, quando era bem jovem rss e desconhecedora da vida dos grandes poetas e escritores, que pensava não ser essa uma atividade passível de desenvolvimento por médicos. Eu os via, pela formação, como sem sensibilidade para lidar com as palavras. E como estava enganada!!!! O poema que nos trouxe é encantador, cheio de vida. Um hino a tudo que a chuva vai frutificar. Você escolhe poetas magníficos. Grande abraço para você e para Tais.
ResponderExcluirGostei de conhecer este médico poeta.
ResponderExcluirUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Jorge de Lima: nuca li nada, a não ser aqui. E como gostei do ritmo e da musicalidade do poema. A Zefa ficou a pedir a Deus que não houvesse seca...
ResponderExcluirMuita saúde, amigo Pedro.
Um beijo.
Olá, Pedro Luso
ResponderExcluirGostei muito de conhecer este médico/poeta com uma sensibilidade tal
que nos coloca no cerne da vida do quotidiano. E que bem que escreve!
louva com paixão a chuva e tudo o que de bom ela nos pode trazer...
Bom domingo, meu amigo.
Abraço
Olinda
Bom dia Pedro, Gostei doi conhecer o poeta Jorge Lima, e gostei da versatilidade do mesmo, o poema aqui postado expressa a realidade do nordestino. Esbanjou sensibilidade. \lindos versos. e excelente partilha.
ResponderExcluirBom dia de domingo caro amigo Pedro.
Abraços ao casal.
Un gran hombre Jorge de Lima. Espero y deseo que estés bien. yo, como muchos españoles, sigo confinada y no salgo de casa, pero tanto mi hijo como yo estamos bien. Un gran abrazo amigo Pedro.
ResponderExcluir"chuva e mais chuva, Zefa!
ResponderExcluirVai nascer tudo, Zefa"
Muito bom o poema de Jorge de Lima. Realmente é um louvor à chuva e ao seu efeito na agricultura.
Beijo, amigo Pedro.
Una referencia muy interesante la que haces de Jorge de Lima, y me ha parecido una eminencia en sus avatares y buena persona al atender como médico a los pobres gratuitamente.
ResponderExcluirEl poema es muy bonito, donde da a conocer un invierno con todas sus características, tanto favorables como no.
Un placer la lectura de tu reseña.
Un abrazo Pedro y buena semana.
Pedro, bom dia.
ResponderExcluirMaravilhosa publicação.
Lindos versos.
Sempre aprendo quando venho aqui.
Bjins de boa nova semana
CatiahoAlc.
Que excelente conhecer mais de autores através de sua biografia! acrescenta uma compreensão maior de sua obra. Obrigada pelo trabalho que está nos oferecendo enriquecendo-nos de conteúdo cultural.
ResponderExcluirUm abraço
Olá caro amigo Pedro!
ResponderExcluirTão linda a sua publicação!
Quando toca nossa alma merece aplauso!
E eu aplaudo!
Culturalmente fantástico!
Um abraço recheado de sabedoria!🌼🍀🌺
Megy Maia🌈
"vai nascer tudo/ lá fora a chuva ... "
ResponderExcluire tanto (me) basta para o renascer da poesia
gostei muito conhecer o poeta, de quem nada sabia,
forte abraç0, meu ilustre amigo Pedro Luso
Pedro
ResponderExcluirTão bonito esse poema de um poeta para mim completamente desconhecido.
Vou pesquisar, para saber mais da sua obra.
beijinhos
:)
O poema é tão lindo, que quase me faz gostar do Inverno, mas só quase.
ResponderExcluirAbraço, com voto de saúde e bem estar, Pedro.
Te deseo un excelente fin de semana.
ResponderExcluirUn beso.
Desconhecia este poeta.
ResponderExcluirO poema em destaque é soberbo.
Obrigado pela partilha.
Bom fim de semana, caro amigo Pedro.
Abraço.
Boa tarde, Pedro, mais uma bela e rica partilha cultural.
ResponderExcluirConheço alguns poemas do Jorge de Lima, porém desconhecia os detalhes da história de vida dele. Jamais imaginaria tantas atividades exercidas por ele e ter inspiração tão marcante para escrever suas obras. Deixou-nos um ótimo legado. Obrigada por mais esta aula de Literatura. Abraço!
Como sempre, demoro, mas chego, Pedro! Já sabes como anda esta tua amiga, um pouco desanimada não só pela pandemia, mas também pelo nosso Outono que mais está a parecer um Inverno daqueles rigorosos. Os dias ficam tristes, com tanta chuva, frio e escuridão e a mim isso desagrada-me muito; preciso de sol, de calor, de roupas leves. Bem...vamos ao que interessa...
ResponderExcluirParece até vergonhoso, dada a minha ligação ao Brail, mas, imagina, nada sei de Jorge de Lima, nem sequer de nome e por isso foi muito bom ter vindo cá conhecê-lo. Muito obrigada, Amigo. Gostei muito do poema e, como diz a nossa Amiga São, gostei tanto " que quase me faz gostar do Inverno, mas só quase ". É isso, Pedro, Inverno só em poemas que ficam até muito belos; as rajadas de vento, as chuvas torrenciais, os mares agitados e a neve cobrindo estradas e casas são, sim, valiosas inspirações para os poetas, mas...que fiquem por aí...
Amigo, gostei muito de conhecer este poeta e agradeço a partilha, mesmo falando de Inverno. Fica bem, com SAÚDE e disposição para aguentar este maldito virus. Beijinhos e um bom fim de semana, na medida do possivel. Não te esqueças que um desses beijinhos é para a Taís, certo?
Emilia
Emilia
E depois do inverno toda a natureza renasce.
ResponderExcluirLindo poema, obrigado pela partilha, desconhecia o poeta.
Bom Domingo
Beijinhos
Es siempre un placer visitarte Pedro. Gracias a ti voy conociendo ilustres poetas que nos han dejado un hermoso legado. Un médico poeta que sanaba el alma y el cuerpo de los más necesitados, a pesar de haber sufrido la violencia en el suyo.
ResponderExcluirGracias.