A TÁBUA DE SALVAÇÃO
– Pedro Luso de Carvalho
Há poucos dias, ainda no inverno, minha mulher feriu levemente sua mão, quando esculpia uma estátua de madeira. Foi um descuido seu, mas aconteceu. Isso se deu num domingo, após o almoço, dia em que a responsável pelos trabalhos domésticos tira a sua folga. Então, ficou no ar a pergunta: quem lavará a louça?
Estavam amontoados na pia, para serem lavados, pratos, talheres, copos e três panelas. Eu fiquei ali, parado, feito estátua, sem me dar conta da presença da Taís na cozinha, que, sem nada dizer, colocou sobre meu ombro um pano de prato e saiu. Levei alguns minutos para assimilar aquele gesto, e as suas consequências.
Não tinha mais dúvida, caberia a mim lavar tudo o que sujamos depois do almoço feito pela Taís. Tirei logo dos ombros o pano de prato e dei início ao trabalho. Fiz alguns cálculos antes, e decidi que começaria lavando os pratos, depois os talhares e os copos, deixando para o final as panelas. Mas, antes de começar, fechei a porta.
Não tive muita dificuldade em lavar os pratos, embora grandes, apenas deixei respingar muita água sobre a mesa da pia e embaixo, no piso. Os talheres e os copos também não me deram muito trabalho. Deu-se o mesmo com a panela de inox menor, na qual foi cozido o arroz, que apenas exigiu um pouco de esforço.
Descansei um pouco, ali na cozinha, e lavei outra panela, a das verduras, de tamanho médio, que exigiu um pouco mais de esforço. Agora tinha a panela dos bifes para lavar. Esta era quase uma ameaça para mim. Essa panela dos bifes estava suja demais. Mas, como já tinha lavado a maior parte da louça, não seria agora que desistiria.
Aproximei-me do fogão, meio sestroso, para pegar a panela dos bifes, que era muito grande. Fiz um pouco de força para levá-la até a pia, mas consegui. Foi nesse momento que senti que já estava muito cansado. Agora a panela grande estava ali, na minha frente, no fundo da pia. Parei um pouco mais, fiquei olhando a panela e pensando.
Não tive dúvida, eu tinha que dar algum jeito naquela panela, pois não tinha mais resistência para lavá-la. Em dado momento senti-me perdido, a ponto de chegar a pensar em pedir a ajuda à vizinha. Pensando melhor, desisti da ideia. O que pensaria a minha vizinha se tivesse pedido a ela para lavar aquela panela?
Quando me dei conta que delirava, sentei um pouco, de costas para a pia. Respirei fundo para ficar mais calmo, e, quem sabe, tentar terminar o serviço. Sabia que com um pouco de força de vontade conseguiria limpar toda aquela densa graxa grudada no fundo da grande panela de aço inoxidável, que estava escura pelo calor.
Portanto, era minha intenção lavar a maldita panela, mas depois compreendi que devia dar um tempo. Retirei do armário da cozinha um litro de licor, e tomei alguns goles. Quando já estava pronto para o decisivo enfrentamento, vi uma luz no fundo da panela: a mulher do zelador. (por que não havia pensado nela?).
Telefonei para o zelador do prédio, que logo veio ao meu apartamento. Expliquei-lhe que tinha comigo uma panela para ser lavada. “Não se preocupe, minha mulher lava”, disse-me. No dia seguinte Taís então ficou sabendo dessa história pela mulher do zelador, quando ela devolveu a panela limpa, em estado de nova.
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Lavori prettamente femminili, ai quali non si è abituati e che richiedono uno sforzo notevole per essere portati a termine...
ResponderExcluirBuona domenica Pedro,silvia
Não sei se é verdade ou ficção. No entanto, acho que os homens deviam de fazer estas tarefas mais vezes para se habituarem. Assim a panela dos bifes não lhe metia medo :))
ResponderExcluirGostei muito de ler :))
~~
É tão cinzenta a paisagem...
Beijos. Bom fim de semana...
rsssssssssssssssss.... Bah! Pedro,tive que rir. Que canseira,heim?
ResponderExcluirAssim podem ver e valorizar cada dos nossos trabalhos em casa,eis que estão acostumados a ganhar tudo prontinho sempre e depois a casa e cozinha limpa. Será milagre nosso?rs abração, lindo fds! chica
Pedro el menaje actual es mas fácil de limpiar que el mas antiguo por los materiales que se usan en su confección. Claro que aquellas viejas sartenes de nuestras abuelas por muy raro que nos parezca se pueden usar mejor que otras mas modernas en las actuales cocinas.
ResponderExcluirSaludos.
Amigo Pedro!
ResponderExcluirOs trabalhos do lar não é fácil, sabe gostei da sua crônica, achei maravilhoso seu desabafo.
Desejo melhoras para a Taís!
Boa noite a todos e um Feliz domingo!
Um abraço
Olá, amigo Pedro.
ResponderExcluirEu não tenho desses problemas. Sou eu próprio que trato dos assuntos domésticos. Por uma razão muito simples. Desde há muitos, quando era casado, sempre partilhei as tarefas domésticas, inclusive sei cozinhar, o que me deu experiência para essas tarefas sem qualquer problema. Hoje em dia, como sou divorciado e vivo só, é uma enorme vantagem, assim não preciso de ajuda exterior.
Crónica curiosa a sua, amigo Pedro, se estivesse esse hábito de partilha de tarefas, não tinha de certeza esse problema.
Votos de um excelente fim de semana!
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
rsssss Cruzes! Mas tu conseguiste fazer de uma panela uma crônica!!
ResponderExcluirMas que bagunça... Que coisa interessante são os homens numa cozinha: muitos homens ficam transtornados com louças! E ainda pediu socorro pra mulher do zelador, rss que loucura. Mas não precisava ter molhado tanto o piso!! Mas sou justa, quando não posso, te elejo meu braço direito - não te tirarei desse posto! Jamais!! rss Adorei!
Beijinhos!
Jajaja, como se nota que no tienes costumbre de ayudar en la cocina. Cuentas lo de la olla como si hubieras estado frente a un toro de Miura, :))).
ResponderExcluirMuy simpático tu relato sobre este quehacer doméstico.
Un abrazo y buen domingo.
Confesso que achei imensa graça a esta sua crónica, meu Amigo Pedro. Os homens, habituados que estão a que as mulheres façam tudo em casa, nem se dão conta do trabalho que elas têm e que fazem até com alguma facilidade. Gostei da resposta da Taís.
ResponderExcluirMuita saúde.
Um beijo.
Uma história muito engraçada que adorei ler.
ResponderExcluirE pensar que meu marido lava quase todos os dias a loiça, sem que lhe peça nada, só porque há muitos anos, me disse que eu cozinhava e ele cuidava das loiças. Quando lhe apetecesse cozinhar, eu cuidava da loiça. Como é raríssimo que lhe apeteça cozinhar, também é muito raro que eu lave a loiça.
Abraço, saúde e bom domingo. De resto desde que casámos sempre dividimos tarefas, até porque ambos trabalhávamos.
Abraço, saúde e bom domingo
Super blog
ResponderExcluirIsto é o que se chama desistir com a meta à vista hehe.
ResponderExcluirGostei.
Um abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Toda una aventura!!!!.
ResponderExcluirLas labores domésticas son más complicadas de lo que parece.
Me encantó tu relato, tan divertido.
Un beso.
BATOTA!!!!! :)))
ResponderExcluirAbraço, boa semana
Amigo Pedro
ResponderExcluirAdorei esta sua crónica, que li com um sorriso no rosto.
Não estará na hora de comprar uma máquina de lavar loiça???😁
Estive agora na blog da Taís e, de repente, veio-me à ideia o aniversário do meu blog, os vossos parabéns (seus e dela) e a minha grande, enorme, indelicadeza, de não vos ter agradecido. (Para atenuar a minha falta, devo confessar que ainda estava atravessando uma fase bastante difícil...).
Portanto, junto às desculpas que apresento agora vem também o meu agradecimento, sem esquecer as suas palavras de conforto pela perda do meu genro.
MUITO OBRIGADA!
Um grande abraço.
Uma semana feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Olá, amigo Pedro,
ResponderExcluirPassando por aqui, relendo esta curiosa crónica, e desejar uma excelente semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Pedro,
ResponderExcluirCoisa boa ver que uma
situação de domingo se
tornou uma bela crônica.
Mas não é assim a Vida:
uma sucessão de Crônicas?!
Meu esposo diz que lavar
louça é para ele uma terapia.
Mas apesar de adorar ajuda
Eu tenho que confessar que
depois quando retorno
ao trabalho preciso respirar
fundo para por
as coisas no lugar.
Eu e Ele temos opiniões
diferente sobre coisas e lugares
dela na cozinha.rsrs
Mas sempre agradeço e em 40 anos
aprendi a não me queixar
e por tudo no
lugar sem queixa.
Adorei sua aventura!
Bjins de boa semana.
CatiahoAlc.
Uma luz no fundo panela era o que faltava para iluminar essa terapia, pois não é qualquer analista que daria tratos à bola depois do seu desempenho à beira da pia. De todo modo, você descobriu que não precisa de analista, bastam quinze a 30 minutos diariamente à beira da pia e está feita a terapia a custo zero. Uma bela cronista, Pedro. O risco é Taís dependurar a toalha de pratos nos seus ombros com maior frequência. E não vou perguntar-lhe o que ela achou do seu pedido de socorro à mulher do zelador... Não quero constrangê-lo, risos!
ResponderExcluirUm grande abraço, meu amigo, com ou sem terapia!
Gli uomini in cucina a lavare i piatti sono un disastro, è perché non sono abituati a questi lavori, quindi vanno in crisi. Tu, Pedro te la sei cavata bene in gran parte. Comunque la stoeiella della bistecchiera mi ha divertita molto, ma non mi ha stupita. Ti auguro una buona settimana, con un abbraccio amicale. Grazia!
ResponderExcluir" Tábua de salvação " é o titulo que deste a esta " peripécia, mas, creio que para este caso já não há salvação possivel e, digo-te, tiveste muita sorte, porque, se o meu marido tivesse pedido à mulher do zelador para lavar a panela, teria ficado muito, muito zangada; teria preferido que deixasse a panela de molho e depois eu daria solução ao caso. Aliás, mulher sempre resolve tudo, porque a ela foram dadas múltiplas funções e aos homens ficava só o trabalho fora de casa; ainda lembro o que a minha querida mami dizia, " tu és mulher e portanto és tu que tens de fazer " ; ficava furiosa, pois o meu irmão era muito desarrumado; hoje está melhor porque a mulher o ensinou, mas, mesmo assim....não ajuda muito. E, agora, se me permites, vou dar-te um conselho....sem que a Tais veja, joga no lixo ( ou oferece à mulher do zelador ) todas essas lindas panelas de inox e compra daquelas pretas, tefal, como eu fiz para a minha filha... frigideiras, tachos, panelas e até a de pressão, tudo pretinho, fácil de limpar. Eu tenho todas de inox e, se não fosse o marido que logo me internaria no hospício, já tinha trocado tudo. Imagina...lavo-as, enxugo-as bem e, quando volto a pegar nelas, aparecem até as marquinhas dos grãos de arroz...e, outro tipo de manchas, claro. Um saco, como dizem os meus Amigos brasileiros. Olha Pedro, o conselho está dado, mas, por favor, não contes à Tais, pois não quero " apanhar "; estás longe, dirás tu, mas...há muitas maneiras de bater e ela sabe o meu número de telefone...portanto, segredo,certo? Tive que rir com esta tua peripécia, Pedro, mas, nos tempos que correm é preciso algo que nos tire toda esta tristeza da guerra. Um beijinho e, espero que, tão cedo, não tenhas de lavar panelas. Saúde para todos
ResponderExcluirEmilia 👏 🕊
Boa noite Pedro,
ResponderExcluirLi a sua crónica com um sorriso.
Lavar a louça e outras tarefas não são fáceis. Para esse efeito existem as nossas amigas máquinas de lavar louça que fazem um trabalho perfeito.
Mas é sempre bom ir treinando de vez em quando para quando for necessario o esforço ser mais leve.
É duro o trabalho de dona de casa rssss.
Beijinhos
Ailime
Assim ficou
Me hiciste sonreír Pedro, Yo suelo colgar el paño en el hombro de mi esposo cada tanto para que no pierda la costumbre jajjajaja. Una historia muy bien contada y graciosa. Gracias por compartir.
ResponderExcluirAdorei a crónica. Esse pequeno acidente da Tais, deu para o Pedro poder comprovar como nem sempre é fácil e por vezes é bem cansativo, fazer o trabalho domestico, neste caso concreto, o lavar a loiça. Talvez no próximo domingo, o Pedro até vá ajudar, pois afinal o trabalho partilhado é sempre mais rápido e mais fácil.
ResponderExcluirBeijinhos
no tiene mucha ciencia, lavar unos platos. Yo tengo lavavajillas y me gusta más hacerlo a mano.
ResponderExcluirBesos
Tanto el hombre como la mujer deben se autosuficientes, a todo nivel, hacer lo que la fuerza y empeño nos lleva hacer.
ResponderExcluirPara reflexionar amigo Pedro.
Feliz día. Un abrazo
Esta possibilidade de vivenciar novas tarrefas, principalmente as domésticas, é significativo para a empatia e valorização entre parcerias. Para Taís deve ter sido uma gratificação pelo serviço feito e uma surpresa inesperada no dia seguinte. Uma crôni9ca reflexiva. Abraços. Bom final de semana.
ResponderExcluirPedro,
ResponderExcluirHe leído tu Odisea con la misma emoción que de niña hice lo con Os Lusiadas de Camoes.
Una gesta, querido amigo, donde el Héroe, por mucho que le supere su Destino por la dureza del esfuerzo y lo repulsivo del enemigo, se sobrepone, ataca, y vence.
Aunque a veces parecía que no ibas a poder más con la lucha. Pero intelectualizando lo que tenías ante tus ojos, te detenías, y como Niemeyer en Brasilia, especulabas, hacías tus cálculos de resistencia… y combatías hasta la extenuación.
Llegado el momento en que ya te era imposible continuar, no te respondían los brazos, las piernas te flaqueaban y estuviste a punto de desertar ante aquel combate tan desigual lanzando el paño de cocina al fregadero, y como El Pensador, te detuviste y marchaste para sentarte haciendo un ejercicio de introspección.
Y volviste porque te pareció oír una ovación. ¿Imaginaciones? No.
Allí, en tu cocina, un batallón de 300 magníficos guerreros había emergido de la Historia para cantar tu gesta:
- “¡Qué somos!”-, gritó Leónidas, el líder.
- “¡Hombres!”-, se oyó al batallón, como una sola voz.
- “¡Qué somos!”-, repitió El Rey.
- “¡Espartanos!”-, elevaron sus hombres armas y escudos con la fiereza de un rayo.
No necesitaste más. Tomaste la decisión que más dolor podía causarte.
Habrá quien crea que tu texto es pura ficción y en cierto sentido lo sea.
Pero el verdadero valor no consiste en hacer, sino en hacerlo en silencio, luchando contra uno mismo.
¿Y qué había en el mundo que precisase más valor?
Pues el enfrentarse a la Generala consorte y decirle que no habías podido cumplir sus órdenes.
Y eso sólo puede hacerlo un Espartano de ley.
Amigo Pedro, enhorabuena. No se puede tener más arte.
(Y deseando que Tais se reponga)
Um texto que me fez sorrir!... :-))
ResponderExcluirCozinha dá luta mesmo!... Mas felizmente o problema foi superado... com uma uma providencial ajuda!...
Um pequeno incidente... que valorizou ainda mais a sua Tais, Pedro... e a falta que ela faz... seja em que circunstância for!...
Beijinhos para ambos!
Ana
Don Pedro:
ResponderExcluirleí en el blog de Taís esta misma historia desde su punto de vista...
Abraços.