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30 de mai. de 2010

GRACILIANO RAMOS – Bilhete da Prisão

O livro Cartas, de Graciliano Ramos, foi lançado pela editora Record, em sua 7ª edição, em 1992, com seleção das ilustrações, diagramação, edição do texto, notas e apresentação de James Amado. Desenhos de Portinari, Arpad Szenes, Luis Jardim e Newton Rezende. Caricaturas de Augusto Rodrigues, Mendez e Alvarus. Fotos de Arquivo de Heloísa Ramos. Em 1980, Heloísa Ramos escreveu nota para a primeira edição de Cartas, de Graciliano Ramos, para justificar esse lançamento: “Convenço-me da necessidade de publicar a correspondência íntima de Graciliano Ramos, falecido há 27 anos. Durante tão longo tempo esses papéis permaneceram comigo, parte da minha saudade. Graciliano preservava a sua identidade ao ponto de não permitir intrusões em seu espaço pessoal, era avesso a qualquer publicidade, muito contido em suas relações com terceiros e dizia que só após vinte anos de sua morte se deveria publicar seus inéditos (...)”. A 3 de março de 1936, Graciliano Ramos é preso em sua casa. Motivo: suspeitava de que o escritor tivesse simpatias pelo regime comunista. Da prisão de Maceió foi transferido para a prisão do Recife e depois para a Casa de Correção do Rio de Janeiro, onde permaneceu por quase um ano. Nesse ano, a Livraria José Olímpio Editora publica a primeira edição de seu livro Angústia. Mais tarde, com a obra Memórias do Cárcere, Graciliano relata o que aí vivenciou. Do livro Cartas, escolhi a primeira que foi escrita por Graciliano a sua mulher: “27-3-1936
Heloísa: Até agora vou passando bem. Encontrei aqui excelente companheiros. Somos setenta e dois no pavilhão onde estou. Passamos o dia em liberdade. Hoje comecei a estudar russo. Já você vê que aqui temos bons professores. O Hora estuda alemão. Entre os livros existentes, encontrei um volume do Caetés, que foi lido por um bando de pessoas. Companhia ótica. Se tiver a sorte de me demorar aqui uns dois ou três meses, creio que aprenderei um pouco de russo para ler os romances de Dostoiévski. Nas horas vagas jogo xadrez ou leio a História de Portugal. Julgo que sou um dos mais ignorantes daqui. Pediram-me uma conferência sobre a literatura do nordeste, mas não tenho coragem de fazê-la. As conferências aqui são feitas de improviso, algumas admiráveis. Tudo bem. As camas têm percevejos, mas ainda não os senti. Quanto aos mais, água abundante, alimentação regular, bastante luz, bastante ar. E boas conversas, o que é o melhor. Não lhe pergunto nada, porque as suas cartas não me seriam entregues. Abraços para você e para todos. Beijos nos pequenos. Graciliano”. Graciliano Ramos nasceu em no dia 27 de outubro de 1892, em Quebrangulo, Alagoas, e morreu a 20 de março de 1953, no Rio de Janeiro, com 60 anos de idade.

6 comentários:

  1. Graciliano Ramos é o escritor que mais admiro. Como homem e como linguagem. Nem tento escrever como ele: melhor guardar uma distância respeitosa, de reverência.
    Abraços, Pedro.

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  2. Pedro,
    Taí um escritor que me abduzio. A escrita aliada a sua biografia me fascinam.
    Este trecho de sua carta demostra sua generosidade, sua grandiosidade, sua humildade, marca tão notória em sua vida e escrita.

    Abraços,

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  3. Pedramigo

    Graciliano - que bela escolha. Graciliano é... Graciliano. Um Mestre na arte de escrever. Como se dizia na minha juventude, quando eu for grande, quero ser Graciliano Ramos.

    Claro que o que eu queria ser era bombeiro, aviador, ou contra almirante. Não sei por que bulas, mas creio que gostava dos barcos e, tem piada, nunca enjoei...

    Um amigo, infelizmente já falecido, tinha um desejo notável: meio dia padre, meio dia toureiro...

    Um bom malandro me saíste: lá vou eu voltar ao Graciliano, onde só chego na minha... bblioteca.

    Qjs à Tais e abs para tu

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  4. VEREDAS: quanto pode o amor!
    Tenho pena de não conhecer o grande vulto da vossa LITERATURA,pois não se encontram à venda ,nem nas livrarias de referência. O mesmo digo de Cecília MEIRELES... Num livro ou noutro do ensino secund+ario, que é composto pelos 10º, 11º e 12º anos, antes dos alunos irem para a Universidade, de vez em quando lá aparecia um poema de um desses autores... Pouco, para quem , como PROFESSORA DE PORTUGU~ES, qer saber mais...
    UM ABraço de
    LUSIBERO

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  5. oi pedro,
    adoro gaciliano ramos..
    belo trecho..
    um abraço.

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  6. São Bernardo está entre os melhores livros da literatura brasileira que já li, assim como a cachorra Baleia dentre os melhores personagens. Graciliano, em sua reserva, seu espírito contido, tem a égide dos grandes continuadores do espírito, da invenção (tão verdadeira) literária.
    Postagens muito interessantes encontro aqui, Pedro, e fico muito feliz quando tece comentários sobre o que escrevo.
    Grande abraço.

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Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho