– PEDRO LUSO DE CARVALHO
LUIZ
DE MIRANDA (Luiz Carlos, Goulart de Miranda, Uruguaiana, 1945) não é
apenas um dos poetas gaúchos mais importantes; ele está colocado
entre os melhores poetas modernos brasileiros, que deram seus
depoimentos sobre a obra de Miranda: Carlos Drummond de Andrade,
Ferreira Gullar, Raul Bopp, Guilhermino César, Nelson Werneck
Sodré, José E. de Lima Alves,
Alguns
dos poetas e críticos brasileiros mais representativos falam sobre a
poesia de Luiz de Miranda (in Antologia de Poemas/Luiz de Miranda.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987), como veremos a seguir:
CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE: “Poesia aberta, comunicante, como um sopro de
vida e insatisfação”.
FERREIRA
GULLAR: “No caso de um poeta como Luiz de Miranda, as soluções
formais resultam da necessidade de formular o vivido e sentido,
emoções e ideias que são expressão de um compromisso claro com
seu país e o seu tempo. A poesia de Luiz de Miranda fala de nós
todos”.
RAUL
BOPP: “A poesia de Luiz de Miranda revela a sensibilidade do
verdadeiro e grande poeta. É uma contribuição definitiva à
literatura brasileira”.
GUILHERMINO
CÉSAR: “De qualquer modo, penso que Memorial assinala uma
vertente; reúne-se ao que de melhor existe no Brasil”.
NELSON
WERNECK SODRÉ: “Luiz de Miranda sabe que a solidão é provisória
e decorre de derrota, exílio, distância, saudade. Escreveu longe e
perto. Sua poesia se junta a de alguns, uns poucos, que souberam ver
o que viu, sentir o que ele sentiu. A época, amarga e opaca e
escura, é atravessada por essa poesia como um relâmpago. Sua luz
denuncia auroras. Do provisório, entrevemos o definitivo”.
JOSÉ
ÉDIL DE LIMA ALVES: “Poeta comprometido com a realidade do seu
país e de seu continente, ele trilha os caminhos percorridos por um
Pablo Neruda, um Atahualpa Yupanqui, um Ferreira Gullar, com seu
canto enérgico de protesto”.
O
poema que segue, BREU DAS ALMAS, de Luiz de Miranda, integra o livro
“Trilogia da Casa de Deus”, Prêmio Nacional de Poesia 2001,
da Academia Brasileira de Letras (In Trilogia da Casa de
Deus./Luiz de Miranda. Porto Alegre: Editora Sulina, 2002, p.
143-144):
BREU
DAS ALMAS
Luiz
de Miranda
a
Vanja Orico
Em
mim, o silêncio do mar,
pulsando
a remota invernia,
somente
descem a ampulheta dos dias,
frêmitos
e de prata impura,
na
vidraça onde morre o vento.
Por
milhares de anos foi assim,
um
balde de ternura ao fim
da
borrasca, da solidão e do medo.
Em
mim, morrem todos os segredos,
tombam
as tempestades
cobertas
de esquecimento.
Puída
e cheia de pó,
a
alma canta o que fui de menino
a
se perder para sempre
no
trevoso breu dos anos,
mas
ainda à noite me alucino
na
contemplação dos velhos retratos,
fechados
a sete chaves no meu quarto.
Homero
e Dante me consolam
no
plenilúnio do paraíso.
A
morte vem sem aviso,
tecendo
os noturnos do adeus.
Ninguém
me ama,
e
tarda, tarda muito, amanhecer,
mas
viver, como disse antes,
é
ir com todos
sem
nunca se perder.
Vou
pelas vielas da minha pátria,
tão
esquecida, miserável e humilhada
nos
gabinetes do poder.
Pátria
pobrinha da minha alma,
te
canto sempre em tom maior.
Entre
lendas e beijos,
te
coloco ao pé dos santos,
para
que envolvida pelos seus mantos
permaneças
viva e intocada.
Pátria
minha, sempre amada.
Em
mim está bem desperto
o
pólen, a pétala, a pérola
que
descem comigo ao inferno,
e
voltamos lúcidos à vida,
do
breu das almas e do inverno.
Não
haverá mais partida ou despedida.
Porto
Alegre,
1º
de setembro de 2000.
* * *
Esta publicação é Divida. O Poema completa-a!
ResponderExcluir~~
Beijos e um dia feliz!
Bom dia:- Pela amostra, sem dúvida, um poeta de elevado valor. Gostei muito do poema.
ResponderExcluir.
Deixando cumprimentos
Abraço
Bom ver o nosso poeta por aqui . Poesia linda e bem do seu estilo. Só acho que ele não tem reconhecimento apesar das boas recomendações...abraços, lindo dia! chica
ResponderExcluirUna serie di bellissimi versi di un autore, che ho conosciuto, tramite questo tuo valido ed esauriente articolo.
ResponderExcluirCari saluti, Pedro,silvia
No conocía a este poeta. Muy de agradecer hayas compartido esta fantástica información.
ResponderExcluirEl poema me ha gustado mucho.
Gracias siempre.
Un beso.
El mejor testimonio de lo que has dicho, son sus obras y ahora lo he podido comprobar al leer ese verso.
ResponderExcluirBesos
Querido amigo poeta sensível, Pedro!
ResponderExcluirQue escolha, que percepção, em tempos nebulosos estamos todos sensíveis em busca de algo que nos dê alento, em mim também fica essa busca, respostas que não temos!
"Breu das Almas", lindíssimo poema com versos bem claros e diretos desse poeta escolhido por você e eu não o conhecia! Luiz de Miranda, vou procurar para ler mais, amei!
Deixo aqui abraços bem apertados repletos de boas energias!
poema de dimensão épica! gostei muito conhecer esta plêiade de poetas
ResponderExcluirque com grande mérito teu, caro amigo, nos dás a conhecer
Poesia de que és esmerado cultor sobretudo como consagrado Poeta
que teu exemplo se multipique
grande abraço
Gostei de conhecer Luiz de Miranda, mais um poeta de que nunca tinha lido nada.
ResponderExcluirObrigado pela partilha
Abraço e saúde
Um poeta reconhecido pelos seus pares que são escritores de grande qualidade intelectual. Confesso que não conheço Luiz de Miranda, mas gostei muito do que li sobre ele e do poema que aqui nos deixa revelando um poeta sensível e atento ao que o rodeia. Obrigada.
ResponderExcluirMuita saúde, meu amigo Pedro.
Um beijo.
"Poesia de que és esmerado cultor, sobretudo, como Poeta consagrado.
ResponderExcluirQue o teu exemplo se multiplique"
Assim deve ler-se, depois de catadas umas gralhas e as devidas vírgulas.
peço desculpa
Uau!
ResponderExcluirNão conhecia o autor.
Lindo, profundo, necessário.
Poema maravilhoso, Pedro, obrigada pelo compartilhamento! Ao ler cada verso me senti um grãozinho na ampulheta da vida escorrendo.
ResponderExcluirAbraço!
Confesso, meu amigo Pedro, não conhecia a poesia de Luís de Miranda. E fui pinçar estes versos extraídos do poema SOBREAVIDA
ResponderExcluir"Sobreavida deponho
desde Uruguaiana
de uma rua secreta
a tudo o que nela era
pedra, pó, brilho de árvore
contra os olhos
respiração de grama
debaixo dos pés".
Uma bela partilha.
Um forte abraço,
Gracias.
ResponderExcluirHay veces en que una simple frase te descubre a un autor que te fascina. Alguien del que nunca habías oído su nombre, o quizá sí, pero al que tu ignorancia ha hecho que pases de largo sin oír su melodía. Así me ha sucedido con este poeta del que, como le pasaba a Unamuno en su "Me duele España", puede sentirse el mismo llanto en lo más profundo del poema que nos muestras.
Luiz Miranda me ha tenido todo el día alrededor de un libro suyo, "Salve Argentina". Es un grande y no será lo único suyo que leeré. Saludos, Pedro.
Pois é, Ana, essas coisas também acontece comigo. Um livro que ficou perdido entre outros por descuido, como é o caso que contas sobre “Salve, Argentina”, poema de Luiz de Miranda, de grande fôlego, escrito em espanhol, que, pelo que entendi, estava contido o poema, sem que dele te desces conta. Que bom, Ana, que gostaste de “Salve Argentina” e do poema postado, “Breu das Almas”, os dois de Luiz de Miranda. Obrigado, Ana. Beijo. Pedro
ExcluirUm poeta de culto. Gostei muito do poema e gosto quando alguém acrescenta mais um pouco.
ResponderExcluirPostagens de grande mérito teu e privilégio nosso.
Grande abraço, amigo Pedro.
mas viver, como disse antes,
ResponderExcluiré ir com todos
sem nunca se perder.
Boa noite de sábado, amigo Pedro!
Suas escolhas por aqui estão sempre excelentes.
Me identifiquei com estes versos acima...
Tenha um ótimo final de semana abençoado!
Cuide-se!
Abraços fraternos de paz e bem
Obrigada Pedro pela apresentação de um poeta tão visceral que em sua plenitude consegue ser universal sem perder as raízes.Um abraço
ResponderExcluirCaro amigo Pedro estou amando esta sua serie de apresentação de grandes escritores.
ResponderExcluirDepois de Bandeira vem com Luiz de Miranda com seu olhar critico sobre nossa sociedade, como bem ilustra o Breu das Almas.
Grato Pedro por mais esta generosidade.
Um bom domingo e feliz semana amigo.
Meu terno abraço de paz.
Não conhecia o autor... pelo que foi uma grata descobri-lo, neste seu fantástico post, Pedro, que nos incita a mergulhar fundo na obra do autor!...
ResponderExcluirBelíssima partilha!
Beijinho! Votos de um excelente domingo e uma óptima semana!
Ana
Não conhecia e gostei do que li.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Caro Pedro
ResponderExcluirMuito me apraz conhecer pela sua mão, este Poeta brasileiro, Luiz de Miranda, que ombreia com Poetas de renome como Drummond de Andrade, Ferreira Gullar.
Este Poema que nos traz é belo e tão cheio de sentimento que se tem quase a certeza, como se diz acima, que Luiz de Miranda escreve para todos nós. Numa passagem ou outra vemo-nos retratados na nossa solidão e desesperança.
Mas como diz Nelson Sodré: “Luiz de Miranda sabe que a solidão é provisória e decorre de derrota, exílio, distância, saudade". Em alguma reentrância da vida talvez se albergue a esperança de que necessitamos todos.
Gostei muito, caro Pedro.
Abraço
Olinda
Pedro
ResponderExcluirConfesso que não conhecia Luiz de Miranda, mas gostei do que li e já tenho nas minhas notas para pesquisar a sua obra.
Por isso muito obrigada pela partilha.
Agradeço a sua visita e deixo votos de muita saúde.
Beijinhos
:)
Siempre es un placer visitarte querido amigo, Pedro. Nos abres nuevos horizontes hacía la poesía de grandes autores. Algunos quizá menos conocidos como es mi caso, pero siempre enriquecedores.
ResponderExcluirGracias por tu generosidad.
Sempre um prazer conhecer novos horizontes na linha da via poética.
ResponderExcluirUm abracinho viajante!🌷
Megy Maia🌈
No conocía a este insigne poeta, pero coincido en el en el amor que siente por su amada Patria.
ResponderExcluirVeo que somos muchos los que lloramos por nuestro País.
Un fuerte abrazo amigo Pedro.
Bello poema. Gracias Pedro por dar a conocer a los buenos poetas de tu tierra. Un abrazo.
ResponderExcluirmariarosa
Em mim, o silêncio do mar,
ResponderExcluirSEMPRE a paz de uma praia
vendo ao longe as ondas
conversando com a areia
e, assim continuo
confinada a quatro paredes
somente desce a ampulheta dos dias
a alma chora de tristeza
Ninguém me ama,
ninguém se lembra que existo
Obrigada pela partilha, Pedro.
Gostei do poema, é brilhante.
Continuação de bom fim de semana
Beijo da Tulipa.
Quer espreitar?
http://meusmomentosimples.blogspot.com/
http://pensamentosimagens.blogspot.com/
http://momentos-perfeitos.blogspot.com/
Bravo, Tulipa!
ExcluirQue bom, minha amiga, que você gostou do poema de Luiz de Miranda.
Entre os nomes que concorreram ao Premio Nobel de Literatura na última reuniu da Academia Sueca para essa escolha constava o nome de Luiz de Miranda, por indicação da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).
Quem sabe receba esse galardão, que é merecido, quando a Academia Sueca decidir pelo melhor poeta para lhe dar o prêmio.
Um abraço Tulipa, e um bom final de semana, com muita saúde. Pedro.