Paul Signac - 1863 / 1935 - Obra Sunday 1880 |
CASAL DISCUTE A RELAÇÃO
– Pedro Luso de Carvalho
Iolanda mal podia esperar pela hora do jantar, que havia preparado para o marido. A expectativa da conversa, que teria com ele, deixava-a apreensiva. Há muito tempo queria discutir a relação do casal.
Leopoldo chega na hora que havia combinado com Iolanda. Demora-se no banheiro. Quer fazer boa figura para sua bela esposa. Acordes de música muito suave, chegavam até ele.
O jantar correu como havia sido planejado por Iolanda. Sente-se tranquila, com o resultado. Não lhe passou despercebido que o marido havia gostado dos pratos servidos.
Depois, sentados em confortáveis poltronas, Iolanda inicia a conversa. O marido fica um pouco desconfortável com o que poderia ocorrer. Não acha razoável que contem, um para o outro, suas intimidades.
– Querido, o que você fez , nestes sete anos?
– Por favor, Iolanda! O que poderia ter feito?
Iolanda já havia estudado tudo o que teria para dizer ao marido. Destaca muitos momentos bons que viveram, mas não esquece dos maus momentos. E diz ter ciúmes das mães dos seus pacientes.
– Iolanda, eu sou médico dessas crianças!
– Então, por que tanta atenção com as mães delas?
Leopoldo não gosta do tom da conversa. Está arrependido por ter se deixado convencer pela mulher. Sabe que estava certo quando lhe disse que não deviam falar sobre suas vidas de casados.
– Querido, quer dizer que não teve amante?
– Claro que não, Iolanda!
Nessa altura da conversa, Leopoldo diz que é melhor para eles que parem. A mulher insiste em continuar. O marido reafirma sua intenção de parar. Diz que não lhe agrada esse rumo da conversa.
– Querido, você pode ser sincero, e falar da outra mulher.
– Por favor, Iolanda!
– Pois bem, querido, mas eu tive um amante, por dois anos.
Leopoldo fica chocado. Está cansado e abatido. Não se sente em condições físicas e emocionais para continuar. Iolanda parece não ver o que se passa com ele, e continua:
– Conheci ele no shopping...
Leopoldo permanece calado. Procura levantar-se da poltrona, mas a mão da mulher no seu ombro faz com que se recoste novamente. Seu desejo é deixar a sala rapidamente.
– Fomos amantes por mais de dois anos...
Leopoldo olha para mulher sem compreender direito o que está acontecendo. Não consegue sequer imaginar outro homem na vida de Iolanda. “É inconcebível essa ideia”, diz num sussurro.
– Agora, homem, fale de sua amante.
– Não tenho nada para dizer.
O casal fica em silêncio por algum tempo. Iolanda custa a acreditar ter confessado seu adultério ao marido. Desorientada, diz para si mesma: “Meu Deus, se pudesse voltar atrás”. Não tem ânimo para levantar-se.
Leopoldo levanta-se e sai da sala. Depois de alguns minutos, retorna puxando uma mala de viagem, e se dirige à porta social. Aí fica parado por alguns segundos, depois sai. Iolanda sabe que não há nada mais que possa fazer.
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Nooooooooooooooooossa!
ResponderExcluirQue instigante conto,Pedro!
Na certa, nada mais daria pra ser consertado por lá!
Aff... Que situação!
abraços, tudo de bom,chica
Muito bem. Gostei do conto!
ResponderExcluir-
Olho o além com esperança...
Beijo e uma boa noite
Nunca consegui compreender a traição. Percebo que os casamentos possam não dar certo, por várias razões, mas para isso existe o divórcio. Traição não. É nojento e tira toda a dignidade de quem a faz.
ResponderExcluirO médico não poderia continuar com aquela mulher.
Abraço e saúde
Uma situação bem difícil para ambos!
ResponderExcluirEla movida pelo ciúme e ele fez o certo, saindo de casa.
Tenha uma boa noite, amigo Pedro
Um abraço
Boa tarde de paz, amigo Pedro!
ResponderExcluirTêm mulheres paranoicas que desconfiam de tudo porque já fizeram o mesmo.
No caso da sua prosa, ela, sordidamente, armou uma arapuca para pegar o marido que me pareceu inocente das acusações da "esperta venenosa".
O rumo que deu à história foi sensacional. Ela mereceu muito o desfecho do relacionamento, como o fez.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
Un relato magristral, donde se hace realidad ese viejo refrán que dice: "Se cree el ladrón que todos son de su condición".
ResponderExcluirLe salió mal la jugada a la mujer.
Muy buen relato.
Felicitaciones.
Regreso a la blogosfera después de las vacaciones de verano.
Un saludo.
oi Pedro, que situação! .... na verdade acho que ela buscava uma ruptura, porque se ele confessasse uma traição seria o motivo óbvio para ela sair de boa . Deu um tiro no pé, mas afinal conseguiu o que queria
ResponderExcluirou não?
Um abraço
Afinal havia...outro.
ResponderExcluirAbraço, bfds
Que momento tenso você criou neste conto. As traições pagam-se caras sejam delas ou sejam deles... Gostei, meu Amigo Pedro.
ResponderExcluirTudo de bom para si.
Um beijo.
Un brano intenso, e significativo, che ho molto apprezzato nella sua lettura.
ResponderExcluirBuon fine settimana e un saluto, Pedro,silvia
Nunca hubiera supuesto que en ningún momento le fuera infiel. Si ella tuvo una relación de más de dos años y él nunca le fue infiel, tuvo razón para marcharse, dejándola sola.
ResponderExcluirBesos.
O que conta é o conto, a história, a ficção, o modo de contar para seduzir o leitor. A representação do real (do possível, do imaginado). E de tão real, já tomamos partido... como s tivesse um ponto final. Ou há?
ResponderExcluirMuito boa a narrativa!
Um abraço, Pedro!
Interesante historia en la que la mujer esperaba ser que no fue la única infiel en el matrimonio.
ResponderExcluirSaludos.
Una intensa situación!!.
ResponderExcluirGran decepción para el esposo.
Es una historia muy interesante.
Un beso. Feliz fin de semana.
Muy buen relato amigo Pedro, con lo que Yolanda no contaba era que su marido al parecer sí que le había sido fiel. Después de ese arrebatado impulso se da cuenta del mal cometido, pero ya no hay vuelta atrás.
ResponderExcluirUn abrazo amigo y feliz fin de semana.
Olá, amigo Pedro,
ResponderExcluirConto muito interessante, onde a ficção é a realidade andam de mãos dadas...
Gostei muito deste conto.
Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Ele é como o alemão faz:
ResponderExcluirO alemõ que me refiro
Diz que com ele é no tiro.
Depois pede a Deus por paz
E deixa tudo para trás.
Ao que o amigo o indaga, pois:
Matas ele ou mata os dois?
E o alemõ se redime:
Eu? De campo TIRO o time
E deixo o resto pra depois.
A história é brutal. Na minha terra, um marítimo traído foi a um prostíbulo, contratou uma prostituta e trouxe-a para viver na casa dele a três, até que a esposa voltou para casa dos pais; ele pôs a prostituta pra rua. E só muito tempo depois de divorciado é que arranjou outra mulher. Mas a tua história choca, já que os dois deveriam conviver diuturnamente. O marujo viajava... Abraço fraterno e parabéns! Laerte.
Costuma-se dizer que é a mulher quem gosta de " discutir as relações e, por experiência própria, acho que sim. Qualquer probleminha entre um casal, muito normal, em principio a mulher quer explicar tudo, quer resolver o assunto com um diálogo, mas não recebe, por parte do marido a mesma disposição que, em geral diz que" amanhã passa ", resposta que, para mim, não serve, ou melhor, não servia; com o passar dos anos, fui aprendendo que cada pessoa é diferente e o melhor é aceitar a maneira de ser de cada um. Ma, neste caso, a Iolanda foi longe demais e agora resta saber se ela teve mesmo um amante ou se usou esse estratagema para ver se ele tinha algum caso fora do casamento, seja como fou, deu-se mal e com certeza não vai ter oportunidade de resolver o assunto. ; " jogou sujo " e sofreu as consequências Pedro, caro Amigo, leio sempre as tuas publicações, mas não tenho comentado, esperando que me desulpes por isso. Hoje, parei, li com mais atenção e aqui deixo as minhas apreciações sobro o teu conto, muito bom, como sempre. Um beijinho, saúde para todos e um bom fim de semana
ResponderExcluirEmilia
Na arte de contar um conto, a velha máxima de que precipitado como quente e cru. Ainda bem que aqui não houve mais um caso de feminicídio.
ResponderExcluirBela arte mestre.
Abraços e bom fim de semana.
Pedro,
ResponderExcluirPerfeito e envolvente texto.
E me leva a confirmar o
que penso: nunca devemos
tentar justificar nossos erros
com a máxima do erro do outro.
A personagem recebeu o
merecido.
Bjins de ótimo fim de semana
CatiahoAlc.
https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com
Não consigo tomar partido rss. Ele não suporta a traição confessada mas nada diz sobre si mesmo e sequer pergunta o que a levou a traí-lo. Discutir uma relação é complicado quando não se está preparado para as consequências. Você fez uma narrativa ótima, Pedro. Deixou para quem lê decifrar as interrogações. Abraço.
ResponderExcluiruma "estória muito bem contada.
ResponderExcluir,,,, e fuqi a simpatizar com o casal... rss
abaço, POeta
Que maravilha de conto, Pedro!! Adorei a espectativa criada para a tal conversa. Mas farei aqui uma análise, simplista é verdade, mas vejamos: a traição não se justifica de maneira alguma. Porém, minha percepção me sinalizou que aquela união estava deteriorada, doente, monótona... Talvez , já estivesse quando a esposa se sentiu atraída por outro homem. Pelo visto , o marido tinha mais amor n profissão. A falta de assunto entre o casal é notória. Esse é um tipo de conto que pede a segunda parte. Ambos , vivendo sós, com possibidade ou não de uma reconciliação.
ResponderExcluirAplausos , adorei.
Abraço , amigo.
Hola Pedro. Después de un letargo vacacional, vengo a leerte esta estupenda narración que haces.
ResponderExcluirCreo que ella se precipitó en contar su error, pues quizás el marido no le había sido infiel, con lo cual no es de extrañar que él cogiera la maleta y se marchara con una gran decepción.
Me ha gustado mucho.
Un abrazo.
Há silêncios que são preciosos.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Siempre se dice que no hay palabras más terroríficas en una pareja, que cuando uno de ellos sorprende al otro/a, diciéndole: "Tenemos que hablar".
ResponderExcluirPorque pase lo que pase, seguro que ambos acaban pensando:
"Si pudiera volver atrás..."
Saludos, Pedro. Buen otoño.
Como sempre o leitor é convocado para tomar parte no
ResponderExcluirconto, o que é aliciante. Encontramos as premissas e o
resto é connosco. Uma discussão que, afinal, só teve
uma via e talvez nem tenha havido traição. Perante as
suas desconfianças preferiu espicaçar o marido.
E o resultado parece não ter sido o que ela esperava.
Adorei, caro Pedro. Um contista de primeira.
Abraço
Olinda
Olá, amigo Pedro,
ResponderExcluirPassando por aqui, relendo este excelente conto, que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
E agora? Será que ela não queria já a separação e, como não conseguiu uma confissão dele, inventou tê-lo traído, por já saber qual seria a reação dele? Aí fica a critério de cada leitor. Belo conto Pedro. Parabéns!
ResponderExcluirAbraços,
Furtado
Nos encaminha a refletir sobre os silêncios dos casais e como lidam com suas relações. Tema delicado, conto instigante...
ResponderExcluirBuen relato. Es muy triste cuando una relación termina te mando un beso.
ResponderExcluirBom dia Pedro,
ResponderExcluirUm conto muito interessante e reflexivo sobre a intimidade do casal.
Os ciúmes de Iolanda provocaram um caso que talvez nem tivesse existido.
Gostei muito, amigo. Parabéns pela inspiração e criatividade.
Ailime
Conto de excelência, muito próximo dos cenários mais comuns.
ResponderExcluirA traição de Iolanda terá sido real ou era pretexto para despertar e motivar Leopoldo a desenrolar os temas que eram sua suspeição?
Quando a confiança abana uma Relação, dificilmente voltará a haver transparência e verdade.
Belo Conto para...meditar.
Abraço
SOL da Esteva
Oh Dios mío ¡que historia!
ResponderExcluirMe he metido en ella sin imaginarme la declaración de culpabilidad de ella, el relato fantasticamente logrado, y el final aunque no guste es lo que tocaba, pero dentro de mí, quiero dar un vuelco a esa historia
Un abrazo y buen fin de semana
exelente conto (moral) - prova que nõo se brinca cm o fogo
ResponderExcluirgrande abraço. meu ilustre amigo
Ontem mesmo estive a ver um documentário, sobre a vida da Princesa Margarida... irmã da falecida Rainha Isabel II... protagonizando um tumultuado casamento com o seu marido de então, fotógrafo... assim imaginei este seu conto, Pedro, com tais personagens...
ResponderExcluirNem sempre pode haver finais felizes... nem mesmo no Reino dos Príncipes e Princesas... é a vida... com todos os seus caprichos... e em todos os contextos!
Gostei imenso do conto, com um toque de imprevisibilidade... pois até à sua conclusão... todos os cenários poderiam ser possíveis!
Beijinho
Ana