>

23 de dez. de 2011

[Poesia] DRUMMOND – Amar

Carlos Drummond de Andrade


                 por Pedro Luso de Carvalho


        CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE nasceu em Itabira, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902. Como integrante do grupo belo-horizontino, participou do movimento literário modernista. Com seus companheiros de geração, editou A Revista, nos anos de 1925-1926. 

        Como jornalista, desempenhou importantes cargos nos jornais Diário de Minas, Minas Gerais, entre outros. Escreveu crônicas, nos anos de 1954 a 1968, para o Jornal carioca, Correio da Manhã, com o título geral de “Imagens”. Depois passou para o Jormal do Brasil, onde manteve uma coluna no Caderno B.  

        Funcionário público, exerceu funções no Governo de Minas Gerais; depois, no Rio de Janeiro, foi chefe do gabinete do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, de quem era amigo. Integrou a equipe do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Aposentou-se após 35 anos de serviço.
       
        Drummond, que definiu a si próprio como o poeta que se encontrava em busca do “sentimento do mundo”, faleceu no Rio de Janeiro no dia 17 de agosto de 1987, aos 85 anos (incompletos). Legou-nos uma obra poética e literária de inestimável valor.

        Segue, de Carlos Drummond de Andrade, o poema Amar -  In, Claro Enigma/Carlos Drummond de Andrade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p 49-50:
Drummond

                             
                           [ESPAÇO DA POESIA]


                                    A M A R



        Que pode uma criatura senão,
        entre criaturas, amar?
        Amar e esquecer,
        amar e malamar,
        amar, desamar, amar?
        Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

        Que pode, pergunto, o ser amoroso,
        sozinho, em rotação universal, senão
        rodar também, e amar?
        Amar o que o mar traz à praia,
        o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
        é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

        Amar solenemente as palmas do deserto,
        o que é entrega ou adoração expectante,
        e amar o inóspito, o áspero,
        um vaso sem flor, um chão de ferro,
        e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

        Este o nosso destino: amor sem conta,
        distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
        doação ilimitada a uma completa ingratidão,
        e na concha vazia do amor a procura medrosa,
        paciente, de mais e mais amor.

        Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
        amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


                           
                                          (Drummond)



                                                            * * *


2 comentários:

  1. Olá, Pedro!

    Drummond tinha um olhar muito peculiar de sentir o mundo a sua volta. Às vezes um olhar duro e descrente do amor (" Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.") e outras vezes com uma ternura encantadora e a esperança em mundo de mais amor (" Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível." do texto "Organiza o Natal"). Creio que esta alternância é o que o levou a viver em busca do verdadeiro sentimento do mundo. Em Claro Enigma é notável esta dualidade.

    Pedro, no ensejo, quero deixar-lhe e a todos os seus, um abraço e os meus votos de um feliz Natal e de um novo ano pleno de bons motivos para sorrir.
    Celêdian

    ResponderExcluir
  2. Pedro desejo-lhe um excelente ano 2012. Que seja um ano pleno de realizações pessoais e profissionais, sonhos realizados, alegrias constantes, saúde, paz, amor e incontáveis momentos felizes. BOM ANO NOVO!
    Beijinhos
    Maria

    ResponderExcluir

Logo seu comentário será publicado,
muito obrigado pela sua leitura e comentário.
Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho