O SEGREDO DA LONGEVIDADE
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Um amigo falou-me, não faz muito tempo, sobre o seu relacionamento, um
tanto exótico, com uma moradora do mesmo edifício. Ela já havia passado dos
noventa anos, ele estava perto dos quarenta.
Durante o tempo que aí morou manteve-se solteiro. Ela nunca se casou.
Talvez essa condição de solteira, que carregou por toda a vida, tenha gerado o
sentimento de ódio, que por ele nutria.
Já no primeiro encontro, ele não teve bom pressentimento. Ela não escondia sua aversão a ele, embora não lhe desse motivo. Esse sentimento aparecia nos
olhos turvos da esquisita vizinha.
Procurava desviar-se dos dardos envenenados com ódio, que a velha senhora
lançava contra ele, quando se encontravam no hall do edifício ou num dos
elevadores; ele nunca soube por que fora escolhido para ser o alvo de suas
frustrações.
Com o passar do tempo, ela ficou mais agressiva e mais debilitada. Fazia
seus curtos passeios à tarde, acompanhada por uma moça, caminhando com
dificuldade, passinhos muito miúdos, quase arrastados.
Embora mal conseguisse falar, meu amigo tinha sempre a impressão de ouvi-la
dizer, junto aos seus ouvidos, quando se cruzavam: “Você ainda terá de me
aguentar por muito tempo”.
A ele não restava outra solução que a visita a um psiquiatra. Na
primeira consulta, já tinha o diagnóstico: a velha senhora ainda estava viva graças a motivação e a força que lhe dava essa rusga com ele mantida.
E foi em atenção ao conselho do psiquiatra, que se mudou para outro
apartamento, situado em outro bairro. Passado um pouco mais de um mês, ele leu num
jornal a comunicação da família sobre o falecimento da velha senhora.
* * *
Ah, eu conheço essa beleza de senhorinha... Eu conheço essa história!
ResponderExcluirCertas pessoas alimentam sua pobre alma colocando seus problemas nos outros. Se valem das boas intenções, da amabilidade, da simpatia e da educação de terceiros. Precisam disso para viverem, como o ar que respiram. Nunca baixam as armas, e essa mulher coloca seus demônios, há muitos anos, em quem pensava ser frágil.
Quantos anos de sua vida colocou fora ao ser assim, implicante, amarga, raivosa, encrenqueira?
Quem ficaria com uma criaturinha assim? O tempo passou, a vida passou. E ela piorou.
Hoje, ela é vítima da solidão. E o pior: não causa nenhum sentimento positivo nos outros; seu caráter causa afastamento.
Conseguiste retratar em poucas linhas um tanto da mente doente de um ser que, infelizmente, o mundo tá cheio.
Beijos, Pedrinho!
Tais
Que lindo.
ResponderExcluirLembrou minha mãe.
beijos!!
Olá Pedro teu texto atrai bastante com o título e todo conteudo nesta época onde vivemos com plantações de mais Amor .Um texto de alerta pois encontramos estas figuras vida afora.Um belo trabalho!Um bj de violetas e meu carinho.
ResponderExcluirmaravilhoso espaço maravilhoso texto
ResponderExcluiruma historia que nos faz ler e reler
beijinhos bom fim de semana
Pedro.... ótimo conto de humor negro.... Uma pedra no sapato...
ResponderExcluirAté fantasiei um relacionamento mais íntimo entre os dois... vai saber que no fundo ambos tenham essa pretensão...
Um abraço mineiro a um gaúcho com humor de mineiro!
Esse título me "fisgou".
ResponderExcluirLi a crônica; li os comentários.
Não vi ali nenhum "humor negro" e, como não conheço a "senhorinha", também não a vi como uma pessoa amarga, uma pessoa má. Apenas, como uma pessoa solitária que envelheceu.
Em alguns (bem poucos) aspectos, identifiquei-me com ela.
Assustei-me e fiquei pensando: hoje com 71, como serei daqui a duas décadas?
Melhor não chegar lá. A cada dia mais me convenço disso...
Bom domingo,
guilhermina
Ótima semana!!!!!!!!!!! :) Beijos
ResponderExcluirUma crônica excelente (sempre aqui), Pedro!!
ResponderExcluirAcredito e aposto em sentimentos nutritivos (positivos)
para a longevidade!...rss
Pedro, não sei o que acontece (a razão), as suas
postagens não são atualizadas na lista de blogs
que eu acompanho?
Abraço.
Suzete,
ExcluirAcredito que o motivo de minhas postagens não estarem aparecendo como “atualizadas”, na sua lista de blogs, se deve ao fato de que essas são postagens já feitas antes (textos antigos ), agora com uma nova edição.
Abraços.
Esse mês estou comemorando 11 anos de blog.
ResponderExcluirÈ tempo demais dedicado a essas pessoas lindas de Deus
que fui conhecendo ao longo dessa caminhada.
Deixei um mimo na postagem se for do seu agrado
leve ficarei feliz.
E ficarei feliz da mesma forma se ñ levar eu entendo.
Um carinhoso beijo.
Deus abençoe por tudo.
E uma semana de paz .
Evanir.
Os sentimentos (positivos ou negativos) dão uma força incrível às pessoas, sabe-se.
ResponderExcluirBoa semana :)
rsrs...
ResponderExcluirPensei que ódio matasse mais depressa. No caso, virou injeção de ânimo-rsrs.
Muito criativo, Pedro.
Se a moda pega, vai haver muito idoso buscando motivação similar para viver mais-rs.
Adorei a leitura.
Abraço.
A vida também se alimenta de sentimentos, de objetivos, de motivações, etc., etc. Nas idades avançadas, ela fica presa por fios cada vez mais finos. Se um deles se quebra, a vida pode mesmo acabar.
ResponderExcluirUma excelente história, na forma e no conteúdo. Gostei imenso, caro Pedro.
Boa semana. Abraço.
Belo texto! Coisas do destino!
ResponderExcluirAbraço
Triste secreto, ese del odio como potenciador de la vida, que una vez pensado y reposado, tiene su razón de ser.
ResponderExcluirLa adrenalina que una vida normal segrega para atender nuestras obligaciones y cariños, esa persona la generaba para alimentar su
sentimiento malsano.
Y es que ser malo, amigo Pedro, desgasta mucho. No hay más que ver las caras de quienes lo padecen.
ódios antigos não cansam, alimentam! - diz-se por cá...
ResponderExcluiruma feliz descoberta o seu blog. muito sugestivas as suas "veredas"
se me permitir procurarei acompanhar seus textos.
grato
Assim como o amor, o ódio também serve de motivação para que se viva. Uma constatação estranha, mas real. Um conto de leitura muito agradável, Pedro. Abraço.
ResponderExcluirOi amigo,
ResponderExcluirVim lhe desejar uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!
Olá Pedro: Excelente sua crônica. Sei que existe muita gente que vê inimigos por toda parte, e fazem da vida uma eterna luta de faca e espada.
ResponderExcluirDifícil entender a mente humana, o que causou nesta infeliz senhora tanta amargura e rancor.
Sábio foi o rapaz que se livrou daquela enxurrada de energia negativa que ela jogava sobre ele, e foi ser feliz.
É sempre muito bom ler o que você escreve.
Obrigada por compartilhar,
grande abraço,
Léah
Siempre nos motiva el odio o el amor para mal o para bien...
ResponderExcluirEs tremenda nuestra vulnerabilidad en el fondo.
Un saludo, Pedro, y gracias por tu cariñosa felicitación.
Agradeço o teu passeio pelo meu espaço. Aproveito para dizer-lhe que gostei da crônica. Da leveza da linguagem. Acho que não preciso dizer-lhe que, conjugando-as, você sabe o que faz com as palavras, tornando o o seu leitor cativo.
ResponderExcluirAbraços,
Era só aguentar mais um mesinho nesse "sofrimento" e a coisa passava hehe.
ResponderExcluirUm belo conto muito bem escrito meu amigo.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
¿Es posible que el odio te pueda mantener más tiempo vivo?
ResponderExcluirNo sé que pensar de esa anciana, ¿Quizás su vecino le haya recordado a un amor no conseguido? Seguramente, cada vez que lo veía, le traía a su mente la imagen de alguien que, en su juventud, le había hecho mucho mal y ahora se vengaba en este pobre chico.
La imagen de esas casitas abandonadas me parece preciosa, me imagino que en Aveiro las casitas tienen que ser así, con mucho colorido, tengo ganas de conocer ese sitio.
Cariños y buena semana.
Kasioles
Abençoado dia!!!!!! Beijos
ResponderExcluirEl odio y el amor son los sentimientos más fuertes que puede experimentar el hombre. Un saludo y gracias por su visita a mi blog.
ResponderExcluirO ódio também nos impulsiona para a vida, uma vida miserável, mas ainda vida.
ResponderExcluirGostei muito de conhecer seu blog e seus escritos. Muito bom mesmo. Obrigada pela visita. Venha sempre.
Beijo.
Hay sentimientos, hay cosas, hay circunstancias que nos aferran a la vida; perderlas nos quita la motivación.
ResponderExcluirUn abrazo.
Curiosa por no decir chocante motivación para seguir viviendo pero es un relato muy interesante. Saludos cordiales.
ResponderExcluirHola, Pedro!
ResponderExcluirQue triste me parece ésta historia, realmente, me parece increíble que haya personas así, que sean capaces de hacer daño de esa manera, pobre chico, sin comerlo ni beberlo... Tener que acudir a un psiquiatra.
Aquí también una mujer con un problema similar, sólo que esta increpaba a todo el vecindario!!! Los maltrataba allí donde les encontrara y se asomaba a la ventana, e insultaba a todo el que quesque. La denunciaron la vio un psicólogo y, dijo que no padecía ningún trastorno!!! Simplemente, era mala. Hay de todo en la viña del Señor.
Que tengamos suerte y nos encontramos con seres de alma grande ricos por dentro.
Te dejo un abrazo inmenso y mi gratitud.
Feliz fin de semana.
シ
ResponderExcluirUma crônica muito bem escrita.
Mas o que a matou foi, exatamente, o ódio.
O ódio destrói por dentro e por fora.
Bom fim de semana!
Beijinhos.
✿゚ه° ·.
Gosta-se sempre das tuas histórias sempre bem contadas e curtas, o mais difícil para um contista. Por isso muito apreciadas.
ResponderExcluirOlha, gostaria muito te ter a comentar, o meu blog, BRASIL: O SORRISO DE DEUS, que se vai encaminhar para ser história pós cabralina do Brasil.
http://amornaguerra.blogspot.pt/
Beijos
Que coisa! Achava que só o amor pudesse alimentar e prolongar a vida...
ResponderExcluirAbraço, Pedro!
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirEu achei que ele se deixou atingir e teve que recorrer ao um psiquiatra, deveria ter dado menas importância. Fiquei imensamente surpresa pela reação forte da minha filha, exclamou que horror, como ele pode se mudar se o psiquiatra lhe disse que o que a mantinha viva era a motivação de perturba-lo, completei mais ela o odiava, ele respondeu e dai mais ele não a odiava. Desistir de argumentar rsrs, acho que se fosse a minha filha ela tentava ate se aproximar mais rsrs. Vai entender e mente humana rsrs. Gosto muito de ler as suas historia e a da Tais, sempre muito bem escritas. Abraços.
Mirtes,
ExcluirGostei de saber que mãe e filha discutiram amigavelmente sobre o relacionamento do homem com a velha senhora, de minha crônica ('O segredo da longevidade'), porque isso denota que houve interesse pelo tema, por vocês duas. Muito bom.
Abraços para ambas.
Boa noite Pedro.
ExcluirObrigada pela considerarão de responder ao meu comentário. Não são todos os blog que acompanho que minha filha ler, mas o seu e da Tais, sempre que entro e comento com ela, ela ler as postagens, da a sua opinião, muitas vezes rimos juntas e nesse caso discordamos de opinião. Felizes dia para vocês meus amigos. Enorme abraço.
kkk, o vizinho caiu naquela de incomodado que se mude.
ResponderExcluirA boa velhinha na realidade o ignorava, o trauma devia ser dele mesmo.
Muito boa Pedro.
Um abração.
Amigo Pedro, estamos organizando uma postagem sobre as características dos textos. Estamos levando sua crônica, espero que goste. Até breve na nossa postagem. Abraços
ResponderExcluirAmiga Elza, claro que você pode publicar esta minha crônica no seu blog de literatura.
ExcluirUm abraço.
Pedro