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24 de jan. de 2016

[Crônica] PEDRO LUSO – O Segredo da Longevidade




   
O SEGREDO DA LONGEVIDADE
– PEDRO LUSO DE CARVALHO

Um amigo falou-me, não faz muito tempo, sobre o seu relacionamento, um tanto exótico, com uma moradora do mesmo edifício. Ela já havia passado dos noventa anos, ele estava perto dos quarenta.
Durante o tempo que aí morou manteve-se solteiro. Ela nunca se casou. Talvez essa condição de solteira, que carregou por toda a vida, tenha gerado o sentimento de ódio, que por ele nutria.
Já no primeiro encontro, ele não teve bom pressentimento. Ela não escondia sua aversão a ele, embora não lhe desse motivo. Esse sentimento aparecia  nos olhos turvos da esquisita vizinha.
Procurava desviar-se dos dardos envenenados com ódio, que a velha senhora lançava contra ele, quando se encontravam no hall do edifício ou num dos elevadores; ele nunca soube por que fora escolhido para ser o alvo de suas frustrações.
Com o passar do tempo, ela ficou mais agressiva e mais debilitada. Fazia seus curtos passeios à tarde, acompanhada por uma moça, caminhando com dificuldade, passinhos muito miúdos, quase arrastados.
Embora mal conseguisse falar, meu amigo tinha sempre a impressão de ouvi-la dizer, junto aos seus ouvidos, quando se cruzavam: “Você ainda terá de me aguentar por muito tempo”.
A ele não restava outra solução que a visita a um psiquiatra. Na primeira consulta, já tinha o diagnóstico: a velha senhora ainda estava viva graças a motivação e a força que lhe dava essa rusga com ele mantida.
E foi em atenção ao conselho do psiquiatra, que se mudou para outro apartamento, situado em outro bairro. Passado um pouco mais de um mês, ele leu num jornal a comunicação da família sobre o falecimento da velha senhora.



*  *  *


38 comentários:

  1. Ah, eu conheço essa beleza de senhorinha... Eu conheço essa história!

    Certas pessoas alimentam sua pobre alma colocando seus problemas nos outros. Se valem das boas intenções, da amabilidade, da simpatia e da educação de terceiros. Precisam disso para viverem, como o ar que respiram. Nunca baixam as armas, e essa mulher coloca seus demônios, há muitos anos, em quem pensava ser frágil.
    Quantos anos de sua vida colocou fora ao ser assim, implicante, amarga, raivosa, encrenqueira?
    Quem ficaria com uma criaturinha assim? O tempo passou, a vida passou. E ela piorou.

    Hoje, ela é vítima da solidão. E o pior: não causa nenhum sentimento positivo nos outros; seu caráter causa afastamento.

    Conseguiste retratar em poucas linhas um tanto da mente doente de um ser que, infelizmente, o mundo tá cheio.

    Beijos, Pedrinho!
    Tais

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  2. Que lindo.
    Lembrou minha mãe.
    beijos!!

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  3. Olá Pedro teu texto atrai bastante com o título e todo conteudo nesta época onde vivemos com plantações de mais Amor .Um texto de alerta pois encontramos estas figuras vida afora.Um belo trabalho!Um bj de violetas e meu carinho.

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  4. maravilhoso espaço maravilhoso texto
    uma historia que nos faz ler e reler
    beijinhos bom fim de semana

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  5. Pedro.... ótimo conto de humor negro.... Uma pedra no sapato...
    Até fantasiei um relacionamento mais íntimo entre os dois... vai saber que no fundo ambos tenham essa pretensão...
    Um abraço mineiro a um gaúcho com humor de mineiro!

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  6. guilhermina moeckel cavalli09:19

    Esse título me "fisgou".
    Li a crônica; li os comentários.
    Não vi ali nenhum "humor negro" e, como não conheço a "senhorinha", também não a vi como uma pessoa amarga, uma pessoa má. Apenas, como uma pessoa solitária que envelheceu.
    Em alguns (bem poucos) aspectos, identifiquei-me com ela.
    Assustei-me e fiquei pensando: hoje com 71, como serei daqui a duas décadas?
    Melhor não chegar lá. A cada dia mais me convenço disso...
    Bom domingo,
    guilhermina

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  7. Ótima semana!!!!!!!!!!! :) Beijos

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  8. Uma crônica excelente (sempre aqui), Pedro!!
    Acredito e aposto em sentimentos nutritivos (positivos)
    para a longevidade!...rss
    Pedro, não sei o que acontece (a razão), as suas
    postagens não são atualizadas na lista de blogs
    que eu acompanho?
    Abraço.

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    1. Suzete,

      Acredito que o motivo de minhas postagens não estarem aparecendo como “atualizadas”, na sua lista de blogs, se deve ao fato de que essas são postagens já feitas antes (textos antigos ), agora com uma nova edição.

      Abraços.

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  9. Esse mês estou comemorando 11 anos de blog.
    È tempo demais dedicado a essas pessoas lindas de Deus
    que fui conhecendo ao longo dessa caminhada.
    Deixei um mimo na postagem se for do seu agrado
    leve ficarei feliz.
    E ficarei feliz da mesma forma se ñ levar eu entendo.
    Um carinhoso beijo.
    Deus abençoe por tudo.
    E uma semana de paz .
    Evanir.

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  10. Os sentimentos (positivos ou negativos) dão uma força incrível às pessoas, sabe-se.

    Boa semana :)

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  11. rsrs...
    Pensei que ódio matasse mais depressa. No caso, virou injeção de ânimo-rsrs.
    Muito criativo, Pedro.
    Se a moda pega, vai haver muito idoso buscando motivação similar para viver mais-rs.

    Adorei a leitura.

    Abraço.

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  12. A vida também se alimenta de sentimentos, de objetivos, de motivações, etc., etc. Nas idades avançadas, ela fica presa por fios cada vez mais finos. Se um deles se quebra, a vida pode mesmo acabar.
    Uma excelente história, na forma e no conteúdo. Gostei imenso, caro Pedro.
    Boa semana. Abraço.

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  13. Belo texto! Coisas do destino!
    Abraço

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  14. Triste secreto, ese del odio como potenciador de la vida, que una vez pensado y reposado, tiene su razón de ser.
    La adrenalina que una vida normal segrega para atender nuestras obligaciones y cariños, esa persona la generaba para alimentar su
    sentimiento malsano.

    Y es que ser malo, amigo Pedro, desgasta mucho. No hay más que ver las caras de quienes lo padecen.

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  15. ódios antigos não cansam, alimentam! - diz-se por cá...

    uma feliz descoberta o seu blog. muito sugestivas as suas "veredas"

    se me permitir procurarei acompanhar seus textos.

    grato

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  16. Assim como o amor, o ódio também serve de motivação para que se viva. Uma constatação estranha, mas real. Um conto de leitura muito agradável, Pedro. Abraço.

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  17. Oi amigo,
    Vim lhe desejar uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!

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  18. Olá Pedro: Excelente sua crônica. Sei que existe muita gente que vê inimigos por toda parte, e fazem da vida uma eterna luta de faca e espada.
    Difícil entender a mente humana, o que causou nesta infeliz senhora tanta amargura e rancor.
    Sábio foi o rapaz que se livrou daquela enxurrada de energia negativa que ela jogava sobre ele, e foi ser feliz.
    É sempre muito bom ler o que você escreve.
    Obrigada por compartilhar,
    grande abraço,
    Léah

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  19. Siempre nos motiva el odio o el amor para mal o para bien...
    Es tremenda nuestra vulnerabilidad en el fondo.
    Un saludo, Pedro, y gracias por tu cariñosa felicitación.

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  20. Agradeço o teu passeio pelo meu espaço. Aproveito para dizer-lhe que gostei da crônica. Da leveza da linguagem. Acho que não preciso dizer-lhe que, conjugando-as, você sabe o que faz com as palavras, tornando o o seu leitor cativo.
    Abraços,

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  21. Era só aguentar mais um mesinho nesse "sofrimento" e a coisa passava hehe.
    Um belo conto muito bem escrito meu amigo.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

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  22. ¿Es posible que el odio te pueda mantener más tiempo vivo?
    No sé que pensar de esa anciana, ¿Quizás su vecino le haya recordado a un amor no conseguido? Seguramente, cada vez que lo veía, le traía a su mente la imagen de alguien que, en su juventud, le había hecho mucho mal y ahora se vengaba en este pobre chico.
    La imagen de esas casitas abandonadas me parece preciosa, me imagino que en Aveiro las casitas tienen que ser así, con mucho colorido, tengo ganas de conocer ese sitio.
    Cariños y buena semana.
    Kasioles

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  23. Abençoado dia!!!!!! Beijos

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  24. El odio y el amor son los sentimientos más fuertes que puede experimentar el hombre. Un saludo y gracias por su visita a mi blog.

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  25. O ódio também nos impulsiona para a vida, uma vida miserável, mas ainda vida.
    Gostei muito de conhecer seu blog e seus escritos. Muito bom mesmo. Obrigada pela visita. Venha sempre.

    Beijo.

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  26. Hay sentimientos, hay cosas, hay circunstancias que nos aferran a la vida; perderlas nos quita la motivación.

    Un abrazo.

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  27. Curiosa por no decir chocante motivación para seguir viviendo pero es un relato muy interesante. Saludos cordiales.

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  28. Hola, Pedro!

    Que triste me parece ésta historia, realmente, me parece increíble que haya personas así, que sean capaces de hacer daño de esa manera, pobre chico, sin comerlo ni beberlo... Tener que acudir a un psiquiatra.
    Aquí también una mujer con un problema similar, sólo que esta increpaba a todo el vecindario!!! Los maltrataba allí donde les encontrara y se asomaba a la ventana, e insultaba a todo el que quesque. La denunciaron la vio un psicólogo y, dijo que no padecía ningún trastorno!!! Simplemente, era mala. Hay de todo en la viña del Señor.
    Que tengamos suerte y nos encontramos con seres de alma grande ricos por dentro.
    Te dejo un abrazo inmenso y mi gratitud.
    Feliz fin de semana.

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  29. Uma crônica muito bem escrita.
    Mas o que a matou foi, exatamente, o ódio.
    O ódio destrói por dentro e por fora.

    Bom fim de semana!
    Beijinhos.
    ✿゚ه° ·.

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  30. Gosta-se sempre das tuas histórias sempre bem contadas e curtas, o mais difícil para um contista. Por isso muito apreciadas.

    Olha, gostaria muito te ter a comentar, o meu blog, BRASIL: O SORRISO DE DEUS, que se vai encaminhar para ser história pós cabralina do Brasil.
    http://amornaguerra.blogspot.pt/
    Beijos

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  31. Que coisa! Achava que só o amor pudesse alimentar e prolongar a vida...
    Abraço, Pedro!

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  32. Boa noite Pedro.
    Eu achei que ele se deixou atingir e teve que recorrer ao um psiquiatra, deveria ter dado menas importância. Fiquei imensamente surpresa pela reação forte da minha filha, exclamou que horror, como ele pode se mudar se o psiquiatra lhe disse que o que a mantinha viva era a motivação de perturba-lo, completei mais ela o odiava, ele respondeu e dai mais ele não a odiava. Desistir de argumentar rsrs, acho que se fosse a minha filha ela tentava ate se aproximar mais rsrs. Vai entender e mente humana rsrs. Gosto muito de ler as suas historia e a da Tais, sempre muito bem escritas. Abraços.

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    1. Mirtes,
      Gostei de saber que mãe e filha discutiram amigavelmente sobre o relacionamento do homem com a velha senhora, de minha crônica ('O segredo da longevidade'), porque isso denota que houve interesse pelo tema, por vocês duas. Muito bom.
      Abraços para ambas.

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    2. Boa noite Pedro.
      Obrigada pela considerarão de responder ao meu comentário. Não são todos os blog que acompanho que minha filha ler, mas o seu e da Tais, sempre que entro e comento com ela, ela ler as postagens, da a sua opinião, muitas vezes rimos juntas e nesse caso discordamos de opinião. Felizes dia para vocês meus amigos. Enorme abraço.

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  33. kkk, o vizinho caiu naquela de incomodado que se mude.
    A boa velhinha na realidade o ignorava, o trauma devia ser dele mesmo.
    Muito boa Pedro.
    Um abração.

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  34. Amigo Pedro, estamos organizando uma postagem sobre as características dos textos. Estamos levando sua crônica, espero que goste. Até breve na nossa postagem. Abraços

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    1. Amiga Elza, claro que você pode publicar esta minha crônica no seu blog de literatura.
      Um abraço.
      Pedro

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muito obrigado pela sua leitura e comentário.
Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho