– PEDRO LUSO DE CARVALHO
EDGAR
ALLAN POE não foi o nome anotado no registro civil, onde constava
apenas Edgar Poe, nascido no dia 19 de janeiro de 1809, em Boston,
Massachusetts, Estados Unidos da América, filho de artistas
ambulantes, o pai um ator que teve uma vida obscura, falecido logo
após o seu nascimento, a mãe, uma atriz inglesa, que morreu no ano
de 1811, em extrema pobreza, quando o filho Edgar não tinha
completado ainda três anos de idade.
Órfão,
o menino Edgar foi adotado por Elizabeth e David Allan, casal
escocês, sem filhos, que vivia na cidade de Richmond. Seu pai
adotivo, comerciante abastado, deu-lhe o nome de família “Allan”.
Então, ao juntar ao seu nome de registro a “Allan” ficou o
nome que se tornaria famoso e que resistiria a passagem do tempo:
Edgar
Allan Poe.
Esse genial contista, poeta, ensaísta faleceu a 7 de outubro de
1849, em Baltimore, Maryland, EUA, aos 40 anos de idade.
A
nova família mudou-se para a Inglaterra em 1815. Poe passou a
estudar na escola particular Stoke-Newington, no subúrbio de
Londres. De volta aos Estados Unidos, em 1820, passou a estudar em
Richmond, Virginia. Depois foi admitido na aristocrática
Universidade de Virginia, fundada por Thomas Jefferson, poucos anos
antes do seu ingresso.
Poe
nunca se enquadrou com o modo de vida da Universidade, que estava
habituada à férrea disciplina; ele, ao contrário, pessoa inquieta,
tinha conduta irregular, se vista segundo a cultura desse grupo
social. A bebida, o jogo, as maneiras pouco convencionais logo
repercutiram no seio das famílias aristocráticas, que passaram a
exigir do diretor a sua expulsão, o que acabou se concretizando.
No
ano de 1829 morreu sua mãe adotiva. Nesse mesmo ano, Poe lançou a
primeira edição de “Tarmelane
and other poems”.
Após o rompimento com seu pai passou a viver sob a proteção de
Maria Clemm, sua tia. Com esta e sua prima, mudou-se para Baltimore.
Em 1835 casou com a prima Virginia, que contava com apenas treze anos
de idade. Virginia faleceu aos 27 anos, vítima
da tuberculose, em consequência da pobreza em que vivia o casal.
Edgar
AllanPoe obteve o reconhecimento na Europa, como escritor,
primeiramente na França, onde teve como divulgador de sua obra, e o
primeiro a traduzi-la para o francês, o conceituado poeta Charles
Baudelaire (1821-1867). Mallarmé (1842-1898), um dos expoentes do
Simbolismo francês, continuou a fazer a divulgação das histórias
de mistério e de elementos macabros, que deram ao estilo gótico
americano uma outra face. William Carlos Williams dizia que Poe foi o
primeiro autor verdadeiramente americano.
A
prosa de Edgar Allan Poe, com seus contos, mudou a literatura dos
Estados Unidos da América, até então presa às convenções
ditadas pela moral e pela religião. Influenciou escritores
importantes, como diz, André Maurois, que estão ao seu nível:
Kafka, Wells, Chesterton e Borges. Diz ainda Maurois: "Poe
escreveu contos perfeitos de horror fantástico e inventou a narração
policial”.
Mallarmé,
um dos expoentes do Simbolismo, continuou a fazer a divulgação das
histórias e poesias de Poe, que se viu consagrado nos dois anos que
antecederam sua morte. Essa consagração deveu-se não apenas ao
conto, mas também a sua poesia, cujos versos falam apenas de mundos
interiores, sem qualquer menção ao mundo exterior, como, por
exemplo, o magistral poema O
Corvo,
que Poe escreveu inspirado em Vírgínia Clemm, sua prima, que viria
ser sua esposa.
Os
CONTOS
mais conhecidos de Edgar
Allan Poe,
são: A
Máscara da Morte Rubra,
O
Poço e o Pêndulo,
O
Gato Preto,
O
Palácio Assombrado,
O
Crime da Rua Morgue.
Edgar
Allan Poe pouco antes de ingressar em West Point, onde estudou
durante dois anos, para seguir a carreira militar, da qual desistiu,
já havia publicado o seu segundo volume de versos com uma revisão
de Tamerlane
e Al
Aaraaf,
que, em 1831 foi reeditado – os versos Israfele
e Para
Helena
denunciavam o poeta que viria ser. Em 1833 ganhou um prêmio
literário instituído pelo Saturday
Visitor,
com o conto Um
manuscrito encontrado numa garrafa;
nessa época, que contava com vinte e quatro anos de idade, Poe vivia
em extrema pobreza. No ano de 1847, teve algumas de suas histórias
traduzidas para o francês; Charles Baudelaire ao lê-las, assim se
exprimiu: “experimentara estranha emoção”. Baudelaire aguardava
as revistas norte-americanas que chegavam com a publicação dos
contos e poesias de Poe.
Os
POEMAS
mais
conhecidos de Poe, são: O
Corvo (obra-prima
de Poe), Tarmelão,
Israfel,
Para
Helena,
Ulalume,
Os
Sinos,
Al
Aaraaf
Annabel
Lee,
entre outros.
No
que respeita à poesia de Edgar Allan Poe, escreveu Charles
Baudelaire: “Como poeta, Edgar Poe é um homem à parte. Representa
quase sozinho o movimento romântico do outro lado do oceano. É o
primeiro americano que, propriamente falando, fez do seu estilo uma
ferramenta. Sua poesia, profunda e gemente, é, não obstante,
trabalhada, pura, correta e brilhante, como uma jóia de cristal.
Edgar Poe amava os ritmos complicados e, por mais complicados que
fossem, neles encerrava uma harmonia profunda”.
Edgar
Allan Poe era dotado de extraordinária imaginação, qualidade que se
somava a outra, qual seja, a de ter sido intransigente no tocante à
qualidade literária de sua obra; daí ter despertado o interesse na
sua tradução do inglês para muitos idiomas – para o português,
o poema O
Corvo
também foi traduzido por nomes famosos como Machado
de Assis
e Fernando
Pessoa.
No
que respeita à poesia de Poe, escreve Baudelaire: “Como poeta,
Edgar Poe é um homem à parte. Representa quase sozinho o movimento
romântico do outro lado do oceano. É o primeiro americano que,
propriamente falando, fez do seu estilo uma ferramenta. Sua poesia,
profunda e gemente, é, não obstante, trabalhada, pura, correta e
brilhante, como uma joia de cristal. Edgar Poe amava os ritmos
complicados e, por mais complicados que fossem, neles encerrava uma
harmonia profunda”.
Vai
transcrito abaixo o poema Um
sonho num sonho,
de autoria do nosso homenageado,
Edgar Allan Poe:
UM
SONHO NUM SONHO
Edgar
Allan Poe
Este
beijo em tua fronte deponho!
Vou
partir. E bem pode, quem parte,
francamente
aqui vir confessar-te
que
bastante razão tinhas, quando
comparaste
meus dias a um sonho.
Se
a esperança se vai, esvoaçando,
que
me importa se é noite ou se é dia...
ente
real ou visão fugidia?
De
maneira qualquer fugiria.
O
que vejo, o que sou ou suponho
não
é mais do que um sonho.
Fico
em meio ao clamor, que se alteia
de
uma praia, que a vaga tortura.
Minha
mão grãos de areia segura
com
bem força, que é de ouro essa areia.
São
tão poucos! Mas fogem-me, pelos
dedos,
para a profunda água escura.
Os
meus olhos se inundam de pranto.
Oh!
meu Deus! E não posso retê-los,
se
os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah!
meu Deus! E não posso salvar
um
ao menos da fúria do mar?
O
que vejo, o que sou ou suponho
será
apenas um sonho num sonho?
* *
REFERÊNCIAS:
MAUROIS,
André. De
Aragon a Montherlant.
Tradução de Paulo Hecker Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1967, pg. 99-100.
POE,
Edgar Allan. Poemas
e ensaios.
Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado, 3ª ed. Revista. São
Paulo: Editora Globo, 1999, p. 11-13, 45-46.
POE,
Edgar Allan. Dictionnaire
Encyclopédique Pour Tous.
24ª tirage. Paris: Petit Larousse, 1966.
POE,
Edgar Allan. Antologia
de Contos.
Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1959.
* * *
Mais uma publicação com um poema muito bom!!
ResponderExcluir.
Chegas devagar ao meu mundo
Beijo e um excelente dia!
Ótima biografia apresentaste aqui, seguida de linda poesia! Valeu a homenagem.Merecida! abração, ótimo fds no friozão! chica
ResponderExcluirO saber nunca ocupou lugar. Poema lindíssimo que me extasiou ler.
ResponderExcluir.
Que a vida seja um sorriso
Cumprimentos
He leído hace bastante tiempo, sus cuentos. Es un gran escritor.
ResponderExcluirBesos
El mundo de los sueños siempre es fascinante, don Pedro.
ResponderExcluirAbraços.
"sonho num sonho", ideia que, ao que julgo, se reflecte em Mário Sá-Carneiro
ResponderExcluire no próprio Pessoa...
uma verdadeira lição sobre Edgar Allan Poe, caro amigo
que apreciei sobremaneira.
forte abraço, Poeta.
Boa notie de paz interior, amigo perdro!
ResponderExcluir"... comparaste meus dias a um sonho"...
"O que vejo, o que sou ou suponho
não é mais do que um sonho."
"O que vejo, o que sou ou suponho
será apenas um sonho num sonho?"
Aqui é cultura e poesia a cada postagem. Não conhecia o poema, obrigada por tê-lo me dado a conhecer.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos de paz e bem
*Boa noite... Pedro, desculpe-me
ExcluirPedro,
ResponderExcluirComo sempre uma maravilhosa
e completa publicação.
Aprecio e sou leitora de
Allan Poe.
Bjins de ótima sexta-feira
Bjins
CatiahoAlc.
Pedro,
ResponderExcluirA vida de Edgar Allan Poe foi difícil, vida sofrida, e isso aparece em seus inúmeros poemas genialmente escritos. Poemas românticos que diziam apenas do universo interior humano deixando em cada um de seus poemas, resquícios de sofrimento.
Perdeu a mãe, depois a mãe adotiva e a esposa. Vida sofrida sim, no entanto, buscou seu sonho, dedicou-se à poesia e aos contos misteriosos e macabros, tornando-se, segundo, William Carlos, o primeiro autor verdadeiramente americano.
Ótima postagem sobre o grande Edgar Allan Poe, o autor do conhecido e famoso poema O Corvo. Muitas obras desses grandes escritores fundem-se com suas vidas.
Gostei muito de ler, uma leitura que nos leva calmamente, mas curiosos até o fim.
Beijo!
Un buen autor del que he leído varias de sus obras.
ResponderExcluirTriste su muerte prematura.
Un beso.
Edgar Allan Poe é um nome que não se esquece. De reconhecida qualidade.
ResponderExcluirGostei muito de encontrar aqui a sua biografia. Não teve vida fácil, mas talento não lhe faltava.
Poema maravilhoso, caro amigo Pedro.
Abraço amigo.
Es un maestro Allan Poe, no sabía lo de su rebeldía con la Universidad, pero a las almas inquietas les cuesta mucho regirse a eso. Saludos desde El Blog de Boris Estebitan.
ResponderExcluirBoa noite tudo bem? Sou brasileiro, carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. E seguirei o seu com prazer. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância.
ResponderExcluirhttps://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1
Oi, Pedro...que ótima postagem! Gostei muito dos dados biográficos de um autor que foi um dos pilares da literatura. O Corvo era na minha casa um referência de citação pelo meu querido pai...um sentimento profundo do "nunca mais". Fantástico o poema postado de profunda reflexão...
ResponderExcluirObrigada.Um abraço
Bom dia Pedro obrigado pelo carinho. Fico feliz em ser seu novo amigo. Parabéns pelo seu blogue. Um excelente domingo.
ResponderExcluirBelíssimo poema de Edgar Allan Poe! Um sonho por outros sonhos repartido...
ResponderExcluirGostei desta forma como apresentou o autor e a sua obra.
Um beijo, meu Amigo Pedro-
Palavras profundas e sentidas num poema sublime.
ResponderExcluirExcelente post sobre Edgar Allan Poe.
Um grande abraço
Incluso para quien no conzca a Poe, leer su entrada le hará interesarse por el poeta, a quien descubrí de adolescente.
ResponderExcluirEn este reencuentro con él desde hace mucho tiempo, he vuelto a sentir la sensación de que ocultos por los pliegues de su obra, incluso los más sórdidos, vagan los anhelos de un alma pura que vivió deseando regresar junto a su amada prima. Y que por diversos que sean, sus poemas parten de esa misma referencia, formando un mandala que cobijase la experiencia más importante de su vida. Gracias por el reencuentro.
Gostei muito de ler e saber sobre Poe, somente ano passado li alguns contos dele, são narrativas bem detalhadas, gostei demais da experiência da leitura.
ResponderExcluirO poema aqui colocado é maravilhoso!
Abraço, amigo Pedro!
Muito bom vir aqui e aprender mais sobre Alan Poe.
ResponderExcluirUm trabalho muito bonito e a escolha de poema perfeita.
Acho engraçado como muitos artistas da época acabavam
desenvolvendo uma doença.
Grato Pedro e que a semana seja leve.
Abraços Pedro.
Grande partilha, meu caro amigo.
ResponderExcluirEdgar Allan Poe, que influenciou franceses, italianos, espanhóis, portugueses, alemães, russos, no século XIX. E no século XX, entre outros, os brasileiros. O que já foi chamado de Profeta pelos jovens poetas franceses. E um belo poema que nos trouxe.
É sempre bom desengavetá-los (os poetas e ficcionistas consagrados pela crítica), sobretudo para os jovens...
Um grande abraço, meu amigo Pedro
Muitooo bom
ResponderExcluirSo pretty.
ResponderExcluirBoa memória e partilha
ResponderExcluirBoa tarde, caro Pedro. Brilhante a sua postagem, Alan Poe fez e faz parte da minha seleção literária. Sempre brilhante, Poe coloca suas emoções na sua escrita, o padecimento que teve na vida serviu como inspiração em muitas de suas obras, agradeço por ter aqui em seu espaço matéria literária tão valiosa. Abraço!
ResponderExcluirBoa noite caro Pedro!
ResponderExcluirLindo de se ler!
Um sorriso sonhando ... sonhando ... sonhando.
Megy Maia🌈
PEdro
ResponderExcluirUma bela homenagem a Edgar Allan Poe, e o poema que escolheu está muito bem escolhido.
Bela postagem!
Bom domingo
Beijinhos
:)
Piedade é sempre com alegria que recebo a sua visita. Obrigado poetisa.
ExcluirBeijo.
Caro Pedro,
ResponderExcluircomo sempre a escolha do autor foi ótima. Edgar Allan Poe ficou popularmente associado a um estereótipo mórbido através do "Corvo". Óbviamente deve-se a não divulgação mais ampla da obra desse mestre das letras. O poema para Helena é romântico.
As minhas opiniões refletem apenas o meu pensamento, leigo literáriamente.
Um abraço de todos do atelier
Um texto muito informativo e muito interessante, apesar de ter repetições.
ResponderExcluirLi muitas coisa deste excelente escritor, que tinha uma manancial imaginativo inesgotável.
Meu caro Pedro, lhe desejo boa semana e deixo um abraço desde este lado do oceano :)
Amigo Pedro, no me extraña que Allan Poe todo lo que escribía era trágico y de miedo, por lo menos eso me parece a mi.
ResponderExcluirMuy interesante todo o que has escrito sobre él.Un fuerte abrazo.
Uma homenagem brilhante a um não menos brilhante escritor. Estou estou a tentar voltar. Beijinhos amigo com carinho
ResponderExcluir"Se a esperança se vai, esvoaçando,
ResponderExcluirque me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?"
Por esta passagem se vê bem a tendência em que se inseria Allan Poe e na qual se encontram os seus contemporâneos Baudelaire e Mallarmé, aqui referidos.
Bela essa ronda por autores famosos, de quem se ouve falar e que fazem parte do nosso imaginário, mas que nem sempre aprofundamos.
Grata por este seu trabalho, meu amigo.
Abraço
Olinda
Mais uma fabulosa publicação, que nos remete para um grande autor!
ResponderExcluirMagnifico suporte informativo, e uma excelente escolha poética, que nos mostra na perfeição que a inquietude, e o sentimento de inadaptação, terão estado muito presentes na vida e obra deste magistral autor...
Belíssimo post, Pedro! Mais um...
Beijinho
Ana