Marie Thérèse Walter / 1939 - Picasso |
- ESPAÇO DA CRÔNICA -
A MULHER DE MEIA-IDADE
- Pedro Luso de Carvalho
Sei que me lembrarei em todas as eleições daquela mulher de meia-idade, que conheci na seção eleitoral em que voto, há pouco mais de quatro anos, quando se deu a última eleição para a Presidência da República, Senado e Câmara Federal.
Por estar ela ainda bem viva na memória, pressinto que nos encontraremos na mesma seção eleitoral, no dia 3 de outubro de 2024, quando votaremos para escolher prefeito e vereadores do município de Porto Alegre.
É bem verdade que é meu desejo encontrar aquela mulher, como é verdade que não tenho nenhuma vontade de ir às urnas para depositar o meu voto, por não sentir nisso nem emoção nem interesse.
É verdade que me sinto inquieto quando penso em encontrá-la, em razão dos fatos ocorridos naquela época, há quatro anos. Estará bem, a mulher de meia-idade?
Parece-me que foi ontem que a vi apoiada em duas muletas, fazendo um esforço sobre-humano para chegar à seção em que votava, pois já estava na hora de terminar a votação. Faltavam apenas dois minutos.
A mulher apoiava-se nas muletas e as lançava para diante do corpo para depois se impulsionar para frente, completando a caminhada ao puxar as pernas atrofiadas, que eram arrastadas por ela.
Naquele momento, tive o ímpeto de ajudá-la para que ela pudesse chegar a tempo à urna, mas logo desisti desse intento, pois entendi que ela poderia desaprovar o meu pretenso gesto.
No dia das eleições, 3 de outubro, pretendo ficar em frente ao prédio da seção eleitoral, em que ela e eu votamos, na esperança de encontrá-la. Quero rever essa mulher tenaz, que a vi se arrastar para votar.
Ficarei no pátio do prédio, à sombra de uma figueira, onde votarei – por ser o voto obrigatório –, à espera daquela obstinada mulher de meia-idade, se é que ela ainda tem alguma esperança nos políticos.
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Tomara que ela tenha e não seja uma conservadora que nega a ciência. É votando que poderemos mudar os rumos do país... E cuidando da educação no país. Perseverança, tenacidade. Esperança de que se mude o status quo... Um belo texto, meu amigo Pedro, ainda que haja uma ponta de pessimismo. A que eu tenho Também, mas vamos acreditar!
ResponderExcluirUm grande abraço, meu amigo!
Querido Pedro,
ResponderExcluirQue história comovente e ensina a todos os seus leitores sobre a verdadeira tenacidade!
Que possamos orar para que mais pessoas como esta senhora apareçam.
Abraços,
Mariette
Vou me desvencilhar do contexto político e entrar em outro, que sutilmente, você espalhou pelo texto, meu amigo Pedro.
ResponderExcluirDivido minhas opiniões políticas entre você e meu caríssimo professor Sant'Anna! Esperança nos políticos? Um tanto complicado! Mas, minha esperança se deposita em minha ardente vontade de que tenhamos mais investimentos na educação, na saúde, na tolerância, na ciência e, novamente e mesmo que eu seja repetitivo, na tolerância. A repetição foi proposital, mas a necessidade pela tolerância urge.
Mas, comentei mais acima que você espalhou uma palavra pelo texto que me arrematou. E a palavra é "verdade". Você se apoiou nessa palavra em dois parágrafos, e eles foram os mais seletos de todo o texto. E apareceu, nesse instante, a dualidade de seu texto. A diferença de afirmações, suas e dela, e o quanto você se motivou "pelas verdades dela"!
A vida é assim, meu amigo. Quantas vezes temos opiniões contrárias, mas ao escutarmos abjeções, nos empurrando em sentido torpe, ou objeções, nos trazendo algo mais claro, mudamos de opinião. Você é advogado, e sabe muito bem o poder que essas duas situações podem provocar em alguém despreparado.
No entanto (e sempre tem um "no entanto", não é?), naquele momento, não existiam abjeções ou objeções. O que se fez foi a soltura de algo puro que brotava de você. Não saberei explicar, pelo menos agora, esse sentimento, mas ele te tomou. Que bom!
E assim vamos, Pedro! E como citei uma frase de Lulu Santos ao Sant'Anna, cito-a aqui, também para você: "A passos de formiga e sem vontade". Mas, neste caso, a formiga andou com passos céleres, e fez muito bem o papel dela. Bela crônica. E grande abraço.
Marcio
Oi Pedro, a fé e a esperança podem ser os únicos sentimentos que movem os puros de coração. Por eles o Mundo permanece;.
ResponderExcluirUm abraço
Gente que sente o dever cívico.
ResponderExcluirConfesso que já me abstive várias vezes.
Desalento, cansaço, revolta.
Um abraço
São pessoas como essas que nos ensinam e nos recordam que votar é um acto de cidadania. Gostei da crónica, meu Amigo Pedro.
ResponderExcluirTudo de bom.
Um beijo.
Que vontade e garra tem essa mulher. Confesso que eu penso que não vale a pena o esforço pra depositar qualquer voto !!! Linda crônica! abraços, tudo de bom,chica
ResponderExcluirAdmiro a esa mujer que, pese a su deterioro físico, es capaz de salir de su casa para depositar su voto en las urnas. Ella cree, tiene esperanza en un mundo mejor y de ahí su fuerza de voluntad.
ResponderExcluirOjalá vuelvas a verla, es un ejemplo a seguir en todos los sentidos.
Despuès de mi largo silencio, os echaba en falta y he vuelto con todos vosotros.
Cariños.
Kasioles
Caro Pedro
ResponderExcluirEsta Crónica tem, quanto a mim, duas vertentes.
Ficamos a saber de quando foram as últimas eleições presidenciais
e das próximas para as autarquias. E gosto saber estas coisas. Na
votação temos hipótese de escolher. Sei que, por vezes, a escolha é
tão restrita, olhamos para um lado e para o outro a ver se encontramos o candidato ideal e nada. Mas, enfim, temos de continuar nessa senda.
Depois temos essa mulher de meia-idade que, apesar da sua
condição de saúde "arrasta-se" para cumprir com aquilo que ela
considera o seu dever cívico. Apesar de obrigatório o voto, ela
poderia ter procurado alguma alternativa.
Belo texto a que não falta aquele toque de humanidade que
encontramos sempre nas suas palavras.
Grande abraço, amigo.
Olinda
Tanto esfuerzo y tan buena voluntad por parte de los votantes, para que los políticos no se porten con la dignidad, con que juraron el cargo.
ResponderExcluirBesos
Bom dia de paz, amigo Pedro!
ResponderExcluirClaro que o enfoque político aqui discretamente muito bem abordado ficou relevante.
Mas vou focar num outro ponto que me marca sempre quando me deparo com uma deficiente exatamente assim como a que descreveu. Ter que puxar uma perna para prosseguir mesmo com andadores ou muletas é duro.
Se tiver triste ou alo similar, logo bato no peito e me defronto com minha realidade tão diferente e me sinto sem o direito de reclamar de nada...
Aqui, temos no calçadão, pessoas que lutam dia após dia para sobreviverem mesmo na maior deficiência.
Emocionei-me com o aspecto tão relevante aqui mostrado pela fé da mulher em tentar melhoras do nosso país que é um exemplo para nós todos.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
Immagini di grande sensibilità, che si soffermano nel nostro cuore...
ResponderExcluirSempre bello leggerti, Pedro, cari saluti
Com uma justificação médica a mulher não seria obrigada a votar. Mas há pessoas que dão imensa importância ao voto. Eu também dou, mas se estiver doente, nem pensar.
ResponderExcluirUma história interessante, espero que a continue depois de encontrar a tal mulher de muletas.
Continuação de boa semana, caro Pedro.
Um abraço.
Bom dia Pedro,
ResponderExcluirUm grande texto cheio de sensibilidade.
Mulheres como essa de que fala são um exemplo para todos nós, principalmente os que comodamente ficam em casa, apontando depois defeitos a quem venceu e nao é de sua simpatia.
Essa mulher de meia idade, apesar de suas limitações, não deixa de cumprir seu dever cívico.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime
Voto de esperanza aunque, después, viene la desilusión.
ResponderExcluirEsa buena mujer es un ejemplo.
Un buen texto.
Un beso.
Estimado amigo Pedro, voluntad no falta, pero por desgracia la voluntad que tiene el pueblo no es precisamente la que tienen los políticos para con su pueblo. Muy buen tema de gran actualidad. Realmente lo que se merecen es que absolutamente nadie depositara su voto dando una muestra de total disconformidad con esos aprendices de políticos que gobiernan en beneficio propio y de unos cuantos de sus secuaces.
ResponderExcluirUn fuerte abrazo amigo y te deseo un resto de semana de felicidad.
É, eu lembro da mulher de meia-idade, quanto sacrifício para dar o seu voto que será mal usado. Ou nem pensado... É uma qualidade que não tenho, tamanha é a desilusão. Mas, pode ser que um dia eu me regenere dessa decepção sem fim que é a política. O poder, na maioria das vezes, corrompe muito. O dia que os políticos mostrarem que o voto do povo é coisa muito séria, mudo de atitude. Mas louvo a atitude da mulher de meia idade!
ResponderExcluirBeijinho daqui do lado!
Una bonita historia de esta persona dispuesta a ejercer su derecho a votar sea cual sea su voto ya que incluso puede meter en la urna el sobre vacío como protesta de todo tipo de políticos que nos encontramos.
ResponderExcluirEn España si estas a la hora de cierre de las urnas dentro del lugar donde se vota puedes ejercer tu derecho a votar.
Saludos.
Meu Caro Pedro Luso
ResponderExcluirSe fosses político, seguramente não terias tais sentimentos de admiração, compaixão e valor pelo sacrifício notável daquela mulher; apenas seria "um" simples voto para o todo que alimenta a política... deles.
Há gente com Coração (tu, Amigo) e os demais, os beneficiários políticos.
Crónica actual a merecer o mais elevado elogio.
Parabéns, Amigo.
Abraço
SOL da Esteva
Há pessoas com uma imensa força de vontade e que não desistem de alcançar o que pretendem, mesmo perante os grandes obstáculos que a vida lhes coloca, como essa mulher de meia idade que encontrou.
ResponderExcluirMagnifica crónica.
Beijinhos e bom fim de semana
Los obstaculos nos retan, nos hace fuerte y queremos tentar nuestras capacidades y autonomía, me ha gustado el relato Pedro y que precisamente por su obstinación y fuerza la recuerdes con tanto interés
ResponderExcluirUn abrazo
Un relato conmovedor y lleno de fuerza.
ResponderExcluirLas grandes obras, los proyectos para cambiar el mundo para mejor, están llenos de gente lucha hasta el último instante.
El valor y el coraje los avala.
Gracias por darles voz.
Respecto a los políticos, hace tiempo que me desencantaron.
Saludos.
Boa tarde caro amigo Pedro!
ResponderExcluirExistem pessoas que nos dão lições de vida!
Um beijinho recheado de esperança!
Gratidão!
💙💙💙 Megy Maia
Bom dia, Pedro
ResponderExcluirUm exemplo de determinação e coragem, ótima crônica, um forte abraço.
Passei para ver as novidades.
ResponderExcluirAproveito para lhe desejar uma boa semana, caro Pedro.
Abraço.
Cumpriu o seu dever cívico, com esforço, tal senhora...
ResponderExcluirQue dera que todo o mundo fosse assim, votando com absoluta consciência, de que o voto de cada um é essencial, e imprescindível para melhorar o país... e talvez algumas figuras anedóticas, que apenas envergonham as democracias, nunca chegassem a ser eleitas...
Beijinhos! Feliz semana!
Ana
Amigo Pedro!
ResponderExcluirQue bela e reflexiva crônica!
Uma mulher guerreira que deu um voto de esperança para o futuro de um país, que não sabemos o que esperar dos políticos. Louvo a sua atitude, só acho que não vale o sacrifício.
Grata pela visita e comentário em minha página.
Desejo-lhe dias abençoados.
Um abraço
Profunda relfexion te mando un beso.
ResponderExcluirOlá amigo Pedro
ResponderExcluirÉ admirável saber que ainda existem pessoas que vencem imensas barreiras para depositar na urna não somente o voto mas sim a esperança que a política aconteça pautada no respeito aos cidadãos e que faça o melhor em prol da dignidade de uma nação
Uma bela crônica meu amigo
Um terno abraço
Olá, amigo Pedro,
ResponderExcluirExcelente crónica, onde retrata uma realidade cada vez mais presente na vida de todos nós.
Gostei bastante.
Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Bom dia, Pedro
ResponderExcluirUm exemplo de determinação e coragem, ótima crônica, um forte abraço.
Releio com muito agrado e redescubro a tenacidade e vontade de manifestar o verdadeiro querer. Mulher de Armas!...
ResponderExcluirO meu abraço
SOL da Esteva
Olá Pedro Luso, jurista, poeta, cronista!
ResponderExcluirExcelente relato de um momento comovente e marcante.
Confesso que me emocionei com a tenacidade da mulher de meia-idade, e me envergonhei lembrando as vezes que já fiquei em casa.
Gostei Muito!
Beijo.