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29 de ago. de 2024

A ENCHENTE DE MAIO– Pedro Luso de Carvalho

 

Enchente Maio de 2024 - Porto Alegre / RS - Brasil




A ENCHENTE DE MAIO

        - Pedro Luso de Carvalho



Era terra devastada,

fúria incontida das águas,

que a tempestade criou

no temido mês de maio.


Águas desceram da serra,

rastro de agonia e morte,

morreram muitas crianças,

morreram pais e avós.


Enchente não esperada,

tanta morte na passagem,

filhos perderam os pais,

pais que perderam os filhos.


Então o povo reagiu,

mesmo com água nos pés,

e o Rio Grande do Sul

recebeu os voluntários.


Foi árdua a luta travada,

já não estávamos sós,

eram muitos voluntários,

todos com a mão estendida.




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17 de ago. de 2024

A INÚTIL ESPERA – Pedro Luso de Carvalho

 



                                               A INÚTIL ESPERA 

                                                              – Pedro Luso de Carvalho



Na longa espera dói-me o peito

ferido por tantas esperas

em meio às fotografias

amareladas

do velho álbum

sobre a escrivaninha.



Pressenti na inútil espera

a ruptura dos elos

vidas perdidas

com sonhos tantos

acalentados

encanto e desencanto.



Naquela tarde quase noite

me vi no vidro da janela

refletido

a dor refletida no espelho.



Vi lá fora a silhueta da mulher

na densa névoa

fazia-me acenos de despedida –

ausência e lembrança eternizavam-se.




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4 de ago. de 2024

UMA NOVA ESTRADA – Pedro Luso de Carvalho

 




UMA NOVA ESTRADA

     - Pedro Luso de Carvalho




Eu Venho de muito longe,

tantas pontes eu cruzei,

e depois seguia a estrada,

a ponte mero disfarce.


Vi sem disfarces a estrada,

bondade e maldade juntas,

estrada para se andar,

o que a vida nos impõe.


Tenho pensado na estrada,

pontes e encruzilhadas,

com tantas interrogações.

Quero e não quero saber.


Nada se tem a fazer,

só resta seguir andando,

olhos presos no horizonte

e nas noites enluaradas.




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21 de jul. de 2024

ACORDES DE GUITARRA – Pedro Luso de Carvalho

 




    ACORDES DE GUITARRA

                      – Pedro Luso de Carvalho




Os acordes de guitarra,

nesta noite quase finda,

espalharam-se na casa

com acordes melodiosos.



Os acordes de guitarra

vieram não sei de onde,

andaram peça por peça.

Rastro de som e de luz.



Os acordes de guitarra

iluminaram a casa,

apagaram a tristeza

com angelicais acordes.



Os acordes de guitarra,

alegres e benfazejos,

despediram-se na aurora,

levando dores e sons.




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11 de jul. de 2024

DESILUSÃO - Pedro Luso de Carvalho

 

Gramado - RGS / Brasil


           DESILUSÃO

                         – Pedro Luso de Carvalho



João, pobre João! Preso a esse amor

intenso e sem tréguas, por Maria.

Tanta procura e tantos afagos!

(Beija-flor no ar saciando a sede.)



João, pobre João! Não vês os excessos?

Terás tu, João, o amor de Maria?

Volta de teus voos em escuras nuvens

e verás o rumo que tomou Maria.



Consola-te, João! Agora te resta deitar

na cama, no mesmo lugar que Maria dormia,

que algum calor terá sobrado do corpo

da amada, para aquecer tuas noites de frio.




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29 de jun. de 2024

NAQUELA NOITE NO BAR - Pedro Luso de Carvalho

 



 NAQUELA NOITE NO BAR

         - Pedro Luso de Carvalho



Na penumbra do bar,

misterioso mundo,

mentiras, juras feitas

em segredo mantidas.



Seara dos amantes,

pela paixão enlaçados, 

tempo fugaz da noite,

na penumbra do bar.



De casais, silhuetas.

Os cristais a tinir.

Sussurros estendidos.

Lembrança ficará?



Curta é essa noite,

breve é a paixão,

como as rosas vermelhas,

esquecidas nas mesas.



Restam sombras no bar,

ficam sons de promessas.

Nessa noite que morre

não há centelha do amor.





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15 de jun. de 2024

UM CASAMENTO - Pedro Luso de Carvalho

 

Drinque - Juarez Machado   /   Das Artes


   UM CASAMENTO

             Pedro Luso de Carvalho



Era madrugada de sábado,

uma garrafa sobre a mesa,

whisky quase pela metade,

o casal discute sem freios.


A linda mulher engordou,

a linda mulher bebe muito,

a linda mulher mal se cuida,

parece a vida desprezar.


Olha o descarado falando!

Você que não é mais o mesmo,

aquele que amei onde está?

Fui iludida, seu trapaceiro!


A garrafa quase vazia,

o sono derruba o casal,

a mulher dorme no chão frio,

o marido dorme ao seu lado.




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31 de mai. de 2024

TARDES DE ESPERA - Pedro Luso de Carvalho




     TARDES DE ESPERA

     – Pedro Luso de Carvalho



Havia um peso no ar na tarde,

a luz prisioneira da bruma,

a jovem tinha mãos geladas

e brilho nos olhos azuis.


Logo o manto da noite desce,

a tarde é uma lembrança,

soma de esperança da jovem;

espera seu amado na tarde.


É espera desesperada,

esperança por sucumbir,

promessa da volta quebrada,

ou mera precipitação.


As tardes se pareciam,

e o tempo mudou a jovem,

seus cabelos ficaram brancos,

e já não sabe a quem espera.




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15 de mai. de 2024

[crônica] O PASSADO É LOGO ALI - Pedro Luso de Carvalho

 



       O PASSADO É LOGO ALI - Crônica

                               – Pedro Luso de Carvalho



De que valeu o sacrifício no decorrer desse tempo? – perguntava o homem soturno, para si mesmo. E ainda se questionava: era isso o que a vida tinha para me dar, depois do tanto que fiz, depois de tantas renúncias?

O homem sentia que os caminhos, pelos quais andou, não eram motivos para se envaidecer, mas ter ciência disso de nada lhe servia, agora que já não tem mais o mesmo brilho nos olhos, agora que não tem o ímpeto que tinha para sempre avançar.

Recrimina-se, o homem, por não ter sabido escolher os seus caminhos, por não ter evitado as tantas encruzilhas traiçoeiras; e também pelo sofrimento que causou – tantos foram os seus amores –, deixando rastos de ninhos desfeitos.

O homem lembra-se da infância com saudade, e quer sentir o perfume das macieiras no pomar, amadurecendo; quer ouvir o cântico das águas do riacho correndo entre os arbustos; quer ver a lua no escuro da noite, brilhando entre as árvores.

O homem quer voltar àquele mágico tempo, em que era acolhido pelas árvores, com as quais tinha indestrutíveis laços de amor. Tempo em que o corpo do menino tinha a proteção dos ramos que o cobriam, quando havia sol ou chuva.

Então pressentiu, o homem soturno, que ainda poderia encontrar a salvação, pois tinha visto que o passado é logo ali.





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1 de mai. de 2024

INSENSATEZ - Pedro Luso de Carvalho

 

                 




   INSENSATEZ

         - Pedro Luso de Carvalho



Eu sempre tive grandes propósitos,

mas não queria o mundo assim,

e como estava não me servia.



Eu queria o sol multiplicado,

brilho sem conta na manhã cálida,

no orvalho a festa de muitos sóis.



E a natureza toda festiva,

é a natureza em euforia,

merecido desfrute da vida.



Mais tarde a mudança repentina,

e da brisa veio a tempestade,

do tépido sol veio o incêndio.



Do clarão e estalidos das chamas,

tanta morte de animais e gente,

e a natureza morre um pouco.



Onde ficaram os meus propósitos?

Onde está esse mundo melhor?

Esses são os meus sonhos perdidos.




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16 de abr. de 2024

AS DORES DO MUNDO – Pedro Luso de Carvalho

 




      AS DORES DO MUNDO

                     – Pedro Luso de Carvalho



São muitas as dores do mundo,

essas dores do mundo são minhas,

fome nos olhos do menino

acusa minha inutilidade.


São muitas as dores do mundo,

tenho no peito a marca da dor,

ao ver prisão por furto de pão,

então vi a justiça que não se fez.


São muitas as dores do mundo,

e muito mais viram os meus olhos,

crimes que muitos olhos viram,

lá na Ucrânia e na Faixa de Gaza.


São muitas as dores do mundo,

ausência de consolo na guerra,

ferocidade do bicho homem,

terra e sangue é sua paisagem.




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3 de abr. de 2024

[conto] UMA ALMA ATORMENTADA - Pedro Luso de Carvalho

 

Porto Alegre - RS / Brasil


UMA   ALMA   ATORMENTADA

          -  Pedro Luso de Carvalho



          Belizário Lemos sentia-se fracassado nessa altura da vida. Nem tudo havia saído como esperava. Formou-se em economia por influência do pai. Isso por que durante a ditadura militar os economistas estavam em alta. Eles quase não saiam da mídia, para, entre outras coisas, falar sobre conglomerados financeiros.

Economia é a profissão do futuro – profetizava o pai.

Se o senhor pensa assim, sigo seu conselho.

Depois de formado, Belizário pretendia aplicar na prática o pouco que aprendera na universidade. Escreveu cartas a muitas empresas oferecendo seus serviços. Também tentou concursos públicos. Tudo em vão.

Próximo de seus quarenta anos, Belizário não pensava em casamento. Trabalhar era seu único objetivo. A sua experiência nessa busca ensinara-lhe a ter paciência e perseverança. Mas agora desconfiava não poder contar com essas qualidades.

Alguns anos haviam se passado. Belizário ainda morava com os pais, que já estavam um pouco curvados pela idade. O pai tentou ajudá-lo, procurando um general do exército por quem tinha especial admiração.

Venho pedir-lhe, general, que o senhor interceda por meu filho.

O general foi objetivo na sua resposta:

O que pode um general de pijama fazer por seu filho?

Essa negativa do general levou Belizário a uma profunda depressão. Então não mais encaminhou seu currículo às empresas, desistiu dos concursos públicos, e tornou-se recluso em seu quarto. Foi durante esse período nebuloso que tomou uma drástica decisão:

Vou me matar!

Mas não seria dessa vez que o atestado de óbito de Belizário Lemos seria lavrado. Nessa primeira tentativa o medo travou o dedo no gatilho do velho revólver.

Na próxima vez eu me mato – disse para si.

Na segunda tentativa Belizário passou pela mesma frustração. Mas não desistiria. Nas noites insones planejava o suicídio. Nessa época, uma crise nervosa levou-o a quebrar a velha cristaleira com muitas peças raras. Foi o sinal para executar seu plano.

É hoje ou nunca!

Essa decisão ocorreu numa manhã ensolarada de outono. Belizário deixou seu quarto e saiu em direção a um edifício na Rua da Ladeira, no centro da cidade. Era o prédio escolhido para o que se propunha.

O elevador deixou Belizário no último andar. Faltava um lanço de escada para chegar ao terraço. Já no alto sentiu-se envolver por uma suave brisa do rio Guaíba. Não ficou indiferente à beleza da paisagem à sua frente. Lá embaixo a vida continuava na sua normalidade.

Na Rua da Ladeira, as pessoas entravam e saiam das lojas, dos bancos, dos bares.

Entre um edifício e outro jazia Belizário Lemos.





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18 de mar. de 2024

[Poesia] A CASA ABANDONADA - Pedro Luso de Carvalho

 




A CASA  ABANDONADA

        - Pedro Luso de Carvalho



Festas e risos na casa,

inveja de muitos,

amor no seio da casa

duas almas guardadas,

tesouro vigiado.



Um dia Maria partiu

na madrugada fria,

como fazem os ladrões,

sem se importar com quem ficou.



Lá ficou João que amava Maria,

de Maria não mais falava,

na casa triste,

carente dos risos

e da voz doce que o encantava.



Grande demais era a casa

para João,

tão pequeno,

sem Maria.



Hoje, os que passam à noite

em frente da silenciosa casa,

ouvem gritos de dor

e uma voz a chamar:

Maria! Maria!




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