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Porto alegre - RS / Brasil |
APARTAMENTO
À VENDA
– Pedro
Luso de Carvalho
O
casal comprou o apartamento no centro da cidade, ainda na sua fase de
construção. A incorporadora comprometeu-se entregar o imóvel no
prazo de doze meses, na forma do contrato. Depois que se aposentaram,
marido e mulher ansiavam pela mudança. Estavam entediados com a vida
que levavam no bairro, há muitos anos.
O
casal estava familiarizado com o centro de Porto Alegre, onde
trabalharam por muitos anos, como funcionários da Assembleia
Legislativa, cuja sede fica em frente à Praça da Matriz. Aí
costumavam descansar após o almoço, sob suas grandes árvores, de
onde avistavam o Rio Guaíba, entre os edifícios.
Portanto,
logo estariam livres dos problemas com as quais se deparavam no
bairro, com as tantas dificuldades para fazerem suas compras, e ainda
a distância do Teatro São Pedro, onde viam quase todas as peças
que eram levadas, sempre na dependência do ônibus, do
lotação, e às vezes do táxi, com preço mais salgado.
A
localização do apartamento, que compraram, não podia ser melhor
para eles, que sempre gostaram da Rua dos Andradas, mais conhecida
como Rua da Praia, desde os primeiros anos da cidade. Ao lado, fica a
Igreja das Dores, em frente a Casa de Cultura Mário Quintana, de
onde se vê o Centro Cultural Usina do Gasômetro.
O
marido frequentaria os bares, nas imediações da Praça da
Alfândega, onde se encontraria com velhos amigos, muitos já
aposentados. A mulher não teria dificuldade para frequentar missas e
novenas na Igreja das Dores, mesmo sem a companhia do marido, que era
um pecador, como sempre dizia às amigas.
Depois
da exaustiva espera, o casal iria para o novo lar. Marido e mulher
chegaram antes do caminhão de mudança. Percorreram um longo
corredor, no andar térreo, até chegarem em frente ao número onze.
O marido estava visivelmente nervoso quando abriu a porta do
apartamento pela vez primeira.
A
mulher ascendia as luzes, enquanto o marido abria as duas janelas,
uma lateral e outra de fundos, quando sente uma pressão forte no
peito ao ver que o apartamento estava embutido entre dois altos
muros, com pouca iluminação natural e desprovido de qualquer vista,
em razão da existência dos malditos muros de cimento.
No
mesmo dia, o caminhão retornou com a mudança para a velha casa
ensolarada, no bairro Petrópolis. Os móveis foram colocados nos
seus lugares de origem, como estavam antes. O marido ajuizou ação
contra a empreiteira para desfazer a compra, com a vantagem de ter
sido indenizado com altos valores.
Hoje,
marido e mulher estão felizes no antigo ninho, com o dinheiro que
não estava nos seus planos, mas, como costumam dizer: “chegou em
boa hora!”. Fizeram depois os necessários reparos na casa, além
do plantio de árvores, que servem de moldura ao bem cuidado jardim.
E dizem sempre: “O nosso bairro é um paraíso!”.
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