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11 de out. de 2024

VOZES DO VENTO - Pedro Luso de Carvalho

 



    VOZES DO VENTO

                     – Pedro Luso de Carvalho



Vento na cumeeira da casa,

amedronta esse vento zunindo,

vento forte vindo das lonjuras,

e vem com novas para contar.


Conte-me o que tens para contar,

conte-me tudo o que sabes vento,

que não fique nada por contar,

essa a missão do mensageiro.


De tudo que viu falou o vento,

falou da calma no Continente,

a não ser um país extraviado,

a Venezuela aqui na fronteira.


O que sabes do nosso Brasil?

Diga agora o que sabes vento.

Sem responder o vento partiu,

saiu zunindo de volta ao sul.




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28 de set. de 2024

O POEMA DE HOJE – Pedro Luso de Carvalho

                                           

Os Retirantes 1944 - Cândido Portinari / MASP


O POEMA DE HOJE

      - Pedro Luso de Carvalho



Este poema será duro,

ele vem de ruas escuras,

ele vem de fétidas ruas,

onde perambulam famintos.


De casebres vem o poema,

chão pontilhado de luar,

luar no rosto da criança,

a fome esculpida no corpo.


Vem dos charcos este poema,

do crime não investigado,

cadáveres não sepultados,

na vala comum esquecidos.


Da renúncia vem o poema,

renúncia à luta travada,

pois o mal é maior que o bem.

Valerá vintém o poema?




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19 de set. de 2024

O CAVALO NA ENCHENTE DE MAIO – Pedro Luso de Carvalho

 

O Cavalo Caramelo - enchente maio 2024 -  RS / Brasil


O CAVALO NA ENCHENTE DE MAIO

                  - Pedro Luso de Carvalho



Preso na enchente o cavalo,

foi prisioneiro das águas,

torrenciais águas de maio,

no Rio Grande do Sul.


E no turbilhão das águas

sofrimento do cavalo,

bem longe da terra firme,

sobre telhado de zinco.


Foi um cavalo valente,

diante da fúria das águas,

daquela enchente de maio,

esperando salvação.


Nos quatro dias de espera,

a esperança por um fio,

avista barcos chegando,

forte emoção do cavalo.


Seus salvadores chegaram,

são os bombeiros paulistas,

farão trabalho e milagre.

Viva o cavalo das águas!




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8 de set. de 2024

JANELA INDISCRETA – Pedro Luso de Carvalho

 



JANELA  INDISCRETA

               – Pedro Luso de Carvalho



Abro a janela da sala,

nesta sala de visitas,

um rosário de gente

na tarde plena de sol,

olhar ágil de serpente.


Vejo o que quero daqui,

vejo rostos de tristeza,

vejo rostos de alegria,

vejo desânimo e euforia.


O casal de passos leves,

como se quisesse voar,

mostrando felicidade,

nesta tarde iluminada.


Tudo parece perfeito,

é de contrastes a vida,

fecho a janela da sala

e me junto à multidão.




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29 de ago. de 2024

A ENCHENTE DE MAIO– Pedro Luso de Carvalho

 

Enchente Maio de 2024 - Porto Alegre / RS - Brasil




A ENCHENTE DE MAIO

        - Pedro Luso de Carvalho



Era terra devastada,

fúria incontida das águas,

que a tempestade criou

no temido mês de maio.


Águas desceram da serra,

rastro de agonia e morte,

morreram muitas crianças,

morreram pais e avós.


Enchente não esperada,

tanta morte na passagem,

filhos perderam os pais,

pais que perderam os filhos.


Então o povo reagiu,

mesmo com água nos pés,

e o Rio Grande do Sul

recebeu os voluntários.


Foi árdua a luta travada,

já não estávamos sós,

eram muitos voluntários,

todos com a mão estendida.




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17 de ago. de 2024

A INÚTIL ESPERA – Pedro Luso de Carvalho

 



                                               A INÚTIL ESPERA 

                                                              – Pedro Luso de Carvalho



Na longa espera dói-me o peito

ferido por tantas esperas

em meio às fotografias

amareladas

do velho álbum

sobre a escrivaninha.



Pressenti na inútil espera

a ruptura dos elos

vidas perdidas

com sonhos tantos

acalentados

encanto e desencanto.



Naquela tarde quase noite

me vi no vidro da janela

refletido

a dor refletida no espelho.



Vi lá fora a silhueta da mulher

na densa névoa

fazia-me acenos de despedida –

ausência e lembrança eternizavam-se.




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4 de ago. de 2024

UMA NOVA ESTRADA – Pedro Luso de Carvalho

 




UMA NOVA ESTRADA

     - Pedro Luso de Carvalho




Eu Venho de muito longe,

tantas pontes eu cruzei,

e depois seguia a estrada,

a ponte mero disfarce.


Vi sem disfarces a estrada,

bondade e maldade juntas,

estrada para se andar,

o que a vida nos impõe.


Tenho pensado na estrada,

pontes e encruzilhadas,

com tantas interrogações.

Quero e não quero saber.


Nada se tem a fazer,

só resta seguir andando,

olhos presos no horizonte

e nas noites enluaradas.




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21 de jul. de 2024

ACORDES DE GUITARRA – Pedro Luso de Carvalho

 




    ACORDES DE GUITARRA

                      – Pedro Luso de Carvalho




Os acordes de guitarra,

nesta noite quase finda,

espalharam-se na casa

com acordes melodiosos.



Os acordes de guitarra

vieram não sei de onde,

andaram peça por peça.

Rastro de som e de luz.



Os acordes de guitarra

iluminaram a casa,

apagaram a tristeza

com angelicais acordes.



Os acordes de guitarra,

alegres e benfazejos,

despediram-se na aurora,

levando dores e sons.




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11 de jul. de 2024

DESILUSÃO - Pedro Luso de Carvalho

 

Gramado - RGS / Brasil


           DESILUSÃO

                         – Pedro Luso de Carvalho



João, pobre João! Preso a esse amor

intenso e sem tréguas, por Maria.

Tanta procura e tantos afagos!

(Beija-flor no ar saciando a sede.)



João, pobre João! Não vês os excessos?

Terás tu, João, o amor de Maria?

Volta de teus voos em escuras nuvens

e verás o rumo que tomou Maria.



Consola-te, João! Agora te resta deitar

na cama, no mesmo lugar que Maria dormia,

que algum calor terá sobrado do corpo

da amada, para aquecer tuas noites de frio.




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29 de jun. de 2024

NAQUELA NOITE NO BAR - Pedro Luso de Carvalho

 



 NAQUELA NOITE NO BAR

         - Pedro Luso de Carvalho



Na penumbra do bar,

misterioso mundo,

mentiras, juras feitas

em segredo mantidas.



Seara dos amantes,

pela paixão enlaçados, 

tempo fugaz da noite,

na penumbra do bar.



De casais, silhuetas.

Os cristais a tinir.

Sussurros estendidos.

Lembrança ficará?



Curta é essa noite,

breve é a paixão,

como as rosas vermelhas,

esquecidas nas mesas.



Restam sombras no bar,

ficam sons de promessas.

Nessa noite que morre

não há centelha do amor.





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15 de jun. de 2024

UM CASAMENTO - Pedro Luso de Carvalho

 

Drinque - Juarez Machado   /   Das Artes


   UM CASAMENTO

             Pedro Luso de Carvalho



Era madrugada de sábado,

uma garrafa sobre a mesa,

whisky quase pela metade,

o casal discute sem freios.


A linda mulher engordou,

a linda mulher bebe muito,

a linda mulher mal se cuida,

parece a vida desprezar.


Olha o descarado falando!

Você que não é mais o mesmo,

aquele que amei onde está?

Fui iludida, seu trapaceiro!


A garrafa quase vazia,

o sono derruba o casal,

a mulher dorme no chão frio,

o marido dorme ao seu lado.




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31 de mai. de 2024

TARDES DE ESPERA - Pedro Luso de Carvalho




     TARDES DE ESPERA

     – Pedro Luso de Carvalho



Havia um peso no ar na tarde,

a luz prisioneira da bruma,

a jovem tinha mãos geladas

e brilho nos olhos azuis.


Logo o manto da noite desce,

a tarde é uma lembrança,

soma de esperança da jovem;

espera seu amado na tarde.


É espera desesperada,

esperança por sucumbir,

promessa da volta quebrada,

ou mera precipitação.


As tardes se pareciam,

e o tempo mudou a jovem,

seus cabelos ficaram brancos,

e já não sabe a quem espera.




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15 de mai. de 2024

[crônica] O PASSADO É LOGO ALI - Pedro Luso de Carvalho

 



       O PASSADO É LOGO ALI - Crônica

                               – Pedro Luso de Carvalho



De que valeu o sacrifício no decorrer desse tempo? – perguntava o homem soturno, para si mesmo. E ainda se questionava: era isso o que a vida tinha para me dar, depois do tanto que fiz, depois de tantas renúncias?

O homem sentia que os caminhos, pelos quais andou, não eram motivos para se envaidecer, mas ter ciência disso de nada lhe servia, agora que já não tem mais o mesmo brilho nos olhos, agora que não tem o ímpeto que tinha para sempre avançar.

Recrimina-se, o homem, por não ter sabido escolher os seus caminhos, por não ter evitado as tantas encruzilhas traiçoeiras; e também pelo sofrimento que causou – tantos foram os seus amores –, deixando rastos de ninhos desfeitos.

O homem lembra-se da infância com saudade, e quer sentir o perfume das macieiras no pomar, amadurecendo; quer ouvir o cântico das águas do riacho correndo entre os arbustos; quer ver a lua no escuro da noite, brilhando entre as árvores.

O homem quer voltar àquele mágico tempo, em que era acolhido pelas árvores, com as quais tinha indestrutíveis laços de amor. Tempo em que o corpo do menino tinha a proteção dos ramos que o cobriam, quando havia sol ou chuva.

Então pressentiu, o homem soturno, que ainda poderia encontrar a salvação, pois tinha visto que o passado é logo ali.





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1 de mai. de 2024

INSENSATEZ - Pedro Luso de Carvalho

 

                 




   INSENSATEZ

         - Pedro Luso de Carvalho



Eu sempre tive grandes propósitos,

mas não queria o mundo assim,

e como estava não me servia.



Eu queria o sol multiplicado,

brilho sem conta na manhã cálida,

no orvalho a festa de muitos sóis.



E a natureza toda festiva,

é a natureza em euforia,

merecido desfrute da vida.



Mais tarde a mudança repentina,

e da brisa veio a tempestade,

do tépido sol veio o incêndio.



Do clarão e estalidos das chamas,

tanta morte de animais e gente,

e a natureza morre um pouco.



Onde ficaram os meus propósitos?

Onde está esse mundo melhor?

Esses são os meus sonhos perdidos.




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