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10 de nov. de 2010

THOMAS MANN / Carta para Hermann Hesse

                     
           
             [PEDRO LUSO DE CARVALHO]

     
       THOMAS MANN (Paul Thomas Mann) nasceu a 6 de junho de 1875 em Lübeck, Schleswig-Holstein, Alemanha, e morreu a 12 de agosto de 1955, em Zurique, Suíça. Sua obra encerra a necessidade de equilibrar a arte com a realidade imposta pela vida quotidiana.


     Suas principais obras: Os Buddenbrook (1901), Tristão (1903), Sua Alteza Real (1909); Morte em Veneza (1912), A montanha mágica (1930), José e seu irmãos (1933-1943), Doutor Fausto (1947), Confissões do impostor Felix Krull (1945).

          Essa carta foi escrita a Hermann Hesse, quando Thomas Mann e sua esposa descansavam em Arosa, distrito de Plessur no cantão dos Grisões na Suíça. Como se vê no seu intróito, a data é de 2.3.34; portanto, antes de Hitler ter invadido a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial, que se estendeu de 1939 a 1945 (in Correspondência entre amigos. Tradução de Lya Luft. Rio de janeiro, 1975, p. 63-64).



                                             CARTA PARA HERMANN HESSE
                                                                (Thomas Mann)


        Arosa, 2.3.34

        Caro Senhor Hesse,

    a notícia da morte de Wiegand me afetou muito. Amargura e preocupações agiram rapidamente nele. Uma vítima, mais uma entre muitas. E vítima para quê? Quero escrever também à viúva dele.

        Por que me enviou aqueles horrores de Munique e Leipzig? Dei apenas uma espiada tímida e vi uma propaganda em que Hitler, esse espantalho repulsivo, se compara com Wagner. Isso já me foi o bastante, até demais.

    Mas realmente sinto pela bela e alegre Baviera, e invejo-o pela sua liberdade descomprometida de movimentos. Também aqui pessoas amigas me aconselham a regressar à Alemanha; dizem que o meu lugar é lá, que a imigração não é o correto para mim, que os poderosos até gostariam de que eu regressasse, etc. Tudo bem, mas como vou viver e respirar lá? Não posso imaginar. Eu feneceria nessa atmosfera de mentira, logro das massas, auto-incensação e crimes acobertados. A história alemã sempre se moveu em ondas que se levantam e afundam. Uma das depressões mais fundas, talvez a mais funda de todas, é a que acontece hoje. O insuportável é que a julguem um “ponto alto”.

       Estamos aqui há 14 dias, e por azar tivemos quase que exclusivamente ventos quentes de primavera. Nessas circunstâncias o trabalho não é produtivo e eu nem deveria ter tentado. O clima por si só significa no meu caso uma canseira esportiva.

        Bermann já me contara que em breve aparecerá na Rundschau algo que faz parte daquele plano misterioso e sublime,  e estou infinitamente curioso. Também foi uma especial alegria para mim reencontrar na revista aquele belo poema do ser humano  que o senhor me enviou certo dia para Küsnacht.

        Tomara que o meu segundo volume não lhe cause nenhuma decepção! Pelo menos a capa de Walser saiu melhor que a primeira.

        Afetuosas saudações ao senhor e sua estimada esposa, de parte de nós dois.

                                                                                                           Seu Thomas Mann



                                                                 *  *  *
       

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Pedro Luso de Carvalho