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11 de abr. de 2023

[ crônica] TEMPOS MODERNOS - Pedro Luso de Carvalho

 

A Persistência da Memória - 1943 / Salvador Dali 


-  ESPAÇO DA CRÔNICA  -



 TEMPOS MODERNOS 

                        -  Pedro Luso de Carvalho


Naquela tarde de outono eu caminhava distraído por uma das ruas do bairro onde moro, quando encontrei um amigo, que não via há alguns anos. Como estávamos em frente a uma cafeteria, fiz o convite para entrarmos, onde poderíamos iniciar a nossa conversa.

Quando terminamos as nossas xícaras de café, já estávamos bastante adiantado na conversa, que há minutos fora começada. No início, recordamos daqueles tempos em que nos preocupávamos com os resultados dos exames do vestibular, que havíamos feito.

Depois, falamos sobre assuntos variados, sem fazermos uma única menção à política e aos políticos, temas que estiveram sempre presentes em nossas conversas de estudantes idealistas, que desconheciam a sordidez e a ignomínia de que eles são capazes.

Hoje, já próximo ao Inverno, lembrei-me dos fatos que me foram contados por esse amigo, relacionados com a sua família, para a qual muito se dedicou, sem em nada transigir, a começar pela educação do casal de filhos, em colaboração com a esposa.

Contou-me o amigo, que há tempo passa por sérias dificuldades depois que o enfarto tirou a vida da esposa, e depois que a filha envolveu-se com drogas, por influência do namorado, que a influenciou também a abandonar o seu curso universitário.

Falou-me, com tristeza, da netinha que está sob os seus cuidados, porque sua filha não aceita a criança, recusando-se assumir a sua responsabilidade de mãe, embora ele tivesse feito todo o esforço , sem êxito, para convencê-la a voltar para casa.

Quando perguntei ao meu amigo, como estava o seu filho, que eu havia conhecido na sua adolescência, ele baixou a cabeça por alguns instantes, um pouco ofegante, depois respondeu, olhando-me nos olhos: “Ele também abandonou tudo, por causa das drogas”.

Não demorei a ver que esse amigo não é mais a mesma pessoa que conheci quando estávamos prestes a ingressar na Universidade. Não apenas pela passagem dos anos, mas principalmente por todos os problemas que se vê obrigado a enfrentar na sua relação familiar.

Quando percebi que meu amigo estava desconfortável com nossa conversa, estendi-lhe a mão, para dele me despedir. No momento da despedida, ouvi dele a queixa: "É isso, amigo, a minha desgraça é a consequência desses malditos tempos modernos".




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36 comentários:

  1. Nem sei o que comentar.
    Isso é o verdadeiro inferno na Terra.
    O que é que pode fazer um pai perante tamanho drama??
    Abração

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  2. Bom fim de noite amigo.
    Um relato em conto que é uma dura realidade, que fez nascer as Cracolândias pelo Brasil. Diria que globalizaram a porcaria da droga. Hoje todas as capitais tem a sua e famílias despedaçadas. O mundo ficou mau com pessoas fracas.
    Um conto de uma realidade.
    Só Deus amigo.
    Que a semana flua leve.
    Abraços

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  3. Um conto que é uma realidade também portuguesa. A droga é também uma triste realidade de tantas famílias. Filhos que maltratam os pais idosos e lhes roubam as suas economias, roubam e vendem os bens comprados tantas vezes com muito sacrifício ao longo dos anos, para comprarem a maldita droga. Dou graças a Deus porque meu filho nunca enveredou por esse caminho, mas tenho duas netas e não sei o que destino lhes tem reservado.
    Abraço e saúde

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  4. Se ha desterrado la cultura del esfuerzo y a los niños, se les ha consentido todo. Lo han tenido todo en la vida y ya de mayor no tiene remedio. Es la vida que tenemos ahora y que desgraciadamente a tu amigo, le ha tocado vivir.
    Besos.

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  5. Uma crónica que infelizmente é verdadeira para muitas pessoas. A droga destrói não só os que a usam, mas toda a família e amigos que estão por perto.
    Um problema muito sensível aqui tratado, meu Amigo Pedro.
    Tudo de bom.
    Um beijo.

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  6. En este escrito dibujas una triste realidad, y que te puedo decir Pedro que no sepamos ya. La vida la tierra se está perdiendo, estamos perdiendo los valores, y estamos creando un futuro incierto a nuestros hijos. Muy duro lo que nos cuentas, un padre se tiene que sentir desarmado ante esa escena dramática tan real como la vida misma. Un abrazo y feliz resto de semana

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  7. Pobre teu amigo0,Pedro! Mas, infelizmente ,quantos lares assim estão! Tristes tempos! abraços, ótimo dia! chica

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  8. Uma crónica realista e cruel, amigo Pedro. Infelizmente, há muitas situações semelhantes. Enfim...uma tristeza.
    Deixo os meus votos de uma excelente semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  9. .....nelle stagioni che passano, cambia tutto per ognuno di noi...
    Un ottimo brano, molto apprezzato.
    Un caro saluto, Pedro,silvia

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  10. Por desgracia, amigo Pedro, hemos creado una sociedad que más pronto que tarde tendrá que cambiar, o los cambios tan importantes que se avecinan la cambian o tendrán que implicarse todos los gobiernos para hacer de este mundo un mundo más humano, más cuidadoso y respetuoso con el medio. La humanidad camina ya sobre una línea demasiado fina que en cualquier momento se puede romper. En consecuencia lo pagamos todos, familias rotas, desestructuradas, malos hábitos, alcohólicos, drogas, muertes, violaciones … Y un sin fin de sucesos diarios que ya dan verdadero pavor.
    Un gran abrazo Pedro, tengamos paz y armonía deseándote un feliz resto de semana, amigo.

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  11. Pedro,
    Muitas vezes quando me
    reencontro com amigos
    que já não convivo
    eu tenho reserva de perguntar,
    prefiro que eles falem do
    que desejarem.
    Entretanto todos nós temos
    nossas mazelas, pode não ser
    nos envolvimentos com o que
    são do tempo moderno, mas
    pode ser uma doença,
    uma descasamento, uma
    mudança opção sexual e ainda
    infelizmente na política.
    Depois do ex governo (governo
    anterior) e
    da pandemia ficou complicado...
    Bjins de bom seguimento
    de semana
    CatiahoAlc.

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  12. A crônica narra fatos cotidianos escrita em prosa e nos oferece o olhar observador do cronista,Pedro. Muito me comoveu essa leitura. Ninguém merece a tristeza de ver seus filhos desgarrados da família.,ainda mais triste se tratando de um amigo.
    Os dias atuais não tem sido fácil educar filhos e quem os tem precisa se
    ajoelhar todo dia pedindo proteção ou dando graças.
    Um bom dia, Pedro e abraços meus.

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  13. Boa tarde Pedro,
    Uma grande Crónica que é uma lição de vida!
    Infelizmente tantos casos como esse e que, por vezes, nem pensamos.
    Para reflexão nestes tempos modernos que tantas tragédias têm provocado.
    Beijinhos e continuação de boa semana.
    Ailime

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  14. Es un relato muy triste pero, sin duda, con una dura realidad.
    La sociedad ha cambiado a peor en los últimos años.
    Faltan muchos valores y responsabilidad.
    Es muy lamentable pero es así.
    Muy bueno y conmovedor tu escrito.
    Feliz semana. Un beso.

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  15. Adorei o texto!! Obrigada
    .
    Quando as palavras são gumes...
    .
    Beijos, e uma excelente semana.

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Disculpame Pedro si he eliminado el comentario anterior
      He llegado de nuevo a dejarte un saludo y he comprobado qué había errores en el.
      La historia que dejas me entristeció muchisimo al leerla y es que de verdad la vida nos pone en situaciónes muy dificiles y dolorosas, pobre hombre, ya que ese pesar lo cargará siempre .
      Un abrazo

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  17. Olá Pedro,
    infelizmente para muitas famílias esse conto, é uma dura realidade,
    a situação dramática a que chegam as queridas crianças de pais e de mães que, com o coração partido, os veem com vidas destroçadas e perdidas
    Talvez a falta dos valores que orientam as vivências saudáveis?!
    muito complicado, muito triste
    Boa continuação de Tempo Pascal!

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  18. Trágica la historia de tu amigo cuya mayor desgracia son las drogas en las que cayeron sus hijos. Espero que dentro un tiempo puedan salir de ese infierno.
    Cuando vi que tu esposa Taís publico una poesía tuya pensé estabas enfermo y veo que no.

    Saludos.

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  19. Boa tardinha de Oitava pascal, amigo Pedro!
    Confesso que não sei se aguentaria ter filhos com dependência química, vendo tudo que vejo pelos noticiários, meu Deus!
    Só em ver, já me sensibilizo com o sofrimento da mãe.
    Conheço uma senhora que teve sua vida totalmente atordoada física e mentalmente, com a questão com um filho. Era sadia e lúcida, vive vegetando atualmente.
    Tenho até medo de perguntar como vão as coisas para não melindrar as pessoas... O mundo está de pernas para o ar e o brio parece que só pertence aos mais idosos (nossos amigos).
    Excelente crônica com um tema muito atual.
    Por este caminho, na família do meu pai, um sobrinho dele entrou. Foi também quando a mãe morreu (primo adotado).
    Deus se apiede dos dependentes químicos e das suas famílias desmoronadas.
    Tenha dias pascais abençoados!
    Abraços fraternos de paz

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  20. Prezado Pedro,
    Isso, de fato, é um infortúnio que a pessoa nem sequer deseja ao seu pior inimigo (se houver...).
    Tão triste ver ou ouvir alguém que conhecíamos, tendo que seguir esse caminho difícil.
    Para alguns, é como o inferno na terra!
    As drogas podem causar tanto sofrimento a tantos...
    Abraços e também para Taís como eu respondi ao seu nome já que era o seu poema em seu blog.
    Mariette

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  21. Não sei se eu culparia a os tais "tempos modernos", Pedro. Seu texto é denso e complexo para comentar. São situações que afloram e nos afligem, e pensar em um pai viúvo, precisando suportar essa carga descrita no texto, é aterrador. Sem contar os desvios dos filhos, ainda se vê na situação de cuidar da netinha, rejeitada pela mãe. É mais do que um calvário. É o inferno em plena vida.
    Mas, como citei acima, não sei se são os novos tempos, ou sim como lidamos com tudo o que é novo. Poderia citar nossa infância, levada com mais rigidez pelos pais, ou o fato de fazermos nossa vida profissional começar mais cedo, ou ainda que não tínhamos tanto acesso a esse mundo marginal que hoje povoa todos os cantos, mas isso não tira a dor de ver os filhos se perderam para as drogas. Muitos podem dizer que essa pessoa tem parte da culpa, talvez por uma criação errada, ou por se entregar no meio do caminho. O que sei é que tudo chega a um ponto em que não suportamos mais, e ficamos perdidos, sem forças. E fazer o que nessa hora?
    Uma triste história, e que eu não saberia como reagir, ou o que falar, se me fosse relatada.
    Grande abraço, Pedro.

    Marcio

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  22. Caro Pedro,
    Dura realidade posta em letra de forma para não esquecermos os passos do mundo na atualidade. É comovente a história para todos nós, sobretudo, os mais velhos que conheceram outra realidade, sem dúvida, não estávamos imunes, mas era menos aterradora. Importante pôr em letra de forma para que saibamos que "mudar o mundo" é um trabalho diuturno!
    Um abraço, meu amigo Pedro!

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  23. Difícil de comentar uma realidade tão cruel pela qual o mundo está passando....desmoronam -se os valores éticos e não se coloca nada no lugar....o admirável mundo novo prometido acrescentou uma escala de horror. uma total fase de destruição social e cujos rumos ainda não podemos intuir..INFELIZMENTE!

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  24. O mundo é líquido, amigo.
    Não tem mais norma ou sentido.
    Nosso sentir comovido
    Remete ao tempo antigo
    Quando existia castigo
    A quem falhasse à moral
    Ou ética. Hoje, a final
    Tudo é permissividade
    E a brutalidade invade
    Lares, sendo o trivial.

    Belíssima crônica, amigo. Parabéns. Abraço fraterno. Laerte.

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  25. Bom dia Pedro. Voltei só para lhe dizer que Leila Coelho Frota é a mãe do autor de telenovelas, João Emanuel Carneiro. Talvez até conhecesse a escritora , embora não a sua obra.
    Abraço e saúde

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  26. Que triste la vida de ese amigo, Pedro. Muy mala suerte con que su esposa muriera y después los hijos se metieran en drogas, y es que la vida en algunas personas no les favorece nada desgraciadamente.
    Un relato muy bonito, pero triste por la situación del amigo que ya no se parecía en nada a lo que fue de estudiante.
    Muy agradable leerte Pedro.
    Un abrazo y buen fin de semana.

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  27. Olá, amigo Pedro,
    Passando por aqui, relendo este excelente texto que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  28. Un saludo
    que tengas un feliz fin de semana

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  29. Genial relato. La via puede ser muy dura en estos tiempos. Te mando un beso.

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  30. Penso que não se pode culpar a modernidade pelos erros.
    Cada um é responsável por suas escolhas.
    Mesmo sabendo que escolhas mal feitas sempre irão causar sofrimentos a si e aos outros
    Uma bela e atual crônica amigo Pedro
    Um feliz domingo
    Um abraço

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  31. Olá, amigo Pedro,
    Passando por aqui, para desejar uma boa semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  32. Hoje o meu comentário é muito especial e não reflecte o que penso sobre o vosso post, mas sim serve para vos avisar que voltou a maldita bipolar, Por isso peço muita desculpa de não corresponder ao que escrevem. Pela minha parte e tentando fazer uma terapêutica ocupacional irei tentando escrever umas coisas para não perder o fio à meada. Muo obrigado.
    Henrique

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  33. boa tarde Pedro
    Muito triste a sua crónica de hoje.
    Tudo fazemos pelos filhos e muitos trazem essas desgraças para dentro de casa e da família.
    A droga é um flagelo dos tempos modernos, e cada vez mais.
    Fiquei muito comovida e triste ao pensar na dor e na tristeza desse pai.
    Boa semana com saúde.
    :)

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  34. Olá, amigo Pedro,
    Passando por aqui, para desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
    Abraço amigo.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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  35. Uns tios avós meus tiveram um problema bem idêntico... a filha médica suicidou-se deixando uma bébé muito pequena para eles cuidarem e o irmão músico, também morreu devido ao universo das drogas... pertencendo eles a famílias sem quaisquer problemas de ordem monetária...
    Enfim!... Nunca ninguém sabe, quando mundos aparentemente perfeitos se desmoronam... e qual a razão para tal...
    Gostei imenso do texto, com uma temática que nos faz reflectir sobre as fragilidades da condição humana...
    Beijinhos
    Ana

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muito obrigado pela sua leitura e comentário.
Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho