– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
CRUZ
E SOUZA (João da Cruz e Souza), nasceu em Desterro, atual
Florianópolis, SC, a 24 novembro de 1861, e faleceu em Sítio, atual
município de Antônio Carlos, MG, a 19 de março de 1898. Seus pais
eram escravos, negros; descendência africana, que, segundo Álvaro
Lins, “deu um caráter particular ao simbolismo de sua poesia”.
No
Brasil, Cruz e Souza é o poeta mais discutido e influente da escola
simbolista – enquanto que os nome mais importantes na França são
Rimbaud, Verlaine e Mallarmé. Cruz e Souza foi vítima de uma
campanha extremamente agressiva por parte de pessoas que faziam parte
do meio literário brasileiro, que não o aceitavam como chefe da
escola, pelas audaciosas inovações de seus versos, e também pelo
preconceito de cor.
Desafortunado
também na sua vida particular, o poeta viu a tuberculose tirar a
vida de sua mulher e de seus quatro filhos. Embora infeliz por essas
perdas e por vive num ambiente de pobreza, contou com um grupo de
amigos e discípulos dedicados. Ronald de Carvalho assim se
posicionava acerca da poesia de Cruz e Souza, dizendo que “apesar
de todas as suas insuficiências, a força de um precursor. Ele
introduziu em nossas letras aquele 'horror de forma concreta', de que
já o grande Goethe se lastimava no século XVIII”.
Obras
de Cruz e Souza: Broquéis
(1893), Missal,
(1893), Evocações
(1898),
Faróis
(1900) [Rio de Janeiro], e Últimos
sonetos
[Paris, 1905].
Segue
o poem de
Cruz e Souza,
Lua
(in
Broqéis, Cruz
e Souza. Rio
de Janeiro:
1893, p. 49-51:
LUA
Cruz
e Souza
Clâmides
frescas, de brancuras frias,
Finíssimas
dalmáticas de neve
Vestem
as longas árvores sombrias,
Surgindo
a Lua nebulosa e leva...
Névoas
e névoas frígidas ondulam...
Alagam
lácteos e fulgentes rios
Que
na enluarada refração tremulam
Dentre
fosforescências, calafrios...
E
ondulam névoas, cetinosas rendas
De
virginais, de prônubas alvuras...
Vagam
baladas e visões e lendas
No
flórido noivado das Alturas...
E
fria, fluente, frouxa claridade
Flutua
como as brumas de um letargo...
E
erra no espaço, em toda a imensidade,
Um
sonho doente, cilicioso, amargo...
Da
vastidão dos páramos serenos,
Das
siderais abóbadas cerúleas
Cai
a luz em antífonas, em trenos,
Em
misticismos, orações e dulias...
E
entre os marfins e as pratas diluídas
Dos
lânguidos clarões tristes e enfermos,
Com
grinaldas de roxas margaridas
Vagam
as Virgens de cismares ermos...
Cabelos
torrenciais e dolorosos
Boiam
nas ondas dos etéreos gelos.
E
os corpos passam níveos, luminosos,
Nas
ondas do luar e dos cabelos...
Vagam
sombras gentis de mortas, vagam
Em
grandes procissões, em grandes alas,
Dentre
as auréolas, os clarões que alagam,
Opulências
de pérolas e opalas.
E
a Lua vai clorótica fulgindo
Nos
seus alperces etereais e brancos,
A
luz gelada e pálida diluindo
Das
serranias pelos largos flancos...
Ó
Lua das magnólias e dos lírios!
Geleira
sideral entre as geleiras!
Tens
a tristeza mórbida dos círios
E
a lividez da chama das poncheiras!
Quando
ressurges, quando brilhas e amas,
Quando
de luzes a amplidão constelas,
Com
os fulgores glaciais que tu derramas
Dás
febre e frio, dás nevrose, gelas...
A
tua dor cristalizou-se outrora
Na
dor profunda mais dilacerada
E
nas dores estranhas, ó Astro, agora,
És
a suprema Dor cristalizada!...
*
*
REFERÊNCIA:
LINS,
Álvaro e Buarque de Hollanda, Aurélio. Roteiro
Literário de Portugal e do Brasil.
Vol. 2. Rio de Janeiro, Civilização brasileira, 1966, p. 273-275.
*
* *
En verdad es un poeta que impacta.
ResponderExcluirAsí como la fluidez de su vocabulario, tan cuidado, nos lleva hacia los románticos europeos, su procedencia hace más sorprendente la elegancia de sus rimas, tan cercanas a Bécquer.
No es fácil crear un lenguaje y este poeta para mí desconocido, y aún más situándolo en su tiempo y circunstancias, lo conseguía.
Feliz verano, Pedro. Saludos.
Que bom Ana, que você gostou do poema de Cruz e Souza, poeta que se constitui num marco para o Simbolismo no Brasil, cuja obra sempre foi objeto de procura pelos leitores a cada nova reedição.
ExcluirObrigado pela visita.
Ótima semana, minha amiga Ana.
Bela biografia antecedendo a poesia linda ,com esse tema que encanta sempre: a lua! abração, tudo de bom,chica
ResponderExcluirO saber nunca ocupou lugar. Poema lindíssimo que muito gostei de ler.
ResponderExcluir.
Tenha um dia feliz
Cumprimentos
Biografias sempre são boas de se ler. Gosto muito. Bela poesia de um grande poeta. Tenha um boa semana.
ResponderExcluirÉlys
A lua a eterna fonte de inspiração do poeta. O poema é lindo. Amigo Pedro, boa semana e beijos com carinho
ResponderExcluirO poeta exala toda o sofrimento em versos subjetivos e deixa transcender no simbolismo astral toda a melancolia de uma vida de sobressaltos preconceituosos
ResponderExcluirUm momento ímpar de leitura amigo Pedro
Um grande abraço
Lamento a minha ignorância, nunca tinha ouvido falar deste poeta. Talvez porque eu me tenha dedicado à poesia no feminino e a estudar poetisas.
ResponderExcluirGrata por me ter dado a conhecer o poeta. Gostei do poema.
Abraço e saúde
Oi, Pedro, obrigada por esta interessante biografia.Eu imagino como deve ter sido difícil para ele conseguir se impor diante de um mundo intensamente preconceituoso em todos os setores de nossa sociedade.Teria que ser um grande poeta em sentimento e erudição, um verdadeiro ourives
ResponderExcluirda poesia brasileira.
Um abraço
Amiga Guaraciaba, a tua sensibilidade de poeta te leva a sentir com profundidade a poesia do nosso melhor poeta simbolista, Cruz e Souza. Grato pela visita.
ExcluirUm abraço.
É maravilhoso conhecer um pouco mais de Cruz e Souza, o poeta negro, filho de escravos que sofreu com o preconceito da cor. Suas dores tais quais as da Lua cristalizaram-se em versos. Parabéns pela escolha desse poeta.
ResponderExcluirPedro, querido amigo, que você tenha um otima semana.
Beijinhos!
Pois é Vilma, Cruz e Souza. que por ser negro sofreu muitas agruras, deixou uma obra imortal, que o coloca à frente de todos os demais poetas simbolista do Brasil. A nossa cultura, que é formada de muitas raças, deve muito ao poeta negro.
ExcluirBoa semana, Vilma. Bj, Pedro
Confesso que nunca tinha lido nada de Cruz e Souza.
ResponderExcluirMas gostei de saber um pouco acerca dele e do poema que escolheu.
Bom fim de semana, caro amigo Pedro.
Abraço.
Pois é, amigo Jaime, penso que você vai gostar dos outros poemas de Cruz e Souza, o nosso poeta simbolista de maior brilho.
ExcluirUm abraço poeta.
Gostei de conhecer este poeta que embora seja uma influência da poesia do Brasil, eu desconhecia (ainda me falta aprender tanto...). A biografia que aqui nos fornece ajuda a compreendê-lo melhor. Obrigada meu Amigo Pedro.
ResponderExcluirMuita saúde. Um beijo.
Pois é, minha amiga Poetisa, acho que vais gostar dos poemas de Cruz e Souza, nosso poeta simbolista mais importante e mais influente.
ExcluirUma ótima semana Graça. Um beijo.
Boa tardinha de muita paz interior, amigo Pedro!
ResponderExcluir"Dentre as auréolas, os clarões que alagam,
Opulências de pérolas e opalas."
A lua tem feito gracejos por aqui aparecendo em plena luminosidade vespertina ainda.
Gostei de vê-la tão presente no poema do autor escolhido da vez.
Tenha um final de semana abençoado!
Abraços fraternos de paz e bem
Boa tarde de paz, amigo Pedro!
ExcluirVim reler e, por coincidência, como estou nos poetas brasileiros desde o início do ano, vou fazer referência a ele, muito em breve. Já está agendado.
Gosto muito das biografias que põe aqui, fruto da sua boa pesquisa caprichosa.
Tenha uma entrada de noite poética e abençoada!
Abraços fraternais
Olá, Roselia!
ExcluirEstudo a obra de Cruz e Souza desde o tempo em que cursava o antigo ginásio.Mais tarde, quando me preparava para prestar vestibular para a Faculdade de Direito, Em Porto Alegre, tive a oportunidade de conhecer melhor o poeta e a obra, embora a minha predileção fosse, como é, a poesia ligada ao Movimento Modernista.
Obrigado pela visita e comentário. Um abraço.
gostei de conhecer o poeta Cruz e Souza e o poema sofrido
ResponderExcluirmas com uma rica diversidade de vocabulário
vou procurar conhecê-lo melhor
obrigada pela partilha
Angela
o poema também poderá ser uma declaração da sua revolta contra os elementos
ResponderExcluirda natureza que impávidos assistem à sua dor de ter perdido a mulher e os filhos
o desgosto foi enorme e segundo li, o poeta terá sido quase levado à loucura...
Podemos ler : ..."filho de negros alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais..." pelo que dá para entender que o jovem Cruz e Souza teve "carinho" e educação durante a sua juventude
Obrigado Angela, pela visita e pelo teu ótimo comentário sobre o nosso poeta simbolista mais importante.
ExcluirVolte sempre.
Uma ótima semana Angela.
Pedro
Olá Pedro querido
ResponderExcluirSempre muito bom ler suas postagens.
Beijos
Ani
Olá Pedro, que bom trazer o Cruz para esta sua bela série de grandes escritores. A importância de Cruz para o simbolismo, o seu combate ao preconceito.
ResponderExcluirMuito belo trabalho e apresentação de Cruz e Souza.
Grato amigo pela sensibilidade cultural partilhada.
Meu terno abraço e boa semana para vocês.
Agora depois deste banho com Cruz, vou ler as belas cronicas de Taís.
Cuide-se e vamos sai desta bem.
Meu abraço especial pelo dia de ontem dedicado aos pais.
É verdade Toninho, Cruz e Souza sofreu discriminações por ser negro, mas a sua genialidade venceu todas as barreiras, menos, claro, as barreiras sociais e as da saúde (a tuberculose tirou-lhe a vida e a da esposa e dos quatro filhos).
ExcluirObrigado amigo Toninho pela visita e comentário.
Um abraço, caro poeta.
Pedro,
ResponderExcluirEu amo ler e reler
os poemas desse mago da poesia.
Mas mergulhar na vida e obra
é mágico.
Bjins
CatiahoAlc.
https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com
Amei encontrar Cruz e Souza em seu espaço cultural. Esse, conheço desde a adolescência, pois fez parte de meus trabalhos escolares. Passou por tantas dificuldades! E nos deixou um legado de grande beleza.
ResponderExcluirMuito bom, Marlene, o seu retorno ao mundo dos blogs. A Taís já havia me falado, muito contente, sobre essa boa nova.
ExcluirQue bom que você conhece e gosta da poesia de Cruz e Souza, nosso poeta maior do Simbolismo no nosso país.
Agradeço sua visita e comentário, Marlene.
Abraço.
Ficamos sempre tocados e revoltados com a descriminação, algo de que não conseguimos libertar-nos definitivamente.
ResponderExcluirCruz e Sousa dá um passo gigante através da poesia. Muito bom, amigo Pedro, este destaque.
Um beijo.
Olá, Teresa!
ExcluirCruz e Souza deixou o seu legado: a poesia e o exemplo de coragem. A tuberculose tirou a vida da esposa e dos quatro filhos do casal. Com todos os reveses, o poeta não se deixou intimidar pelo racismo.
Obrigado pelo comentário, querida amiga.
Um beijo.
Mais um autor que desconhecia... e, de uma apurada e imensa sensibilidade, pelo que pude apreciar do poema acima... e que me conquistou de imediato!...
ResponderExcluirProcurarei aprofundar mais sobre a sua obra!... Como sempre, mais uma partilha de excelência, por aqui, Pedro!
Beijinho
Ana
como fazer uma redação sobre mds????
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