– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
CECÍLIA
MEIRELES apareceu no mundo literário do nosso país no ano de 1922,
com publicações nas revistas Árvore Nova, Terra de Sol e Festa, no
período de 1919 a 1927, nos quais escritores católicos defendiam a
renovação das letras brasileiras na base do equilíbrio e do
pensamento filosófico. O aparecimento da poetisa deu-se, portanto,
por coincidência, na época em que eclodia o movimento modernista
(1922), no qual os escritores nele envolvidos representavam uma outra
tendência.
Cecília
Meireles era descendente, pela linha materna, de açorianos de São
Miguel. Nasceu no Rio de Janeiro, a 7 de novembro de 1901. Foram seus
pais, Carlos Alberto Carvalho Meireles, funcionário do Banco do
Brasil, falecido aos 26 anos de idade, três meses antes do
nascimento da filha e de Matilde Benevides, professora municipal,
falecida quando Cecília tinha três anos de idade. A menina Cecília
ficou sob a tutela a avó materna, Jacinta Garcia Benevides, de
origem açoriana, por ter sido a única pessoa sobrevivente da
família. Cecília Meireles morreu no Rio de Janeiro, no dia 9 de
novembro de 1964, aos 63 anos de idade.
Darcy
Damaceno escreveu um importante ensaio sobre a obra da poetisa,
intitulado Poesia Sensível e do Imaginário, que foi publicado como
introdução ao livro Flor de poemas, de Cecília Meireles, de cujo
ensaio, de Darcy Damasceno, alguns trechos serão transcritos, como
segue:
A
aproximação entre Cecília Meireles e os jovens congregados em
torno de Tasso da Silveira e Andrade Murici, embora não implicando
compromisso de ordem doutrinária, delineava a feição espiritual de
sua arte, inspirada em elevado misticismo e acentuada comunhão de
juízos literários, expressa na admiração por Cruz e Souza e os
poetas simbolistas.
Com
a publicação de Viagem o influxo simbolista perderia em relevo
externo para introduzir-se em filosofia de vida e comprometimento
estético. A similitude temática e formal, que ligava Cecília
Meireles e os epígonos do Simbolismo, cedeu lugar à pluralidade de
motivos e à eleição de certos metros; o vocabulário típico
substituiu-se por um léxico mais variado, e os preceitos
espiritualistas de pensamento filosófico, tradição e
universalidade vieram singularmente concretizar-se no menos ortodoxo
dos trovadores.
A
premiação em 1938, pela Academia Brasileira de Letras, de Viagem,
significou o reconhecimento de um empenho monacal no estudo de nossa
tradição literária e na assimilação dos recursos expressivos da
arte verbal. Com esse livro ingressava Cecília Meireles na primeira
linha dos poetas brasileiros, ao mesmo tempo que se distinguia como a
única figura universalizante do movimento modernista.
A
visão da natureza física não é, na poesia de Cecília Meireles,
apenas pormenorizada; também panorâmica. Ademais da meticulosidade
na inventariação das coisas, ocorre nela a pintura larga,
policrômica, na qual se retrata um cenário de árvores, nuvens,
rios, bichos e homens.
Vemos
assim avivarem-se os rastros da alma alertada contra os desenganos do
mundo, desenganos que se enfeixam num tópico principal: o da
brevidade da vida. A insegurança do ser humano, a fragilidade das
coisas, a inconstância da sorte, a ideia
de que tudo é sonho são temas que, direta ou indiretamente, daquele
decorrem:
"tudo
é um natural armar e desarmar de andaimes
entre
tempos vagarosos,
sonhando
arquiteturas."
Segue
o poema Pergunta, de Cecília Meireles (In Meireles, Cecília. Flor
de poemas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 1-2, 10,
15, 30, 35, 75-76):
P
E R G U N T A
Cecília
Meireles
Estes
meus tristes pensamentos
vieram
de estrelas desfolhadas
pela
boca brusca dos ventos?
Nasceram
das encruzilhadas
onde
os espíritos defuntos
põem
no presente horas passadas?
Originaram-se
de assuntos
pelo
raciocínio dispersos,
e
depois na saudade juntos?
Subiram
de mundos submersos
em
mares, túmulos ou almas,
em
música, em mármore, em versos?
Cairam
das noites calmas,
dos
caminhos dos luares lisos,
em
que o sono abre mansas palmas?
Provêm
de fatos indecisos,
acontecidos
entre brumas,
na
era de extintos paraísos?
Ou
de algum cenário de espumas,
onde
as almas deslizam frias,
sem
aspirações mais nenhumas?
Ou
de ardentes e inúteis dias,
com
figuras alucinadas
por
desejos e covardias?...
Foram
as estátuas paradas
em
roda da água do jardim...?
Foram
as luzes apagadas?
Ou
serão feitos só de mim,
estes
meus tristes pensamentos
que
bóiam como peixes lentos
num
rio de tédio sem fim?
* * *
Poema lindíssimo da grande poetisa Cecília Meireles. O saber nunca ocupou lugar. Gostei muito desta sua publicação.
ResponderExcluir.
Um domingo feliz
Cumprimentos poéticos
Boa tarde de Domingo, amigo Pedro!
ResponderExcluirGosto muito de Cecília.
Pensamentos que:
Originaram-se de assuntos
pelo raciocínio dispersos,
e depois na saudade juntos?
Bonita reflexão poética da escritora e poetisa.
Suas escolhas são de primeira.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos de paz e bem
No conocía esta escritora y por supuesto sus obras.
ResponderExcluirAhora tengo conocimiento de su existencia y por lo menos he podido leer ese poema que has publicado.
Besos
A poesia de Cecília Meireles faz parte das minhas leituras. É cativante e de vistas largas. Esta pergunta poetizada é um bom exemplo. A nostalgia, realmente, acompanha a vida.
ResponderExcluirGostei muito.
Beijos, amigo Pedro.
Amei a sua publicação bem como, a escolha desta Grande Poetisa! Muito obrigada pela partilha!
ResponderExcluir**
Existem cansaços que atenuam
Beijo e um excelente Domingo
Grazie per avermi fatto conoscere la storia e alcuni versi di questa poetessa che non conoscevo.
ResponderExcluirCiao amico Pedro, un abbraccio
enrico
Cecília sempre encantadora e trouxeste uma bela poesia dela! Gostei! abraços, linda semana,chica
ResponderExcluirCecília Meireles é um vulto maior da Cultura Brasileira e Universal
ResponderExcluira sua obra é conhecida e estudada entre nós, sendo porventura
o poeta brasileiro mais conhecido em Portugal
e o poema que nos ofereces é bem demonstrativo do "universo poético"
que tão bem descreves.
bem hajas, caro Pedro Luso, por este momento de rara beleza
grande abraço
Cecília Meireles é a minha favorita entre tantas poetisas maravilhosas, ela aborda com leveza, mas dentro de muita realidade os temas como a felicidade, a tristeza, a morte, a indignação, a velhice, a coragem e sempre de uma maneira direta, sem receios. Sem fantasia. Tudo que pensamos sem rodeios. Atualíssima!
ResponderExcluirDivino e sensível esse poema 'Pergunta'.
Parabéns pela escolha, hoje, dessa tua série dos 'grandes poetas'.
Um presente para continuarmos encarando essa pandemia.
Beijinho daqui do lado.
Cecília Meireles é uma das minhas poetisas preferidas, a par de Sophia de Mello Breyner e Alda Lara.
ResponderExcluirAbraço, saúde e boa semana
Cecília Meireles. Crescemos a lê-la. A poesia que escreveu fez-nos escrever, fez-nos sonhar, ajudou-nos a viver, inspirou-nos... É magnífica!
ResponderExcluirUma boa semana meu Amigo Pedro. Saúde.
Um beijo.
Pedro,
ResponderExcluirEu simplesmente amo Cecília
desde que eu era menina.
Leio para minhas netas
os versos dela e rimos
juntas interpretando.
Adorei ler.
Bjins e boa nova semana.
CatiahoAlc.
Oi pai!
ResponderExcluirMuitas vezes lemos algum autor ou autora e gostamos ou desgostamos sem que façamos uma pergunta: mas qual o contexto de vida do escritor? E isso faz muita diferença na hora da leitura!
E essa postagem reponde, com a excelência de sempre, esse questionamento!!
Abração!!
Oi, filho!
ExcluirPara mim será sempre um momento de alegria vê-lo aqui neste espaço, jovem advogado de minha confiança, tanto na área do Direito Civil como Previdenciário e Trabalhista.
Como dizem os nossos irmãos portugueses: bem hajas!
Um abração.
Me alegra mucho haber conocido a esta autora a través de tí. Sin duda una persona con un trabajo muy sobresaliente en el mundo de las letras.
ResponderExcluirMuchas gracias.
Un beso. Feliz semana.
Lindo, o seu poste: também gosto muito de Cecília Meireles.
ResponderExcluirUma poetiza maravilhosa!
Obrigada por tão linda partilha!
Um beijo fraterno, amigo. Paz saúde e bem!!!
Pois é, Pedro. Não podemos esquecer os nossos poetas queridos.
ResponderExcluirPrecisamos ler os novos sem esquecer os velhos, que chamamos de clássicos, sobretudo esta dama da poesia brasileira. Imagino que muitos não a conheçam...
Parabéns para partilha!
Um grande abraço,
Belíssimo poema escolhido, Pedro!
ResponderExcluirAs tristezas assim como as alegrias que vivemos é reflexo de toda a intensidade descrita nos versos, nem sempre damos conta disso, as vezes só percebemos a tristeza.
Abraço e boa semana!
Boa noite Amigo Pedro,
ResponderExcluirAdorei sua postagem sobre a nossa poestisa Cecília Meireles, sua historia de vida, o reconhecimento da Academia de Letras e esse poema maravilhoso que eu não conhecia: Perguntas! Fantásticos versos em questionamentos de vida que nos fazem refletir.
Tenho um poema em que digo:
Aprendi com Meireles ser tal qual a primavera, a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.
Parabéns, Pedro, pelo brilhante trabalho!
Paz e bem!
Beijos
“Aprendi com Meireles ser tal qual a primavera, a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.”
ExcluirComo dizes Vilma a tua reflexão, inspirada na grande Cecília Meireles. Parabéns!
Beijo.
Las preguntas que se formula a sí misma la poeta, para mí desconocida, son universales. Muchos párrafos de este poema podrían hacerlos suyos los lectores. ¿De dónde vendrán estos pensamientos que nos asaltan en ocasiones? La desazón, la duda, incluso el aburrimiento de no saber qué camino tomar, ¿tienen un origen? O simplemente brotan originales de nuestros más íntimos anhelos...
ResponderExcluirÉ verdade Ana, o desconforto, a dúvida, o tédio são sentimentos que se fazem presentes, quase sempre, na poesia de Cecília Meireles, a nossa mais importante poetisa. Beijo.
ExcluirGracias por compartir la biografía de esta poeta. de la que algo sabía sobre ella, pero muy poco sobre sus obras, de hecho, al leer este hermoso poema que publicas, ha crecido más mi interés por su poesía.
ResponderExcluirSaludos.
Uma maravilhosa poetisa e uma linda poesia .Gosto mito de Cecília Meireless.
ResponderExcluirUm abrço.
Élys.
Boa tarde, Pedro,
ResponderExcluirque feliz escolha para compartilhar conosco Cecília Meireles.Suas obras têm um cunho social.Gosto de ler seus poemas, ela teve uma vida, penso que um pouco sofrida, pois não chegou a conhecer o pai e a mãe faleceu cedo,porém, nada deixa a desejar em relação ao que escreveu, seu legado para nós é imenso e valioso.O poema "Pergunta", aqui postado nos passa uma impressão intimista, os pensamentos dela sempre presentes em todos os versos do poema.Parabéns, pela bela escolha. Abraço!
Uma grande poeta.
ResponderExcluirHomenagem bem merecida. E gostei do poema que escolheu.
Bom fim de semana, caro Pedro.
Abraço.
Gosto da poesia de Cecília, mas não a conhecia assim tão bem.Pelo que agradeço a biografia aqui exposta.
ResponderExcluirAbraço português , com voto de bom final de semana
Obrigada Pedro pela bela postagem fazendo a justa reverência à nossa querida Cecília Meireles! Sempre íntima de nossa alma que sempre temos um verso dentro do coração quando sua poética nos vem a mente e em cada situação nos lembramos de seus lindos e profundos versos. " Não sou alegre e nem sou triste / sou Poeta"
ResponderExcluirUn poema hermoso de la gran,
ResponderExcluirCecilia, me agrada muchísimo,
muito obrigado.
Beijos pra vc.
Siby
Un poema muy hermoso
ResponderExcluirCaro Pedro Luso
ResponderExcluirUm privilégio encontrar aqui Cecília Meireles, Poetisa que muito admiro. E a biografia que nos traz relacionada com a sua vida literária é riquíssima.
O Poema "Pergunta" contém questões que todos nós, num momento ou outro da vida nos colocamos.E nem sempre encontramos respostas...
Maravilhoso esse seu trabalho de investigação, meu amigo.
Abraço
Olinda
O poetizar de Cecília é diferenciado, cantava versos encantava palavra, ainda surgindo num momento frutífero da literatura, veio com força e arte nos encantar.
ResponderExcluirO poema é uma bela ilustração perfeita para ilustrar sua pela partilha.
Meu abraço amigo Pedro e que a poesia esteja sempre a lhe assediar.
Que a semana seja leve e alegre na família.
Sempre um privilégio imenso, conhecer um pouco mais do fascinante mundo poético de Cecília!...
ResponderExcluirE adorei ficar a conhecer mais pormenorizadamente a sua biografia! Desconhecia que seria descendente de açorianos... estamos sempre a aprender!...
Beijinho
Ana
Cecília Meireles <3
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