Egipto Gonçalves |
- Pedro Luso de Carvalho
Egipto Gonçalves nasceu em Matosinhos, uma vila que foi o centro de uma grande indústria de sardinhas em conservas. Passou a viver na cidade do Porto desde 1948, aí residindo até a sua morte, em 2001. Seu nome completo era José Egipto de Oliveira Gonçalves. Exerceu ao longo de sua vida atividades diversas. Publicou seus primeiros livros em 1950. Em 1951 fundou a revista A Serpente (1951), tendo depois participado na fundação e direção de outras revistas literárias: A Árvore (1952-54), Notícias do Bloqueio (1957-61), Plano (1965-68), e Limiar (de que saiu o primeiro número em 1992). Foi escritor e tradutor.
Ao poeta Egipto Gonçalves foram concedidos os seguintes prêmios: Prêmio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa pela seleção de Poemas da Resistência Chilena (1977); Prêmio Internacional Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros (1985); e, mais: Prêmio de Poesia do Pen Clube, o Prêmio Eça de Queirós e o Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro E No Entanto Move-se (1995). Sua obra encontra-se traduzida para o espanhol, francês, búlgaro, polonês, turco, romeno e catalão. Egipto Gonçalves (José Egipto de Oliveira Gonçalves) faleceu na cidade do Porto, Portugal, em 29 de Janeiro de 2001. Segue o poema 'A Bucólica Margem':
A BUCÓLICA MARGEM
(Egipto Gonçalves)
Sento-me então a olhar o rio,
os pensamentos formam cardumes
que contra a corrente se insurgem
mas as águas são inexoráveis;
olhando-as, a superfície cintila,
propaga-se como se fossem notas
de um piano na garupa de um cavalo
que se dirige para o mar.
O Douro bebe as cores da cidade,
sobre elas eu abro o coração
em que te encontras, as colinas
emolduram as raízes que à terra
nos ligam. Para os meus olhos
é momento de pausa: as coisas
que interrogo não resistem à maré,
não dão respostas; perdem-se no mar
como tudo o que a memória não reteve.
Mas este rio
já foi longamente folheado, nele
escrevemos
o romance que nos deu uma casa,
nos cortou o cabelo, nos afastou
das rugas, nos entregou o azul
(tecido, nuvem, divã, janela...)
o voo das artérias, lugar do corpo,
portas que amanhecem, espelho
onde fazemos fluir a vida.
Acordes
da guitarra que forja o horizonte,
que guia o sinuoso voo das gaivotas
e acaricia a pele que rasga atalhos
no interior dos sonhos. Estarei
vivo enquanto assim me guardar
teu coração. E no seu lucilar,
esta água imita o fogo
que devora sombras e escombros,
libertando a asa que no sangue
respira. A foz está próxima,
mas o horizonte é o teu olhar.
No leitor do carro, a guitarra flexível
sublinha o que divago; os acordes
disparam,
encontram-me na trajectória do seu alvo.
REFERÊNCIAS:
ROZÁRIO, Denira. Palavra de Poeta / Portugal. Introdução de Antônio Houaiss. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.
TORGAL, Adosinda Providência; FERREIRA, Madalena Torgal. Relâmpago, nº 6. Porto: Publicações Dom Quixote, 2001.
Pela amostra foi sem dúvida um enorme poeta. Grato pela partilha.
ResponderExcluir.
Um feliz início de semana
Cuide-se
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Boa tarde!
ResponderExcluirUma publicação simplesmente bela e interessante! Obrigada pela partilha!
-
Sou a alma da minha força.
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Beijo e uma excelente semana.
Protejam-se!
Un gran poema. Un placer poder acercarme a la figura de este, sin duda, buen escritor.
ResponderExcluirUn beso. Feliz semana.
Linda poesia e confesso ,tua amiga aqui, não conhecia esse poeta.Gostei! abração,chica
ResponderExcluirPreciosa la poesía, que nos has dado a conocer de este escritor.
ResponderExcluirBesos
Conheço vagamente, sou mais de Lisboa e Sul... Também não partilho da sua ideologia política...
ResponderExcluirGostei do poema, Pedro. Realmente digno de constar em qualquer coletânea de Literatura de Língua Portuguesa.
Dias de paz e resiliência... Abraço amigo.
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Que belo texto, Pedro,
ResponderExcluira comunhão do poeta com o rio, com o amor à flor de pele
gostei muito!
obrigada pela descoberta!
não conhecia esse poeta e vou guardar o nome, com carinho!
uma boa partilha! é sempre bom ler poesia que nos fala à alma e ao pensamento1
ResponderExcluirUm abraço
Un valido autore che non conoscevo.
ResponderExcluirMolto belli i versi proposti..
Buon martedì, e un sorriso, Pedro,silvia
Belíssimo poema dedicado ao rio Douro. Egipto Gonçalves foi um grande escritor de língua portuguesa. Sempre admirei e continuo a admirar o que escreveu. Gostei muito de o ler aqui, meu Amigo Pedro.
ResponderExcluirUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Tão esquecido o poeta de “Notícias de Bloqueio”, quase passou em branco o seu centenário de nascimento em 2020. Eis um fragmento deste emblemático poema: “Aproveito a tua neutralidade, / o teu rosto oval, a tua beleza clara, / para enviar notícias do bloqueio / aos que no continente esperam ansiosos. // Tu lhes dirás do coração o que sofremos / nos dias que embranquecem os cabelos... / tu lhes dirás a comoção e as palavras / que prendemos - contrabando - aos teus cabelos. // Tu lhes dirás o nosso ódio construído, / sustentando a defesa à nossa volta / - único acolchoado para a noite / florescida de fome e de tristezas. // Tua neutralidade passará
ResponderExcluirpor sobre a barreira alfandegária / e a tua mala levará fotografias, / um mapa, duas cartas, uma lágrima... //...
Um abraço, meu caro amigo Pedro!
Gosto sempre se conhecer a história se escritores. Observar sua obra., Este não conhecia. Gostei.
ResponderExcluirUm abraço.
Élys
É sempre bom recordar Egipto Gonçalves.
ResponderExcluirUm excelente trabalho.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bonito e forte poema, Pedro!
ResponderExcluirNão importa o que se viva, a foz é fatal, então vivamos, sentemos nas margens do rio para lembrar os caminhos até o final de se juntar ao mar.
Abração!
Egipto Gonçalves parece ler no rio a sua rebeldia. É o rio que eu, também, folheio.
ResponderExcluirGrande poema! Este poeta de Matosinhos foi uma boa escolha, caro amigo Pedro.
Saúde!
Um beijo.
Pedro,
ResponderExcluirQue lindos versos e que
publicação rica,
como é seu costume.
Que a semana seja boa
e os dias sejam vividos
com saúde.
Bjins
CatiahoAlc.
Meu querido amigo Pedro, obrigada por este belo poema de Egipto Gonçalves, poeta português que acabei de conhecer.
ResponderExcluirObrigada também, por aqui trazeres poetas menos conhecidos.
"O Douro bebe as cores da cidade" do Porto e das encostas vinhateiras. Um deslumbramento!
Deslumbrada... vou reler!
Beijo, fica bem.
Pedro, não o conhecia, mas me encantei com a riqueza de seus versos. Você faz um trabalho de divulgação magnífico, eis que sempre procuramos saber mais sobre os autores que nos apresenta. Gostei demais! Abraço.
ResponderExcluirObrigada amigo Pedro, por nos oferecer este belo poema de Egipto Gonçalves.
ResponderExcluirPor entre interjeições e deslumbramentos, embarcamos numa viagem pelo amado Douro do poeta.
Um beijinho com o desejo que esteja bem !
Fê
Excelente el enorme trabajo que realizas de divulgación de escritores y poetas.
ResponderExcluirEs muy hermoso este verso sobre el río.
Gracias.
Bom dia, caro Pedro,conheço pouco sobre Egipto Gonçalves, mas você nos incentiva a ir além, na pesquisa e na poesia, já anotei o nome das revistas, quero ler mais sobre o nobre poeta português.O poema que postou é de uma riqueza inenarrável, os versos que falam sobre o rio, que guarda ou que registra a vida de quem por alí mora ou passeia.Maravilhoso. Gratidão. Grande abraço!
ResponderExcluirBoa tarde, Pedro!
ResponderExcluirSempre enriquecendo nossas almas!
Com tamanha sapiência!
Um doce abracinho!
Megy Maia😗🌞😗
Que poema tan hermoso,
ResponderExcluirsinceramente un lujo
apreciarlo.
Besitos dulces
Siby
Um poeta com uma obra interessante, mas que está quase esquecido.
ResponderExcluirA sua iniciativa, por isso, é de louvar, dando a conhecer um poeta que muitos portugueses nem sabem que existiu...
Bom fim de semana, caro Pedro.
Abraço.
Caro Pedro
ResponderExcluirBela homenagem de Egipto Gonçalves ao rio Douro. Nele se escreveram e se escrevem as histórias de muitas vidas, inclusivamente a do poeta.
Muito obrigada, meu amigo. Trabalho meritório o seu.
Abraço
Olinda
É interessante sua garimpagem Pedro neste trabalho minucioso de apresentar escritores poetas pelo mundo, que não conhecia. Um olhar sobre o rio e todas as inquietações que assolam o ser na sua travessia pela vida. Há uma analogia perfeita e passagens interessantes como o piano nas costas de um cavalo, é fantástico o sentido que ele nos apresenta.
ResponderExcluirGrato amigo e feliz semana na família.
Cuide-se e vamos vencer mais esta.
Meu abraço de paz.
Fabulous blog
ResponderExcluirUm autor português, que adorei vir descobrir aqui, e sobre o qual procurarei saber mais, futuramente! Grata por mais uma publicação reveladora de um talento... que andará meio esquecido... pois realmente, nem o nome me é vagamente familiar...
ResponderExcluirBeijinhos!
Ana
Olá, amigo Pedro!
ResponderExcluirO romance que nos entrega o azul só pode ser belo e eterno.
Esteja bem, amigo!
Beijinhos