por Pedro Luso de Cravalho
Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu sobre Olavo Bilac (in Carvalhos e Roseiras, São Paulo: W.M. Jackson Inc. Editores, 1941, p. 15-16): Quem examina, sem paixão, a influência de Olavo Bilac na mentalidade brasileira, observa que ele ficou sendo, para o povo e, mesmo, para os círculos representativos do nosso verdadeiro estado social, o poeta da primeira fase, isto é, o sonetista sensual, impetuoso, ardente, dos versos da mocidade. Com o correr dos anos e a passagem das estações, que lhe iam dando, à força, outra filosofia e outro conhecimento da vida, foi Bilac, pouco a pouco, modificando a sinceridade da sua inspiração poética. Depois dos quarenta anos, a sensualidade elegante, que constituía o alicerce de ouro da sua popularidade literária, começou a desaparecer das suas rimas. Quem lhe observasse a evolução da poesia, teria a impressão de um salão de baile de que as mulheres se fossem retirando gradualmente, mas que ficasse iluminado pelo resto da noite, quebrando a solidão silenciosa com a maravilha deslumbrante de seus cristais.
Segue o soneto Hino à tarde, que integra o livro Olavo Bilac, Apologia poética. Porto alegre: L&PM Editores, 1997, p. 61:
[ESPAÇO DA POESIA]
HINO À TARDE
(Olavo Bilac)
Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
Alva! natal de luz, primavera do dia,
Não te amo! nem a ti, canícula bravia,
Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!
Amo-te, hora hesitante em que se preludia
O adágio vesperal, - tumba que te recamas
De luto e de esplendor, de crepes e de auriflamas,
Morimbunda que ris sobre a própria agonia!
Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre
Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,
Trazes a palpitar, como um fruto de outono,
A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,
Perpetuação da vida e iniciação do nada...
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Pedro Luso de Carvalho