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23 de set. de 2011

[Poesia] OLAVO BILAC / Hino à Tarde





                         por  Pedro Luso de Cravalho


        Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu sobre Olavo Bilac (in Carvalhos e Roseiras, São Paulo: W.M. Jackson Inc. Editores, 1941, p. 15-16): Quem examina, sem paixão, a influência de Olavo Bilac na mentalidade brasileira, observa que ele ficou sendo, para o povo e, mesmo, para os círculos representativos do nosso verdadeiro estado social, o poeta da primeira fase, isto é, o sonetista sensual, impetuoso, ardente, dos versos da mocidade. Com o correr dos anos e a passagem das estações, que lhe iam dando, à força, outra filosofia e outro conhecimento da vida, foi Bilac, pouco a pouco, modificando a sinceridade da sua inspiração poética. Depois dos quarenta anos, a sensualidade elegante, que constituía o alicerce de ouro da sua popularidade literária, começou a desaparecer das suas rimas. Quem lhe observasse a evolução da poesia, teria a impressão de um salão de baile de que as mulheres se fossem retirando gradualmente, mas que ficasse iluminado pelo resto da noite, quebrando a solidão silenciosa com a maravilha deslumbrante de seus cristais.

        Segue o soneto Hino à tarde, que integra o livro Olavo Bilac, Apologia poética. Porto alegre: L&PM Editores, 1997, p. 61:



                    [ESPAÇO DA POESIA]


                      HINO À TARDE
                                                           (Olavo Bilac)


       
        Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
        Alva! natal de luz, primavera do dia,
        Não te amo! nem a ti, canícula bravia,
        Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!


        Amo-te, hora hesitante em que se preludia
        O adágio vesperal, - tumba que te recamas
        De luto e de esplendor, de crepes e de auriflamas,
        Morimbunda que ris sobre a própria agonia!


        Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre
        Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,
        Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,


        Trazes a palpitar, como um fruto de outono, 
        A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,
        Perpetuação da vida e iniciação do nada...


                                      
                                                     * * * * * *

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Pedro Luso de Carvalho