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12 de set. de 2011

[Poesia] CESÁRIO VERDE - De tarde




               por  Pedro luso de Carvalho


        José Joaquim Cesário Verde nasceu a 25 de fevereiro de 1855, na capital de Portugal, Lisboa. Muito cedo começou a trabalhar na loja de ferragens da família (seu pai era comerciante e lavoreiro).

        Supõe-se que Cesário Verde era autodidata, já que não se tem conhecimento de sua formação escolar. Depois de ter completado 18 anos, passou a escrever para diversos jornais e revistas. 

        A influência do parnasianismo e do realismo é uma característica de sua poesia. E isso não é difícil de ser constatado em razão da escolha dos temas, que são extraídos do cotidiano da vida portuguesa. Resulta, daí, uma poesia de inconteste originalidade. "Ele criou, em Portugal, a poesia do concreto, do vulgar ou do quotidiano" - afirma João Gaspar Simões. - "A sua descoberta mais evidente consistiu em valorizar poeticamente a linguagem por que se designam as coisas concretas". 

        Silva Pinto, amigo fraterno do poeta, reuniu-lhe as produções dispersas, menos algumas condenadas pelo autor, e foram publicadas postumamente, em 1887, com o título de O livro de Cesário Verde.

        Cesário Verde faleceu a 18 de julho de 1886, com apenas 31 anos, em Lisboa, cidade em que nasceu e da qual se tornou o seu grande cantor, em versos de grande objetividade descritiva. 

        Obra: O livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887 - publicada postumamente.

           O poema de Cesário Verde, que segue, com o título De tarde, confirma o que acima foi dito sobre sua poesia (LINS, Álvaro. BUARQUE DE HOLLANDA, Aurélio. Roteiro Literário de Portugual e do Brasil. Vol. I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 279, 282-283):


                                 
                          [ESPAÇO DA POESIA] 


                         
                                       DE TARDE
                                                       (Cesário Verde)

                                            A Eduardo Coelho. 


        Naquele pequenique de burguesas,
        Houve uma coisa simplesmente bela,
        E que, sem ter história nem grandezas,
        Em todo o caso dava uma aquarela.

        Foi quando tu, descendo do burrico,
        Foste colher, sem imposturas tolas,
        A um granzoal azul de grão-de-bico
        Um ramalhete rubro de papoulas.

        Pouco depois, em cima duns penhascos,
        Nós acampamos, inda o sol se via;
        E houve talhadas de melão, damascos,
        E pão-de-ló molhado em malvasia.

        Mas, todo púrpuro, a sair da renda
        Dos teus dois seios como duas rolas,
        Era o supremo encanto da merenda
        O ramalhete rubro das papulas!


                                                      *  *  *


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Pedro Luso de Carvalho