Obra - Paula Modersohn-Becker |
O SEGREDO DA LONGEVIDADE
- Pedro
Luso de Carvalho
Um amigo falou-me, não faz muito tempo, sobre o seu relacionamento, um tanto exótico, com uma moradora do mesmo prédio, que ele morava. Ela já havia passado dos 90 anos, ele estava perto dos 40 anos.
Durante o tempo que aí morou ele manteve-se solteiro. E ela nunca se casou. Talvez essa condição de solteira, que carregou por toda a vida, tenha gerado o sentimento de ódio, que por ele nutria.
Já no primeiro encontro que tiveram, ele não teve bom pressentimento. Ela não escondia sua aversão pelo vizinho, embora ele não lhe desse motivo. Esse sentimento aparecia nos olhos turvos da esquisita vizinha.
Procurava desviar-se dos dardos envenenados com ódio, que a velha senhora lançava contra ele, quando se encontravam no hall do prédio ou num dos elevadores; ele nunca soube por que fora escolhido para ser o alvo de suas frustrações.
Com o passar do tempo, ela ficou mais agressiva e mais debilitada. Fazia seus curtos passeios à tarde acompanhada por uma moça, caminhando com dificuldade, passinhos muito miúdos, quase arrastados.
Embora mal conseguisse falar, meu amigo tinha sempre a impressão de ouvi-la dizer, quando se cruzavam: “Você ainda terá de me aguentar por muito tempo”.
A ele não restou outra solução do que uma visita a um psiquiatra. Na primeira consulta, já tinha o diagnóstico: a velha senhora ainda estava viva, mas graças à motivação e a força que lhe dava essa rusga que mantinha com o vizinho.
E foi em atenção ao conselho do psiquiatra, que se mudou para outro apartamento, situado em outro bairro. Passado um pouco mais de um mês, ele leu num jornal a comunicação da família sobre o falecimento da velha senhora.
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rsssssssssss...Só tu mesmo,Pedro! Adorei! Quanta criatividade!
ResponderExcluirE essa tribufu tinha o segredo,rs... Afff...
abração, linda semana, chica
Boa noite, amigo Pedro,
ResponderExcluirMuito interessante esta crónica que aqui deixou.
Esta mulher idosa que alimentou a sua longevidade nesta relação tempestuosa com o seu vizinho mais novo.
Muito curioso, e quiçá inédito.
Gostei de ler.
Votos de uma excelente semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Nestes tempos conturbados, é bom lermos um texto que nos faça rir e eu, desde já pedindo desculpa, tive que sorrir, Pedro, mas parece-me que também a Chica achou piada. Ora bem, costuma-se dizer que a vida precisa de sentido e parece que o que mantinha a idosa viva era o ódio pelo vizinho, esse era o sentido que dava à sua já longa vida. Esse moço de quarenta anos fez bem em consultar um psiquiatra porque acho que a cabecinha dele não funcionava lá muito bem; uma idosa que já passava dos 90 anos, não poderia mostrar um olhar brilhante nem passos muito apressados nos pequenos passeios que fazia, claro, apoiada numa moça; o que me parece, Pedro é que o jovem tinha uma certo receio ao olhar aquela senhora, pois revia-se nela se chegasse àquela idade. A longevidade dela assustava-o...incomodava-o e ela, ao olhar aquele moço talvez se recordasse da sua juventude e sentisse, com tristeza, que estava a caminho do fim . Duas pessoas que se cruzam, uma ainda com muito tempo pela frente, em principio, claro e outra com a consciência de que , se calhar, no dia seguinte já não se cruzaria com o vizinho. Nunca se casou, e, talvez esse facto tenha provocado nela esse ódio pelo vizinho, mas isso é o que se supõe e não a certeza dos factos até porque o jovem também era solteiro e nem por isso mostras que ele era um frustado ; tudo suposições, Amigo! A única certez é que mostras aqui duas gerações que todos os dias se cruzam e que talvez se interroguem sobre o sentido da vida, sobre as dificuldades que a idade traz e, principalmente sobre a nossa finitude. Acho também que o mais incomodado era o homem de 40 anos, pois foi ele quem sentiu necessidade de consultar o psiquiatra e não ela. A senhora já tinha vivido muito, já tinha com certeza passado por muitos problemas , muitas perdas, muitas alegrias e toda essa experiência a havia preparado para o fim que aconteceu pouco depois do vizinho ter-se mudado. E assim , Pedro, com um conto que, a principio nos faz rir, levas-nos a reflectir na vida, nas perpectivas que cada idade tem para o seu percurso e no quanto nos temos de preparar para aceitar as dificuldades que a idade nos vai trazendo. Essa é a leitura que faço deste teu conto, Amigo que, afinal " tem muito o que se lhe diga" e de piada nada tem. Incomodado com o que a velhice lhe trará,
ResponderExcluirele afasta-se... com o peso da idade ela se despede da vida. Um beijinho, Amigo e boa noite. Saúde para todos e desculpa a ausência
Emilia
Muy bueno Pedro. Un cuento muy curioso, la anciana vivía tantos años por la fuerza que le producía el odio que te tenía al vecino, tanto, que cuando se marchó de la casa, a la anciana se le fue la fuerza que la mantenía en pie y murió, :))).
ResponderExcluirMe encantó leerte.
Un abrazo y que pases un buen día.
Quanta ironia contém este seu conto meu Amigo Pedro. Mas haverá casos assim, em que a razão de viver é a implicância que têm com alguém mesmo sem qualquer motivo. Gostei de o ler.
ResponderExcluirUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Un prezioso, e valido articolo, che ho molto apprezzato nella sua densa lettura.Un saluto, silvia
ResponderExcluirGostei muito da publicação :))
ResponderExcluir-
Coisas de uma Vida...
.
Beijo. Boa tarde de Feriado!
Es un cuento muy original y excelente.
ResponderExcluirA veces suceden estas cosas en el transcurso de la vida.
Un placer siempre disfrutar de tus letras.
Te deseo una feliz semana.
Un beso.
Fantástico Pedro, um conto com marca de realidade, pois já vimos casos assim, uma implicância, um ódio disseminado a manter alguém unicamente para destila-lo sobre alguém. Coisas da vida.
ResponderExcluirBom que o personagem encontrou um apoio e saída clássica dos tais incomodados que se retiram.
Um abraço amigo e tudo de bom para vocês.
De fato . uma estranha reação. Nem sempre é possível uma explicação razoável, mas ouso tentar uma causa possível. Talvez uma frustração muito grande diante da juventude e da esperança de vida do jovem diante de sua fragilidade...recalque ou inveja, quem sabe ?
ResponderExcluirUm abraço
Bom.dia de paz, amigo Pedro!
ResponderExcluirAqui no prédio tem uma que destila ódio em todos.
Tive até que me.mudar também de andar. Do oitavo para o primeiro. Tive finalmente sossego. Ela segue viva e fazendo um inferno na vida de quem mora em seu andar
Realmente, a implicância e o ódio são insulina para muitos.
Que lástima!
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
Há "coisas" que parece que não fazem sentido mas é um incentivo para continuarmos vivos.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Pedro,
ResponderExcluirAdorei seu conto e
reconheço que há muito de verdade
na recomendação médica a ele.
Há seres que precisam de motivação
para seguirem adiante.
Vou reler e depois ler
para meu esposo que não
frequenta Blogs, mas adora
quando leio Vc ou Tais para ele.
Crendo que
"Palavras são Sementes".
Frase
do meu esposo
Deixo
Bjins
CatiahoAlc./Reflexod'Alma
La vida a veces nos sorprende con cosas irracionales que no tienen una explicación lógica. Ese buen hombre no debería de haber hecho caso a la anciana, pues de esa mujer y a su edad no se puede esperar ningún otro cambio positivo.
ResponderExcluirUn buen y singular relato amigo Pedro.
Un abrazo y te deseo un feliz mes de noviembre lleno de paz y armonía.
Un articulo muy interesante que me ha gustado.
ResponderExcluirSaludos.
Olá, caro amigo Pedro,
ResponderExcluirPassando por aqui, agradecendo a visita e gentil comentário no meu cantinho, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Genial historia, te mando un beso.
ResponderExcluirUm Conto que bem poderia retratar a realidade que nos (a)parece. Mas há "coisas" na vida que não sendo reais, nos perturbam.
ResponderExcluirUm Conto curto com ligações á seriedade dos dias.
Parabéns.
Abraço
SOL da Esteva
Boa tarde Pedro
ResponderExcluirConfesso que este conto me surpreendeu, mas será que aquela implicância com uma pessoa que nunca lhe tinha feito nada, será que aquele “ódio” desnecessário foi o mote para a sua longevidade.
Acho que já nada me surpreende.
Um conto bem escrito e para colocar o leitor em profunda reflexão.
Bom fim-de-semana.
:)
Querido Pedro,
ResponderExcluirBem, aquela velha usou sua energia e foco no cara mais novo , mesmo por não gostar dele.
Deu a ela um propósito de viver e continuar...
Abraços,
Mariette
Gostei muito desta "estória"
ResponderExcluirHá quem diga que o ódio e o Gin, conservam as pessoas :)
Fez bem o dito senhor mudar de apartamento.Longe das energias negativas e a velha senhora que esteja finalmente em paz.
Brisas doces**
Não faço ideia se um sentimento como o ódio pode prolongar o tempo de vida de alguém (acho que desgasta a pessoa...). Mas quando o vizinho é o destinatário do objetivo de descarregar as suas frustrações, a idosa, como nunca consegue aliviar-se delas, precisa de continuar a viver. Será isso? Não sei ao certo, mas o que sei é que o conto é magnífico e "obriga os seus leitores a pensar no assunto.
ResponderExcluirBoa semana, caro amigo Pedro.
Abraço.
Que dizer, caro amigo Pedro? Coloca-nos sempre em encruzilhadas e lá temos de tentar encontrar o caminho, de optar por esta ou aquela via. E são sempre tonificantes os seus contos, com uma lição de vida ali, mesmo ali, nas entrelinhas a acenar-nos. E quem souber ou puder que a agarre. :) Duas gerações em confronto directo. Num pequeno núcleo, num prédio de apartamentos, que poderá representar o mundo, com as suas intolerâncias e a falta de amor...
ResponderExcluirComo já lhe tenho dito, admiro a sua escrita.
Abraço
Olinda
Olá Pedro, estou de volta. Grata pelas palavras lá no Blog. Muito bom esse conto que abre para nós um leque de reflexões ou possibilidades. Nesse sentido, palpitarei por aqui. Tenho comigo que o ódio é o amor que ficou doente. Assim, a senhora do seu conto, expressava em forma de aversão o amor que não podia declarar. Na verdade o ódio era por ela mesma, se encontrar em avançada idade, sem chance de viver um romance com vizinho de 40 anos. Quando ele se mudou, ela morre de desgosto. O amor é vida, caro poeta. ( risos)
ResponderExcluirMil parabéns. Amei esse conto.
Abraço fraterno.
Muito interessante! Obrigada pela partilha!
ResponderExcluirBjxxx
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Bom dia, Pedro.
ResponderExcluirGostei muito do seu conto que traz maiores
reflexões sobre as complexidades que permeiam
os sentimentos humanos.
Efusivos aplausos e um fraternal abraço com
votos de ótima semana.
Também gostei, Pedro. Fez-me lembrar de outro mestre, o Graciliano Ramos, na suas narrativas curtas frases ou nos seus textos de um modo geral. O nosso comunista de Palmeira dos Índios, nas terras alagoanas, risos. Na secura de sua linguagem nos dizia muito. O maior risco agora é, revelado o segredo da longevidade, é que ele passe ser adotado por todos aqueles que desejarem uma vida longa. Tem sido destilado muito ódio neste país, tomara que todos vejam este "segredo" como ficção.
ResponderExcluirUm grande abraço, caro amigo!
Gostei , gostei mesmo muito,
ResponderExcluirA motivação forte dá forças para tudo ,sem dúvida. Caso inverso, a pessoa desvanece.
Abraço , bom resto de semana
Muito bom! Obrigada pela partilha!
ResponderExcluirBjxxx
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Olá, amigo Pedro,
ResponderExcluirPassando por aqui, para desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Abraço amigo.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Bom dia, Pedro.
ResponderExcluirParabenizo-lhe pela bela e hilariante crônica, Pedro.
Na vida humana há muitas complexidades, e para uma
forte motivação não importa os obstáculos, assim
como ao amor não importa o preço.
Aplausos, forte abraço e ótima semana.
Tenho quase a certeza de haver comentado este texto... mas o que é facto é que de vez em quando os comentários continuam a desaparecer em alguns blogues ainda... provavelmente estará no spam...
ResponderExcluirUm texto que dá o que pensar... mas o ser humano, tantas vezes, parece que precisa de sentir que inferniza a vida de outro alguém, como seu elixir de longa vida...
Um texto irónico, mas bastante assertivo... das inexplicáveis motivações da alma humana, para infundados ressentimentos, por vezes... que alimentam os dias... e que por vezes duram anos... quando não toda uma vida...
Beijinhos
Ana