– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
JOSÉ
ALBANO (José de Abreu Albano) filho de família cearense abastada, e
neto de barões pelo lado paterno, não encontrou dificuldades em
sair do Brasil aos onze anos de idade para estudar em colégios
ingleses, austríacos e franceses, tendo o privilégio de receber uma
apurada formação humanística.
Volta
ao Brasil (Fortaleza, sua cidade natal) já na adolescência, e tenta
cursar Direito, mas a doença o impediu de continuar os estudos.
Então, com ajuda do Barão do Rio Branco, seu amigo e protetor,
retorna à Europa, para, depois de visitar alguns países, fixar-se
na França. Aí morre o poeta no dia 11 de julho de 1923, os 41 anos
de idade, na localidade de Montauban.
Um
dos nossos mais importantes críticos literários, Tristão de
Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima), “num assomo de
entusiasmo”, como observa Alfredo Bosi, manifestou-se sobre a obra
do poeta no seu importante ensaio, Poesia Redentora, in
José Albano, Rimas.
3ª ed., Rio de Janeiro, Graphia Editorial, 1993, p. 220.221:
"A
figura de José Albano é das mais indiscutíveis desse período
pré-modernista, entre 1900 a 1920, em que escreveu o principal de
sua estranha e puríssima obra poética, agora de novo revelada ao
grande público, pela coragem editorial dos irmãos Pongetti e pela
independência e bom gosto literário de Manuel Bandeira. As Rimas
(Pongetti Editores, 1948) compreendendo essa deliciosa Comédia
Angélica, esses maravilhosos quatro sonetes em inglês, o Triunfo
que é uma obra-prima e os Dez sonetos escolhidos pelo autor, que são
seguramente dos mais belos que jamais foram escritos em nossa língua
e mesmo em qualquer língua humana – representam um imenso drama
interior – uma incomparável realização de poesia pura''.
Além
de Rimas,
o primeiro livro de José Albano, publicado em Barcelona, em 1912 (no
Brasil, a sua edição deu-se em 1948, por Pongetti Editores), e
Comédia
Angélica,
publicada em 1918 (quatro sonetos em inglês, com tradução
portuguesa, com argumento religioso e forma clássica). José Albano
também publicou Antologia
Poética.
Segue
o Canção
a Camões,
de José Albano, poema que integra o seu livro Rimas,
p. 113-115:
CANÇÃO
A CAMÕES
José
Albano
Co'uma
espada de prata e lira de ouro
Claríssimo
Camões, me apareceste
No
cimo do Parnaso alcantilado;
E
eu, posto num enlevo duradouro,
Gravei
na mente essa visão celeste
Que
em numeroso verso aqui traslado;
Estavam
ao teu lado
Duas
Musas de cândido semblante,
Calíope
que sopra na canora
Trombeta
retumbante
Cujo
clangor os ecos apavora;
E
Euterpe que da rude e agreste avena
Tira
uma melodia pura e amena.
Esta
afina o instrumento donde parte
Um
longo e suavíssimo gemido
Cuja
tristeza eu também sinto e entendo,
E
de improviso Amor vem a esta parte
E
traz nas mãos teu coração ferido
Donde
vermelhas gotas vão correndo.
Com
ele vem o horrendo
E
escuro Fado que jamais se cansa
De
atormentar um generoso peito,
Alevantando
a lança
Que
atravessou teu coração desfeito -
E
enquanto lentamente vão passando,
Ri-se
o Fado cruel, geme Amor brando.
Emudecendo
a frauta, eis se derrama
O
som da horrível tuba que o repouso
Subitamente
rompe do ar vizinho;
E
eu vejo o Capitão Vasco da Gama,
Aquele
grão Lusíada famoso
Que
descobriu das Índias o caminho;
E
(ó destino mesquinho!)
Vejo
a mísera Inês tão meiga e amante,
Longe
de Pedro, saüdosa dele,
Lamentar-se
diante
Del-rei
que ao duro sacrifício a impele:
De
Vasco o Tejo está lembrado ainda,
Chora
o Mondego a Inês lânguida e linda.
Eis
se alça Adamastor fero e iracundo,
Como
uma nuvem negra aparecendo
À
frota, do naufrágio ameaçada.
Treme
nos fundamentos todo o mundo,
Quando
ele em tom altíssimo e tremendo
Blasfema,
grita, brama, ruge e brada.
Eis
surge a sublimada
Vênus
superna que nasceu da escuma;
De
flores se matizam as campinas,
A
aragem se perfuma
E
serenam as ondas neptuninas:
Protege
a deusa o peito lusitano,
Conquistador
da terra e do oceano.
Cessa
o clangor e eu vejo ainda em sonho
Descer
do empíreo angélica figura,
De
ouro tingindo as nuvens e de rosa.
E
no semblante plácido e risonho
Leio
a felicidade branca e pura
De
quem muito sofreu e agora goza:
É
Natércia formosa,
Ó
bom Luís, exemplo de amadores,
É
tua alma gentil, encanto e vida,
Amor
de teus Amores,
Sempre
adorada e nunca possuída,
Ei-la
que vem da luminosa parte
Para
verdes mirtos coroar-te.
Da
baixa terra também sobe a ver-te
Outra
figura, envolta em negro luto,
Que
no passado mais ditosa viste.
Do
longo caminhar cansada e inerte,
De
lágrimas o rosto nunca enxuto,
Suspira
e nenhum peito lhe resiste:
É
Lusitânia triste,
É
tua ingrata mãe que ânsia secreta
De
saüdades sente dentro da alma,
Mas
vendo-te, ó Poeta,
A
mágoa se lhe um pouco abranda e acalma.
E
para que o remorso menos doa,
De
imarcescíveis louros te coroa.
Canção,
voa ao Parnaso
E
ao Mestre amado meu que lá de cima
Me
ouve cantar em venturoso enlevo,
Entrega
o verso e rima
Que
em tributo ofereço do que devo.
E
se durares qual lhe dura o nome,
Fico
que nunca o tempo te consome.
* * *
Linda poesia desse autor, aqui nos proporcionas, Pedro! Gostei! abração, lindo fds gelado! chica
ResponderExcluirUm poema interessante de um poeta que não conhecia. Tenho pesquisado muita as vossas poetisas, mas de poetas, tirando o Drummond o Vinicius e o Chico só vou conhecendo um pouquito dos outros através do seu blog.
ResponderExcluirAbraço, saúde e bom fim de semana
ExcluirFelizmente, Elvira, temos muitos poetas e poetisas, que se tornaram conhecidos dos amantes da poesia, sejam eles românticos, parnasianos, simbolistas, modernistas.
Agradeço pela visita, Elvira.
Confesso que não o conhecia...
ResponderExcluirLindos versos!
Um ótimo final de semana!
Sem dúvida, Ana, José Albano é um grande poeta, que teve sua obra reconhecida por críticos literários importantes; sua obra foi muito divulgada pelo grande Manuel Bandeira.
ExcluirUm abraço.
Olá Pedro
ResponderExcluirnão conhecia esse poeta e fiquei feliz pela partilha:)
vou descobrir mais um pouco da sua vida e da sua obra
comecei a ler esta biografia:
http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1982/ACL_1982_20_Jose_Albano_Centenario_Jose_Helder_de_Sousa.pdf
Pois é, Angela, José Albano deixou uma obra poética muito importante, fruto de seu inegável talento e de sua cultura.
ExcluirUm abraço.
Uma Publicação fantástica!!
ResponderExcluir*
Onde a mente relaxa lentamente...
.
Beijo e um excelente fim de semana.
Olá Pedro
ResponderExcluirEste poeta eu não conhecia
Uma partilha excepcional que me instiga a pesquisar a sua obra para me fartar com seus lindos versos
Um ótimo final de semana
Abraços
Oi, Pedro, obrigada pela partilha. Muito interessante a interpretação literária e clássica dos Lusíadas em uma homenagem a Camões...de forma requintada e crítica da história. Não conhecia o poeta.Obrigada novamente.
ResponderExcluirUm abraço
Agradeço o aumento de meus saberes!
ResponderExcluirCamões merece todas as homenagens.
Meu amigo, o abraço com voto de excelente fim de semana :)
Saludos, Pedro. Hay autores que tienen el don de la evocación. Así, el poeta desconocido por mí que hoy presentas en tu página, Albano, casi desde el principio de su poema a Camoes me ha transportado al Belem portugués y su monumento a los Descubrimientos. Casualidades de la vida. Porque no había vuelto a leer Os Lusiadas desde la adolescencia, hasta que un día de estos meses de confinamiento reorganizando mi biblioteca, me tropecé con el libro.
ResponderExcluirHoy, con las rimas de Albano, “Con espada de plata y lira de oro/ muy claro, Camoes, me apareciste…”, vuelvo a evocar “los hijos de Luso”.
Pedro, mais um talento que me era desconhecido. Que rico passeio ele nos proporciona nessa Canção a Camões! Gostei muito.
ResponderExcluirNão conheço o poeta José Albano. Mas gostei imenso de ler esta "Canção a Camões", tão baseada nos "Lusíadas"... Obrigada por mo dar a conhecer, meu Amigo Pedro.
ResponderExcluirUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Olá amigo Pedro, que orgulho desse meu irmão nordestino, uma linda Canção que lindamente homenageia o Camões, todo merecimento a ambos.
ResponderExcluirGrata por passar lá no meu blog querido amigo, alegra-me sua gentikl visita.
Abraço!
Boa tarde Pedro,
ResponderExcluirUm momento cultural de excelência.
Não conhecia o Poeta e o poema que partilha é extraordinário.
Comovi-me a lê-lo.
Obrigada por me dar a conhecer José Albano e a sua poesia.
Um beijinho e uma boa semana.
Obrigada pela visita.
Ailime
Pedro meu amigo, que bela apresentação nesta sua rica série. Eu nunca havia lido sobre ele e olha que gosto muito da turma pré-modernista. Lamentável a morte o levar tão cedo, creio que deve ser algo do pulmão, tão comum na época. O Rimas é fantástico na sua bela escolha de ilustração.
ResponderExcluirGrato amigo por mais esta pérola da literatura e vinda do nordeste.
Meu abraço e boa semana leve e alegre.
Conhcer novo autores e as suas histórias, gosto muito.
ResponderExcluirBela poesia. Um abraço.
Pedro, bom dia.
ResponderExcluirÉ sempre maravilhoso conhecer
um pouco mais da beleza
da escrita.
Adorei ler e me encantar.
Bjins
CatiahoAlc.
Pedro:
ResponderExcluirbello poema. Mito y creación.
Abraços.
Boa tarde de paz e poesia, Pedro!
ResponderExcluirPor aqui, vou recordando alguns e conhecendo outros renomados poetas.
O cantar o Amor passou pela dor no poema. Muito comum em se tratando de uma canção a quem foi dedicado.
Muito obrigada por honrar à Literatura.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos de paz e bem
Desconhecia e gostei bastante do poema.
ResponderExcluirUm abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
A glória lusa aqui retratada por José Albano, poeta de grande estirpe, que mergulhou a sério n'Os Lusíadas do nosso Luís de Camões. Esta obra, que muito honra Portugal, foi traduzida para língua mirandesa por Amadeu Ferreira, um escritor que assim quis glorificar a sua primeira língua. E foram a Sendim (sua terra natal) famílias inteiras ler "Os Lusíadas" em mirandês. Tive o privilégio de participar.
ResponderExcluirEste post, caro amigo Pedro, é notável.
Um beijo.
Querido amigo poeta Poeta Pedro, sua sensibilidade o fez mostrar aqui essa raridade de cultura de um poeta que foi, muito jovem estudar na Europa, deixou rico legado, pois que pena, morreu tão jovem!
ResponderExcluirO poema é rebuscado, bem rimado, encantador e eu amei ler, não conhecia o poeta, vou buscar mais para aprender sempre, eis o bom da vida!
Amei ler como sempre!
Abraços bem apertados!
Bom dia Pedro.
ResponderExcluirMuito bom conhecer a bibliografia deste poeta e a escolha do poema foi muito boa. Quê pena quê a vida foi breve. Um enorme abraço.
Pedro Luso, meu distinto amigo
ResponderExcluirnotável o teu trabalho de divulgação dos poetas da nossa Pátria comum - a Língua de Camões, que a dimensão do Brasil e e os restantes países da CPLP dão expressão mundial
que "nunca a voz te doa" nessa nobre missão.
grande abraço
grato
Desconhecia o autor... tal como a notável homenagem a Camões, aqui partilhada!
ResponderExcluirGrata por mais uma enriquecedora partilha, Pedro!
Um beijinho! Votos de um bom final de domingo, e uma excelente semana!
Ana
Pedro
ResponderExcluirUm momento cheio de cultura e informção sobre um poeta que confesso não conhecia, e que passei a conhecer, se bem que vou pesquisar ainda mais a sua obra.
O poema escolhido, foi uma boa escolha, eu gostei bastante,
Boa semana.
:)
Oi pai, boa noite!!
ResponderExcluirExcelente artigo, mais uma vez! Não conhecia José Albano. Aliás, um dos pontos interessantes - por vezes tão interessantes quanto suas obras - são as biografias dos autores que, não raro, são tão trágicas ou tragicômicas que superam a ficção.
Grande abraço!!
Boa noite, meu filho!
ExcluirUma alegria te ver por aqui, Alexandre!
Já deves ter visto algum livro do José Albano aqui em casa, mas não chamou tua atenção. Manuel Bandeira ajudou na divulgação da obra e do nome de José Albano, poeta de grande talento.
Uma ótima semana filho, com teus excelentes artigos jurídicos, publicados o teu blog de Direito.
Um grande abraço, Alexandre.
Claro que não vou começar por me desculpar da ausência aqui no blog do meu grande Amigo. Tudo tem um limite e muitas vezes as desculpas são " esfarrapadas " como se costuma dizer. Também é dito sempre que o tempo chega para tudo quando se quer; outra verdade, Amigo. Sei que acreditas no que vou dizer, que passo todos os dias pelos blogs amigos, mas, ultimamente não tenho comentado, porque, como várias vezes disse, o desânimo tem sido algum e nem sempre é fácil lutar contra ele, quando sentimos falta daquelas pequeninas coisas que a pandemia nos tirou. O nosso verão está a terminar e eu tenho a sensação de que ele nem comecou; apesar do bom tempo, as saidas à noite terminaram, a ida ao cinem ( adoro ) também e jantar fora com um casal de amigos nem pensar. São pequeninas coisas que costumava fazer e que há muito estão proibidas; não preciso de grandes festas, jantares faustosos; basta-me uma pizza, num lugar acolhedor e um " papo gostoso " com um casal de amigos. Sou assim e sinto falta desses pequenos prazeres. Estive um mês em pausa, mas as saidas continuaram muito poucas, pois o covid aqui está a piorar e o receio continua grande. Mas, vamos ao que interessa, Pedro. Adorei este poema dedicado a Camões que me fez recordar os Lusiadas e o tormento que foi ter de o estudar a fundo, interpretando, dividindo orações, etc, etc; naquele tempo era assim no curso de letras. Tenho que voltar a ler a obra sem essa pressão toda, pois sei que me vai
ResponderExcluiragradar muito mais. Também desconhecia este escritor que nos apresentas, mas agora, graças a ti, já posso pesquisar e conhecê-lo ainda melhor. Muito obrigada, Amigo, pelo enriquecimento cultural que nos proporcionas nestas fantásticas veredas; percorrendo-as, muito se aprende. Beijinhos e SAÚDE para todos aí em casa
Emilia
É sempre uma alegria renovada, querida amiga Emília, receber tua visita e o teu comentário, sempre agradável e inteligente. Os motivos que te levaram a te distanciar um pouco dos blogueiros, muitos deles teus amigos, estão ligados, à pandemia, o que é justificável. Quanto ao poema “Canção a Camões” é, sem dúvida, um belíssimo poema para homenagear o Mestre, autor de “Os Lusíadas”.
ExcluirUma boa semana, Emília.
Beijo.
Não conhecia o poeta.
ResponderExcluirMas pela "Canção a Camões" dá para se perceber que se trata de um grande poeta dos inícios do século passado.
Obrigado pela partilha.
Continuação de boa semana, caro Pedro.
Abraço.
Pedro, sabes que gosto imensamente desse poeta, e esse poema é belíssimo!
ResponderExcluirQue bom que está postado aqui, é um tesouro.
Beijinho daqui do lado!
Un gran placer leerte, Pedro.
ResponderExcluirYa estoy de nuevo por aquí y visitarte es siempre muy agradable.
Un beso. Feliz Septiembre.
Querido amigo Pedro: regreso al mundo de la blogosfera después de este largo, cálido y extraño verano. Poco a poco voy visitando a los amigos entre los que te encuentras tú.
ResponderExcluirSiempre es un placer visitarte, pues siempre tienes cosas interesantes que mostrar. No conocía al poeta y gracias a ti lo he descubierto. Gracias.