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8 de mai. de 2011

MACHADO DE ASSIS / Discurso inaugural

Machado de Assis
        Senhores:


        Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho de nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.

        Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda a casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-nos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.

         
Academia Brasileira de Letras
         20 julho, 1897.





MACHADO DE ASSIS. Páginas escolhidas. Obras completas de Machado de Assis. Rio de Janeiro: W.M. Jackson Editores, 1952, p. 293-294.




2 comentários:

  1. Carmem Borja14:37

    "Ele não é um escritor de determinado público,mas sim do público em geral".Poucas vezes.A vida nos seus mais variados aspectos foi por ele fixada com a perícia de um autentico mestre.Observou, de preferência as minudencias, o cotidiano, o problema rotineiro, as reações humanas, sem a grandiosidade, dos seres comuns com aspirações limitadas. Poucas vezes a ficção suplanta a realidade". Pra mim, ele e Tchecov "transformam o banal em lances extraordinários de efeitos raros.Às vezes cômico e muitas ....."Os antigos frequentadores do Café Carceler hão de recordar-se de um velho que ali todas as manhãs às oito horas, almoçava, lia os jornais, fumava um charuto, dormia cerca de meia hora e saía. Estando de passagem no Rio de Janeiro, onde viera tratar questões políticas com os ministros, atirei-me ao prazer de estudar todos os originais que encontrava, e não tenho dúvidas em confessar que até então só tinha encontrado cópias. O velho apareceu a tempo; tratei de analisar o tipo.(Decadência de dois Grandes Homens)".....

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  2. Carmem Borja15:19

    "A vida nos seus mais variados aspectos foi por ele fixada com a perícia de um autentico mestre . Observou , de preferencia, as minudências, o cotidiano, os problemas rotineiros, as reações humanas sem a grandiosidade, dos seres comuns com aspirações limitadas". Poucas vezes a ficção suplanta a realidade, que nem Tchecov. Não é um escritor de determinado público mas sim do público em geral."O banal em lances de extraordinários efeitos raros."...Os antigos frequentadores do café Carceler hão de recordar-se de um velho que ali todas as manhãs às oito horas, almoçava, lia os jornais, fumava um charuto, dormia cerca de meia hora e saía. Estando de passagem no Rio de Janeiro, onde viera para tratar de questões políticas com os ministros, atirei-me ao prazer de estudar todos os originais que encontrava, e não tenho duvida em confessar que até então só tinha encontrado cópias. O velho apareceu a tempo; tratei de analisar o tipo."

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Pedro Luso de Carvalho