UMA ALMA ATORMENTADA
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Belizário Lemos sentia-se fracassado nessa
altura da vida. Nem tudo havia saído como esperava. Formou-se em economia por
influência do pai. Isso por que durante a ditadura militar os economistas
estavam em alta. Eles quase não saiam da mídia, para, entre outras coisas,
falar sobre conglomerados financeiros.
– Economia é a profissão do futuro –
profetizava o pai.
– Se o senhor pensa assim, sigo seu conselho.
Depois de formado, Belizário pretendia aplicar
na prática o pouco que aprendera na universidade. Escreveu cartas a muitas
empresas oferecendo seus serviços. Também tentou concursos públicos. Tudo em
vão.
Próximo de seus quarenta anos, Belizário não
pensava em casamento. Trabalhar era seu único objetivo. A sua experiência nessa
busca ensinara-lhe a ter paciência e perseverança. Mas agora desconfiava não
poder contar com essas qualidades.
Alguns anos haviam se passado. Belizário ainda
morava com os pais, que já estavam um pouco curvados pela idade. O pai tentou
ajudá-lo, procurando um general do exército por quem tinha especial admiração.
– Venho pedir-lhe, general, que o senhor
interceda por meu filho.
O general foi objetivo na sua resposta:
– O que pode um general de pijama fazer por
seu filho?
Essa negativa do general levou Belizário a uma
profunda depressão. Então não mais encaminhou seu currículo às empresas,
desistiu dos concursos públicos, e tornou-se recluso em seu quarto. Foi durante
esse período nebuloso que tomou uma drástica decisão:
– Vou me matar!
Mas não seria dessa vez que o atestado de
óbito de Belizário Lemos seria lavrado. Nessa primeira tentativa o medo travou
o dedo no gatilho do velho revólver.
– Na próxima vez eu me mato – disse para si.
Na segunda tentativa Belizário passou pela
mesma frustração. Mas não desistiria. Nas noites insones planejava o suicídio.
Nessa época, uma crise nervosa levou-o a quebrar a velha cristaleira com muitas
peças raras. Foi o sinal para executar seu plano.
– É hoje ou nunca!
Essa decisão ocorreu numa manhã ensolarada de
outono. Belizário deixou seu quarto e saiu em direção a um edifício na Rua da
Ladeira, no centro da cidade. Era o prédio escolhido para o que se propunha.
O elevador deixou Belizário no último andar.
Faltava um lanço de escada para chegar ao terraço. Já no alto sentiu-se
envolver por uma suave brisa do rio Guaíba. Não ficou indiferente à beleza da
paisagem à sua frente. Lá embaixo a vida continuava na sua normalidade.
Na Rua da Ladeira, as pessoas entravam e saiam
das lojas, dos bancos, dos bares. Entre um edifício e outro jazia Belizário
Lemos.
* * *
Acontece com muitos anônimos. Triste.
ResponderExcluirBeijos!
Un buen artículo, Pedro y es verdad ésta es una situación corriente…cuando se es rechazado del sistema y no hay valores que sostengan la vida…el ser se vuelve frágil. La grandeza del hombre está al interior…si eres capaz de amar eres capaz de todo.
ResponderExcluirFeliz Año 2013
Coisas das fragilidades humanas, Pedro. Bem descrito por aqui - um ser que tem dificuldades de lidar com as adversidades que acontecem a tantos. Sempre narrando com muita sensibilidade.
ResponderExcluirGosto de ler seus contos que são bem contados, amigo!
Triste viver....Eu se lá chegar, sei o que farei....
ResponderExcluirMas...no mundo de hoje, 'é o pão nosso de cada dia'..
Achei triste..
Abraço
Relembrando Chico Buarque....
ResponderExcluirMorreu como o cara da construção... atrapalhando o tráfego e o sábado.
Bela história....
A veces nos matan las expectativas. El no poder bajar el listón de lo que proyectamos para no defraudar a los nuestros..
ResponderExcluirMientras llegaba el soñado trabajo para el que se había preparado, quizá Belisario hubiera podido ganarse la vida como camarero, como albañil o pintor. Y mientras tanto, vivir.
Pero la presión que nos rodea puede paralizarnos. Y hundirnos.
Abençoada semana!!!!!!!!! Beijos
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ResponderExcluirEsse é o problema que atormenta todos que se formam que saem da faculdade com a cabeça e o coração a mil para enfrentar o mercado e se dão conta, em seguida, que o sonho não é bem assim... É luta, é sacrifício, e que pode virar desespero. Essa é uma das piores frustrações para quem se prepara anos e não vê seu esforço recompensado.
Lembras daquele arquiteto, que no desespero, foi ser ambulante? Viste (na TV) o rapaz formado em Direito que vai ser ambulante no período do Carnaval?
São as frustrações que levam à atitudes do teu Belisário. Coitado.
Belo conto, mais real impossível.
Beijinho aqui do lado!
Um drama bem real , esse do desemprego.
ResponderExcluirBoa semana
Uma vida triste com um final dramático.
ResponderExcluirInfelizmente, quando se perdem todas as esperanças, esse final parece ser o único caminho.
Um abraço
Maria
Pedro, que leitura agradável! Esperava que Belisário desistisse de seu intento, mas o final foi o que, desde o início, traçou. Não se vive a vida e os sonhos dos pais. Há inúmeros profissionais medíocres e infelizes, em razão de "escolhas" equivocadas. Não são preparados para as adversidades. Abraço.
ResponderExcluirUm drama bem real que afecta quase todos os países e famílias.
ResponderExcluirUm abraço.
Bom dia, Pedro,a realidade da vida descrita em seu maravilhoso conto.Infelizmente, o suicídio está sendo a solução para muitos problemas atuais. Parece ser tão fácil " matar-se".Refleti muito enquanto lia seu conto, pois aqui na minha cidade, houve vários suicídios em sequência, pareciam que haviam marcado datas, jovens e idosos. Fica sempre a pergunta :
ResponderExcluir- o que está havendo? Onde fica a fé, a esperança?
Talvez faltou a base familiar, mas sabemos que não é tão simples assim. Gostei do seu conto. Abraço!
Oi querida amigo, vim lhe desejar uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!
ResponderExcluirTan realista que recuerda una noticia de sucesos en la prensa. Parece que ésta falta de trabajo, de oportunidades, de cumplir las expectativas para las que has seguido unos estudios es la causa del sucidio de muchos hombres, al menos en España.
ResponderExcluirInteresante tema. Saludos cordiales. Franziska
Caro Amigo:
ResponderExcluirVocê é um escritor que nos prende ao que escreve com atenção e curiosidade, e este conto contundente mostra a desesperança e o fracasso de todos os sonhos de um ser humano.
Ótimo o desenrolar da estoria, embora triste.
Grande Abraço,
Léah
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirLi o seu conto, mas para mim poderia com certeza ser um relato de um caso real, o que mais observamos é cada vez mais ocorrência de suicídio, não consigo compreender o que leva um ser humano a tirar a única coisa que se tem de mais valioso que é a vida. Eu queria compreender o que se passa na mente dos suicidas, mas confesso, por mais que queira ,nunca comseguir.Não julgo, afinal não tenho esse direito, nas sinto por todos que tem que conviver sabendo que alguém que amava resolveu tirar a própria vida. Para tudo tem solucao,para a morte nao têm retorno.Triste Fim. Felizes dias para voce e Tais. Beijos.
Um conto que representa muitas das realidades de hoje. Infelizmente há muita gente sem esperança. Gostei do se jeito de narrar.
ResponderExcluirBeijo.
Sublime conjugação de palavras, perfazendo um texto muito interessante!
ResponderExcluirAbraço
Olá Pedro,
ResponderExcluirUm conto bem narrado sobre um drama vivido por aqueles que se deixam influenciar ou não buscam realizar-se através dos próprios sonhos. Quem faz o que gosta ou busca realizar o que gosta tem mais motivação para lutar, mesmo num mercado impiedoso. Percebe-se que Belisário tinha alma de fracassado, além de um espírito frágil, pois nem mesmo a beleza de uma paisagem foi capaz de tocar-lhe a alma e fazê-lo mudar de ideia. Talvez Belisário tenha sido fruto de uma formação equivocada, o que acontece em muitos lares, infelizmente.
Abraço.
Una historia de desesperanza, de frustración y de miedo, ese miedo a no llegar a ser lo que se espera o lo que esperamos de nosotros mismos, ese miedo que nos impide adaptarnos a lo que nos llega y seguir viviendo.
ResponderExcluirSaludos
Uma pena que ele não teve coragem para enfrentar o pai e fazer o que ele gostaria...A frustração é muito dura...
ResponderExcluirUma história muito bem narrada!
Um abraço!
Siempre acaba saliendo el sol...siempre.
ResponderExcluirBesitoss
¡Hola Pedro!!!
ResponderExcluirNo dejas un texto muy interesante para reflexionar y meditar: es un relato que pude ocurrir en la realidad, pues hay personas que en un momento de su vida envueltas en una depresión, le parece que todo es negro, que la vida no tiene sentido y son capaces de cometer el gran y definitivo error de su vida, o sea acabar con un bien preciado que Dios nos ha dado, que es la vida qué, aún con muchas contradicciones es bella y debemos luchar por ella. Como dice Inma, siempre acaba saliendo el sol. No desesperemos y cuidemos la depresión que puede jugarnos una mala pasada.
Ha sido un inmenso placer pasar a leerte, me gustaría hacerlo con más frecuencia pero no doy para más.
Te dejo mi gratitud y mi estima.
Un abrazo y se muy muy feliz.
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirVim lhe agradecer pelo seu carinho e preocupação e dizer que gracas a Deus meu amigo, estou bem, para ser sincera estou experimentado como é a felicidade rsrs. Lhe desejo de coraçao maravilhosos dias para vocês. Um grande abraço.
Buenos días Pedro, encantada de conocerte. He traducido tu texto y es muy lindo.
ResponderExcluirQue bela narrativa Pedro e com uma carga dramática que nos prende a atenção
ResponderExcluirUma pessoa frustrada incapaz de enfrentar de mudar o curso da sua frustração acaba cometendo um ato insano.
Um maravilhoso final de semana
Um abraço
Faltou-lhe um pouco de sanidade e calma.
ResponderExcluirUm conto muito interessante. Aplausos pra ti.
Ps.Obrigada pela companhia Pedro e me desculpe pela demora da resposta.
Estou com dificuldades em comentar com este perfil. Mas ja percebi que é o navegador. Terei que mudar.
Abraços
Triste y trágico es tu relato, pero no es pura fantasía que nace de la mente de un escrito.
ResponderExcluirEste hecho, como otros muchos parecidos, se suceden una y otra vez en distintas partes del mundo.
La falta de trabajo, el seguir dependiendo de los padres cuando ya se tiene la edad suficiente para poder trabajar... eso va minando poco a poco en la mente de las personas y, ante el fracaso. deciden cometer una locura.
Te dejo mis cariños y mis deseos de que tengas un estupendo fin de semana.
kasioles
Pedro Luso, interessante o conto, porque bem atual. Sabe-se que muitos jovens, deixam-se fazer velhos sempre contando com os pais, o que não se passa no caso que o conto focaliza. De qualquer modo, temos de convir que o suicídio, é sempre uma má solução.
ResponderExcluirAbraços
Olá, Pedro
ResponderExcluirGostei de seu conto, que, infelizmente, reflecte a realidade de muitos jovens (e menos jovens...) nos dias de hoje.
Sem emprego e sem perspectivas de futuro compreende-se que o desespero se aposse dessas pessoas e as leve a cometer suicídio.
Com votos de bom Domingo,
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Olá Pedro Luso intenso conto , o drama prende atenção do leitor.Emociona todo enrendo.Aplausos pela criação!Bjs de violetas
ResponderExcluirRealmente... uma alma atormentada!
ResponderExcluirBom domingo! Boa semana!
Beijinhos.
❤ه° ·.