MARIDO
TRAÍDO
– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Não
falta muito para Apolônio completar cinquenta anos. Por isso, anda
chateado, mais que isso, amedrontado por pensar que está velho.
Somente agora ele se preocupa com a idade, antes sua atenção esteve
sempre voltada para Berenice, com quem está casado há mais de vinte
anos, e para os dois filhos.
Esses
cinquenta anos, que está por fazer, têm levado Apolônio a pensar
no passado. Em casa, quando descansa, vem-lhe à mente sons e imagens
da infância e da adolescência. Para ele, que sempre disse ser
importante apenas o futuro, agora se incomoda com lembranças, que
nunca as quis ter.
Dia
destes, Apolônio lembrou-se do seu pai, quando lhe pediu para
estudar medicina, como ele. Naquele dia, faltou-lhe coragem para
dizer que tinha outros planos. Não o contrariou. No dia da
formatura, sentiu que os esforços empreendidos foram compensados
pela alegria refletida no rosto do velho médico.
Formou-se,
mas não prometeu que teria a mesma dedicação ao trabalho, que o
pai sempre teve. Não quis sequer especializar-se. Na primeira
oportunidade, prestou concurso e ingressou no serviço público.
Ficou feliz ao ser designado para a perícia médica, onde teria
pouco contato com doentes.
Nesta
tarde, Apolônio não se sente bem. O médico, chefe da repartição,
aconselha-o a voltar para casa. Na avenida, por onde vai, avista o
carro de Berenice à sua frente, dando sinal de luz para dobrar à
direita; ele segue a mulher, que se dirige para uma casa, quase
escondida entre árvores, onde termina a rua.
Apolônio
estaciona seu carro perto da casa, cuidando para que sua presença
não seja notada. Em meio às árvores, ele consegue ver outro carro
estacionado, e desconfia que se trata de um homem à espera Berenice.
Apolônio olha para o relógio, no painel do seu carro, que marca
dezesseis horas e alguns minutos.
Atento,
Apolônio vê o carro de Berenice aproximar-se de um pátio, em
frente à casa ensolarada, e estacionar ao lado de outro carro, que
ali já se encontrava. Ansioso para saber quem espera por Berenice,
Apolônio vê que ela sai do carro vai ao encontro de uma mulher
elegante, que a abraça e a beija.
No
pátio, em meio às árvores, Apolônio espera pacientemente. Logo
Berenice e a mulher elegante entram abraçadas na casa e desaparecem
de suas vistas. Mais calmo, Apolônio resolve ir à cafeteria de um
shopping, aonde fica até o início da noite, para não chegar em
casa antes de Berenice, que irá à porta para recebê-lo.
* * *
Olá Pedro.
ResponderExcluirTema forte disfarçado numa história contada duma maneira tão informal, como quem "não quer a coisa" - simplesmente maravilhoso esse jeito de nos mostrar a realidade da vida de pessoas de boas famílias, onde tudo parece perfeito, onde nada é o que parece, onde a comodidade e um machismo estranho tudo permitem. E vive-se nesse faz-de-conta que "minha vida é bela", até que se depara com o avançar do tempo e surge a inquietação.
Abço amigo
Carmem
Puxa, Apolônio até esqueceu que se sentira mal momentos antes...Afinal agora, ficava ali à espreita e NADA OFICIALMENTE pudera ver.Poderia até imaginar, mas...
ResponderExcluirEsperaria até a hora de voltar normalmente do trabalho e certamente Berenice lá estaria, como sempre pra lhe receber. Será fariam tudo normalzinho, um faz de conta que tudo segue bem? Fiquei pensando o final,rs Adorei a leitura! abraços, linda semana,chica
É, coitado do Apolônio, logo na entrada dos seus 50 anos, e meio preocupado. E aí sua mulher sai do armário, traindo-o, coisa que jamais esperava.
ResponderExcluirE como se desenrolará o caso daí pra frente com Berenice? Pelo fato de ser com uma mulher vai alterar alguma coisa? Pergunto isso porque Apolônio foi esperá-la em casa, sem que ela notasse nada. O que teu ótimo e intrigante conto causou em mim foi curiosidade! A vida apresenta certas surpresas aos que menos esperam... Mas é sempre triste um acontecimento desses - a traição. Seja com sicrana ou fulano.
Conto muito criativo e retrata a vida como ela é – como dizia Nelson Rodrigues, com suas traições, hipocrisias, ciúmes...
Beijinho daqui do lado.
Hola Pedro.
ResponderExcluirUna historia que por desgracia, es muy habitual de estos tiempos..
P:D.
Traducida tu página puedo leerte, aunque en algunas ocasiones me cueste recomponer las historias, quizá porque no haya buena traducción.
Abraço.
Yayone.
Oi, Pedro... coitado do Apolônio! de qualquer forma o seu orgulho masculino saiu ileso , afinal estava andando por seara alheia.
ResponderExcluirUm abraço
Hola Pedro, una que es muy usual en la vida, por desgracia.
ResponderExcluirEs un placer leerte, aunque tengo que traducir y luego entender en Español.
Que disfrutes la semana.
Un abrazo amigo Pedro.
Su texto provoca varias reflexiones. La joven mezcla de cobardía y amor que impidió al estudiante plantar cara al deseo paterno, cuando diseñó para él un futuro alejado de sus sueños. El cumpleaños que obliga a revisar lo vivido.
ResponderExcluirEn cuanto a la traición… ¡Ay!
Como se complica la vida el ser humano...
Muy buen relato, muy ajustado a la realidad del mundo de hoy...el engaño ....o traición...no solo por parte de la mujer, indistintamente sucede en ambos casos y en este con otra mujer el encuentro furtivo de Berenice....
ResponderExcluirAbrazo Pedro
Uma história que me deixou presa à sua narrativa. Percebo a inquietação do Apolônio. E fico a pensar na realidade deste encontro...
ResponderExcluirUm abraço, amigo.
La vida nos lleva muchas veces a estas circunstancias, el no seguir lo deseado de los padres y el sentirse engañado por la pareja, que lástima no poder lograr lo ideal.
ResponderExcluirUn saludo
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirUma bela historia cheia de interrogações, primeiro sobre o Pai do Apolônio , que fez questão que o filho o segui-se na sua profissão, por aqui foi a mesma coisa, porem a tempo percebi que a minha filha estava infeliz por seguir medicina para seguir os passos do seu Pai, mas graças a Deus um belo dia ela pediu para conversamos, e me disse que queria largar tudo e ser advogada, tomei um baita susto, fiquei atônica. Ate cometei no blog, sem entrar em detalhes o dia de vitoria da minha filha, e esse dia foi o dia que ela largou tudo e se matriculou na faculdade de direito, ela começará no dia 19 de agosto, depois disso eu pude ver o alivio e a felicidade da minha filha. Fiquei culpada por não ter percebido antes. Não podemos querer que nossos filhos sigam os nossos passos, o de quem que seja, mas façam o que querem para seres felizes. Quanto a traição da esposa, se é que isso de fato aconteceu, pois a maldade existe também nas mentes humanas, poderia ser uma grande amiga etc. Mas se de fato foi uma traição a ficha ainda não caiu para o coitado do Apolônio , que iria precisar ver um ato mais complementador, para acordar que estava de fato sendo traído. Mas no meu ponto de vista preveria ser traída por outra mulher, do que pelo um homem rsrs. Mas tem pessoas que pensam diferente, o melhor mesmo afinal é não ser traída rsrs, não está mais a fim, termina e pronto, afinal ninguém é de ninguém, e todos devem buscar sem feliz, mas com traição e mentiras no meu ponto de vista não pode ocorre felicidade, pois estarão no mundo de mentiras. Uma linda semana para vocês, enorme abraço.
Amigo Pedro
ResponderExcluirCoisas da vida, desde sempre as aparências enganam, mas há quem prefira viver de aparências mesmo com amargura, ao invés de chutar o pau da barraca e ser feliz, aliás deixar, no caso a Berenice seguir seu caminho e também ser feliz, já que ele não teve forças para escolher o seu profissional.
O Apolônio vai ser infeliz enquanto viver, mas seu conto foi muito feliz, gosto de seu estilo conciso que nos leva ao que interessa e envolve-nos na trama.Ótimo
Beijinhos, Léah
isto de ser médico à força arrasta consequências funestas.
ResponderExcluircomo a sua narrativa sabiamente sugere...
abraço, meu amigo
~~~
ResponderExcluirUm marido ingénuo...
A traição, para mim, é mais do que um ato extremamente desprezível
que repudio, é um asco visceral...
Por mais difícil que seja a situação, não admito que não a resolvam!
Muito bem contado, deixando espaço para a criatividade do leitor.
Um abraço, Pedro.
~~~~~~~~~~
Oi amigo, vim lhe desejar uma ótima semana!!
ResponderExcluirDesculpe a ausência!! Tentarei visitar os blogs amigos assim que possível!!
Abraços e fique com Deus!!
Oi Pedro! Boa tarde!
ResponderExcluirÓtimo texto, e muito bem narrado.
E que triste essa tal de traição! É preferível ser verdadeiro, e tentar os dois serem felizes!
Um grande abraço amigo,
Mariangela
¡Apolonio está listo para la crisis de los 50!.
ResponderExcluirQue puede ser muy beneficiosa, porque en ella se
hace una evaluación de la hoja de ruta y se cambia
de dirección.
Um abraço, Pedro
ja que fazem anos que são casados, deveria conhecer melhor a mulher com quem vivia, sem pestanejar julgou, mas queria ver com os próprios olhos, até que conclui seu erro...parabéns um belo texto que nos diz que pode parecer, mas pode não ser...gostei
ResponderExcluirComo habitualmente um conto que nos prende até ao final.
ResponderExcluirPobre Apolónio, que triste e dolorosa situação.
Que iria ele fazer?
Um abraço
Maria
Belíssimo texto! Um conto relatando a desconfiança do marido e que na verdade se tratava apenas de um encontro entre duas amigas. Uma bela noite
ResponderExcluirUma traição... diferente... talvez por não se tratar de um encontro com um homem... Apolônio aceite esta suposta traição... que o poderá ser ou não... pois poderá ser apenas um encontro de amigas... ou, no limite, um encontro amoroso, com outra mulher... o texto não entra em detalhes... mas faz-nos reflectir, porque razão, ele fica a aguardar que ela chegue a casa...
ResponderExcluirSempre uma história, com um desenvolvimento inesperado, pelo que vejo!
E mais um texto fantástico!
Abraço! Boa semana!
Ana
Subscrevo as palavras da Ana Freire.
ResponderExcluirAchei interessante e afinal, sempre será melhor uma traição assim... rsrsrs...
abraço
Aprecio muito esta sua excelência (sempre) na narrativa
ResponderExcluire com o desfecho incomum.
Os seus contos acionam ao leitor, dialogar com o texto.
Parabéns por mais este excelente conto!
Os espaços: seu e da Taís são preciosos!!
Abraço, amigo poeta.
Como siempre Pedro nos haces que pensar. No sabemos quien es esa mujer. Puede ser una amiga, una hija secreta, o...Mejor no pensemos mal.
ResponderExcluirEl caso es que el bueno de Apolonio se va contento a casa.
Un abrazo desde el caluroso Madrid
Sugerente...sorprendente...¡Como la vida misma!
ResponderExcluirAhora nos toca a los lectores imaginar el final: ¿le pedirá explicaciones? ¿Hará como si todo siguiera igual? ¿No tiene ganas de disputas y acepta la situación? ¿Le contará ella algo?
ResponderExcluirNos gustaría saber el final que ha pensado usted para el cuento.
:)
OI PEDRO!
ResponderExcluirE AGORA?
APOLÔNIO VAI ENGOLIR ESSA OU PEDIRÁ EXPLICAÇÕES A MULHER?
QUEM SABE CONTINUAS O CONTO?
CONFESSO QUE LI SEM PESTANEJAR, QUERENDO SABER O FINAL.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Muy buen relato.
ResponderExcluirCómo será su final?.
Un abrazo. Feliz mes de Julio.
El pensamiento es libre y las explicaciones pueden ser variopintas. Quiero entender que el relato debemos completar a nuestro gusto. Sea lo que sea, parece que es algo que se le oculta al marido y esto por aalgo será. ¿No es verdad?
ResponderExcluirHe pasado a saludar como estoy haciendo con otros blog amigos porque, como ya habrá notado, hace más de cinco meses que no he vuelto a publicar. Creo que volverée a hacerlo en breve pues ya estaba echando de menos vuestros relatos. Saludos cordiales. Franziska
Um conto interessante, a mulher traindo o marido, e ainda por cima com um final que eu não esperava; trair o marido com outra mulher foi uma surpresa. Não sei como vai reagir o Apolónio, mas creio que ficou mais tranquilo por ter sido com outra mulher; se assim for é por puro machismo, pois traição é traição seja com outo homem ou mulher. Não estamos acostumados a estas coisas, mas é cada vez mais comum. Sei que o conto acaba aqui, pelo menos tem sido assim, mas gostava de saber a reacção do Apolónio. Bom fim de semana, Pedro. Um beijinho
ResponderExcluirEmilia
¡Hola Pedro!
ResponderExcluirBueno cincuenta años no es nada!!! Si por bien es, le quedan muchos por vivir. Es verdad que cuando avanzamos en edad,casi todos/as viajamos al pasado, a nuestra niñez y juventud, vamos haciendo un repaso de la vida pasa de esas huellas que fuimos dejando atrás, pero eso no es malo, pues para mirar al futuro, es necesario mirar al pasado para no cometer los mismos fallos.
Ha sido un placer pasar por esta tu casa de la que se respira buena fragancia" que tus letras expanden.
Te dejo mi inmensa estima y gratitud.
Un beso y se muy muy feliz.
Hasta septiembre, si Dios quiere.
Chauuuu
Interesante relato, me encantaría que continuara. Besos y buen día.
ResponderExcluirMuy bueno y da que pensar.
ResponderExcluirBesos
uma traição diria eu imprevista.
ResponderExcluirinteressante
boa semana.
beijinho
:)
O que será que será? Vamos acompanhar a vida de Apolônio para saber as ilações daqui para a frente.
ResponderExcluirMachista como deve ser, há de perguntar-se: com uma mulher?
Pode-se afirmar que seria o plano de imanência na coexistência de sensações clitorianas? Como saber?
Forte abraço,
Um conto que no fundo retrata bem muitas situações bem reais e infelizes!
ResponderExcluirUm abraço
E o que fez Berenice com aquela mulher Apolônio não questionou.
ResponderExcluirRecuperando do incômodo criou um incômodo maior que fica na mente.
Muito bom com este suspense que fica.
Abraços Pedro.