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21 de abr. de 2012

[Poesia] EDGAR ALLAN POE – Para Helena



- PEDRO LUSO DE CARVALHO

EDGAR ALLAN POE descende de uma família pobre. Seus pais eram artistas ambulantes. Quando eles morreram o menino ainda não tinha completado três anos. Um casal escocês supriu a sua falta de filhos adotando-o. No registro civil seu nome passou a ser o mesmo de seus adotantes: Allan. Os pais adotivos matricularam o filho num colégio em Glasgow, Escócia. Depois, também no regime de internato, passou a estudar em Londres. Com a mudança da família para os EUA, em 1820, o menino (de volta ao seu país), ingressou numa escola particular de Richmond, Virginia.
Em 1823 ingressou na Universidade de Virginia, em Charlotteville, onde permaneu por apenas um ano. Motivo de ter deixado os estudos: seu pai decidiu que ele não voltaria a estudar nessa universidade em razão de seu comportamento com relação ao vício do álcool e do jogo. A sua situação junto à família tornou-se insustentável. Poe então muda-se para Boston e ingressa no exército (West Point), deixando-o três anos mais tarde.
No ano de 1829 morreu sua mãe adotiva. Nesse mesmo ano Poe lançou a primeira edição de “Tarmelane and other poems”. Após o rompimento com seu pai passou a viver sob a proteção de Maria Clemm, sua tia. Com esta e sua prima, mudou-se para Baltimore. Em 1835 casou com a prima Virgínia, que contava com apenas treze anos de idade.
Após o casamento, Poe tentou distanciar-se do álcool, mas não obteve êxito. Em 1841 sua jovem esposa é acometida de uma grave doença, que, em 1847, a levaria à morte. A partir daí a saúde de Poe passou a debilitar-se ainda mais. E morre em 1849 , com apenas quarenta anos, num triste final que contrasta com a riqueza da obra do escritor, do crítico literário e do poeta: foi recolhido das ruas bêbado e levado a um hospital da cidade.
Poe legou-nos uma obra nesses gêneros de inestimável valor. Seu gênio ultrapassou as fronteiras norte-americanas; na França foi acolhido com grande entusiasmo por Baudelaire, Mallarmé e por fechado grupo de escritores e poetas eruditos de Paris, que se encarregaram de fazer a divulgação de sua poesias e contos na Europa.
Edgar Allan Poe nasceu em Boston a 19 de janeiro de 1809 e morreu em Baltimore a 7 de outubro de 1849. Hoje vemos que o seu gênio foi reconhecido em seu país, na Europa, e, mais tarde, em praticamente em todo o mundo Ocidental. Seu poema mais conhecido: The Raven (O Corvo). Abaixo, transcrevo o poema “Para Helena”, de Poe:

PARA HELENA


Vi-te uma vez, só uma, há vários anos,
já não sei dizer QUANTOS, mas NÃO MUITOS.
Era em junho; passava a meia-noite
e a lua, em ascensão, como tua alma,
nos céus abria um rápido caminho.
O luar caía, um véu de seda e prata,
calma, tépida, embaladoramente,
em cheio, sobre as faces de mil rosas,
que floreciam num jardim de fadas,
onde até o vento andava de mansinho.
Caía o luar nas faces dessas rosas,
que morriam, sorrindo, no jardim
pela tua presença enfeitiçado.

Toda de branco, vi-te reclinada
sobre violetas; e o luar caía
sobre as faces das rosas, sobre a tua,
voltada para os céus, ai! de tristeza!

Não foi o Destino, nessa meia-noite,
não foi o Destino (que é também Tristeza)
que me levou a esse jardim, detendo-me
com o incenso das rosas que dormiam?
Nenhum rumor. O mundo silenciava.
Só tu e eu (meu Deus! Como palpita
o coração, juntando estas palavras!) ...
Só tu e eu... Parei... Olhei...
E logo todas as coisas se desvaneceram.
(Lembra-te: era um jardim enfeitiçado.)

Fugiu a luz de pérola da lua.
Os canteiros, os meandros sinuosos,
flores felizes, árvores aflitas,
tudo se foi; o próprio odor das rosas
morreu nos braços do ar que as adorava.

Tudo expirara... Tu ficaste... Menos
que tu: a luz divina nos teus olhos,
a alma nos olhos para os céus voltados.
Só isso eu vi durante horas inteiras,
até que a lua fosse declinando.
Ah! que histórias de amor se não gravavam
nas celestes esferas cristalinas!
que mágoas! Que sublimes esperanças!
que mar de orgulho, calmo e silencioso!
e que insondável aptidão de amar!

Mas, afinal, Diana se sepulta
num túmulo de nuvens tormentosas.
Tu, como um elfo, entre árvores funéreas,
deslizas, Só TEUS OLHOS PERMANECEM.
NÃO QUISERAM fugir e não fugiram
Iluminando a estrada solitária
de meu regresso, não me abandonaram
como fizeram minhas esperanças.

E ainda hoje me seguem, dia a dia.
São meus servos – mas eu sou seu escravo.
Seu dever é luzir em meu caminho;
meu dever é SALVAR-ME por seu brilho,
purificar-me em sua flama elétrica,
santificar-me no seu fogo elíseo.
Dão-me à alma Beleza (que é Esperança).
Astros do céu, ante eles me prosterno
nas noites de vigília silenciosa;
e ainda os fito em pleno meio-dia,
duas Estrelas-d'Alva, cintilantes,
que sol algum jamais extinguirá.


*  *


REFERÊNCIAS:
Poemas e Ensaios. Edgar Allan Poe. Tradução de Osmar Mendes e Milton Amado. Revisão e notas de Carmen vera Cirne Lima. 3ª ed. revista. São Paulo: Globo, 1999.




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Pedro Luso de Carvalho