- PEDRO
LUSO DE CARVALHO
EDGAR ALLAN
POE descende de uma família pobre. Seus pais eram artistas
ambulantes. Quando eles morreram o menino ainda não tinha completado
três anos. Um casal escocês supriu a sua falta de filhos
adotando-o. No registro civil seu nome passou a ser o mesmo de seus
adotantes: Allan. Os pais adotivos matricularam o filho num colégio
em Glasgow, Escócia. Depois, também no regime de internato, passou
a estudar em Londres. Com a mudança da família para os EUA, em
1820, o menino (de volta ao seu país), ingressou numa escola
particular de Richmond, Virginia.
Em 1823
ingressou na Universidade de Virginia, em Charlotteville, onde
permaneu por apenas um ano. Motivo de ter deixado os estudos: seu pai
decidiu que ele não voltaria a estudar nessa universidade em razão
de seu comportamento com relação ao vício do álcool e do jogo. A
sua situação junto à família tornou-se insustentável. Poe então
muda-se para Boston e ingressa no exército (West Point), deixando-o
três anos mais tarde.
No ano de 1829
morreu sua mãe adotiva. Nesse mesmo ano Poe lançou a primeira
edição de “Tarmelane and other poems”. Após o rompimento com
seu pai passou a viver sob a proteção de Maria Clemm, sua tia. Com
esta e sua prima, mudou-se para Baltimore. Em 1835 casou com a prima
Virgínia, que contava com apenas treze anos de idade.
Após o
casamento, Poe tentou distanciar-se do álcool, mas não obteve
êxito. Em 1841 sua jovem esposa é acometida de uma grave doença,
que, em 1847, a levaria à morte. A partir daí a saúde de Poe
passou a debilitar-se ainda mais. E morre em 1849 , com apenas
quarenta anos, num triste final que contrasta com a riqueza da obra
do escritor, do crítico literário e do poeta: foi recolhido das
ruas bêbado e levado a um hospital da cidade.
Poe legou-nos
uma obra nesses gêneros de inestimável valor. Seu gênio
ultrapassou as fronteiras norte-americanas; na França foi acolhido
com grande entusiasmo por Baudelaire, Mallarmé e por fechado grupo
de escritores e poetas eruditos de Paris, que se encarregaram de
fazer a divulgação de sua poesias e contos na Europa.
Edgar Allan
Poe nasceu em Boston a 19 de janeiro de 1809 e morreu em Baltimore a
7 de outubro de 1849. Hoje vemos que o seu gênio foi reconhecido em
seu país, na Europa, e, mais tarde, em praticamente em todo o mundo
Ocidental. Seu poema mais conhecido: The Raven (O Corvo). Abaixo,
transcrevo o poema “Para Helena”, de Poe:
PARA HELENA
Vi-te
uma vez, só uma, há vários anos,
já
não sei dizer QUANTOS, mas NÃO MUITOS.
Era em
junho; passava a meia-noite
e a
lua, em ascensão, como tua alma,
nos
céus abria um rápido caminho.
O luar
caía, um véu de seda e prata,
calma,
tépida, embaladoramente,
em
cheio, sobre as faces de mil rosas,
que
floreciam num jardim de fadas,
onde
até o vento andava de mansinho.
Caía
o luar nas faces dessas rosas,
que
morriam, sorrindo, no jardim
pela
tua presença enfeitiçado.
Toda
de branco, vi-te reclinada
sobre
violetas; e o luar caía
sobre
as faces das rosas, sobre a tua,
voltada
para os céus, ai! de tristeza!
Não
foi o Destino, nessa meia-noite,
não
foi o Destino (que é também Tristeza)
que me
levou a esse jardim, detendo-me
com o
incenso das rosas que dormiam?
Nenhum
rumor. O mundo silenciava.
Só tu
e eu (meu Deus! Como palpita
o
coração, juntando estas palavras!) ...
Só tu
e eu... Parei... Olhei...
E logo
todas as coisas se desvaneceram.
(Lembra-te:
era um jardim enfeitiçado.)
Fugiu
a luz de pérola da lua.
Os
canteiros, os meandros sinuosos,
flores
felizes, árvores aflitas,
tudo
se foi; o próprio odor das rosas
morreu
nos braços do ar que as adorava.
Tudo
expirara... Tu ficaste... Menos
que
tu: a luz divina nos teus olhos,
a alma
nos olhos para os céus voltados.
Só
isso eu vi durante horas inteiras,
até
que a lua fosse declinando.
Ah!
que histórias de amor se não gravavam
nas
celestes esferas cristalinas!
que
mágoas! Que sublimes esperanças!
que
mar de orgulho, calmo e silencioso!
e que
insondável aptidão de amar!
Mas,
afinal, Diana se sepulta
num
túmulo de nuvens tormentosas.
Tu,
como um elfo, entre árvores funéreas,
deslizas,
Só TEUS OLHOS PERMANECEM.
NÃO
QUISERAM fugir e não fugiram
Iluminando
a estrada solitária
de meu
regresso, não me abandonaram
como
fizeram minhas esperanças.
E
ainda hoje me seguem, dia a dia.
São
meus servos – mas eu sou seu escravo.
Seu
dever é luzir em meu caminho;
meu
dever é SALVAR-ME por seu brilho,
purificar-me
em sua flama elétrica,
santificar-me
no seu fogo elíseo.
Dão-me
à alma Beleza (que é Esperança).
Astros
do céu, ante eles me prosterno
nas
noites de vigília silenciosa;
e
ainda os fito em pleno meio-dia,
duas
Estrelas-d'Alva, cintilantes,
que
sol algum jamais extinguirá.
* *
REFERÊNCIAS:
Poemas e
Ensaios.
Edgar Allan Poe. Tradução de Osmar Mendes e Milton Amado. Revisão
e notas de Carmen vera Cirne Lima. 3ª ed. revista. São Paulo:
Globo, 1999.
* * *
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Pedro Luso de Carvalho