– PEDRO LUSO DE CARVALHO
O hábito da leitura deve
começar bem cedo, já na infância. Mas se nessa fase da vida a criança não se
sentir suficientemente estimulada a conviver com os livros, em que pese à
insistência de seus pais e professores, ainda se tem a fase da adolescência
para que esse hábito seja criado. O que não se pode admitir é que os seus
mentores sintam-se derrotados ante os primeiros insucessos.
E se passadas essas duas
primeiras fases os livros ainda estiverem distantes do dia-a-dia das pessoas,
não se quer dizer com isso que os adultos não poderão adquirir o hábito da
leitura; a pessoa adulta consciente deve saber que o conhecimento facilita a
sua vida, que a cultura faz com que as portas se abram para ela, que vive num
mundo cada vez mais exigente a esse respeito.
O fato é que muitos são
os motivos que desviam crianças e adolescentes da leitura em nosso país, que
ainda não saiu da sua condição de pobreza. Para o pai ou a mãe que ganham um
salário-mínimo ou um pouco mais que isso por mês, para sustento de sua família,
é evidente que nada sobra para os livros, que, diga-se, estão muito caros,
mesmos os livros usados, que são encontrados nas livrarias conhecidas como
‘sebo’.
Nessas livrarias, que
vendem livros usados, este ou aquele livro pode ser adquirido por preço quase
insignificante, mas isso, no entanto, não se constitui em regra. Pelo
contrário, tenho verificado que aí esses livros usados estão também com preços
muito elevados, sem que para isso se encontre justificativa, já que os
livreiros os compram por preços quase que simbólicos, para depois revendê-los.
Por esses motivos, poucas
são as casas de brasileiros que têm uma pequena prateleira com livros, sem
falar em biblioteca, que, nesse caso, para o nosso país seria uma desmedida
pretensão. E aqui não estamos nos referindo a casas de pessoas pobres,
obviamente. Falamos de casas de pessoas da classe média e das pessoas
abastadas, que, por certo, não sentiriam o peso dos preços dos livros, caso
viessem a comprá-los.
Por este ou por aquele
motivo, não se adquire o hábito da leitura. A regra, infelizmente, é a ausência
de livros nas casas dos brasileiros, salvo raríssimas exceções. E, com essa
ausência, não se pode pretender que crianças e adolescentes se sintam
estimulados à leitura. Não se podem desconhecer os mistérios que os livros
provocam nessas criaturas, que, quando podem, abrem-nos para matar a sua curiosidade
– e é justamente aí que começa o hábito da leitura.
Outro óbice para que
crianças e adolescentes passem a se interessar e gostar de livros está na
ausência de bibliotecas públicas nas pequenas cidades e nas cidades de porte
médio. Até nas importantes capitais do país se depara com poucas bibliotecas.
Com isso se nota que o poder público não está interessado em aplicar verbas em
bibliotecas, que, certamente, não lhes dão votos. Esses mesmos políticos temem
que eleitores esclarecidos não os escolham para representá-los, quando
pleiteiam um determinado cargo.
Resta-nos a esperança que
livros mais baratos sejam editados, o que será possível, sem dúvida, se os
editores tiverem por alvo as pessoas pobres, que não têm a exigência de capas
sofisticadas e de papel da melhor qualidade. Não quero dizer com isso que o
livro sofisticado, na sua apresentação, deva desaparecer; acho que, ao lado
deles (dos livros caros), devem ser editados livros de baixo custo, mesmo que
sejam subsidiados pelo Governo, que fiquem ao alcance das pessoas de poucas
posses.
Ao barateamento do livro
deve somar-se a abertura de bibliotecas públicas em todas as cidades do país,
em número que seja proporcional a de seus habitantes. Assim, existindo
bibliotecas com um bom acervo de livros de bons escritores, crianças e
adolescentes passarão a lê-los, não tenho a menor dúvida.
Nesse caso, os
professores se encarregarão de mostrar o caminho da biblioteca aos seus alunos.
Resta-nos ainda essa esperança (livro de baixo custo e bibliotecas públicas),
para que, no futuro, o brasileiro passe a contar com os benefícios da leitura.
* * *
Boa noite! Livros estão sendo substituidos por video games, infelizmente. Acho que nem é a dificuldade financeira.É a má vontade mesmo.
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