O VELHO
FERROVIÁRIO
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
O velho ferroviário acorda antes que soe a campainha do velho relógio.
Desliga-o para que a mulher continue dormindo. Ainda falta mais de hora para
nascer o sol. Vai até a cozinha, já uniformizado, esquenta água e leite para a
primeira refeição. Parte pela metade o pão que se encontra na gasta cesta de
vime, sobre a mesa rústica. Apressa-se
para chegar no horário. Tem muito que fazer na estação, quando o trem cruzar a
fronteira. Vem do Uruguai e segue para o centro do país. A mulher esgueira-se
até a janela para ver o marido sair. Lá fora o vento minuano zune fortemente.
Curva árvores e moitas. Logo uma nuvem de poeira tira-o de suas vistas.
É quase noite quando ouve barulho na porta. É o marido que retorna da
estação. Há brilho nos seus olhos. Nos ouvidos, o som do apito do trem, que se
espalha pelo pampa. A densa barba grisalha esconde a melancolia que traz no
rosto. Deixa transparecer apenas o tímido sorriso. A mulher vê a mesma cena
repetir-se desde o dia em que os trens deixaram de circular. Só não lembra mais
quantos anos se passaram desde esse dia.
– Até onde o meu pobre velho levará essa maldita ilusão? – pergunta a
mulher para si mesma, com voz cansada.
*
* *
Que maravilha,Pedro! Tantos anos na mesma rotina, tantos anos cheios de obrigações...
ResponderExcluir"Tirar" o barulho dos apitos dos trens dos ouvidos não é fácil... Na certa os levará até que embarque para a sua última viagem...LINDO! abraços, tudo de bom,chica
Pedro Luso
ResponderExcluirO conto representa um espírito contista, da velha tradição "short story", em que o final é sempre diferente do que o leitor espera.
Como aprecio o género, posso dizer: imaginativo!
Abraço
Un relato muy bonito para contar una jornada que se repite todos los días a la misma hora de salida y de entrada.
ResponderExcluirAl leerlo he sentido un poco de nostalgia, pero me ha gustado mucho.
Preciosa la pintura de la estación.
Un abrazo.
Un brano che mette in risalto l'andar del treno nel tempo, e il fare costante delle persone, con un pò di nostalgia....
ResponderExcluirE' un piacree leggerti, Pedro, felice sera,silvia
Me ha dejado el corazón encogido por la cantidad de matices de su relato con sorpresa final. Por todo lo que significa. Por el amor completo y sin fisuras de esa esposa que comprende la obsesión del marido ya mayor, que ha optado por cerrar los ojos a la realidad como protección contra el dolor. Salvaguardia contra la locura del hombre, ese pitido eterno que mientras lo acompañe mantendrá siempre vivo el brillo en sus ojos.
ResponderExcluirCuánta pena en cada uno de los pueblos que han perdido su línea de tren, y con él, su historia. Ha sido un placer leerlo.
Um pequeno conto que consegue conter toda uma vida com suas dores e ilusões...muito bom.
ResponderExcluirGostei de conto do velho ferroviário,
ResponderExcluircomo era de verdade, antigamente,
por isso escrevo este curto comentário
desejando-lhe uma boa noite, e até sempre!
E a terra é constantemente ferida pelo ser humano, esquecendo-se este de que a terra sempre vence; mais tarde ou mais cedo, ela se recupera, pois tem um poder de regeneração incrivel. O homem, esse sim, vai sucumbir e ser engolido pela terra que ele a todo o custo tenta destruir
ResponderExcluirr. Mas não é só a terra que sofre nas mãos do homem, o próprio homem carrega dores provocadas pelo ser humano, pelo progresso, dores que muitas vezes o acompanharão até aquela altura em que a terra o cobrirá, numa despedida definitiva. Terra e homem, ligados para sempre, embora muitas vezes não entendamos isso; um e outro com sofrimentos causados pelo passar do tempo, pela insensatez do ser humano, pelo progresso e desenvolvimento das sociedades, progresso que não se soube usar com equilibrio e que , como todos sabemos, tem causado muita dor. Belo conto, Pedro. Um beijinho
Emilia
É o retrato de uma vida dedicada com afinco ao trabalho para no fim curtir somente as lembranças de um tempo em que ouvir o apito do trem era motivo salutar de felicidade. E levará em sua última viagem não a ilusão mas alegria que eternizou no coração. Belíssimo conto, Pedro
ResponderExcluirUm abraço e boa semana
O que era a vida sem ilusões????
ResponderExcluirUm belo texto meu amigo que me deliciou.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
assim são os homens que morrem de pé - como algumas árvores.
ResponderExcluirbelo texto. adorei.
forte abraço
OI PEDRO!
ResponderExcluirME FIZESTE VIAJAR NESTE TREM DA SAUDADE, CRESCI EM SANTA MARIA, CENTRO FERROVIÁRIO DO ESTADO E MUITO CORRI, QUANDO EM CRIANÇA PARA VÊ-LO PASSAR. UMA PENA QUE TENHA SIDO EXTINTO POIS ALÉM DE UM TRANSPORTE BARATO, GERAVA MUITOS EMPREGOS, SAUDADES MESMO.
MAS, NÃO POSSO SAIR SEM ELOGIAR TEU BELO E EMOCIONANTE TEXTO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
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ResponderExcluirBelo conto meu amigo Pedro...
ResponderExcluirHá coisas na nossa vida que viverão para todo o sempre...
Bjo e uma ótima semana
Quem sabe, o amor ao trabalho lhe deixou essas lembranças, hoje transformadas no seu principal alimento, razão da sua existência?
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
Meu caro Pedro,
ResponderExcluirQue belo texto! Que bela condensação! E quanta delicadeza e poesia. Tirei o meu chapéu!
Forte abraço,
Percibo rutina pero también amor por el trabajo.
ResponderExcluirPedro:adorei encontra o seu espaço...voltarei vezes mais..abraços meus.
ResponderExcluirHola Pedro, gracias por tu visita y comentario.
ResponderExcluirTrabajar de sol a sol es el destino del ser humano.
Mientras ese viaje en el tren de la vida dura del nacimiento a la muerte.
Muy buen relato.
Un abrazo.
Ambar
Hay que reconocer que los humanos somos animales de costumbres.
ResponderExcluirAl viejo ferroviario ya no le hacía ni falta poner el despertador todas las mañanas para levantarse, antes de que sonase ya estaba despierto.
Y sin poder remediarlo, seguía con la misma rutina de tantos años atrás ¡lo que nos cuesta cambiar!
Te lo digo por experiencia.
Me ha encantado tu relato.
Cariños.
kasioles
gracias amigo ...esta leyenda me ha recordado amigos ferroviario maquinistas del ferrocarril eléctrico...
ResponderExcluirgracias por tu visita
abrazos
Excelente o seu conto, uma bela e triste história,
ResponderExcluirmas "trilhada" na delicadeza do amor!...
A pintura é belíssima e perfeita na ilustração para o conto.
Parabéns, Pedro!
Abraço.
Meu caro dr Pedro, comovente, belo, triste, muito bem escrito, perfeito, e pensar que as ferrovias que fizeram parte de minha vida quando pequeno, da minha família que viajava de trem, e hoje as estação são fantasmas que alguns trilhos de ferroo perdidos no meio dos arbustos que crescem sem cerimônia. Existe muita saudade, muita vida desfeita, muitos sonhos destruídos. E mesmo assim sua escrita sai leve, livre, como se saísse de uma estação e chegasse na outra, como se a vida continuasse, e não se precisaria fazer a pergunta que serve como um ponto final, até quando nos iludiremos ?
ResponderExcluirDr Pedro acho que estava esperando um texto assim, fazer uma leitura como a que acabei de fazer lendo aqui. Só posso agradece-lo este belo, melancólico e humano conto que me contas.
ps. Carinho respeito e abraço.
La routine ed il vivere quotidiano facendo quel lavoro, ha fatto affezionare quell'uomo all'unica vita che ha vissuto ed al pensiero di doverla lasciare per andare in pensione, lo rattrista molto, gli sconvolge l'anima. Un bel racconto che mette in evidenza la varia natura dell'essere umano, complimenti Pedro. Un caro saluto Grazia
ResponderExcluirUm texto que é uma verdadeira obra poética. Saudades de tempos vividos ...
ResponderExcluirUm abraço.
Élys.
Caro amigo Pedro, interessante vosso conto. Pois eu vi algo análogo na vida real.
ResponderExcluirNos anos 70, a Ceee tinha alguns escritórios na Rua Santana, ali no bairro do mesmo nome, e um dos funcionários lotado naquele local já havia passado do tempo da aposentadoria e teimava em continuar trabalhando. A muito custo convenceram a criatura a parar de trabalhar. O velhinho concordou, mas com uma ressalva: exigia uma mesa e uma máquina de escrever para brincar de trabalhar quando sentisse saudade da repartição. Pedido atendido, o homem aposentou-se, mas durante alguns anos, praticamente todas as tardes o cidadão ainda foi visto fazendo barulho numa velha Remington não elétrica.
Um abraço. Tenhas um ótimo feriadão.
Me ha gustado tu recreación de ese ferrocarril antiguo que casi todos hemos conocido. Y la hermosa historia de amor que va unido a el.
ResponderExcluirUn abrazo amigo
Una hermosa entrada que habla de la vida dura, y el trabajo sin fin, dicen que así debe ser, pero yo discrepo de lo poco que a veces la vida te da a cambio de tu vivir mísero y sin alegrías, o muy pocas. Una imagen de un ayer que siempre perdura en los ojos que quieren seguir viendo y sintiendo en otra época. Un saludo, gracias por visitarme en mi blog.
ResponderExcluirNão estava à espera desse final, extraordinário!!!
ResponderExcluirNão é fácil quebrar velhos hábitos, principalmente aqueles que nos deixavam felizes.
Um grande abraço
Maria
Me encantan los trenes porque siempre tienen un destino. Es la vida en movimiento. Como la del personaje de tu relato, que ha hecho de la rutina diaria su modo de vida ligado a unas costumbres que le ataran hasta el final.
ResponderExcluirPERO AL FINAL FUE AMOR ETERNO.
ResponderExcluirABRAZOS
É Pedro,
ResponderExcluirEu trabalhei muito até as dores chegarem. Nunca mais voltei, mas da uma pontinha de saudade.
Até quando/ Até a morte.
Beijos
Lua singular
Me ha gustado mucho , muy bello relato.
ResponderExcluirFelicitaciones Pedro
Abrazos
Bellisimo relato.
ResponderExcluirBesos
Un fin que no esperaba Pedro, muy bello post.
ResponderExcluirtengo problemas en mi blog de Rodar y Volar, no se actualiza.
AHora estoy editando en esto otro blog.
https://factoriapoetica.blogspot.com.es/
Por si te apetece entrar cuando puedas.
Un fuerte abrazo Pedro.
Feliz viernes
Me llevo tu blog al nuevo para no perderme ninguna entrada.
ResponderExcluirUn abrazo Pedro.
Me colocando no lugar da mulher do ferroviário... todos os dias vendo a mesma cena, a mesma ilusão, a mesma saudade dele e não conseguir fazer nada para suavizar a dor do companheiro. Mas é esse o curso da vida.
ResponderExcluirBela história, num conto pequeno passaste grande história de vida.
Beijinho daqui do lado!
Boa tarde, Pedro, seu conto nos leva a relembrar os bons tempos, quando o trem nos avisava a hora, nos avisava que era hora de levantar para ir à escola. O velho ferroviário, com certeza, precisava ficar mais um tempo a fazer o que mais gostava na vida, seu trabalho. Quando me aposentei, diversas vezes, inconscientemente, quando precisava dirigir até o centro da cidade, sem perceber estacionava em frente ao colégio, onde eu trabalhei por anos. Seu conto nos deixa com o gostinho de quero mais.Excelente!Abraços!
ResponderExcluirCaro amigo quando a pessoa se dedica com amor ao trabalho que fez durante longo tempo de sua vida, se desapegar da rotina, deixar de se sentir útil é sempre muito difícil e doloroso até para quem está vendo a situação se desenrolar sem nada poder fazer.
ResponderExcluirÉ uma bela história bem realista, Amei lê-la.
beijinhos, Léah
Muy lindo tu relato. Gracias y un beso.
ResponderExcluirHola Pedro.Obrigada por su visita a mi blog.Me ha encantado esta historia y la pintura bellísima.
ResponderExcluirUm abraço desde Valencia, Montserrat
Gracias Pedro por incorporarte a los seguidores de mi blog. Hago lo propio con el tuyo, digno de verse. Abrazo desde Chile.
ResponderExcluirSempre esta a nos surpreender com suas cronicas poeticas...
ResponderExcluirDeixo-te meu amigo um forte abraço... Espero-te em uanderesuascronicas.
Um conto cheio de sensibilidade. Há pessoas assim. Recusam aceitar que a vida os dispensa... Parabéns.
ResponderExcluirBeijos.
Pedro quando vi o titulo e a bela imagem, já me veio as lembranças de meus trens, que apitaram na minha infância, que brilhavam nos meus olhos de menino encantado contando vagões nas pontas dos dedos e sonhando viajar neste trem para ver o mar de Vitória.
ResponderExcluirHistoria que se realiza creio eu em muitos lugares, plataformas espalhadas por este país. O trem tem historia e fez historia na vida de muita gente, que incorporou o dia na vida e depois viu tudo parar, o apito calar.
Aplausos amigo, uma maravilha de criatividade/inspiração.
Um abração.
Un placer leer sus poéticas narraciones. Y más en su bello idioma, que me resulta encantador y emotivo.
ResponderExcluirGracias por participar en mi blog. Con mucho gusto hago lo mismo y agradecida de que un alma poética con ta bella pluma, me dedique su tiempo y palabras.
Saludos desde mi orilla mediterránea.