– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
O
poema "Alguns toureiros", de João Cabral de Melo Neto,
integra o livro Duas
Águas.
Poemas
Reunidos.
João
Cabral de Melo Neto.,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1956, p. 45-46.
Segue
o poema
Alguns
toureiros, de
João Cabral de Melo Neto:
ALGUNS
TOUREIROS
– JOÃO
CABRAL DE MELO NETO
Eu
vi Manolo González
e
Pepe Luís, de Sevilha:
precisão
doce de flor,
graciosa,
porém precisa.
Vi
também Julio Aparicio,
de
Madrid, como Parrita:
ciência
fácil de flor,
espontânea,
porém estrita.
Vi
Miguel Báez, Litri,
dos
confins da Andaluzia,
que
cultiva uma outra flor:
angustiosa
de explosiva.
E
também Antonio Ordóñez,
que
cultiva flor antiga:
perfume
de renda velha,
de
flor em livro dormida.
Mas
eu vi Manoel Rodríguez,
Manolete,
o mais deserto,
o
toureiro mais agudo,
mais
mineral e desperto,
o
de nervos de madeira,
de
punhos secos de fibra,
o
de figura de lenha,
lenha
seca da caatinga,
o
que melhor calculava
o
fluido aceiro da vida,
o
que com mais precisão
roçava
a morte em sua fimbria,
o
que à tragédia deu número,
à
vertigem, geometria,
decimais
à emoção
e
ao susto, peso e medida,
sim,
eu vi Manoel Rodríguez,
Manolete,
o mais asceta,
não
só cultivar sua flor
mas
demonstrar aos poetas:
como
domar a explosão
com
mão serena e contida
sem
deixar que se derrame
a
flor que traz escondida,
e
como, então, trabalhá-la
com
mão certa, pouca e extrema:
sem
perfumar sua flor,
sem
poetizar seu poema.
* * *
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Pedro Luso de Carvalho