– PEDRO LUSO DE CARVALHO
CARLOS
CARVALHO (Carlos José Gomes de Carvalho) nasceu em Porto Alegre, RS, no ano de
1939, onde faleceu, no ano de 1985, aos 46 anos. Nas décadas de 1970 e 1980
destacou-se na dramaturgia. Versátil, não se limitou a escrever para o teatro,
também foi poeta e contista. Ao Teatro deu sua contribuição não apenas com suas
peças, mas também como ator e diretor.
O livro
de contos, Calendário do medo deu ao seu autor, Carlos Carvalho, o II Prêmio no
Concurso Naional de Contos do Estado do Paraná. - FUNDEPAR.
Na Casa
de Cultura Mario Quintana, uma das salas de espetáculos leva o nome Carlos
Carvalho, uma homenagem da Secretaria de Cultura de Porto Alegre ao dramaturgo.
O conto Segunda-feira integra o livro de Carlos Carvalho, Calendário do medo, 3ª ed. Porto Alegre, Editora Movimento, 1975,
p. 43-44. Segue o conto:
[ESPAÇO DO CONTO]
SEGUNDA FEIRA
(Carlos Carvalho)
De manhã
cedo a mãe vai chamá-lo. Resmunga. De cuecas, arrasta os chinelos pela casa,
lava o rosto na água fria, demora-se no banheiro.
Enquanto
a mãe prega o botão na camisa, alisa o cabelo empastado de brilhantina. Olha o
relógio: sete e cinco. Tem ainda quarenta e cinco minutos. Boceja.
Em
criança, queria ser dentista. Com a morte súbita do pai, precisou trabalhar e
não sobrou tempo para o estudo. Recém saído do serviço militar, empregou-se
como vendedor numa firma de peças de automóveis. Aos trinta e cinco anos, ainda
lá continua, à espera de uma promoção.
Como o
ordenado é pequeno e ganha gratificações pelas vendas, trabalha da manhã à
noite. Foi, inclusive, citado pelo Diretor na festa do fim de ano e recebeu um
diploma de Honra ao Mérito, que a mãe emoldurou e colocou na parede.
Nos
sábados, à noite, vai ao cinema. Na volta, não se demora na rua, pois a mãe
sofre do coração e não pode ficar só. Nos domingos, acorda ao meio-dia, toma
uma cerveja no almoço e passa a tarde lendo revistas em quadrinhos, o cinzeiro
enchendo de pontas de cigarro.
– Você
,precisa casar, meu filho.
– Tem
tempo, mãe.
Coleciona
fotografias de mulheres nuas, que esconde no armário, embaixo das roupas. Na
rua caminha com passos lentos e pesados. A mãe diz que se parece com o pai.
Sorri sem abrir muito a boca, para esconder a falha do dente.
Ultimamente
tem sentido uma dorzinha enjoada na boca do estômago. Não conta à mãe, para não
assustá-la. Temendo que seja úlcera, bebe um copo de leite em cada bar que
entra.
Antes de
sair, lava a louça do café, que a velha não pode fazer esforço.
–
Depressa, meu filho, você vai se atrasar.
Pede
dinheiro à mãe, que guarda o seu ordenado, e veste a camisa, enquanto ela
recomenda:
–
Cuidado no atravessar a rua.
Alisa
ainda uma vez o cabelo, beija a mãe e sai. Da porta, ela abana, orgulhosa do
filho. E os passos dele, iniciando a semana, parecem os de um bicho se
arrastando penosamente.
*
* *
Qual são as ideias principais do texto?
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