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5 de jun. de 2012

[Conto] ERNEST HEMINGWAY / Uma Estória Muito Curta

              
Ernest Hemingway



              por  Pedro Luso de Carvalho


        ERNEST HWMINGWAY (Ernest Miller Hemingway), nasceu em Oak Park, Illinois, EUA, em 21 de Julho 1899, e morreu em Ketchum, Idaho, aos 2 de Julho 1961. Foi casado quatro vezes, e teve muitos casos amorosos. Era um dos seis filhos do médico Clarence Edmonds Hemingway (membro fervoroso da Primeira Igreja Congregacional) e de Grace Hall (cantora do coro da igreja). Ernest Hemingway pôs termo à sua vida da mesma forma que o fizera Clarence, seu pai: suicídio.

        Segue o conto Uma estória muito curta, de Ernest Hemingway (In Hemingway, Ernest. Contos. Tradução de  A. Veiga Fialho. Rio de Janeiro: Civilização Brsileira, 1965, p. 46-47):


                                                     [ESPAÇO DO CONTO]


                                               UMA ESTÓRIA MUITO CURTA
                                                                           (Hemingway)


        Certa noite quente, em Pádua, carregaram-no para cima do telhado para que ele pudesse olhar a cidade de cima. Depois de algum tempo começou  a escurecer, e os holofotes apareceram . Os outros desceram e levaram as garrafas. Ele e Luz podiam ouvi-los no balcão, embaixo. Luz estava sentada na cama. Estava calma e fresca na noite quente. 

        Luz ficara no turno da noite três meses a fio. Deixaram-na, satisfeitos. Quando a operaram, Luz o preparou para a mesa de operação, e fizeram piadas a respeito de amigos ou enemas.  Ele se deixaria anestesiar, mas procurava controlar-se para não dizer bobagens  durante o período de tolice e falação. Depois que começara a usar muletas, costumava tirar as temperaturas para que Luz não precisasse sair da cama. Eram só uns poucos pacientes, e todos sabiam do caso. Todos gostavam de Luz. Enquanto ele caminhava pelos corredores, pensava em Luz em sua cama.

        Antes de voltar para a frente, foram ao Duomo e rezaram. Estava escuro e calmo, e havia outras pessoas a rezar. Queriam casar-se, mas não havia tempo para os proclamas, e nenhum dos dois tinha certidão de nascimento. Sentiam-se como se fosssem casados e queriam que todos o soubessem, a fim de estarem comprometidos.

        Luz escreveu-lhe muitas cartas que ele só veio a receber após o armistício. Quinze cartas chegaram à frente num maço que ele arrumou por ordem cronológica e leu ponta a ponta. Eram todas sobre o hospital, e como o amava e como era impossível viver sem ele e como sentia terrivelmente a falta dele todas as noites.

        Depois do armistício, combinaram que ele deveria voltar para casa e arrumar um emprego, a fim de que pudessem casar. Luz não iria ter com ele até que tivesse um bom emprego e pudesse ir a Nova Iorque esperá-la. Ficou acertado que não beberia, e ele não queria rever os amigos, nem ninguém mais nos Estados Unidos. Apenas arranjar um emprego e casar. No trem de Pádua para Milão, brigaram por não estar ela disposta a voltar imediatamente. Quando tiveram de dizer adeus na estação de Milão, beijaram-se, mas isso não terminou a briga. Ele ficou doente por dizer adeus daquele jeito.

        Voltou para a América de navio, partindo de Gênova. Luz retornou a Pordonone para abrir um hospital. Chovia muito, e era muito solitário lá, e havia um batalhão de arditi aquartelado na cidade. Vivendo naquela cidade lamacenta e chuvosa no inverno, o major do batalhão fazia amor  com Luz, e ela, que jamais havia conhecido italianos antes, finalmente escreveu para a América dizendo que o que houvera entre eles fora um caso de garotos. Sentia muito, e sabia que ele provavelmente não compreenderia, mas um dia talvez a perdoasse, e lhe fosse grato, e ela esperava, de modo absolutamente inesperado, casar-se na primavera. Amava-o como sempre, mas compreendia agora que fora apenas um amor de criança. Esperava que tivesse uma bela carreira, e tinha absoluta confiança nele. Sabia que era melhor assim.

        O major não se casou com ela na primavera, nem nunca mais. Luz jamais recebeu uma resposta à sua carta para Chicago sobre o caso. Pouco tempo depois, Nick apanhou gonorréia de caixeirinha de uma loja de departamentos enquanto viajavam , num táxi, através de Lincoln Park.


                                                                       
                                                                     *  *  *

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Pedro Luso de Carvalho