O CLIENTE
– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
O advogado aguarda um cliente, que havia marcado consulta. “É
possível que não venha, com toda essa chuva", diz ele para si
mesmo. Logo a companhia do interfone toca; é a secretária avisando
que chegara o cliente. “Vou conduzi-lo à à sua sala”, diz ela.
Não tarda em entrar, fazendo-se acompanhar pelo estranho.
A
secretária indica ao homem o lugar para sentar-se. Ele ajeita-se na
poltrona, postada em frente à espaçosa mesa, que o separa do
advogado. Os dois olham-se atentos e desconfiados, um para
o
outro. O homem passa a mão
na lapela do elegante paletó, fazendo respingar gotículas de água
nos óculos do advogado.
Daí em diante o homem passa a narrar os fatos relativos ao
desentendimento que tivera com um dos seus inquilinos, que foi a
razão da sua consulta. Diz ele ao advogado, que a honra de um homem
deve ser sagrada, o que seu inquilino desconhecia, tanto que foi a sua honra que ofendeu, o que é imperdoável para ele.
– O inquilino ofendeu a minha honra na frente de várias pessoas
do edifício, doutor – queixa-se o homem.
O advogado diz ao homem que ele poderá ajuizar ação de
indenização, por dano moral, contra o inquilino. Os olhos do homem
brilham depois dessa orientação. Diz que é exatamente isso que
pretende fazer. O advogado pergunta se as duas pessoas que ouviram
as ofensas poderiam depor em juízo, a seu favor.
– Isso não será possível doutor, eles disseram que não querem
incômodo – afirma o homem.
O advogado mantém-se atento ao que lhe narra o homem. Aproveita para
lhe esclarecer que sem provas, sobre tais ofensas contra a sua
honra, não terá ele condições jurídicas para ajuizar a ação
contra o inquilino. “Não espere o senhor que eu vá me aventurar
numa causa em que nada poderá ser provado”, diz o advogado.
– Não se preocupe quanto a isso, doutor, eu tenho dois bons amigos
que poderão testemunhar a meu favor, mesmo não tendo presenciado as
ofensas; eles dirão o que o senhor quiser – diz o homem, num só
fôlego.
O advogado levanta-se de sua poltrona, um tanto nervoso, e pergunta
ao homem: “Então o senhor pensa que me presto para essa farsa?”
O advogado procura acalmar-se, depois senta-se, e aí fica em
silêncio por algum tempo, sem olhar para o homem. Já de posse de
seu equilíbrio emocional, chama a secretária e lhe diz:
– Este senhor quer se retirar, faça o favor de acompanhá-lo até
a porta.
* * *
Nossa Senhora... Com minha reação vejo que estamos saturados desses elementos. Só de pensar já dá raiva. É bem assim que começam esses atos corruptos: o suposto cliente oferecendo uma testemunha que faz qualquer negócio! Mesmo sem ter visto nada! Essa é a nojeira que espalha-se como vírus, é o início, um oferece, o outro aceita! O corrupto e o corrompido. Com a LavaJato no encalço da corrupção no Brasil, é bom essa gente pensar antes de fazer besteira. Ninguém aguenta mais esse tipo de coisa, é mandar passear, mesmo! Conto muito real pela indignação que desperta.
ResponderExcluirBeijinho daqui do gabinete.
Realmente, ninguém suporta mais coisas assim.Sujeitos que "se acham" e pensam que podem tudo... abração, adorei iniciar o ano aqui! chica
ResponderExcluirUm belo conto para começar o ano em beleza.
ResponderExcluirUm abraço e Bom Ano para o meu amigo.
Andarilhar
Es que hay cada uno que mejor ni cruzárselo en la calle.
ResponderExcluirEs triste que crean que todos las demás personas, incluidos los abogados, son tan corruptos como ellos. Da asco. Me pongo en los zapatos del abogado y entiendo su furia e indignación.
Muy Feliz 2017 para ti y Thais y el resto de la familia.
Beijos e abraços
Tengo la sensación de que la ética de este abogado es como un trébol de 4 hojas, algo escaso y precioso, de quien sería interesante tener una tarjeta.
ResponderExcluirLe deseo un Feliz 2017
Caro Pedro Luso,
ResponderExcluirfui formado anos atrás (mais do que aqueles que desejava rss) nessa escola de advocacia - "o advogado é servidor da Justiça e não um manipulador de causas" - dizia e repetia o meu "patrono", um distinto causídico de Lisboa (J. H. Vareda), entretanto vitimado por uma crise cardíaca no exercício da sua nobre profissão
mas advogados assim são uma espécie rara, vias de extinção (como a dos jornalistas independentes, p. ex.). hoje, o exercício da advocacia é mais uma "indústria" ou uma "multinacional de prestação de serviço" com o lucro em mira (que não o salário honesto).
imagine, vc que um representante de uma dessas multinacionais, não tem sequer o pudor em defender que todas das leis relevantes do Parlamento deveriam ser previamente discutidas e obter a concordância dessas "centrais" de advocacia.
o advogado da sua crónica tem um comportamento digno. e concordo que o combate a corrupção passa pelo comportamento exemplar de cada cidadão.
mas quando a floresta está infectada, não são as (raras) árvores sãs que irão deter o mal endémico, quer dizer, a natureza do sistema.
caloroso abraço, Pedro
(peço desculpa pela extensão do comentário)
Este conto é tão real que arrepia pensar que há pessoas assim. Safou-se o advogado, porque muitos aceitariam... Gosto desta realidade crua que imprime nos seus contos, Pedro.
ResponderExcluirQue o seu ano de 2107 lhe traga tudo o que mais quer.
Beijos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHay personas que creen que todo se puede comprar, hasta un testigo falso.
ResponderExcluirUna historia que desgraciadamente sucede muy seguido. No todos los abogados tienen el honor del de tu historia.
mariarosa
Lindo e emocionante! Parabéns!
ResponderExcluirExcelente ano de 2017
Beijinhos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Tão real que impressiona.
ResponderExcluirEu conheci um advogado que já não está entre nós que reagiria assim como o advogado da sua crónica e era assim que todos deviam reagir.
uma bela crónica sem dúvida nenhuma.
bom ano de 2017 E UM BEIJO
:)
Hoy en día abunda la corrupción, pero también quedan personas y profesionales, como el abogado del relato, que hacen gala de ética y honradez.
ResponderExcluirMis deseo para este Año que comienza,es que haya un aumento progresivo de personas honradas y con ética, y que disminuyan y se extingan (cosa que dudo)los corruptos.
Feliz Año. Un afectuoso saludo.
Si todos los abogados hiciesen lo mismo, yo creo que se acabarían los juicios y casi se extinguiría la profesión.
ResponderExcluirAdmiro la profesionalidad de ese abogado.
FELIZ AÑO 2017, que en él se cumplan todos tus proyectos.
Cariños.
kasioles
Un entrañable cuento, que aboga (nunca mejor dicho) por la honradez y el buen hacer, como el ejemplo. Es bueno pensar que hay muchas personas aún que son dignas de llamarse humanas. Me gusta pensar que el camino de la humanidad sólo es cuestión de tiempo, poco a poco se pulirá...
ResponderExcluirFeliz 2017¡ Para ti y los tuyos, Pedro. ¡Haya paz!
A minha primeira reação foi pensar no desplante da criatura,
ResponderExcluirmas infelizmente deve haver muitos diplomados em direito a
fazer falcatruas semelhantes e muitas vezes nem são feitas
por dinheiro, mas por represálias ou paixões políticas ou
partidárias.
A interessante crónica tem o mérito de nos fazer raciocinar
sobre estas questões de hombridade, verticalidade, dignidade...
Um excelente 2017 para vós e para o vosso país.
O meu abraço, amigo.
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¡Ojalá haya muchos abogados así, don Pedro!
ResponderExcluirAbraços.
O CLIENTE é conto ou crônica , perguntam-me.
ResponderExcluirExplico: recebi e-mails de três alunos da Faculdade de Letras, da Pontifícia Universidade Católica, RS, que querem saber qual é o gênero de O cliente . Dizem eles que a dúvida se deve à menção feita pela maioria a conto , enquanto alguns trataram-no como sendo crônica .
Aos alunos da Faculdade de Letras esclareci que O cliente é uma narrativa curta; portanto, conto , que é um dos gêneros da Literatura.
Agradeço aos universitários de Letras por terem levantado a dúvida.
Um ótimo Ano Novo a todos.
Pedro.
Infelizmente, Pedro, creio bem que haverá muito advogado... sem ética... que não hesitaria em ter cliente assim...
ResponderExcluirNão será à toa, que advocacia e política andam de mãos dadas... junto com falta de ética, na grande maioria das vezes, formando uma família feliz... estou pensando na classe política do meu país... que faz de tal, quase um modus operandi em contínuo... e serão na sua grande maioria advogados...
No então... são as excepções à regra, que me devolvem a fé na espécie humana... em advogados... políticos... pessoas em geral...
Preciosas excepções... que vão fazendo toda a diferença neste mundo!
Vivam as excepções... que vão em contramão... de raras que são... que nos mostram que haverá ainda muita gente com consciência e valores... que não os motivados pelos seus interesses pessoais e conveniências...
Um bom ano! Com muita saúde e inspiração... para nos fazer reflectir sobre temas tão dispares e pertinentes, como os que tive a oportunidade e o privilégio de poder apreciar neste espaço, ao longo do ano que passou...
Um grande abraço! Feliz 2017, para você e todos os seus!
Ana
Pedro, como habitualmente um conto bem interessante. Infelizmente existem muitas pessoas como esse homem, que não tinha qualquer problema em "inventar" testemunhas que abonassem a seu favor.
ResponderExcluirDesejo-lhe um excelente Ano
Um abraço
Maria
Un relato de corte realista que nos presenta una situación que, seguramente, no es frecuente pero que tampoco se puede pensar que nadie trate de realizarla porque el mundo en el que vivimos no es, desgraciadamente, un lugar en el que brille la verdad. Ante una situación como la que expones solo se puede llegar apensar que todas las acusaciones eran falsas. Buen relato. Un abrazo. Franziska
ResponderExcluirAuguri per un felice e prospero Anno Nuovo per te e famiglia.
ResponderExcluirUn abbraccio.
enrico
Pedro,
ResponderExcluirUma partilha preciosa este seu conto, com a sua excelente literatura,
uma arte que você domina. Neste conto, um exemplo que poderia como
um espelho refletir para a realidade numa amplitude de existência
de profissionais com esta ética e conduta a evitar tantos crimes
graves e sistêmico de corrupção generalizada.
Abraço, excelente Escritor.
Boa tarde, Pedro,
ResponderExcluirinfelizmente, a corrupção existe em todos os setores, e vivemos ao lado dos corruptos, citando advogados, são poucos os que têm ética e moral para enfrentar seu cliente em caso escuso e, se recusar a atendê-lo. São nos pequenos gestos que conhecemos as pessoas. Tenha uma ótima tarde, junto à Tais!
Un buen cuento para empezar el año nuevo 2017. Te felicito desde estas tierras salmantinas tan cercanas a las lusas.
ResponderExcluirUn saludo
Olá Amigo Pedro antes de comentar seu ótimo conto quero desejar a você a Taís e seus familiares um ano cheio de paz, esperança de melhores dias neste nosso pais, saúde e sucesso.
ResponderExcluirQuanto ao seu conto o cliente também ofendeu de uma outra forma o advogado, tentando chantageá-lo .
Assim falando de maneira popular foi o porco falando mal do toucinho...
Grande abraço, Léah
Una historia edificante, de un profesional de la abogacía dispuesto a vivir la ética. Hoy día que la corrupción está implantada en al sociedad como algo natural, es de agradecer encontrar personas así.
ResponderExcluirUn abrazo y feliz año.
Se todos os advogados fossem assim, seria óptimo!
ResponderExcluirUm feliz 2017!
Abraço com estima
Olá, Pedro, acho que você foi generoso com o título, pois bem poderia ser "O Corruptor".
ResponderExcluirAbraços e Feliz 2017!
Amigo Pedro, amei voltar aos blogues e lendo aqui fiquei feliz em perceber que há sim bons advogados, pois se há pessoas assim como você é possível haver esperança no ser humano!
ResponderExcluirSua bela prosa é bem escrita e nos mostra exatamente como se começa a corrupção, pois foi só falar em indenização que cresceu o olho do tal cliente mal intencionado.
Muito bom mesmo, por sinal, gosto de ler por aqui, nem me importo se o texto é longo, ficaria lendo com toda a minha atenção!
Abraços apertados!
Acho que o inquilino tinha razão quanto a "honra" do sujeito. rs
ResponderExcluirExcelente!
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirUm belo conto. Advogados assim infelizmente existem poucos. Mas com toda certeza existem. Acho que a sua conduta profissional seria exatamente essa. Não é meu amigo? Estamos tão acostumados a ver tantas corrupção, que um ato desse advogado na seu conto, ao fazer uma coisa certa, que todos deveriam agir assin, infelizmente é visto como um caso isolado, raro. Até que ponto está chegando o nível da honestidade. Muito bom te ler, e obrigada por ter um prazer de interagir como uma pessoa tão centrada. Um feliz final de semana para vocês. Abraços.
Sempre cativantes seus contos!
ResponderExcluirUm maravilhoso 2017!
Abraço
Há pessoas capazes de tudo. Mas ainda há advogados honestos...
ResponderExcluirMagnífico conto, gostei imenso.
Tem um bom fim de semana, caro amigo Pedro. E um FELIZ 2017.
Abraço.
Muito bom;
ResponderExcluirÉ esperta, mas nada ética rss.
ResponderExcluirNão queres expor este conto no Boteco de Blogueiros como um convidado de Domingo?
Ou outro de tua autoria.
Ético é o advogado.
ResponderExcluirrsrsrs
Beijos!!
Que coisa né Pedro?
ResponderExcluirSaber que estes casos podem sim serem reais dá um nojo do comportamento de certos profissionais, bem como de pessoas como este cliente.
O mundo está infestado delas, mas também temos profissionais, que não se deixam levar pelas trapaças.
Um abração e gostei de ver o esclarecimento sobre o gênero do texto.