O VERDADEIRO E O FALSO
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
É loucura opinar acerca do verdadeiro e do falso de acordo
unicamente com a razão, escreve Michel de Montaigne (1533 - 1592) nos seus
Ensaios. Para o filósofo francês, a facilidade com que
certas pessoas acreditam e se deixam persuadir deve-se à
simplicidade e à ignorância, pois, para ele, acreditar é o
resultado de uma espécie de impressão sobre nossa alma.
Para o filósofo as primeiras impressões podem nos conduzir a algum
engano, no que se relaciona a uma determinada pessoa, uma vez que
estas primeiras impressões podem conter apenas alguma parcela do que
devíamos saber; diz Montaigne que “Quanto mais a alma é vazia e
nada têm como contrapeso, tanto mais ela cede facilmente à carga
das primeiras impressões”.
Quer dizer com isso, que somos levados pela sugestão com mais
facilidade quanto mais tenra for a resistência de cada um, como
ocorre com pessoas com pouco esclarecimento. "É tola a
presunção de desdenhar e condenar como falso – diz Montaigne –
tudo o que não nos parece verossímil, defeito comum aos que estimam
ser mais dotados de razão que o homem normal".
Diz Montaigne, que nunca deixou de ser objeto de estudo o fato de que
a razão lhe impele a reconhecer que “condenar uma coisa de maneira
absoluta é ultrapassar os limites que podem atingir a vontade de
Deus e a força de nossa mãe, a natureza”. Para o filósofo
francês, reduzir essa vontade e essa força, à medida da capacidade
e da inteligência, é o maior sintoma de loucura.
Michel Montaigne prega nos Ensaios que a razão não se presta
para todos os nossos julgamentos. Diz ele: “Chamemos ou não
monstros ou milagres às coisas que não podemos explicar, não se
apresentarão elas em menor número à nossa vista”. Daí porque é
de ser considerado naturais os casos para os quais a razão se torna
impotente, mais por hábito do que pela ciência.
Somos incitados a procurar a origem de uma coisa mais pela novidade
do que pela sua importância. Essa, a linha do pensamento de
Montaigne, que diz: “(…) o infinito poder da natureza deve ser
julgado com mais deferência e tendo em conta nossa ignorância”.
Aí alude às coisas pouco verossímeis que ouvimos e que, por isso,
devemos ser mais prudentes nos nossos julgamentos.
(In Montaigne, Michel
de. Ensaios, Livro I, tradução de Sérgio Milliet, Editora
Globo, Porto Alegre, 1961, págs. 240/241).
* * *
Amei ler aqui, é mesmo assim, nem sempre devemos julgar pela razão, pela primeira impressão, por ignorância, mesmo pela sensibilidade podemos julgar erradamente, nem tudo é o que aparenta!
ResponderExcluirAmo sentir, perceber, mesmo assim acho que o peso da matéria física nos tira essa capacidade, a capacidade de julgar!
Arte é tudo de bom, nos diz sempre o que sentimos, mas nem sempre sabemos expressar o que sentimos, daí sim é que se pode dizer o poder da arte, pega cada qual pelo que há em si!
Nossa, acho que não estou sabendo me expressar por aqui!
Abraços meu amigo sensível e culto!
Você sempre soube se expressar, Ivone. Gostei do seu comentário, minha amiga, que além da sua opinião contém um elogio para mim, que não sei ser dele merecedor. Obrigado.
ExcluirAbraços.
En mi caso, la primera impresión siempre es desconcertante porque muchas veces me ha ocurrido que he tenido que cambiar de opinión, para bien o para mal. Me ocurre demasiado a menudo. De todos modos, la intuición muchas veces sirve de guía a la razón, por lo menos, cuando te presentan o conoces a alguien.
ResponderExcluirNo me acuerdo cómo llegué a este blog, pero la primera impresión me pareció positiva. ¡Y sigue pareciéndomelo!
Abraços, Pedro.
Obrigado, Dyhego.
ExcluirEspero poder contar sempre com a presença do amigo, neste blog.
Grande abraço.
Bom dia. Excelente postagem! Depois que li um livro sobre física quântica, nada mais é o mesmo para mim, e mal acredito no que vejo quando olho alguma coisa.
ResponderExcluirOlá dr Pedro, sempre instigante e elegante teus textos, nada como a "velha" filosofia para nos libertar nos dias atuais, gosto quando percebo no texto que o conhecimento vale para valorizar e qualificar o que nos cai, literalmente na rede; discernir o bom, mas o que é o bom ? o bom ou mal gosto, que nos servirá de alimento, enfim...(acho que divaguei um pouquinho rs)...Muito bom estar aqui.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirEu costumo confiar no meu instintos. A ciencia diz que o julgamento inicial sobre uma pessoa dificilmente é desfeito. Mas no meu caso não julgo, apenas sigo a minha intuiçao e quando ela não da certo, caiu em muitas furadas rsrs. Um belo texto meu amigo, uma feliz semana para voces. Abraços.
Julgar alguém é muito difícil, requer tempo e observação, temos de ver o que está realmente por detrás dessa primeira impressão, para que o julgamento não seja algo leviano e injusto. Há inúmeras especificações para fazermos um julgamento. Essa primeira impressão é duvidosa principalmente se uma pessoa é mais reservada, mais tímida. Ou mesmo mais desinibida. Ela também pode estar no processo de avaliação da nossa conduta, da nossa personalidade. Nos perdemos muitas vezes ao observar sua vestimenta, seus gestos... coisas sem valor. Tempo, é o melhor amigo para termos certeza das coisas. E boa vontade. As injustiças sempre se dão na má observação e nos julgamentos vulneráveis
ResponderExcluirBeijinho, querido.
Nunca estudie portugués, aunque siempre me he entendido muy bien y jamás he utilizado un diccionario las muchas veces que he viajado hasta nuestros vecinos. También ha sido importante que mi línea materna sea medio portuguesa y que ahora continúe por allí parte de mi saga. Pero a veces, cuando un párrafo entra en profundidades, me gustaría tener más conocimientos del idioma y adentrarme en el razonamiento de una lengua tan rica para asentir o rebatir sus juicios.
ResponderExcluirAsí que, para no perderme y teniendo en cuenta que no hay mayor atrevimiento que el de la ignorancia, de su texto me quedaré con esa última frase que nos invita a ser más prudentes en nuestros juicios.
Saludos, Pedro.
Olá, Ana.
ExcluirSituação semelhante acontece comigo, em relação à língua espanhola. Nunca estudei esse belo idioma, que ouço desde pequeno, pelas pessoas, já que fazemos fronteira com o Uruguai e a Argentina, mas também pelas rádios desses dois países, nas quais ouço músicas cantadas, desde o folclore, com Mercedes Sosa, Atualpha Yupanqui, Horacio Guarany e muitos outros, além do tango tradicional, do tango moderrno de Piazzolla e de seus seguidores, e também por meio de minhas leituras (Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Ernesto Sabato, Pablo Neruda, Carlos Fuentes, Octavio Paz e tantos outros).
Você entendeu bem , quando diz: “Dizes que Así que, para no perderme y teniendo en cuenta que no hay mayor atrevimiento que el de la ignorancia, de su texto me quedaré con esa última frase que nos invita a ser más prudentes en nuestros juicios.
Acrescento que "as primeiras impressões podem nos conduzir a algum engano"; mais ainda: que "as primeiras impressões podem conter apenas alguma parcela do que devíamos saber"; daí "a loucura opinar acerca do verdadeiro e do falso".
Obrigado.
Abraços.
Amigo Pedro espero no contradecirme. Pero añado a mi comentario, que aunque la reflexión filosófica sea buena consejera, la intuición es un reflejo primario de nuestro pasado que haríamos bien en no reprimir por completo. Sé, que por muy buena apariencia y referencias que tenga una persona, si cuando la ves por primera vez oyes en tu interior un click de alerta, ¡atención!, sé precavido. A veces necesitarás un montón de informes comerciales y bancarios para comprobar que tu instinto animal estaba en lo cierto y que aquel individuo no era de ley. Saludos
ExcluirNo meu entender você não se contradiz, neste complemente do seu comentário; você afirma ser boa conselheira a reflexão filosófica, mas que esta não deveria substituir completamente a intuição, por ser ela – intuição – um reflexo principal do nosso passado. Nisso também concordo com você, que ainda adverte que, quando vemos pela primeira vez uma pessoa de boa aparência e referências temos que ficar alerta e cautelosos, pois, como você diz: "A veces necesitarás un montón de informes comerciales y bancarios para comprobar que tu instinto animal estaba en lo cierto y que aquel individuo no era de ley."
ExcluirObrigado, Ana.
Abraços.
Es fácil juzgar en la primera impresión, muchas veces por desconocimiento y la mayoría por miedo a lo desconocido. Es más fácil poner etiquetas que preocuparse de analizar detenidamente lo que nos inquieta.
ResponderExcluirMuy buena tu entrada, la filosofía ayuda a vivir y a ser un poco más felices. Abrazos
Lindo texto!
ResponderExcluirBeijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Há realmente quem não pense e, por ignorância, faz juízos de valor... Montaigne era um sábio. Também gosto muito de ler os seu "Ensaios". Gostei da reflexão deste seu texto, que é para ler e reler.
ResponderExcluirUma boa semana.
Beijos, amigo.
Effettivamente le novità sono un notevole spunto di ricerca per la nostra mente, che dovrebbe essere più interessata al contenuto di un determinato argomento...
ResponderExcluirMolto interessante, questo articolo Pedro, felice sera e un saluto,silvia
"Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso."
ResponderExcluirMontaigne teve e tem o dom de nos pôr a pensar e questionar.
E porque posso não ter outra oportunidade envio-lhe um beijinho com o desejo de um Feliz Natal amigo Pedro.
Um texto que nos merece reflexão.
ResponderExcluirE Montaigne era muito sábio.
boa semana.
beijinho
:)
O que é a verdade? A minha verdade é a sua verdade? É preciso muito cuidado com os nossos julgamentos.
ResponderExcluirSeu texto nos remete a uma boa reflexão.
Um abraço.
Excelente texto!
ResponderExcluirUma enorme dose de cultura que dá imenso que pensar, refletir!
Abraço
O julgamento é uma ferramente fácil para aqueles que se
ResponderExcluirencontram mais fora de si. Se o autoconhecimento é um
caminho estreito e contínuo, imagine o conhecer o outro.
A observação sem julgamentos e a sintonia das afinidades
levam para um bom caminho. Um contato verdadeiro é sempre
uma partilha preciosa.
Maravilhoso este espaço da Filosofia. Você oferece sempre
a excelência da sua arte literária com a qualidade de
conteúdo, Pedro.
Abraço.
Julgar é demasiado fácil e tem consequências até sobre quem julga.
ResponderExcluirUm abraço e Boas Festas
Este post es un poco complicado de entender para mi.
ResponderExcluirPero estoy de acuerdo que los pre juicios y juicios son tan relativos, de donde nacimos, de nuestra crianza y de las costumbres que vamos adaptando según eso.
Un abrazo grande para ti y lo mejor de la vida para tu cuerpo, corazón y alma.
mar
Válido razonamiento, Pedro.
ResponderExcluirSaludos australes.
difícil questionamento..pensei muito mas não consigo nem conceituar o que realmente é a verdade...os filósofos procuram caminhos da lógica , os cientistas procuram prová-la,os místicos procuram senti-la...a verdade é fugidia e nossas certezas incertas.
ResponderExcluirUm abraço
Apreciei com agrado esta dissertação sobre o pensamento de Montaigne.
ResponderExcluirDe facto, só uma pessoa pouco culta cede à tentação de emitir juízos
'a priori', porém, o hábito de avaliar por aquilo que os sentidos
percecionam ou alcançam, é ainda um hábito muito arreigado na humanidade, especialmente por quem não pratica filosofia, psicologia ou o método científico.
Pedro, desejo-vos uma quadra natalícia muito aprazível.
~~~ Abraço ~~~
Olá Pedro Gostei demais de sua explanação filosófica, maravilha. Pelo menos para mim julgar pela primeira impressão é muito difícil, afinal ninguém se mostra inteiramente assim logo de cara, o melhor é esperar o tempo e a convivência sempre revelam. Julgar faz parte do ser humano até para sobreviver nos meios, mas o melhor é não se precipitar deixar o barco correr. Se não der certo sempre podemos dar um adeusinho sem estresse.
ResponderExcluirAbração
Léah
um belo texto, Pedro
ResponderExcluirsábio e muito oportuno.
nos dias de hoje, em que mais do "ser" importa "parecer"
evocar Montaigne e a "densidade" do seu pensamento é quase uma heresia
abraço
Meu prezado amigo, não existe verdade universal. A verdade é uma relação entre o subjetivo do indivíduo e a coisa exterior. Isso posto, a única verdade a nós, é a verdade matemática que é precisa. E por essa precisão, é justo dizer que a matemática é uma mentira por ser uma ciência baseada em convenções. Convencionou-se que dois e dois são quatro. Portanto toda a matemática reduz-se à soma e a diminuição. E sendo ainda que a diminuição é uma soma com sinal trocado, tudo é soma. E sendo a soma uma convenção, para um alienígena de planeta distante, a convenção que fizeram lá "não foi como nos combinemo" aqui. E daí? A verdade lá é outra. Deixemos cada um com suas crenças!... Por isso que não existe filosofia - existem filosofias, pois cada crença poderá ter criado a sua própria. Assim quando o animal humano não encontra explicações filosóficas, na hora da aflição recorre a um deus imaginário e é por isso, burro como eu sou, sou devoto de diversos santos, principalmente à Sandra dos Santos - milha amada mulher. Grande abraço. Laerte.
ResponderExcluirSomos incitados a procurar a origem de uma coisa mais pela novidade do que pela sua importância.
ResponderExcluirMuito verdade, principalmente nas relações de hoje, onde o número de amigos é mais importante do que a qualidade de amigos. Muitos não falam com você na vida real, não tem interesse na tua vida, porém se tu nega um pedido de amizade no facebook, a pessoa fica com raiva.
Essa coisa das primeiras impressões que ele falou é algo muito forte porque em seu primeiro momento, é lógico que as pessoas vão usar do seu "melhor comportamento" ou o que eu chamo de " comportamento de candidato durante uma entrevista". Elas agem para impressionar e não para somar e ser em um primeiro momento. Á medida que o individuo lida com esses "personagens" em momentos de adversidade ou de divergências nas perspectivas, as máscaras tendem a cair como meteoro e elas já não sabem como reagir diante daquela situação. Muitos me perguntam: como vc sabe que aquela pessoa é do bem? Simplesmente digo: observe as ações. Se as ações e as palavras estiverem em alinhamento, você sabe que é uma pessoa que tem caráter.
Ótima Quinta pra vc!
http://vivendolaforanoseua.blogspot.com/
Hola Pedro.
ResponderExcluirMuy interesante y cierto, depende de como veamos las situaciones así juzgamos, hay que tener discernimito y ser cautelosos a la hora de juzgar con razonamiento.
Un abrazo.
Ambar
Uma interessante temática, Pedro! Impecávelmente abordada!
ResponderExcluirO que é verdadeiro? E o que é falso?... Na minha opinião... tudo é relativo! mesmo no mundo das leis... e da vida... tudo muda, consoante a interpretação de cada um...
Uma coisa é certa... cada vez mais as certezas, pertencerão a idiotas... quem conserve um pouco de sabedoria... saberá que existem muitas verdades... instigadas por muitas dúvidas que se colocam... quem não tem dúvidas... viverá num mundo fechado... perfeito... e podre... como tudo o que não carece de melhoramento... o que só a dúvida aliada à possibilidade, vem colocar em causa... e mostrar um infindável mundo novo, feito de novas verdades...
Abraço! Continuação de uma boa semana!
Ana
Olá Pedro. Eu costumava dar muita importância para as primeiras impressões que eu tinha das pessoas, como se a minha intuição perceptiva fosse infalível. Com o passar dos anos fui me conhecendo melhor e descobrindo que não é bem assim. Quebro a cara muitas vezes. Acho que precisamos nos conhecer bem pra traçar perfis alheios, porque colocamos muito de nós nas nossas opiniões sobre eles.
ResponderExcluirHola Pedro, perdona mi ausencia no es abandono es un problema de salud y no puedo corresponder con rapidez a todos mis blogs amigos-amigas.
ResponderExcluirUn abrazo con mis mejores deseos de salud, paz y felicidad, en estas fiestas navideñas y año nuevo y, todos los días de tu vida en compañía de tu familia. Te dejo mil bendiciones, mi gratitud y estima.
Olá amigo Pedro, ora aí está uma coisa que muitos fazem, sem sequer olhar a razão e sem conhecimento de causa. Julgar. Cresci a ouvir a minha avó dizer, que mesmo que se veja certas coisas, há muita coisa que parece e não é e outras que o são e não parece. Ninguém deve julgar ninguém sem olhar primeiro para si. Posso apanhar decepção, mas tento sempre nunca julgar ninguém. Beijos com carinho
ResponderExcluirNão temos o direito de " achar ou não achar" sobre o que é ou o que não é quem quer que seja, mas temos essa tendência sempre. Já me aconteceu de ter de sentar, numa reunião de amigos, junto de um casal que me estava a ser apresentado pela primira vez e de ter pensado" que falta de sorte...que antipatia!!!" Pois é Pedro, esse casal tornou-se muito nosso amigo e já fomos de férias juntos muitas vezes; soibe mais tarde que eles pensaram o mesmo de mim. Muitas vezes a antipatia é confundida com timidez, receio de enfrentar o que é novo. Mas, o que é mesmo, mesmo verdade é o desejo de que tu e os teus tenham um Natal alegre, com muita paz e saúde. Não é julgamento precipitado, é a certeza de que o merecem. Beijinhos
ResponderExcluirEmilia