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18 de set. de 2016

[crônica] PEDRO LUSO – Momento de dúvida



[ESPAÇO DA CRÔNICA]



   MOMENTO DE DÚVIDA
     – PEDRO LUSO DE CARVALHO


Naquele dia de eleição, saí de casa às pressas para chegar a tempo na minha seção eleitoral. Quando lá cheguei, a votação já estava por ser encerrada. Os mesários responsáveis pela seção pareciam estafados. Um deles, o mesário-presidente, pediu-me o título de eleitor, depois folheou um livro grande à procura do meu nome.
Estava em frente à urna eletrônica mexendo nos meus bolsos para ver se encontrava um papelzinho, que havia escrito com os nomes dos candidatos, para fazer minha escolha. Como não o encontrei, procurei socorrer-me de uma lista de candidatos, com letras enormes, que via na sala através do vidro da cabine.
Escolhi aleatoriamente um dos nomes que estava na lista, colada na parede da sala. Digitei o número do candidato, e logo a sua foto, que encheu a tela da urna, mostrou-me uma pessoa desonesta. Na segunda tentativa, digitei o número de uma candidata, e a foto da urna mostrou-me uma mulher também não confiável.
Na minha terceira tentativa digitei o número de outro candidato, e a sua fotografia, que veio à tela, disse-me que ele não seria capaz de honrar o voto de quem quer que seja. Portanto, como ocorreu com os candidatos antes referidos, também este, da terceira tentativa, não teria o seu nome sufragado na urna por mim.
Essa incerteza que tive em quem votar tirou-me a noção do tempo. Ao lado da urna, onde me encontrava, ouvi o cochicho nervoso dos mesários, que, por já ter passado das cinco horas, teriam de encerrar a votação. Então tomei a decisão: digitei a tecla de voto nulo para deputado e também para os demais candidatos.
Deixei a cabine e me desculpei com os mesários, pelo atraso que causei. Depois, cheguei a pensar em dizer a eles que anulei o meu voto, mas desisti. Não me esqueço, no entanto, que saí da seção, na qual anulei o voto, com o espírito leve, por saber que não me tornaria cúmplice de políticos, na prática de seus crimes.

   
      
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37 comentários:

  1. Fez bem, Pedro, pois decerto se arrependeria depois.
    Ótima crônica, como sempre.
    Boa semana.

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  2. Cada vez se hace más difícil emitir un voto, pues está visto que elijas el que elijas, al final no cumplirá con lo prometido.
    Lo mejor, votar en blanco cuando uno no está seguro de nada, porque elegir a un candidato nuevo, es como jugar a la lotería...
    Un abrazo.

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  3. Quantas vezes esses momentos de dúvida me acontecem na hora de votar... Muito actual e pertinente a sua crónica, amigo.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  4. E cumpriu seu dever, Pedro, perante os homens e perante a sua consciência.
    Nada de arrepender ou criticável.
    Bela crónica que espelha bem o estado a que (muitos) conduziram aquela graciosa e promissora senhora, a Democracia.

    Abraço.

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  5. É sempre importante votar conscientemente como fez. Não encontrou um bom candidato, anulou o voto e saiu da cabine com a consciência tranquila por não ajudar a eleição de um candidato que não merecia voto de ninguém.
    Um abraço.
    Élys.

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  6. Mea Culpa! Só agora descobri que não só se pode, mas que também se deve postar comentários em blog: Parabéns meu amigo por tão lúcido, sucinto e maravilho texto! Sei que o ilustre causídico não só tem uma pena afiada como dispõe de um vozerio atroante e extraordinário. Fiquei imaginando o Dr. Pedro Luso de Carvalho ereto em uma tribuna, de dedo em riste, a dizer que com todas as vênias, nega-se em ser cúmplice de políticos... Parabéns Pedrão.



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    1. Agradeço ao meu caro amigo Laerte pelo estimulante comentário e pela honra de tê-lo no meu blog.
      Aproveito o ensejo para, nesta resposta, dizer a todas as amigas e amigos, que Laerte é amigo dileto meu desde o tempo em que morávamos em Blumenau, SC, época em que não pensávamos ainda em cursar universidade, o que viria ocorrer mais tarde na capital gaúcha, Porto Alegre, na Pontifícia Universidade Católica (PUC).
      Laerte é engenheiro civil e poeta de grande talento. Vocês poderão conhecê-lo um pouco mais lendo o artigo que publiquei por ocasião do lançamento de um de seus livros de poesia, cuja capa foi criada pelo conceituado artista plástico Rodrigo de Haro.

      Blog do poeta Laerte: http://silolirico.blogspot.com.br/

      Segue, pois, o link do post sobre o lançamento do seu livro de poesia, com algumas fotos tiradas naquela noite de autógrafos (recomendo a leitura do artigo sobre Laerte):

      https://panorama-direitoliteratura.blogspot.com.br/2015/09/laerte-tavares-ilha-de-idilios.html

      Um abração, Laerte.

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  7. Excelente crônica, Pedro! Penso eu que foi o melhor "voto". Exercer a democracia é o que sempre almejamos, dentro dos padrões éticos, porém sermos conivente com corruptos, jamais! Em dúvida, melhor anular o voto, pois hoje estamos numa situação de encontrar aquela agulha no palheiro... E penso que boa parte, vai pesar as coisas vividas até agora...O filme está todo ele na nossa memória.

    Beijinho daqui, da sala ao lado.

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  8. Siempre es un momento indeciso dar el voto, pero tal como tu lo tuviste no dudo que hiciste lo mejor posible.
    Un abrazo.

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  9. Boa noite caro Pedro.
    O silencio das urnas e nossa morta emoção de sufragar.
    Na ultima eleição tive o prazer de anular todas opções de enviar um bandido para o trono.Bem como orientei algumas pessoas como ter esta decisão no silencio da urna.
    Boa cronica amigo e alma lavada é sempre bom.
    Meu terno abraço e boa semana.

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  10. Menos mal que no vives en España... vamos camino de votar por tercera vez.
    Si no tremendo problema.
    Besitos buena semana

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  11. Como sabe, o José Saramago, em seu jeito provocatório, afirmava (cito de memória) a democracia, tal a conhecemos, era “tal santa que continua mumificada nos altares” . apenas um ícone esvaziado de conteúdo. e não raramente defendeu Saramago o voto "em branco"

    estou tentado a concordar com o Pedro (com ambos, afinal) e a reconhecer que um monumental "manguito", perdão, um enorme e fantástico "voto em branco" talvez possa contribuir para abalar as consciências de nossas elites.

    grato pela partilha da excelente crónica.

    abraço, meu amigo

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  12. E'sempre un gran piacere soffermarsi sulle tue variegate pagine
    Un caro saluto,silvia

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  13. Olá Pedro, na minha opinião sua escolha foi a mais sensata, pois ficou em paz com sua consciência.

    Muito boa sua crônica, como sempre ilustrada com uma bela pintura.

    /abraços/

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  14. Creo que no es una decisión desacertada. Si se encontraraan con que la mayor parte de la población acude a votar pero no vota a nadie, es posible que tuvieran que enfrentarse con la verdad y empezarían a cambiar las cosas... Es necesario hacer algo que tenga sentido. Interesante tema. Saludos cordiales. Franziska

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  15. Saudações queridos! Pedro e Tais.
    Muito propícia à ocasião a presente matéria. Sempre se comentou que o povo não lê, não aprecia cultura nem sabe votar, atribuindo a fatores como ignorância, preguiça... Se a administração pública vai mal, na sociedade a culpa recai ao cidadão comum que não soube escolher seu representante. Assim, passa o tempo, o povo descrente vota em palhaço analfabeto, pelo fato de que qualquer um serve, ciente do resultado, pois pouco mudará a situação, num país em que a urna eletrônica é o instrumento mais perfeito e eficaz na visão dos eleitos. ...Aguardamos pelo voto distrital misto!...
    Um abraço!
    Sandra

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    1. Concordo inteiramente contigo, pois esses cem milhões de eleitores brasileiros não têm condições de conhecer tantos candidatos para os mais variados cargos, no que respeita a honestidade e a ética de cada um deles.
      Mais ainda: nós todos conhecemos muito bem aquela velha falácia dos próprios políticos: “Na próxima eleição, tomem mais cuidado na escolha dos seus candidatos!”
      Abraços Sandra, meu e da Taís, pra ti e para o Laerte.

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    2. Sem dúvida é um problema que está longe de começar a mudar. A moda é o político se reinventar, mas a criatividade e interesse próprio não andam juntos...
      Abraços!

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  16. E' giusto votare con cognizione di causa altrimenti è meglio non farlo. Un caro saluto di buona serata amico Pedro. Grazia

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  17. "Mundo, mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima / não seria uma solução"..Li sua crônica e lembrei-me de Drummond. Infelizmente votar em branco nos lava a alma, mas, e a solução?
    Um abraço

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  18. Pedro,

    A sua excelente narrativa nos aproxima e aprofunda a dúvida decorrente
    de uma análise crítica, da situação crítica da (i)moral destes políticos,
    que contaminam totalmente a nossa capacidade de ter alguma esperança,
    a política cada vez mais um meio de pessoas de caráter duvidoso e a
    inexistência da ética e valores nobres. É uma tristeza esta realidade!...

    Mas, a leitura dos seus textos literários (crônica, conto e poesia) são
    momentos de certezas da qualidade de excelência, aqui.
    Abraço.

    Ps: Grata pelas suas palavras de gentileza e admiração na partilha
    literária, que da minha parte também admiro e acompanho com amizade
    os blogs: seu e da querida Taís.

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  19. E sem querer possivelmente tomou a decisão mais acertada.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.
    Andarilhar

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  20. Amigo Pedro, permita-me que o trate assim.
    Uma crónica muito bem descrita e actual.
    Essa dúvida também me assalta sempre na hora de votar, pois infelizmente político desonesto e incompetente é praga que alastra por todo o lado.
    Um beijinho grato pelo seu comentário tão generoso no meu blogue.
    Bem-haja!

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  21. Olá, Pedro, boa noite!!!
    Visitando e explorando seu blog; as poucos vou conhecendo mais.
    Lendo e acompanhando em pensamento toda a cena, tentando sentir e já sentindo os sentimentos ativos do momento descrito. Bela crônica.
    Paz e Luz!!!

    Anna Lírios em Letras

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  22. Caro Amigo Pedro excelente sua narrativa. Na última eleição pensei. analisei e votei em quem achei seria MENOS PIOR, visto que acho todos desonestos de uma forma ou de outra.E assim tem sido em todas as eleições de vereadores até presidentes. Por isso não voto mais em ninguém não existe o MENOS PIOR, SÃO TODOS RUINS. A desonestidade está no DNA de todos os políticos do Brasil, o que é uma grande infelicidade para nós brasileiros honestos...
    Grande Abraço, Léah

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  23. Magnífico texto, Pedro.
    Tremendo dilema a la hora de elegir quien dirige el destino de una nación. Una enorme responsabilidad la nuestra, a la hora de hacerlo,y no ser cómplices de un desastre para la sociedad.
    Abrazos.

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  24. Não temos nenhumas razões para confiar em políticos.
    As campanhas eleitorais embrulham-nos as entranhas...
    Saramago escreveu um livro propondo um voto em branco a nível nacional, mas penso que nem assim criariam vergonha...
    Torna-se profundamente prioritário e importante que as democracias criem processos de avaliar continuadamente o desempenho da classe política.
    Um tema relevante, muito bem abordado e escrito.
    Abraço, Pedro.
    ~~~~~~~~~~

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  25. Me entristece su reflexión. Tan lúcida que me ha traído el recuerdo del único político (menor) que conocí de cerca, al que ayudé con sus papeles y sus cuentas cuando yo era una adolescente buena en matemáticas y del que aprendí la parte honorable de servir a tus conciudadanos, con honestidad económica y un sacrificio importante de su tiempo.
    Pienso que sería bueno escribir sobre ellos, sobre tantos hombres y mujeres que seguramente han trabajado y trabajan de corazón para la colectividad. Y que cada uno de nosotros compartiera y diera a conocer a aquellos que sabe de veras que así lo hicieron.

    A los que usted y todos despreciamos no hace falta dedicarles ni un segundo de nuestra vida. Pero me niego a pensar que todos sean como ellos.

    Reciba un afectuoso saludo.

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  26. Como sabes, Pedro, aqui o voto não é obrigatório e, devido à pouca confiança nos politicos, a abstenção é sempre muito grande. Eu nunca me abstenho; vivi a época em que não se votava e portanto, se tanto lutamos pelo direito ao voto, devemos ir às urnas. Este ano para primeiro ministro, tive as mesmas dúvidas que tu e decidi-me pelo menos ruim, pois aqui também estamos com poucas opções. Os verdadeiros lideres estão em vias de extinção tanto aí quanto aqui. Amigo, adorei a crónica. Beijinhos
    Emilia

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  27. Comprendo perfectamente al votante de tu relato.
    ¿A quién votar cuando todos, más o menos, guardan cadáveres (metafóricamente hablado, claro) en los armarios? ¡Malditos políticos! Siempre lo diré. Creo que, a partir de determinado nivel, todos los políticos tienen mucho que ocultar y callar.
    Salu2, don Pedro.

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  28. Es muy difícil votar. Con estos políticos que tenemos....

    Un abrazo

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  29. Boa tarde Pedro.
    Um desejo talvez nunca realizado, queria que o povo escolhe-se os candidatos, não apenas votassem em um deles. Eu nunca votei, como pode isso ? Afinal recebo proventos federais. Pago imposto de renda, o que não é nada barato e não faço declaração de imposto de renda. Logico que nunca me questionaram por isso rsrs. Afinal eu pago e não recebo nem o que pago de volta. O meu CPF é as vezes cancelado, pago a multa e tudo resolvido. A minha filha que as vezes me pergunta se não seria mais fácil votar nulo e obter o que eu tenho por direito. Mas é assim que me sinto melhor, cada qual com a sua loucura rsrs. Pois não me disponho nem a pegar a fila para entrar em uma urna e saber que independente de quem vença, cada vez mais corrupção e ladões. Por exerção eu admiro o trabalho realizado pelo neto de Acm, se ele se candidata-se acho que voltaria nele, pois vem fazendo um dos melhores trabalhos realizados por aqui, algumas melhorias que visam os quem mais precisam que são os de baixa renda. Enfim também não daria o meu voto se não tivesse a esperança de ser alguém que pudesse fazer algo pelo nosso povo. Um lindo domingo e semana para vocês. Abraços.

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  30. Pedro, ainda bem que a gente vota bem longe um do outro, senão eu teria um treco esperando na fila enquanto vc decidia pelo biotipo... Quero ver nessas eleições. Na passada ainda tivemos a oportunidade de sermos enganados e nessa? Não vejo luz no fim do túnel... Talvez apenas um branco na legenda.
    bjkas doces e boa semana.

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  31. Em portugal ainda usamos o método de destruir a Amazónia, uma folha de papel de cada vez. É-nos fornecida antecipadamente toda a informação sobre o(s) boletim(s) eleitoral (s), para a cruz no quadradinho da direita poder ser rápida. Na última vez que votei, votei num programa bonito de gente séria. Votei neste engano que vivemos todos os dias. Doravante é promessa que a a minha cruz de voto abrangerá toda a folha. Não ficarei mais feliz pelo planeta, mas sentir-me-ei mais orgulhosa como Portuguesa por não compactuar com mentiras.
    Beijinho da D

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  32. Gracias pedro por tus agradables palabras muy interesante tu entrada amigo pedro.pero dejame decirte que yo nunca voto a nada, porque sencillamente no creo en nadie solo en una persona Dios..cuidate feliz noche

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  33. E foi mesmo a melhor decisão para não compactuar, com a falta de seriedade da classe política, Pedro... e para todos os efeitos... você cumpriu com seu dever cívico, ficando de consciência tranquila.
    Não votar... é que eu não concordo... deve-se ir sempre... ainda que se deixe voto em branco... Pelo menos na contagem de votos, saber-se-á assim a percentagem de eleitores insatisfeitos!
    Abraço
    Ana

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muito obrigado pela sua leitura e comentário.
Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho