A
PAUL VALÉRY
– JOÃO
CABRAL DE MELO NETO
É
o diabo no corpo
ou
o poema
que
me leva a cuspir
sobre
meu não higiênico?
Doce
tranquilidade
do
não-fazer; paz,
equilíbrio
perfeito
do
apetite de menos.
Doce
tranquilidade
da
estátua na praça,
entre
a carne dos homens
que
cresce e cria.
Doce
tranquilidade
do
pensamento da pedra,
sem
fuga, evaporação.
Febre,
vertigem.
Doce
tranquilidade
do
homem na praia:
o
calor evapora,
a
areia absorve.
As
águas dissolvem
os
líquidos da vida.
E
o vento dispersa
os
sonhos, e apaga
a
inaudível palavra
futura
(que, apenas
saída
da boca,
é
sorvida no silêncio).
* *
(In
Duas
Águas.
Poemas Reunidos.João Cabral de Melo Neto.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956,
p. 137-138)
* * *
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Pedro Luso de Carvalho