– PEDRO LUSO DE CARVALHO
JOÃO GUIMARÃES ROSA nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, a 27 de junho
de 1908 (ano em que falece Machado de Assis, o nome mais importante da
literatura brasileira); morreu em 19 de novembro de 1967, três dias depois de
ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras.
Guimarães Rosa foi médico,
e exerceu a profissão por pouco tempo no interior de seu Estado; depois,
aprovado em concurso público no Itamarati, ingressou na Diplomacia e serviu em
Hamburgo, Bogotá e Paris. Estreou na literatura em 1946, com o livro de contos: Sagarana.
Obra de inegável valor, tanto suas novelas, Corpo de baile, ou Grande Sertão:Veredas,
o único romance do escritor, e sua obra-prima; também os contos que compõem Sagarana, como os contos que compõem Primeiras Estórias, Tutaméia, Estas Estórias
e Ave, Palavra – os dois últimos
surgidos postumamente.
Guimarães Rosa teve sua
obra reconhecida somente dez anos depois de seu primeiro livro, quando foram
lançados, quase simultaneamente, o ciclo de novelas: Corpo de Baile, e Grande
Sertão: Veredas. A partir de então, foi a glória.
Sobre o escritor mineiro,
encontramos no verbete Guimarães Rosa,
do Kogan Larousse, com a direção de Antônio
Houaiss, este pequeno texto: “Notável pelo ineditismo vocabular e fraseologia
eminentemente lúdica. A um só tempo neológica e arcaizante, regional e
cultista, mas sempre impregnada de forte carga estética (...)”.
Segue o trecho final do
conto Bicho mau, que integra o livro
Estas Estórias, de Guimarães Rosa (In Estas Estórias. João Guimarães Rosa.
4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. P. 217-218):
[ESPAÇO DO CONTO]
BICHO MAU (trecho)
– JOÃO GUIMARÃES ROSA
Um dia, justo, justo, em
sol e hora, depois do enterro de Seo Quinquim, outro acontecimento calamitara a
casa e a gente da fazenda. Virgínia, com o sofrer de muitas dores, tinha tido
uma criança morta. Ela mesma permanecia igual a uma morta, em funda sonolência,
na cama, no quarto, no escuro. Tão longe afundada, tão longemente, que os
outros sentiam sua presença pela casa inteira, de um modo que os inquietava,
pareciam mais humildes. Aquilo não era uma doença corporal, que desse apenas os
graves cuidados. Era um quieto viajar, fazia outras distâncias, temia-se-lhes a
estranhadez da loucura – era alguma coisa que ela aceitava. Trouxeram o médico,
um moço de fora.
Nhô de Barros teve que
conversar muito com ele. Ele quisera saber mais, sobre Seo Quinquim e a cobra,
a picada. Dizia que o soro não podia deixar de salvar o rapaz; a não ser se
tivesse sido atingido numa veia; mas, se fosse numa veia, teria sido fulminante.
Ora Seo Quinquim durara ainda muitas horas... Não teriam, acaso, dado ao doente
algum remédio de curandeiro? Garrafadas, calomelano com caldo de limão?
Sabia-se que era mantido, ali, na fazenda, como agregado, um desses,
charlatão... – “É um velho, um coitado. Dá-se casa p’ra ele morar, e três
alqueires, p’ra plantar, à terça... Ou teria sido outra qualidade de cobra?
Teriam reconhecido bem a cascavel?”
– “Sim senhor, seu
doutor. Isto sim, algum engano era capaz que tivesse havido. Mas era cascavel
mesmo, mesma, ela tinha mudado de novo, estava bem repintada, tinha chocalho,
um cornimboque de quatorze campanhiazinhas, só...”
* * *
Muito bom seu site
ResponderExcluirObrigado. Volte mais vezes.
ExcluirComo faço para ter acesso aos conto Bicho mau completo?
ResponderExcluirOi, Lenyce!
ExcluirO conto "Bicho mau", de Guimarães Rosa, está num dos livros que tenho desse autor. Penso que você poderá encontrá-lo completo na Internet.
Obrigado pela visita, Lenyce.
Um bom final de semana.
Um abraço
Boa noite, esse conta está no livro Estas estórias?
ExcluirLenyce, esse conto ("Bicho mau"), está no livro "Estas estórias", de João Guimarães Rosa, publicado pela editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 4ª edição, 1988 (pág. 217-218).
ExcluirEsse é o livro que tenho, mas é possível que uma ou mais edições existam, por essa ou por outras editoras, depois de 1988.
Um abraço e bom domingo.
Pedro