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5 de fev. de 2012

[conto] O SOLITÁRIO – Nelson Rodrigues



PEDRO LUSO DE CARVALHO

NELSON RODRIGUES foi um importante dramaturgo. Basta ler algumas de suas obras para não termos dúvida disso. São elas, Vestido de noiva (1943), Álbum de família (1945), A falecida (1953), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será castigada (1965).
O dramaturgo foi um homem extremamente crítico. Seus alvos eram os pequenos-burgueses, como eram chamadas as pessoas de posses. Então tirava a máscara dessas pessoas hipócritas e preconceituosas.
Nelson Rodrigues nasceu a 23 de agosto de 1912, em Recife, e morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro.
Escolhemos para esta postarem o conto A desconhecida, do mestre Nelson Rodrigues (in A vida como ela é... (in A vida como ela é... / Nelson Rodrigues, Rio de Janeiro, Agir, 2006, p. 105, que segue:


O SOLITÁRIO
NELSON RODRIGUES


Separaram-se. E, subitamente. Orlando se viu só no mundo. Encerrou-se no quarto: passava horas, de busto nu, procurando manchas nos braços, no peito e sentindo todos os intomas possíveis e imagináveis. Sua ideia fixa era que todos, mesmo os transeuntes desconhecidos e eventuais, sabiam de tudo, sabiam que ele fora contaminado pela velha. E, sobretudo, tinha medo de ser internado, um medo absoluto, uma pusilanimidade mortal, que o fazia chorar como um menino. Até que, uma vez vez, bateram na porta. Perguntou: “Quem é?” E ouviu uma voz que não identificou logo: “Sou eu. Abre.”E viu entrar, no quarto, sua cunhada Margô. Durante alguns instantes, olharam-se, apenas. E como ele, trancando os lábios começasse a chorar, ela disse apenas:
Fugi de casa. Vim falar contigo.
Ele não fez um gesto, não disse uma palavra. Então, Margô o beijou, nos lábios, muitas vezes.



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Pedro Luso de Carvalho