A MULHER DE MEIA-IDADE
– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Sei que me
lembrarei em todas as eleições daquela
mulher de meia-idade, que conheci na secção em que voto, há pouco
mais de dois anos, quando se deu a última
eleição para a presidência da República.
Por estar ela
ainda bem
viva na
memória,
pressinto que nos encontremos na mesma secção eleitoral, no dia
três de outubro, quando votaremos para escolher prefeito e
vereadores do
município.
É bem verdade
que é meu desejo encontrar aquela mulher de meia-idade, como é
verdade que não tenho nenhuma vontade de ir às urnas para depositar
o meu voto, por não sentir nisso nem
emoção
nem
interesse.
É verdade que
me sinto inquieto quando penso em encontrá-la, em razão dos fatos
ocorridos naquela época, há dois anos, quando se deu a eleição
para presidência
da República.
Estará
bem,
a mulher
de meia-idade?
Parece-me que
foi ontem que a vi apoiada em duas muletas, fazendo um esforço
sobre-humano para chegar à secção em que votava, pois
já
estava na hora de terminar a votação.
Faltavam
apenas dois minutos.
A mulher de
meia-idade apoiava-se nas muletas e
as lançava para diante do
corpo para
depois impulsionar-se para
frente, completando
a caminhada ao
puxar as pernas atrofiadas, que
eram
arrastadas por ela.
Naquele
momento, tive o ímpeto de ajudar a mulher de meia-idade para que ela
pudesse chegar a tempo à urna, mas logo desisti desse intento, pois
entendi
que ela poderia desaprovar o meu pretenso
gesto.
No dia das
eleições, três
de outubro,
pretendo
ficar em
frente ao
prédio da
secção
eleitoral, em
que ela e eu votamos, na
esperança de encontrá-la.
Quero rever
essa
mulher tenaz, que a
vi arrastar-se
para votar.
Ficarei no
pátio do prédio, à
sombra de uma figueira, onde
irei votar –
por ser o voto obrigatório –, à
espera daquela obstinada mulher de meia-idade, se é que ela
ainda tem
alguma esperança nos políticos.
* * *
Que legal e causa espanto mesmo pessoas assim. Eu assim que completar 70 não apareço mais por lá! Chega de bancar a palhaça e se fosse bom votar, não seria obrigatório! Também não me entusiasmo com as eleições e pior, ainda tenho que me deslocar pra SL pois não transferi meu domicílio eleitoral para não correr o risco de ser pega para mesária.
ResponderExcluirEra só o que faltava!rs
Depois conta pra nós se a senhora apareceu! abraços, chica
Que bela crônica Pedro
ResponderExcluirInteresse em votar? Só se for alguém que cultive uma remota esperança nos políticos desse país
Mas como a mulher de meia idade existem muitos que lutam bravamente para chegar às urnas. Tomara que a escolha pretendida não traga dor e decepção
Uma semana abençoada
Abraços
Lembro daquela mulher, havia nela, ainda, um resquício de vontade, talvez um sonho. Fez grande esforço para chegar à sua secção. E pareceu, mesmo, que não era de muitas amizades...
ResponderExcluirMas quanto às eleições, é assim que vamos ficando, vai aparecendo o desencanto, sumindo a esperança, enterrando os sonhos. Assim ficam as coisas quando os interesses são voltados para o individual. O desencanto tomou conta do país. Estamos rememorando a última eleição. E amanhã, bem... será um dia 'cabeludo', e entrará para a história!
Beijinho, daqui do lado!
Uma crónica excelente como sempre, amigo Pedro. Irá encontrar a senhora de meia-idade com certeza, pois ela não desistirá da esperança que nos leva a todos, quando votar se revela um acto cívico, mesmo quando a política nos desilude...
ResponderExcluirUma boa semana.
Beijos.
Amigo Pedro, bom dia de segunda-feira que está deixando os brasileiros inseguros mais ainda!
ResponderExcluirNão se sabe o que acontecerá a partir daqui?!
Ir às urnas é obrigatório, deveria ser um prazer, um dever cívico!
Esperemos que nos conte se realmente a senhora de meia idade persistente comparecerá?!
Bom conto, gostei de ler como sempre!
Abraços apertados!
Ótima crônica!
ResponderExcluirE eu aqui, cheia de vontade de ignorar votações.
Dices bien. Hay que confiar mucho en la política para acudir a las urnas aunque haya que llegar realizando un gran esfuerzo. Esa persona confía en la importancia de su voto, dichosa ella y la fe que la sostiene.
ResponderExcluirUn cordial saludo. Franziska
Bela e tocante crônica. Um relato que nos ajuda a lembrar do
ResponderExcluirnosso ato democrático do voto, mesmo com todos os absurdos e todas
decepções e a difícil tarefa de acreditar nesta classe política
nefasta.
Boa semana, Pedro.
Abraço.
Duro momento que nos toca vivir, tratando de no perder las esperanzas....
ResponderExcluirBesos, desde España, Marcela♥︎
OI PEDRO!
ResponderExcluirTUA FRASE FINAL COMPLETOU O QUE PENSAVA ENQUANTO TE LIA, MAS, SE A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE MESMO, NA CERTA A ENCONTRARÁS, POIS EMBORA ESTEJAMOS COM AS ESPERANÇAS ABALADAS NO QUE SE REFERE A POLÍTICOS, SOMOS TEIMOSOS, E CONTINUAMOS CUMPRINDO COM NOSSO DEVER CÍVICO E ESTA SENHORA A QUAL TE REFERES É UMA HEROÍNA.
TUAS CRÔNICAS SEMPRE INTERESSANTES E PERTINENTES.
ABRÇS
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El voto es importante para obtener lo que uno espera del mejor partido con lo cual siempre hay que hacer un esfuerzo e ir a votar siempre que uno puedas, últimamente nosotros votamos por anticipación con lo cual nos encontramos con menos multitud.
ResponderExcluirUn abrazo.
Hola, Pedro
ResponderExcluirDos reflexiones me asaltan tras leer su entrada.
El contrasentido de que la mujer que usted tan bien describe, cumpla con su deber por mucho esfuerzo que le cueste. Mientras el político, al que ella mantiene, quizá sea de los que un día se colgaron de esa teta pública vitalicia y así vivirá de por vida.
Y otra, Que a mediados del XIX, Flaubert nombraba a la protagonista de una de sus novelas, “femme d'âge moyen” cuando esa mujer tenía poco más de 30 años.
Algo hemos avanzado. Un saludo.
No perdamos la esperanza a pesar de estos tiempos difíciles.
ResponderExcluirExcelente tu relato.
Un abrazo.
Oi, Pedro...vontade de votar nenhuma, necessidades todas...só assim poderemos exercitar a nossa competência de escolha e na habilidade de acertar nos melhores. Quando nós deixamos de exercer nosso direito, cresce a oportunidade dos malandros chegarem ao poder. Faço votos que a mulher tenha se arrastado para votar em busca de um candidato honesto.
ResponderExcluirUm abraço
Este olhar sobre o cotidiano, que me encanta nos cronistas, nada passa por eles, que não seja inspiração. E eu fico daqui a ver esta mulher arrastando as pernas para o nada, vejo o teu olhar de encantamento do gesto de patriotismo dela e seu olhar a se desviar para que não seja observado e nem possa ver nos seus olhos o desencanto com a politica.
ResponderExcluirPerfeito mestre. Eu cá no meu cantinho, já fico enojado de ter que ir até às urnas para dizer que me obrigam a ir, mas que é certo que será um NULO.
Um abração mestre na boa semana.
Boa tarde Pedro.
ResponderExcluirFelizes sao os que não perdem a esperança de um País governado de forma honesta como um belo exemplo dessa senhora. O que não é o meu caso. Vou confessar uma coisa nenhum político recebeu o meu voto. E agora então depois disso tudo piorou ainda. Uma bela crónica . Um feliz dia. Grande abraço.
Uma bela história meu amigo, gostei bastante de a ler.
ResponderExcluirUm abraço.
Andarilhar
Pedro, a minha vontade de votar, é igual a vontade desses políticos de serem descentes e honestos!
ResponderExcluirMas me arrastando também, eu chego lá mais uma vez!
Um grande abraço amigo,
Mariangela
Bom dia, Pedro, sua crônica nos traz à lembrança a nossa obrigatoriedade em depositar nosso voto. Confesso que me emocionei ao ler seu registro sobre a grande mulher em seu objetivo de fazer o seu melhor. Quantas pessoas, que nem chegamos a ver, dão seu último esforço para irem às urnas, além do voto depositam toda a confiança e esperança naqueles que nem sabem quantos sofrem por seus "políticos", aqueles que fizeram da coisa pública o seu privado, penso que é mais ou menos assim , a frase. Hoje, a desconfiança e insegurança aumentaram, o voto deveria ser optativo, o que seria bem mais justo. Desejo de coração que você consiga encontrar a tal senhora e perguntar a ela se valeu a pena o seu voto. Tenha uma linda tarde! Abraço!
ResponderExcluirThis is such a wonderful post! Have a nice day:)
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ResponderExcluirkisses
São mulheres dessa têmpera que nos fazem ter esperança...
ResponderExcluire reduzem a cinza o cepticismo ...
Pedro, você sabe que um homem também se emociona?
Grato.
forte abraço
Pedro
ResponderExcluirA cada eleição, há sempre a esperança que, desta é haverá políticos a não esquecer as promessas com aliciaram os cidadãos. Será mais esse o sacrifício da "obstinada" mulher de meia idade para deixar dito: com imensa dificuldade cumpri um dever de cidadania. E e vocês politicos vão deixar de ser os eternos esquecidos?
Veja e comente o post
Cidade de Ouro Preto
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BRASIL: SORRISO DE DEUS.
Abraço
Es admirable gente así, apreciado Pedro, en medio de un descrédito generalizado de la política y los políticos, sensación muy familiar también aquí en Chile, en que hay un divorcio cada día mayor entre la llamada "clase política" y la ciudadanía.
ResponderExcluirAbrazo austral.
Seguro que ya sabes como está el panorama político español, nosotros ya no sabemos que hacer pero votar, seguro que votaré.
ResponderExcluirCreo que los políticos de todo el mundo son iguales, los mismos perros, con distinto collar.
Un abrazo Pedro, y no dejes de ir a las urnas.
Me diste hambre de higos, los tengo en la heladera.
ResponderExcluirAquí es la época.
Suerte con el voto y que encuentres a esa mujer tenás.
Um abraço
Es estupendo ver como algunas personas mantienen ese tesón para cumplir con el voto, esperando que salga lo que en su interior piensa que es mejor, y no pierden nunca la esperanza.
ResponderExcluirUn placer volver a leerte Pedro.
Un abrazo.
Caro Amigo Pedro a crônica é ótima, mas nem consigo entender a tenacidade desta senhora, já há alguns anos que voto por ser obrigada e fico escolhendo o menos pior, pois bom e honesto nenhum existe, Agora chega, não voto mais, vou anular meu voto com todo prazer e tenacidade.
ResponderExcluirMas tomara que encontres esta senhora tão patriota pelo menos ainda estará viva e quem sabe com esperanças de um pais mais honesto.
Parabéns pela cronica, ótima e atualíssima
grande abraço, Léah.
Tomara que encontres essa senhora, uma rara pessoa
Hola Pedro.
ResponderExcluirGracias por este relato en que muestras que la esperanza sigue viva, aunque sea por la (política) cosa que a mi poco esperanza me inspira, pero al igual que esa Señora también sueño con mundo mejor.
Un buen fin de semana y un abrazo.
Ambar
Uma interessante crónica do cotidiano.
ResponderExcluirHá pessoas que enfrentam as maiores dificuldades para fazer uma coisa cujo interesse é relativo.
De vez em quando somos assaltados pelo desejo de ver uma pessoa para saber da sua evolução.
Não sabia que aí o voto era obrigatório.
Amigo Pedro, tem um bom fim de semana.
Abraço.
Por muito que a política nos desencante... muitos lutaram antes de nós, para que possamos deixar nossa opinião na urna, na forma de voto... senão viveríamos num regime ditatorial... não consta que tais regimes, sejam muito populares também... e tornem seus cidadãos mais felizes...
ResponderExcluirComo dizia Churchill, a democracia não será um regime perfeito... mas ainda é o melhor que se conhece...
Adorei a crónica! Abraço! Bom fim de semana!
Ana
Tus palabras finales son inteligentes y precisas. Y absolutamente de actualidad...
ResponderExcluirAbrazos,Pedro.
Na verdade Pedro, mesmo sem dificuldade em caminhar, quantos de nós já desistimos de acreditar em eleições e em políticos!?
ResponderExcluirEu sou das tais de meia idade que não tendo dificuldades em andar, gasto todos os dias as minhas energias no meu local de trabalho, acredito apenas no meu trabalho, nunca ninguém me deu nada, ou favoreceu.
1 beijo Lídia
Excelente texto, Pedro. Deu para entender o motivo pelo qual a senhorinha marcou sua lembrança. Tanto esforço assim para votar, em tempos de imensas frustrações, onde o que mais queremos é estar bem longe das urnas, ela mereceu uma crônica.
ResponderExcluirPalmas para o texto inteiro, em especial o parágrafo final. \o/
Dadas as opções, será doloroso votar esse ano, mas o bom é que voto na mesma escola que estudei e sempre acabo por rever meus amigos de infância e adolescência.
ResponderExcluirGostei muito, Pedro. Tomara que vc reencontre a mulher de meia idade, que como curiosa que sou, fui pesquisar esse termo e descobri que é uma mulher entre 35 e 58 anos.Estou quase lá....rsrs
Yo creo que hay que ir siempre a votar. Es un derecho al que no se debe renunciar aunque sepamos que los políticos son, en su mayoría, ineptos.
ResponderExcluirNo sabía que en Brasil fuese obligatorio ir a votar. No es mala idea.
Abraços.
E quantos somos de meia idade a persistir no voto nos insanos que nos governam? E os chamo de insanos com o aval de um deles, um alagoano inalcançável, nos parece, pela justiça...
ResponderExcluirForte abraço, Pedro!