- PEDRO
LUSO DE CARVALHO
LUIZ DE
MIRANDA não é apenas um dos poetas gaúchos mais importantes; ele
está colocado entre os melhores poetas modernos brasileiros e da
América Latina.
Alguns dos
poetas e críticos brasileiros mais representativos falam sobre a
poesia de Luiz de Miranda (in Antologia de Poemas/Luiz de Miranda.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987), como veremos a seguir:
CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE: “Poesia aberta, comunicante, como um sopro de
vida e insatisfação”.
FERREIRA
GULLAR: “No caso de um poeta como Luiz de Miranda, as soluções
formais resultam da necessidade de formular o vivido e sentido,
emoções e ideias que são expressão de um compromisso claro com
seu país e o seu tempo. A poesia de Luiz de Miranda fala de nós
todos”.
RAUL BOPP: “A
poesia de Luiz de Miranda revela a sensibilidade do verdadeiro e
grande poeta. É uma contribuição definitiva à literatura
brasileira”.
GUILHERMINO
CÉSAR: “De qualquer modo, penso que Memorial assinala uma
vertente; reúne-se ao que de melhor existe no Brasil”.
NELSON WERNECK
SODRÉ: “Luiz de Miranda sabe que a solidão é provisória e
decorre de derrota, exílio, distância, saudade. Escreveu longe e
perto. Sua poesia se junta a de alguns, uns poucos, que souberam ver
o que viu, sentir o que ele sentiu. A época, amarga e opaca e
escura, é atravessada por essa poesia como um relâmpago. Sua luz
denuncia auroras. Do provisório, entrevemos o definitivo”.
JOSÉ ÉDIL DE
LIMA ALVES: “Poeta comprometido com a realidade do seu país e de
seu continente, ele trilha os caminhos percorridos por um Pablo
Neruda, um Atahualpa Yupanqui, um Ferreira Gullar, com seu canto
enérgico de protesto”.
O poema Breu
das Almas, de Luiz de Miranda, integra o livro Trilogia da Casa de
Deus, Prêmio Nacional de Poesia 2001, da Academia Brasileira de
Letras (In Trilogia da Casa de Deus./Luiz de Miranda. Porto Alegre:
Sulina, 2002, p. 143-144); segue o poema Breu das Almas:
BREU DAS
ALMAS
- LUIZ DE
MIRANDA
a Vanja
Orico
Em mim, o
silêncio do mar,
pulsando a
remota invernia,
somente descem
a ampulheta dos dias,
frêmitos e de
prata impura,
na vidraça
onde morre o vento.
Por milhares
de anos foi assim,
um balde de
ternura ao fim
da borrasca,
da solidão e do medo.
Em mim, morrem
todos os segredos,
tombam as
tempestades
cobertas de
esquecimento.
Puída e cheia
de pó,
a alma canta o
que fui de menino
a se perder
para sempre
no trevoso
breu dos anos,
mas ainda à
noite me alucino
na
contemplação dos velhos retratos,
fechados a
sete chaves no meu quarto.
Homero e Dante
me consolam
no plenilúnio
do paraíso.
A morte vem
sem aviso,
tecendo os
noturnos do adeus.
Ninguém me
ama,
e tarda, tarda
muito, amanhecer,
mas viver,
como disse antes,
é ir com
todos
sem nunca se
perder.
Vou pelas
vielas da minha pátria,
tão
esquecida, miserável e humilhada
nos gabinetes
do poder.
Pátria
pobrinha da minha alma,
te canto
sempre em tom maior.
Entre lendas e
beijos,
te coloco ao
pé dos santos,
para que
envolvida pelos seus mantos
permaneças
viva e intocada.
Pátria minha,
sempre amada.
Em mim está
bem desperto
o pólen, a
pétala, a pérola
que descem
comigo ao inferno,
e voltamos
lúcidos à vida,
do breu das
almas e do inverno.
Não haverá
mais partida ou despedida.
Porto Alegre,
1º
de setembro de 2000.
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Pedro Luso de Carvalho