– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Em
entrevista concedida a Homero Senna (in Carlos Drummond de Andrade,
Edição Crítica 1) Carlos Drummond
responde à pergunta feita por Homero Senna, qual
seja:
“Como se fez escritor?”:
– Não
sei, nunca poderei saber. Nem sei mesmo se sou escritor, Todo mundo
que aprendeu a ler e a escrever é mais ou menos escritor. E é tanto
mais quanto menos procure dar ao que escreve o tom de literatura.
Porque observe que esta se revela onde não é posta e recusa-se a
aparecer onde querem pô-la. Ou por outra: julgo que a literatura tem
muito menos de intencional do que se imagina. Grandes livros se
fizeram com memórias e seleções de cartas particulares,
absolutamente despidas de preocupação literária. Até livros de
ficção ou poesia, escritos por desfastio, e secretamente, foram
depois atingidos pelo favor da crítica ou do público. Não vejo,
assim limite ou contorno estabelecido pela personalidade do escritor.
A vocação literária, como lhe chamamos, pode ser considerada,
apenas, numa inclinação maior para para o exercício a que todos
uma vez ou outra nos dedicamos, que é o de escrever com aparente
desinteresse, isto é, sem fim prático. Mas até esta definição é
precária, pois hoje o literato não não só se faz e se quer muito
interessado, do ponto de vista social e político, como ainda as
condições do mercado o tornam “interessado” economicamente,
isto é, o situam numa nova profissão, a de escritor, e lhe
determinam uma produçõao ao gosto do público, mais ou menos como a
da roupa, dos objetos elétricos, de tudo que se compra e vende por
aí… Não sei se me fiz, nem se sou escritor.Às vezes gosto de
escrever.Às vezes (quase sempre) não gosto. Escritor intermitente,
no máximo.
Segue
o poema de Carlos Drummond de Andrade, “Antologia
(in
Menino antigo.
Carlos Drummond de Andrade. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora, 1974, p. 119):
ANTOLOGIA
– CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE
Guardo
na boca os sabores
da
gabiroba e do jambo,
com
a fragrância do mato
colhida
ao pé. Distintos.
Araticum,
araçá,
ananás,
bacupari,
jatobá…
todos reunidos
congresso
verde no mato,
e
cada qual separado,
cada
fruta, cada gosto
no
sentimento composto
das
frutas todas do mato
que
levo na minha boca
tal
qual se me levasse o mato.
* * *
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Pedro Luso de Carvalho