AGORA, OS BENS!
- PEDRO LUSO DE CARVALHO
As
providências tomadas pelos filhos, após a morte de seus pais, passados os
momentos em que se vêm às voltas com a doença que os acomete, com os cuidados a
eles dispensados, e, por fim, com os procedimentos para o sepultamento ou
cremação, estão relacionadas com a divisão dos bens patrimoniais, que passaram
a integrar o espólio.
Então,
sem perda de tempo, contratam advogado para a abertura do inventário, depois da
escolha, que fazem entre eles, de quem os representará no processo judicial; e,
após essa escolha, feita entre algumas escaramuças, tem-se o inventariante. Depois,
um sentimento passa a dominar os herdeiros: a desconfiança.
A partir
daí, passam a viver uma realidade completamente nova, dando a impressão, para
quem os observa à distância, que essas pessoas – os herdeiros – mudaram, fazendo crer que adquiriram um novo
caráter, embora se saiba da
impossibilidade de tal transformação.
Os
herdeiros agora admitem a si próprios, embora com relutância, que são pessoas
ávidas e egoístas. Mas, usando o senso prático, partem em busca do que lhes
pertencem, deixando pouco espaço para lembrança e saudade de quem, com
sacrifícios, reuniu os bens que agora serão partilhados.
E passam
a preocupar-se com o andamento do inventário, com o sentimento de desconfiança
sempre presente, tanto em relação ao advogado contratado, como em relação ao
juiz do inventário. Para eles, o processo parece durar uma eternidade.
Então,
um sentimento de pessimismo passa a ocupar um lugar ao lado da desconfiança,
que está instalada no íntimo de cada um deles: imaginam que nunca tocarão nos
bens que receberam, por herança. Tal descrença persistirá até o momento da
posse dos bens, que são objeto da partilha.
Depois
de tudo estar resolvido, e cada um deles já na posse dos respectivos imóveis, e
já tendo sob controle as respectivas
aplicações financeiras, o sentimento de revolta ainda persiste, por tudo que
tiveram de desembolsar: impostos, honorários para o advogado, gastos com as custas do inventário.
Resta a
eles, por fim, a possibilidade da lembrança dos pais, nas pausas dos seus
negócios; e sempre poderá haver algum sentimento de culpa, pelo que deixaram de
fazer, a quem legou esses bens; esses filhos poderão sentir também algum vazio
na alma, pelo que poderiam ter feito a eles, agora mortos: um carinho, uma
palavra amiga, etc.
O certo
é que, como o movimento da roda é um só, mais tarde a situação se repetirá,
agora também com eles, só que, dessa vez, o polo das situações será outro, e
assim, sucessivamente, até o final dos tempos.
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Meu abraço a todos os amigos.
Pedro Luso de Carvalho