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8 de dez. de 2012

MO YAN - Prêmio Nobel de Literatura




             Mo Yan homenageia mãe analfabeta e confessa que mal aguentou polêmica com Nobel


“Graças à televisão e à Internet, pode ser que vocês tenham conhecido a minha terra natal, no distrito de Dongbei de Gaomi, que fica muito longe daqui”, foi assim que o escritor chinês Mo Yan, o prêmio Nobel da Literatura 2011, começou a palestra que fez na tarde desta sexta-feira na Academia Sueca, em Estocolmo, intitulada Os que contam as histórias.

“Pode até acontecer que tenham visto o meu pai, um senhor de 90 anos, ou os meus irmãos, a minha mulher, a minha filha e a minha neta de 14 meses. Mas há alguém para quem, neste instante, vão todos os meus pensamentos: é a minha mãe, que vocês nunca verão. Muitas pessoas partilharam comigo a honra deste prémio, mas, para a minha mãe, isso é uma coisa impossível”.

A mãe de Mo Yan, o primeiro escritor chinês a receber o Nobel da Literatura, autor de Mudanças (ed. Divina Comédia) e de Peito Grande, Ancas Largas (ed. Babel), morreu em 1994 e era analfabeta. Foi a ela que o Nobel da Literatura, de 57 anos, dedicou o discurso de agradecimento pelo prémio que lhe foi atribuído em Outubro. Um discurso que, tal como tinha dito na conferência de imprensa de quinta-feira, foi dedicado a contar a sua própria história e intercalado com as suas memórias.

Falou da sua primeira recordação (quando pequeno, frágil por causa da fome partiu o único termo que existia em sua casa e a mãe, em vez de o castigar, fez-lhe uma festa na cabeça e suspirou longamente); da sua recordação mais amarga (quando viu a expressão de desespero da mãe ao ser esbofeteada por um homem); da recordação que nunca mais apagou da memória (a discussão com um velho mendigo numa festa de Outono) e do que lamenta mais na sua vida (ter feito a mãe sentir vergonha dele por causa de ter cobrado mais dinheiro do que devia a um velho homem a quem vendiam couves no mercado). Contou também do medo que teve que a mãe se matasse quando ficou tuberculosa e a família estava numa situação difícil, "sem nenhuma luz, nem nenhuma esperança no horizonte".

Mo Yan afirmou que se a sua infância foi "cruelmente marcada pelo abandono da escolaridade, pela fome, pela solidão e pela ausência de livros", tal como aconteceu com o escritor chinês de uma geração anterior à sua, Shen Congwen, cedo começou "a ler o grande livro da vida". E quando abandonou a escola e se viu no meio do mundo dos adultos iniciou um "longo percurso de 'leitura auditiva', de aprender ouvindo".

O escritor chinês referiu como foi inspirado pelo escritor norte-americano William Faulkner e pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez. "A minha experiência diz-me que a razão fundamental que faz com que um escritor seja influenciado por um outro escritor é que existe no fundo da alma dos dois protagonistas neste tipo de relação qualquer coisa de parecido. E é precisamente isso o que significa a expressão: 'estar em comunhão de ideias'".

No final do seu discurso, explicou o que quis fazer com o romance Peito Grande, Ancas Largas, que escreveu depois da morte da mãe, e explicou também qual o seu processo de criação. Disse que é um "homem que conta histórias" e por essa razão recebeu o prémio Nobel da Literatura. “A atribuição do prémio Nobel da Literatura criou alguma polémica. No princípio, pensei que as coisas me diziam respeito pessoalmente, mas, pouco a pouco, fui tendo o sentimento de que eu não era a pessoa visada. Senti-me um espectador de uma peça de teatro de que eu próprio fazia parte. Via que ao protagonista, vencedor de um prêmio, ofereciam flores, mas, ao mesmo tempo, atiravam pedras e água suja. Temi que não conseguisse aguentá-lo. Apesar disso, sujo de flores e pedras, [o protagonista] limpou as manchas de água suja, saiu tranquilamente sorrindo e declarou: 'Para um escritor, a melhor forma de falar é a escrita. Tudo o que eu tenho a  dizer, já o disse nas minhas obras'.”


(Isabel Coutinho – Publico – Cultura)


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3 comentários:

  1. Pedro, parabéns pela postagem e pelo bom gosto!
    Beijos,
    Martha

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  2. Que beleza de história. Sim, as pessoas mais simples podem nos ensinar muitas coisas.

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Pedro Luso de Carvalho