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4 de dez. de 2011

[Conto] NELSON RODIRGUES / Lua-de-mel

Nelson Rodrigues



                    por Pedro Luso de Carvalho


        Antes de transcrevermos Lua-de-mel, trecho do conto O silencioso, que é um dos contos que compõem A vida como ela é... / Nelson Rodrigues, Rio de Janeiro, Agir, 2006, p.533), duas linhas sobre esse mestre da dramaturgia.

        NELSON RODRIGUES - Nelson Falcão Rodrigues – nasceu a 23 de agosto de 1912, em Recife, e morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro. Foi o mais importante dramaturgo brasileiro do século XX. Nas suas obras ataca o mundo pequeno-burguês nas teias de ilusão e hipocrisia em que vive.

        O próprio Nelson Rodrigues provinha de um ambiente da pequena burguesia, que lhe proporcionou, desde pequeno, um forte senso crítico. Durante a Ditadura Militar teve peças censuradas. Suas principais peças são: Vestido de noiva (1943), Álbum de família (1945), A falecida (1953), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será castigada (1965).

Segue, pois, Lua-de-mel, trecho do conto O silencioso,  que é um dos contos que compõem o livro  A vida como ela é...  de Nelson Rodrigues:


                                                 [ESPAÇO DO CONTO]

                                                     LUA-DE-MEL
                                                                    (Nelson Rodrigues)


     
        Segundo os cálculos feitos, a lua-de-mel devia durar um mês. No fim de 12 dias, porém, com surpresa para a família, os noivos regressaram. D. Eunice, ao vê-los, arremessa-se. Abelardo, em pé, responde, lacônico: “Foi ela!” E, então, atribuladíssima, D. Eugênia vira-se para o genro: “Sente-se!” Já a velha se apoderava da filha, levava a pequena para fora. E, sozinha com a mãe, Lúcia começa a chorar:

        – Não aguento mais! Não posso, mamãe! Quero, mas não posso!

        Aterrada, D. Eunice não sabe o que pensar, o que dizer. Senta-se ao lado da filha: toma, entre as suas, as mãos da moça: “Mas que foi que houve?” Lúcia ergue-se, anda de um lado para outro e, súbito, estaca:

        Esse homem não fala, mamãe. Não diz uma palavra! A senhora sabe o que é passar horas , dias, ao lado de um marido que não abre a boca? Eu acabo maluca, mamãe.

        D. Eunice, sem uma palavra e cada vez mais assombrada, escuta só. Finalmente, pergunta: "Mas venha cá, é só isto?" Lúcia a interpela com violência:

         E a senhora acha pouco? Oh, mamãe!

        A outra perde a paciência:

        – Quem diz "oh" sou eu! Parece incrível, que você esteja fazendo tamanho barulho por um motivo tão bobo! Sossega!

        E a outra, fremente:

         Pode ser bobo, mas o fato é o seguinte, eu vou me separar, mamãe. E das duas uma: ou me separo ou a senhora não terá mais filha por muito tempo!



                                                                  *   *   *


Um comentário:

  1. Pedro,

    O Nelson Rodrigues é único. Ninguém conseguiu sequer imitar. Um fenônomeno da literatura brasileira, um marco. Pessoalmente, simplesmente adoro o homem.

    abço grande

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Pedro Luso de Carvalho