[ESPAÇO DA CRÔNICA]
O PASSADO É LOGO ALI
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
De que valeu o
sacrifício no decorrer desse
tempo? – perguntava o homem soturno, para si mesmo. E
ainda se questionava: era
isso o que
a vida tinha para me dar, depois
do tanto que fiz, depois de tantas
renúncias?
O homem sentia que os
caminhos,
pelos quais andou, não eram
motivo para se envaidecer,
mas ter ciência disso de nada lhe servia, agora que
já não tem mais o mesmo
brilho nos olhos, agora que
não tem
o ímpeto que tinha para sempre avançar.
Recrimina-se, o homem, por não ter
sabido escolher os seus caminhos, por não ter evitado
as tantas encruzilhas
traiçoeiras; e também
pelo sofrimento
que causou – tantos foram
os seus amores –, deixando rastos
de ninhos desfeitos.
O homem lembra-se
da infância com saudade, e
quer
sentir o perfume das
macieiras no pomar, amadurecendo; quer
ouvir o
cântico
das águas do riacho correndo entre
os arbustos; quer ver
a lua no escuro da noite, brilhando entre
as árvores.
O homem quer voltar àquele mágico
tempo, em que era acolhido
pelas árvores,
com as quais tinha
indestrutíveis
laços de
amor. Tempo em que o corpo
do
menino tinha a
proteção dos ramos que o
cobriam,
quando havia sol
ou chuva.
Então pressentiu, o
homem soturno, que ainda
poderia
encontrar a salvação,
pois tinha
visto que o passado é logo ali.
* * *
Olá, Pedro.
ResponderExcluirTalvez tenhamos aqui, nesta belíssima crônica da alma arrependida, a mesma divagação tão tocante encontrada em Frost em seu "Caminho recusado" e a verdadeira gêmea em prosa daquele magnífico poema. Que mágica nos permite estar soturnos, alquebrados e, no entanto, ainda ter na infância o alento e o refrigério para nossas erradas escolhas?! Que mágica faz a mente já manchada de erros e malefícios, gozar a benesse de uma saudade pura, plena de lembranças indizíveis?! É a mágica da memória de um passado que está sempre logo ali. Abençoado seja o passado que nos mitiga a sede de nossos presentes desertos.
Grandioso texto, meu amigo.
Um abraço
Na verdade, a obra de Robert Frost a que me referi é o poema "Caminho Recusado" (The way not taken). Ele está(esplêndidos original e versão) num precioso trabalho de Jorge Wanderley (Antologia da Nova Poesia Norte-Americana), entre outros poemas muito, muito bons. Recomendo.
ResponderExcluirMas que bom que há lembranças boas no passado. Não há motivo para ser soturno. O presente, da vida adulta, é sempre o maior desafio, o mais difícil. Será que ele ainda não tem tempo de construir boas lembranças para o passado que daqui a pouco vai chegar?
ResponderExcluirUm grande abraço e parabéns pelo texto!
grato pasar por acá!!! preciosa prosa!!!
ResponderExcluirun abrazo fraterno,gracias por seguir mi blog!
lidia-la escriba
Procurar os caminhos da infância para recuperar a inocência do olhar... É a única forma de voltar ao passado sem que ele nos magoe. Porque como escreveu Orwell não há nada mais imprevisível que o passado.
ResponderExcluirUma crónica excelente, Pedro.
Uma boa semana.
Beijos.
La pregunta del protagonista es tan común…
ResponderExcluirLleva a pensar que para todos, incluso para quien reconozca que su pasado fue poco noble, el retorno a la pureza siempre es posible porque el pasado es inmutable, y como dices, siempre estará ahí para tratar de enmendarlo. Que se llegue o no a tiempo será otra historia.
Pero el sólo propósito ya tiene su valor.
O passado está a um fechar de pálpebras...
ResponderExcluirLinda crônica.
olá,
ResponderExcluiros caminhos são muitos, o difícil é escolher o certo. Lembrança da infância sempre nos dá uma nostalgia.
Abraços e boa semana.
Excelente texto!
ResponderExcluirE se o "passado é logo ali", pode-se dizer (por vezes) que o futuro será já além...
Uma boa semana.
Abraço
Rui
Wonderful pictures accompanied by words that speak sweet as the song of a bird in the morning of October ...
ResponderExcluirUm texto que remete à infância e trouxe-me lembranças de quando eu era menino.
ResponderExcluirGostei muito...
Um abraço.
Bom dia Pedro.
ResponderExcluirUma excelente cronica. Sempre costumo dizer o hoje sera o nosso futuro amanhá e para que não aja arrependimento no futuro, devemos viver intensamente o hoje, não deixando nada inacabado. O passado é logo ali. Mas as pessoas vão tomando rumos diferente, e nem sempre se pode voltar ao passado e fazer diferente. Gostei meu amigo de ler a sua cronica, me vez voltar um pouco do meu passado, que bom que foi sem arrependimentos de algo mal aproveitado rsrs. Uma linda semana para vocês. Grande abraço.
Ricordi che portano a ritroso nel tempo della fanciullezza, che, per buona parte di noi, è stato il periodo perfetto. Ma dal nostro passato deriva il nostro presente, e da esso ci avvieremo, consapevolmente, verso il nostro futuro. Una bella riflessione che ho molto gradito. Un caro saluto amico Pedro, Grazia
ResponderExcluirEl hombre debería pensar que en el pasado tuvo que decidir y decidió. De todos modos, el pasado ya no se puede cambiar. Es mejor poder seguir tomando decisiones.
ResponderExcluirSalu2 y abraços, Pedro.
É muito bom, quando se chega a uma certa idade, poder dizer: " ainda há salvação pois o passado e logo ali " , porque isso significa que o corpo está a ficar mais fragikizado, mas a mente continua a poder pensar.. Muitas pessoas, com a idade ficam soturnas, absortas em pensamentos como estes e acho isso natural. O caminho foi longo, com muitas encruzilhadas e muitas escolhas a fazer;
ResponderExcluirestas, por várias circunstâncias, nem sempre foram as correctas, umas vezes porque não
soubemos fazer melhor, outras porque a vida não permitiu. Sempre dizemos que temos de viver a
vida, dia a dia aproveitando o melhor dela e, a propósito disso vou falar um pouco do meu pai; foi um
taxista de aldeia aqui em Portugal, mas na medida do possivel viveu bem e passeou. Depois
quefomos para o Brasil as ccondições financeiras melhoraram muito e ele e a minha mãe viajaram
muito, fizeram vários cruzeiros e todos os anos vinham a Portugal e algumas delas de navio, Hoje, o
meu pai está com demência, há mais ou menos três anos. Vive o mundinho dele, sem sair de casa
, muitas vezes não conhecendo os netos. Ele nem lembra o passado, nem pode dizer: estou vivo,
afinal o passado é logo ali" A minha mãe, felizmente pode e ainda há dias me disse pelo telefone: "
gostava muito de voltar a Portugal, mas o teu pai não pode e eu sozinha não vou ; mas não faz mal
pois viajei muito com ele..." por isso, Pedro, felizes daqueles que podem dizer " o passado está logo ali.." Sempre digo a minha mãe " vá visitar as suas amigas, vá a casa dos seus netos, mesmo que tenha de usar cadeira de rodas; enquanto a sua cabecinha estiver lúcida, vá! Ontem a minha sobrinha fez aniversário e fiquei feliz por ela ter ido a casa dela participar da festa; custou-lhe deixar o meu pai com as enfermeiras, mas foi.
Continuando...desculpa, mas houve aqui um problema..
ResponderExcluirE assim é o processo da idade que avança e cujos efeitos diferem muito. A minha mãe esteve muito mal o ano passado, esteve em coma e ninguém achava que sobrevivesse; estive no Brail 3 meses e ao mesmo tempo que via o meu pai a definhar mentalmente( fisicamente evoluiu alguma coisa, apesar do 3o AVC ) via a mãe a melhorar significativamente; hoje está como era antes desse periodo e já com vontade de tratar do jardim e outros pequeninos prazeres. Pedro, obrigada pela crónica tão pertinente e que nos leva a pensar no nosso caminho daqui para a frente. Não vale a pena pensar muito, porque a vida tem um poder contra o qual nada podemos. Devemos sorrir, agradecer e não reclamar, mas o que nos espera é uma incógnita. O certo é só este instante. Um beijinho, amigo!
Emilia
El pasado con la infancia que suele ser idílica, siempre nos acompaña en la sombra a lo largo de la vida, y solo en el presente y en el futuro, volvemos a estar vivos. De ahí que hay que aprovechar la vida.
ResponderExcluirMagnífico texto.
Saludos
Olá Pedro,começo pela ilustração, que por si, é uma viagem ao passado pelos caminhos de casa da minha vó num canto de roça das Minas Gerais, é lá que mora grande parte de meu passado, ali depois da curva onde o rio intercepta aquele longo caminho de terra. Um tempo de feliz idade.E por assim dizer penso que tive uma infância adolescência perfeita sem queimar esta fase. Hoje olhar este passado não causa um querer retorno, deixo um sorriso e prossigo com este menino à tiracolo a me sustentar pela jornada.
ResponderExcluirBela esta cronica que este chamado para que se viva cada etapa em sua plenitude pois o amanhã é distante e o passado não ficou muito mais longe.
Meu terno abraço na boa semana.
Grato pela apresentação do Laerte.
Un paseo en el pasado y disfrutar mientras tanto del otoño con sus preciosos arboles.
ResponderExcluirUn abrazo.
Boa Tarde Pedro
ResponderExcluirEis a crónica dum regresso ao passado, uma construção literária através de metáforas a trazer o leitor suspenso.
Veja e comente o post
Capitania do Ceará
http://amornaguerra.blogspot.pt/
BRASIL: SORRISO DE DEUS.
Abraço
OI PEDRO!
ResponderExcluirQUE LINDO! O MOMENTO EM QUE O HOMEM SE DÁ CONTA DE QUE O QUE TEM DE MELHOR ESTÁ DENTRO DE SI, PRINCIPALMENTE AS PRÓPRIAS RECORDAÇÕES E QUE "O PASSADO É LOGO ALI...
GRATA AMIGO, PELA INDICAÇÃO DE MEU BLOG AO SILO, QUE JÁ ME VISITOU E AO QUAL PUDE CONHECER. DEIXO AQUI MEUS AGRADECIMENTOS POR TUA GENEROSIDADE.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Enquanto a mente funcionar bem, podemos até sentir o aroma das macieiras
ResponderExcluire da pureza do nosso tempo infantil...
Gostei muito de texto, Pedro.
Abraço, amigo.
~~~~~~~~~~
Queria dizer, 'gostei muito do seu texto, Pedro.'
ExcluirO passado foi ontem e não vale a pena "chorarmos" por não termos tomado algumas decisões, isso faz parte da vida e há que viver o presente o melhor que podermos.
ResponderExcluirUm belo texto meu amigo, gostei bastante.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
É meu amigo, é o que diz o povo - recordar é viver! Todos nós temos uma criança dentro da gente. De vez em quando eu surpreendo a criança ou é ela que me flagra taciturno e dá-me um puxão de orelha, a levar-me para a roda das cirandas em busca do antigo amor, da antiga menina que eu puxava suas transas. Daí vem-me a dúvida: mas quem é que puxava, eu velho ou ela, a criança que eu era? Então faço um acordo comigo mesmo, e me xingo: nós somos um só, oh imbecil! Porém aquele pensamento já me deu uma sensação de eternidade. E isso é vida, é viver. Ou reviver?... Meu abraço e agradecimentos por tudo que desagua em citações como a de Zilani Célia acima. Laerte (Silo).
ResponderExcluirPois então caro Pedro, nem tudo estava perdido. Aliás, o passado é um bom lugar, desde que não nos esqueçamos do presente.
ResponderExcluirConto muito bom. Um abraço. Tenhas um bom dia.
Creio que o ideal é viver bem o presente, mas nada impede que se faça, vez por outra, um passeio ao passado, desde que se vá ao
ResponderExcluirencontro de doces momentos.
Um abrasço.
Élys.
El pasado siempre nos acompaña y nos envuelve, hacer de él un buen compañero de camino depende en gran medida de nosotros. No hay duda de que en el presente siempre hay huellas del pasado.
ResponderExcluirUn abrazo Pedro
Oi Pedro...dizer o quê diante de tantos testemunhos maravilhosos. Assino embaixo de todos eles pois representam uma experiência única e ao mesmo tempo universal.
ResponderExcluirEnquanto buscamos o futuro e o tempo passa o passado vai ficando cada vez mais perto e mais presente em nossa alma.
Um abraço
Yo, siempre recuerdo los jazmines 774, donde el perfume y el color de las flores nos iluminaban, donde mi papá estaba vivo y eramos una familia tan, pero tan feliz.
ResponderExcluirUn abrazo enorme y nostálgico.
Muy lindo post.
mar
Cabe una reflexión:
ResponderExcluirNada sacamos con "llorar sobre la leche derramada". Solamente el futuro podrá redimirnos.
Saludos australes.
gostei muito do texto e concordo, o passado é logo ali, para quê remoer passado...se já passou...
ResponderExcluirbeijinho
:)
Sim, o passado é logo ali, mas o que se fez já não pode ser desfeito, fica o que aprendemos com as nossas escolhas, boas ou más e fica também guardado na memória o tempo magico da nossa infância.
ResponderExcluirExcelente texto.
Um abraço
Maria
Acho que é grandioso chegar a uma fase da vida e admitir que se falhou e que as memórias do passado são a salvação para o futuro.
ResponderExcluirAmigo Pedro foi assim que interpretei o seu excelente texto.
Um beijinho grato
El pasado, nunca se va, siempre está.
ResponderExcluirBello pots.
Besitos
Yo soy de las que opino que, el pasado, nunca podrá volver, lo llevamos en el recuerdo y gracias a él, formamos nuestra experiencia que nos puede ser muy beneficiosa para enmendar acciones de las cuales nos hemos arrepentido.
ResponderExcluirSi yo pudiese volver al pasado y no fuese una quimera...
Gracias, me has hecho reflexionar.
Cariños y buen fin de semana.
Kasioles
Mi piace davvero tanto Pedro, grazie per essere passato
ResponderExcluirun bacio
Yo creo que el pasado nunca se va de nosotros, siempre pensamos en el ayer. ¿Quién no recuerda a sus abuelos? También a gentes que ya no están, paisajes que recuerdas o momentos vividos en otros tiempos.
ResponderExcluirQuerido Pedro, tus letras siempre nos hacen pensar, me encantan.
Un abrazo desde el lluvioso Madrid.
Olá Pedro
ResponderExcluirComposição incrível da imagem com o texto. E que nos remete a grandes momentos.
Adoro ler teus textos!
Abraços.
Olá, Pedro
ResponderExcluirO passado... é passado, nada o poderá fazer voltar, nem ninguém o pode alterar.
Contudo... a todo o tempo é tempo de recomeçar.
E se esse recomeço for feito de modo a evitar os erros do passado e com os olhos postos no futuro, tendo em mente não voltar a cometer nada de que nos venhamos a arrepender... então, sigamos em frente!
Votos de um Domingo feliz
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Linda semana!!!!!!!!!! Beijos
ResponderExcluirNão havendo forma de remediar o passado... está-se sempre a tempo de corrigir o presente... o que poderá propiciar um futuro diferente...
ResponderExcluirToda a hora... é hora... de poder fazer essa opção... pelo que valera a pena reflectir...
Abraço! Boa semana!
Ana
As vezes é preciso regressar a casa de nossa infância e dali alçar novos voos, quem sabe, mais felizes.
ResponderExcluirNa minha opinião, uma das suas melhores crônicas. Gostei muito.
Beijo.