HOJE
TEM
REUNIÃO
DE CONDOMÍNIO
– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
O
marido
ouve
o
toque da campainha, mas
como não é seu
feitio atender ao telefone, interfone e tampouco campainha, deixa
esse incômodo para sua mulher.
– A
campainha tocou, mulher.
A
mulher sai correndo em direção à porta. Chega esbaforida, depois
de ter tropeçado no tapete e batido a perna na quina da mesa. Abre a
portinhola e
recebe uma rajada de vento.
– Desculpe-me acordar a senhora –
diz o zelador do prédio.
– Não
me acordou, é quase meio-dia...
O
zelador entrega-lhe um envelope e pede que assine o protocolo de
recebimento. A mulher assina na linha sobre o nome do marido.
– Era
o zelador – diz a mulher ao
marido.
– Ele deixou este envelope.
O
homem abre o envelope e lê a convocação do síndico para uma
reunião extraordinária.
No
dia e hora marcados, lá estão alguns moradores na sala de reunião.
Como
não há
quórum, o
síndico aguarda algum tempo para a segunda
chamada, e
depois
abre a reunião com quinze condôminos.
– Boa
noite a todos. Hoje
vamos
analisar três orçamentos para a pintura do edifício.
– Quanto
vai custar a pintura? – pergunta um homem, já curvado pela idade.
– Nos
orçamentos temos preços diferenciados, talvez possamos ficar com o
mais barato.
– E
quanto é esse mais barato? – pergunta uma mulher. – Todos aqui
sabem que o meu falecido marido deixou uma minguada pensão.
– Eu
também ando apertada – manifesta-se outra moradora.
– Como vocês também sabem, o meu marido está desempregado a um
bom tempo.
– Então
mande esse folgado parar de beber e procurar um emprego – diz a
solteirona do prédio.
– Isso
não é da sua conta, mal educada. Por que você não procura um
marido e deixa de encher o saco?
O
síndico diz que todos devem contribuir para que a reunião corra com
normalidade, para
que possam resolver
o problema da pintura externa do prédio.
– Vou
ler aos senhores os itens que fazem parte do orçamento com o menor
preço – fala
com voz baixa, para que se esforcem para ouvi-lo.
– É
bom que essa
leitura termine antes
que comesse minha novela – diz a mulher vistosa, com as pernas à
mostra.
– A
novela, meu Deus! – exclama outra moradora. – Eu não posso
perder o último capítulo. – Se me dão licença...
Depois
que a mulher deixa a sala, antes que se decida pela pintura, uma após
outra, das nove mulheres, levantam-se e saem. Ficam na sala apenas
seis condôminos.
O
síndico mal recomeça a falar sobre os orçamentos quando os seis
homens entreolham-se cúmplices, numa surda troca de ideias, e
retiram-se com discrição.
Na
sala fica apenas o síndico, com o olhar fixo nos orçamentos. Logo,
diz para si mesmo: “eu é que não vou ficar aqui
plantado,
justamente
hoje,
e
perder o final da minha
novela”.
* * *
Você registra com uma fidelidade impressionante uma dessas chatas reuniões de condomínio.Bem escrita, linguagem enxuta. Ótimo cronista você é.
ResponderExcluirMuito obrigado.
Pedro, meu amigo!!!
ResponderExcluirHoje venho lhe convidar para conhecer e acompanhar um novo espaço onde estou postando com mais alguns amigos.
Espero que goste, pois eé um lugar de excelente qualidade e muito bom gosto.
Aguardo sua visita!!!
Abraços
É bem assim! Reuniões de condomínio são vistas como uma praga em que levam um anos para decidirem algo pequeno. É a reunião dos stresses, fala-se de tudo que possa beneficiar a poucos interessados. É o exercício da política menor, a revelação dos interesses pessoais. Haja paciência. E faz tempo que conhecemos isso, não? Já temos experiência de sobra... Mas acho que valeu mais ter visto o final da tal novela!
ResponderExcluirAdorei essa realidade contada com humor. Se tirar o humor, muitas dessas reuniões de condomínio viram caso de polícia ou de hospício.
Beijinho!!
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirAqui uma cronica com fidelidade das famosas assembleias.
Onde moro sempre me perguntam qual dia é melhor, que não tem jogo do campeonato brasileiro. Eu pergunto de qual série A ou B?
É bem assim, ainda que a pauta seja importante poucos comparecem.Com trinta anos vivendo esta agonia posso dizer de cadeira que ainda não vi uma que terminasse sem baixaria e briguinhas.
Bom olhar amigo.
Boa semana de paz e inspirações.
Abraços.
Las reuniones siempre farragosas en las que cada uno va a lo suyo. Besetes.
ResponderExcluirAs reuniões de condomínio são iguais em todo o lado... Li a sua crónica com o sorriso nos lábios porque você a narra de forma excelente.
ResponderExcluirUm beijo.
Reuniões de condomínio... quase sempre bem problemáticas! E animadas com sessão de gritaria por vezes... uma ou outra...
ResponderExcluirUma abordagem leve e bem humorada das mesmas...
Mas tem novela assim... com final imperdível! :-D
Actualmente poucas ou nenhumas vejo...
Mas lembro que nos anos 80, quando as primeiras novelas da Globo começaram a passar por cá... tinha final de novela que fazia parar o país... inclusivé sessões parlamentares...
Abraço! Boa semana!
Ana
¡Hola Pedro!!!
ResponderExcluirBueno, he leído con calma este relato que más bien relata con humor y gracia, vuestras vivencias en esa linda tierra que es Brasil! Donde tengo mucha familia. Aquí también se cuecen habas... Está el mundo bastante loco desafortunadamente.
Te dejo mi inmensa estima y gratitud.
Un beso y feliz semana.
E tudo estás bem, quando termina bem...
ResponderExcluire se decide por unanimidade e aclamação! rss
excelente crónica, Pedro.
(a democracia é ainda apenas uma (boa) intenção).
abraço
A sombra de uma novela, ainda mais se o último capítulo, emperra qualquer decisão nestes tristes trópicos. Dura realidade...
ResponderExcluirForte abraço, Pedro!
Hola amigo Pedro. En todas las comunidades pasa lo mismo, unos tienen y otros se lo guaran. Ya he vuelto de mis vacaciones.
ResponderExcluirUn abrazo
Olá Amigo creio que a coisa mais difícil deste mundo é combinar ideias e desejos entre condôminos. Acredito sim é que todas as pessoas que já viveram em algum condomínio de apartamentos ou de casas devem ter tido esta triste constatação.
ResponderExcluirÉ o que sua crônica mostra com toda clareza e bom humor.
Justamente quando não são as novelas é a corrida, o jogo de futebol,ou brigas horrorosas.
Parabéns pela crônica, amei.
beijinhos, Léah.
PS, obrigada pelo comentário em meu blog.
Boa noite Pedro.
ResponderExcluirLer as suas crônicas é sempre muito bom. Comecei a ler É foi inevitável não sorrir. Reunião de condomínio. Como É bom está livre disso rsrsrs. Passei anos em um condomínio fechado a qual as reunião sempre tinha brigas e nunca chegava a lugar algum. Pois os que nao participavam não concordavam com o resolvido na reunião. Um verdadeiro saco. Você bem relatou como os moradores dão pouca importância. É exatamente assim mesmo. Um linda semana meu amigo. Enorme abraço. Um beijo na minha querida amiga Tais.
Um belo relato muito bem descrito do que se passa na maioria dessas reuniões de condomínio.
ResponderExcluirUm abraço e boa semana.
Andarilhar
necessárias as reuniões e aqui está um belo espelho daquilo que são, e não devia ser assim...
ResponderExcluir:)
Pedro,
ResponderExcluirRenovei o meu estoque de risadas, no domingo dei boas risadas na crônica
da Taís e agora aqui, vocês dois são amigos de partilha literária que eu
adoro ler e esperar a cada postagem de vocês e com a certeza da excelência,
originalidade e qualidade literária a me proporcionar uma leitura
maravilhosa.
Excelente crônica, meu amigo.
Cuidado para a Taís não te convencer a almoçar peixe cru novamente,
a Taís como excelente cronista busca cenários, material para seus
originais textos...rss
Abraço.
Minha amiga Suzete, vou seguir o seu conselho e não aceitar mais convites da Taís para almoçar peixe cru. Resistirei com todas as minhas forças.
ExcluirObrigado pelo amável comentário.
Abraço.
Gostei muito dos seus contos. De forma curta mas muito completa. Directo ao assunto mas com todo o que precisa, para nos deleitar e prender á historia. Vou voltar. Até lá.
ResponderExcluir¡Esas horribles reuniones de escalera!
ResponderExcluirGRACIAS AMIGO POR TU VISITA ...HA SIDO UN PLACER RECIBIRTE Y DEJARME UN COMENTARIO ...HERMOSO BLOG.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Ótima quarta!!!!!!!!!!!! Beijos
ResponderExcluirVivo en condominio, estimado Pedro. Puedo acreditar que suceden esas cosas y muchas más.
ResponderExcluirAbrazo austral.
Divertido leerlo y cuando no se tiene que sufrir. Hace tiempo que ya no acudo a ninguna reunión. Y el último copropietario perdía su novela personal. Es curioso ese final. Genial. Saludos muy afectuosos.
ResponderExcluirOlá, Pedro
ResponderExcluirUm conto com bastante humor, com um final que me fez dar uma boa gargalhada.
A conversa entre as "condóminas" fez-me lembrar as reuniões aqui do meu prédio (assisti apenas a duas, logo de início, depois desisti...) em que as "senhoras" se "mimoseavam" entre si. O pobre do meu marido é que teve que aguentar, enquanto foi vivo; a partir daí, passo procuração ao administrador (síndico, como vocês chamam) para me representar.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Excelente metáfora para a maneira com a maioria das pessoas desempenha seus deveres cívicos...
ResponderExcluirAbraço grande e bom resto de semana
OI PEDRO!
ResponderExcluirSÓ RINDO MESMO, ATÉ PORQUE, ACONTECEM COISAS BEM PARECIDAS COMO O QUE NARRAS EM TUA HISTÓRIA.
NOS TRAZES UMA VERDADE MAS, ESCRITA COM TUA VEIA CÔMICA, FICA DEMAIS.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Um relato de uma reunião de condomínio. (possibilidade)
ResponderExcluirUma escala de valores manchada de interesses pessoais.
Impossível trabalhar ou resolver alguns problemas colectivos.
Aceite um abraço de amizade e agradecimento pela visita.
Peço desculpa de andar a escrever pouco, mas ando sem inspiração.
Em matéria de responsabilidades de condomínio, comunitárias, cívicas, democráticas estamos entendidos. Por cá, diz-se "o último que feche a porta"!
ResponderExcluir"Para participar, o outro é. que tem feitio para essas coisas, para criticar, dizer mal, chamem-me que estou sempre pronto".
Bem esgalhada, Pedro.
Bom fim-de-semana!
ResponderExcluirÈ mesmo asim as reuniões de condomínio :)
ResponderExcluirSiempre habrá ciertos figurinos que se lleven el protagonismo.
Saludos, me gusto mucho su relato.
Oi amigo, muiro bom, adorei! Gostei muito do final, ri muito kkkkkk
ResponderExcluirVim lhe desejar um excelente final de semana, fique com Deus!!!
Os horários das reuniões devem ser bem pensados, de modo a não coincidirem com coisas "importantes"...
ResponderExcluirUma bela história e bem realista. Gostei imenso, caro amigo.
Pedro, tem um bom fim de semana.
Abraço.
Boa tarde, Pedro, sempre com sua escrita inusitada. Vale a pena ler, não tenho tal problema, porque moramos em uma casa, mas já participei de muitas destas reuniões , e até ata me pediram para fazer. Sei que acontece reuniões semelhantes ao que você descreveu, é a realidade posta em palavras, nos dão a oportunidade de rir um pouco, pois você deixa a comicidade colorir o que escreve, sendo assim, dá - nos curiosidade de lermos mais e mais. Tenha um lindo final de semana com a moça linda, que fica do outro lado da parede do seu escritório! rsssssssss
ResponderExcluirPedro
ResponderExcluirA pintura do prédio pôde esperar, mas ninguém perdeu a telenovela, nem o síndico,
quem próxima procurá outra hora. Bem no fundo, na realidade, todos desejam adiamentos. E na verdade a fição fica sempre fica sempre próxima da realidade como se vê.
Postagem “Maranhão – São Luis”
Veja e comente o post
http://amornaguerra.blogspot.pt/
BRASIL: O SORRISO DE DEUS.
Abraço
Bel racconto! Riunioni che lasciano sempre l'amaro addosso, tra indifferenza, superficialità e furbizie...letto volentieri, buona giornata Pedro e complimenti!
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