– PEDRO LUSO DE CARVALHO
ERIC NEPOMUCENO é um conhecido jornalista, escritor e tradutor.
Trabalhou no Jornal da Tarde, de São
Paulo, colaborou com diversas publicações da Argentina, México e Venezuela.
Entre elas, o jornal La Opinión, de
Buenos Aires (1973 a 1975), o jornal Excelsior,
do México (1974), o jornal El Nacional,
de Caracas (1974 a 1975) e a agência de notícias Latin (1974 a 1975). Foi colaborador permanente da revista Crisis, de Buenos Aires (1973 a 1976).
Nepomuceno traduziu ao português vários autores contemporâneos, gigantes
da literatura hispânica, como Gabriel García Márquez, Juan Carlos Onetti,
Eduardo Galeano, Juan Rulfo, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e outros. Inclusive,
seus três primeiros livros foram publicados em espanhol.
Ganhou duas vezes o prêmio Jabuti
pela tradução de autores de língua espanhola, além de vários outros prêmios com
seus livros de contos e de não-ficção.
Segue O Juramento, conto de
Eric Nepomuceno (in Nepomuceno, Eric.
A mulher do professor. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1996, p. 10-12):
O JURAMENTO
– ERIC NEPOMUCENO
Era sexta-feira e os quatro estavam sentados no chão de terra, as costas
contra as pontas do barranco de argila seca, e o barranco desenhava sombras na
estrada poeirenta.
Falavam sobre os últimos dias e de como tinham sido os melhores. A cada
fim de férias diziam a mesma coisa. Muitos anos mais tarde, e gostaria que os
outros três tivessem uma memória tão dolorida quanto a sua.
Começou a falar sobre aqueles tempos e os tempos de antes e depois.
Sentado, as costas contra as pontas do barranco de argila seca, falou sobre os
tempos e os três olharam espantados.
Falou do bom de estarem juntos todo o tempo e as coisas que tinham, e do
bom que era reconhecer uma árvore pelo tato e pelo cheiro, e os três
concordaram.
Falou que aquilo tudo seria perdido um dia e que isso era inevitável:
mas que deveriam fazer o possível para levar o máximo de tudo. Sair inteiro, no
fim. Falou pela primeira vez da calma amarga que sentia sabendo que as coisas
teriam um fim e foi a primeira vez que sentiu essa calma. Depois, se
acostumaria com ela. Mas isso os outros três não entenderam naquela hora nem
nunca mais.
Falou daquelas coisas e insistiu em que deveriam se proteger, que não
deveriam deixar que tudo se perdesse.
Finalmente, falou em um juramento. E como um juramento é solene e os
quatro adoravam a solenidade dos cavalheiros, concordaram em ter os pulsos
unidos e talhados em cruz, misturando os sangues na garantia de eterna união.
No último instante, em lugar dos pulsos talhados preferiram unir a ponta
dos polegares, de onde um pequeno corte mostrava com esforço um pontinho de
sangue.
Anos mais tarde, tudo isso é de uma graça amarga porque a honestidade
foi estupidamente traída. E agora, cada vez que ele toca a solidão na ponta do
polegar direito lamenta – de uma forma ou de outra – que o pulso não tenha
nenhuma cicatriz.
* * *
Eric, grande escritor e tradutor.
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