por Pedro Luso de Carvalho
Hermann Hesse nasceu a 2 de julho de 1877, em Calw, Alemanha, e morreu em 9 de agosto de 1962 em Montagnola, Suiça. Hesse foi romancista, poeta, ensaísta e pintor. Em 1946, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.
O pai de Hesse era missionário pietista; por sua infuência, matriculou-se num mosteiro para que se tornasse teólogo. Pouco tempo depois de seu ingresso, fugiu desse estabelecimento de ensino. Após sua fuga, Hesse encontrava-se deprimido e revoltado. Então, decidiu-se tornar aprendiz de mecânico e depois vendedor de livros.
No seu trabalho de vendedor de livros, Hesse tomou contato com a literatura, o suficiente para convencer-se de que deveria escrever poesia e romances. Então, em 1899 publicou a sua primeira coletânea de poemas. Também escreveu artigos para jornais. Mais tarde escreveu uma obra-prima: Peter Camenzind. No fim de sua vida, deixou um legado inestimável, com muitos romances, centenas de poemas, inúmeros artigos e cartas.
Suas principais obras: (romances) Peter Comenzind, 1904; Untem Rad, 19006; Gertrud, 1910; Rosshald, 1914; Demian, 1919; Sidarta, 1922; O lobo da estepe, 1928; Narciso e Goldmund, 1930; Viagem ao Oriente, 1932; O jogo das contas de vidro, 1943; (contos) Eine Stunde hinter Mitternacht, 1899; (poesia) Unterwegs, 1911; Die Gedichte, 1942; (não ficção) Gedenkblätter, 1927; Sobre a guerra e a paz, 1946.
Segue a transcrição sobre o suicída, texto que integra o livro Para ler e pensar, que contém pensamentos extraídos de seus livros e cartas:
SOBRE OS SUICIDAS
Quando eu tinha cerca de quinze anos, certa feita nos amedrontou um de nossos professores, ao dizer-nos que o suicídio era a maior covardia moral que pode o homem cometer. Desde então, senti-me mais inclinado a acreditar que há no suicídio certa dose de coragem, certa cota de obstinação e de dor, e tive para com os suicidas um misto de respeito e compaixão. Assim a lição do professor, ministrada com a força de um axioma, deixou-me por um momento, perplexo. Fiquei espantado e sem uma palavra de reação ante aquele ensinamento que, na realidade, parecia ter a seu favor toda a lógica e toda a moral. Entretanto, não durou muito meu espanto. Logo dele me desprendi e tornei a acreditar em meus próprios sentimentos e ideias. Dessa maneira, toda a minha vida, tenho considerado os suicidas pessoas dignas de respeito, criaturas simpáticas. Eles me parecem extraordinários por algum motivo, ainda que sombrio. Enfim, vejo neles exemplos de uma dor humana não percebida por aquele professor e de uma coragem e obstinação que eu só poderia apreciar. De fato, todos os suicidas que conheci eram pessoas sem dúvida cheias de problemas, mas dignas e superiores. E o fato de, além da coragem de meter uma bala na cabeça, terem tido também a ousadia e a tenacidade de se fazerem detestados e desprezados por professores e moralistas, só fez aumentar a minha solidariedade e compaixão.
(Hermann Hesse)
In Hermann Hesse. Para Ler e Pensar. Pensamentos extraídos de seus livros e cartas. Tradução de Bélchior Cornelio da Silva. Rio de Janeiro: Record, s/d, p. 83-84.
Olá, Pedro!
ResponderExcluirComecei bem cedo a conhecer parte da obra de Hermann Hesse, ainda no início de minha adolescência, digamos que até precocemente, dada a profundidade do pensamento do autor, o que poderia parecer atípico de despertar-me interesse. O primeiro que li, Demian, influenciada por uma curiosidade, já que alguém havia me dito que eu tinha algo de Max Demian. Não me lembro mais a qual característica dele me compararam. Certo é que depois desse livro, vieram os outros, O lobo da Estepe, Sidarta e um outro, do qual não me lembro do título, tão interessada que fiquei pela obra de Hesse.
Quanto ao texto "Sobre os suicidas", tem a marca inconfundível de H. Hesse, de um exacerbado senso crítico e de apreciar a dúvida, como forma de questionamento e a acreditar em seus próprios sentimentos e ideias. Sempre contestador das aparentes verdades. Em Demian, no capítulo " O mau ladrão", ele cita o mundo sombrio como o ponto de partida que veio a impulsioná-lo para frente e entre as suas reflexões ele diz "e com isso, o "mundo sombrio" voltou também, do exterior, a adquirir poder sobre mim.". Enfim, a piedade que ele demonstra pelos suicidas é mais uma afirmação de que as reflexões dele nasciam sempre de suas contestações íntimas, o que parecia-lhe um lado sombrio.
Excelente seu texto, uma biografia sintética e o de Hesse, sempre agradabilíssimo de ler.
Um abraço, Pedro.
Celêdian
Pedro
ResponderExcluirExcelente esse texto dos suicidas do HH! Não conhecia.
Diferentemente da Celêdian, li pouca coisa de HH, quase nada.
Mas, agora, motivado por vcs dois, vou comprar algo dele e ali me debruçar.
Por falar em suicídio, não posso deixar de citar o "O Mito de Sísifo", do Albert Camus. Trata-se de um tratado filosófico sobre o que, para ele, era "o único problema filosófico realmente sério. O resto, se o mundo tem 3 dimensões, se o espírito tem nove ou dez categorias, vem depois".
abço!
Cesar
Hermann Hesse e Pessoa são meus preferidos... adorei...seu blog é intessantissimo!
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