A cultura autêntica não é a que visa este ou aquele objetivo. Como toda busca de perfeição, tem seu fim em si mesma. O empenho na aquisição da robustez física, da agilidade e da beleza não colima outras metas, como seriam, por exemplo, tornar-nos ricos, famosos, poderosos. Tem, antes, em si mesmo o seu prêmio, pelo fato de aumentar nossa sensação de viver, de revigorar a confiança em nós próprios, de nos tornar mais alegres e felizes, dando-nos maior impressão de segurança e saúde. Assim também a luta pela cultura, isto é, pelo nosso aperfeiçoamento espiritual e moral, não é um meio árduo de chegarmos a algum fim limitado. É, sim, o enriquecimento compensador e revigorante de nossa consciência. É o aumento das possibilidades de nossa vida e felicidade. Por isso, a cultura autêntica, inclusive a verdadeira cultura física, o domínio dos músculos e nervos, a auto-realização plena está sempre em ação e jamais termina. É um caminho infinito. É o nosso entrosamento no universo, nosso convívio no intemporal. O seu objetivo não é aprimorar nossas aptidões e conseqüentemente nossas ações. A cultura ajuda-nos a dar um sentido à nossa vida, a compreender o passado, a ficar de prontidão diante do futuro.
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Esse texto sobre a cultura autêntica é um dos pensamentos que compõem o livro de Hermann Hesse, Para ler e pensar – Pensamentos extraídos de seus livros e cartas. (Lektüre für minuten) Trad. de Bélchior Cornelio da Silva. Rio de Janeiro, Record, 1971, p. 79.
Hermann Hesse nasceu a de julho de 1877, em Calw, Alemanha, e morreu a 9 de agosto de 1962, em Montagnola, Suíça.
Hermann Hesse escreveu não menos que dez romances, todos eles muito conhecidos em vários países, no Brasil, inclusive, como, entre outros: Demian, Sidarta, Viagem ao Oriente, O jogo das contas de vidro, O lobo da estepe, este, talvez, o mais importante.
Hesse também escreveu contos, poesia e ensaios. Suas cartas escritas a Thomas Mann tornaram-se igualmente conhecidas.
Tão verdadeiro e tão atual. Atemporal, este é o termo que cabe a este ensaio.
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