[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]
O mestre do romance e do
conto, sem esquecer a importância do poeta e do cronista, Machado de Assis
deixou uma obra extraordinária, que continua atraindo leitores e estudantes que
buscam formação humanística nas universidades brasileiras.
Nas livrarias e nas
bibliotecas públicas, e certamente nas bibliotecas particulares, encontram-se
muitas obras de críticos literários e de escritores que estudam e enaltecem o
valioso legado de Machado de Assis:
JOSÉ
VERISSIMO: “Machado de Assis foi a mais eminente figura de nossa literatura”.
ÁLVARO
LINS: “Machado atingiu no conto
a perfeição de forma e de concepção”.
AURÉLIO
BUARQUE DE HOLLANDA e ÁLVARO LINS: “Tem este nome, por todos os títulos, um
capítulo especial, um lugar à parte na literatura brasileira. Não só a sua
personalidade original o colocou acima de escolas e grupos, dando-lhe aos
livros uma fisionomia própria, mas a sua obra apresenta um valor, uma
importância literária sem igual em nossas letras”.
GUILHERME
FIGUEIREDO: “A tradição romântica e realista do conto brasileiro se inclinou
para a síntese de situações, para a fotografia rápida de caracteres. Narrativas
como as que escreve Viriato Correia são pouco comuns, sobretudo desde que
Machado de Assis elevou à perfeição a técnica do conto”.
Segue
o conto Um bilhete, de
Machado de Assis (In Contos sem data/Machado de Assis. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1956, p. 71-72):
UM BILHETE
(Machado de Assis)
Antes
mesmo que acabasse o baile, Maria Adelaide dizia à mãe que não queria ficar um
minuto mais que fosse.
– Que é isso? disse-lhe a mãe. Deu uma hora agora mesmo.
– Não quero saber. Vamo-nos embora.
– Ora, meu Deus!
– Vamos, vamos.
Não
havia que dizer; a mãe era governada pela filha, e perderia o lugar no céu, se
tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se que não cedia pouco desta
vez; cedia e cedia, que era excelente, e a boa viúva professava esta filosofia:
- que as ceias excelentes são preferíveis às boas, as boas às más e as más às
que não tem existência. Sacrificava a melhor parte do baile; mas, enfim, com
tanto que a filha não padecesse.
Padecer,
padecia. No carro, logo que as duas entraram, Maria Adelaide começou a ralhar
com tudo, com o carro, com a capa, com o calor, com pó, com a mãe e consigo
mesma. A mãe entendeu logo: era algum desgosto que o Chico Alves lhe dera.
Realmente, lembrou-se que o Chico Alves, indo despedir-se delas, nem alcançou
que Maria Adelaide olhasse para ele. A moça deu-lhe os dedos, a pontinha
apenas, e falou-lhe de costas; naturalmente estavam brigados.
A
viagem foi atribulada. Nunca o mau humor da moça foi tamanho nem tão explosivo.
A mãe pagou pelo namorado, mas como era prudente e estava com fome, preferiu
não dizer nada.
Em
casa, continuou o mau humor. A pobre criada da moça padeceu como nunca. Maria Adelaide
entrou para os seus aposentos, furiosa, despiu-se às tontas, dizendo coisas
duras, rasgando uma das mangas do vestido, atirando as flores ao chão, raivosa
e indignada sem causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse embora, e
ficando só rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, ia falando,
mordendo os lábios, dando punhadas no joelho. Depois arrancou da cadeira, foi à
secretaria e escreveu este bilhete:
“Nunca
pensei que o senhor fosse tão pérfido. Nunca imaginei que pudesse proceder como
fez no baile; creia que não manifestei o meu desgosto, por dois motivos: - o
primeiro, porque ainda tive força de me dominar; segundo, porque depois do que
o senhor me fez, nada pode haver mais entre nós. Case-se com a viúva, se quer.
Mande as minhas cartas e adeus. Esta determinação é irrevogável. Qualquer
tentativa de reconciliação obrigar-me-á ao que não quero”.
Tinha
dado expansão à cólera, deitou-se para dormir. O sono não veio logo; a raiva
agitou a pobre moça, e só quando começou a madrugada foi que ela pode dormir um
pouco. No dia seguinte, o Chico Alves recebia este bilhete:
“Desculpa
algumas palavras que te disse ontem no baile. Vem hoje tomar chá, e eu te
explico tudo”.
Z.
Z. Z.
(In “A Estação”, 28 de fevereiro de 1885)
*
REFERÊNCIAS:
LINS, Álvaro. Literatura e vida literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
FIUEIREDO, Guilherme. Cobras e lagartos. Rio de Janeiro: Nova Fronte
LINS, Álvaro. BUARQUE DE HOLLANDA, Aurélio. Roteiro Literário de Portugal e do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, vol. II, 1966.ira, 1984.
LINS, Álvaro. Literatura e vida literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
FIUEIREDO, Guilherme. Cobras e lagartos. Rio de Janeiro: Nova Fronte
LINS, Álvaro. BUARQUE DE HOLLANDA, Aurélio. Roteiro Literário de Portugal e do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, vol. II, 1966.ira, 1984.
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Pedro, parabéns pelo blog! Grande Machado de Assis, um dos fundadores da Academia de Letras, autodidata!
ResponderExcluirUm grande abraço!
Caro Denilson,
ExcluirÉ verdade, Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro presidente.
Mais do que isso, Machado é o nosso maior escritor.
Um abraço,
Pedro.
Ola , por favor eu estou fazendo um trabalho da minha escola e preciso do resumo deste texto . Você poderia me explicar por favor ?
ResponderExcluirAbraço
Larissa
Parabéns, um espaço como este é fundamental para os amantes da nossa literatura.
ResponderExcluirPARABENS
ResponderExcluiroi,por favor estou fazendo um trabalho e preciso muito mesmo do resumo deste texto.voce poderia me explicar por por favor?
ResponderExcluirQual tipo de narrador do texto? por favor!!
ResponderExcluirALGUÉM ME DIZ O TIPO DE NARRADOR?
ResponderExcluirQual tipo de narrador do texto? por favor!!
ExcluirOii estou fazendo uma atividade e tô querendo saber se tem alguma palavra desconhecida, se sim alguém pode mim dizer e quais. Obrigado!.
ResponderExcluirOi estou fazendo uma atividade e tô querendo saber se tem alguma palavra desconhecida se sim alguém pode mim dizer e quais .
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