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17 de abr. de 2010

[Poesia] SER - Carlos Drummond de Andrade


PEDRO LUSO DE CARVALHO

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE fez sua estreia em livro no ano de 1930, com Alguma poesia. Nessa obra, o poeta reuniu trabalhos que havia começado a produzir a partir de 1925. A crítica literária e o público leitor recebeu o livro (Alguma poesia) com forte reação, quer de elogios quer de contrariedade.
Em que pese pudesse ser notado na obra alguns modismos que eram advindos do modernismo, um fato não podia ser negado: ali se via um grande poeta, como poderia ser aquilatado nos livros que se seguiriam a este, como: Brejo das almas, 1934; Sentimento do mundo, 1940; A Rosa do povo, 1945; Claro enigma, 1951. Tais obras dariam a Drummond a posição de o maior poeta moderno brasileiro.
Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de agosto de 1987.
Segue o poema “Ser”, de Carlos Drummond de Andrade (In Antologia poética / Carlos Drummond de Andrade. 11ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978, p. 76-77):


SER
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te

como ainda chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.




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Pedro Luso de Carvalho