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16 de nov. de 2010

JORGE LUIS BORGES – Por que você escreve?


                    [PEDRO LUSO DE CARVALHO]

       
        Emir Rodrigues Monecal, escritor e professor de literatura, fez a pergunta que segue  a Jorge Luis Borges, o nome mais importante da literatura argentina, e também um dos mais representativos escritores – ficcionista, poeta e crítico literário – da língua espanhola: Por que você escreve  (in Borges por Borges. Tradução de Ernani Ssó. Porto Alegre: L&PM, 1987, p. 134-135); transcrevo abaixo a  resposta de Borges


 Porque não posso não escrever, sem esse peculiar sentimento de desventura que engendram a covardia e a deslealdade. Acho que raciocino e invento melhor que outros escritores; sei que quase todos escrevem melhor do que eu, que a quase todos ajuda uma espontânea e negligente facilidade que me está vedada e que não conseguirei nem pela meditação nem pelo trabalho nem pela indiferença nem pelo magnífico acaso. Escrevo, no entanto, porque para mim não há outro destino. (Sei disso desde a já remota infância.) Para minha salvação, de nada serviria ganhar batalhas como meu bisavô Suárez, nem morrer na cruz como o Redentor, nem trair o Redentor por trinta dinheiros como Judas Iscariotes fez; Judas, cujo misterioso destino era trair. Cada homem tem seu destino, para lá da ética; esse destino é seu caráter (há dois mil e quinhentos anos, disse-o Heráclito na Ásia Menor); esse destino é a ética secreta do homem; assim eu interpreto o aforismo que se lê na falsa folha de rosto de cada um dos quatro volumes da História de San Martin: “'Serás o que deve ser, senão não serás nada”. (Meu pai discutia comigo essa interpretação; afirmava que San Matin disse mais ou menos: Serás o que deve ser – serás um cavalheiro, um católico, um argentino, um membro do Jockey Club, um admirador de Uriburu, um admirador dos extremos rústicos de Quirós -, senão não serás nada – serás um israelita, um anarquista, um negro ignorante, um primeiro auxiliar; a Comissão Nacional de Cultura ignorará teus livros e o doutor Rodríguez Lareta não te mandará os seus, valorizados por um autógrafo... Suspeito que meu pai se enganava.)


                                                                  *  *  *      
        
        

2 comentários:

  1. Fantástico, Pedro. Não conhecia esse texto-resposta. Senti uma incrível e poderosa identificação com um trecho, que colo abaixo:

    "...sei que quase todos escrevem melhor do que eu, que a quase todos ajuda uma espontânea e negligente facilidade que me está vedada e que não conseguirei nem pela meditação nem pelo trabalho nem pela indiferença nem pelo magnífico acaso..."

    Esse sou eu.

    Pelo menos tenho algo em comum com Borges!

    Abraços forte
    Cesar

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  2. Anônimo21:54

    http://quasartechsciencie.blogspot.com.ar/2017/06/jorge-l-borges-y-la-indagacion-de-la.html

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Pedro Luso de Carvalho